O verme do coração: perigo para os cachorros

Este parasita é responsável pela dirofilariose, uma zoonose. Conheça os riscos da doença do verme do coração.

A dirofilariose é provocada por um verme, o Dirofilaria immitis. Mais precisamente, por sua forma larvar, que penetra no organismo dos cachorros quando estes são picados por mosquitos previamente infectados (os insetos são hospedeiros intermediários).

A doença do verme do coração foi diagnosticada inicialmente em 1847, no sudoeste dos EUA. Estudos recentes apontam que, nos dias de hoje, a dirofilariose está presente em todos os 50 Estados americanos, inclusive o Havaí e o Alasca. O D. immitis apresenta distribuição mundial, mas não se sabe ao certo o número de animais domésticos afetados em cada país.

As larvas do D. immitis já foram identificadas em diversas classes de mosquitos – já foram identificadas mais de 60 espécies que atuam como intermediárias. Os principais vetores pertencem aos gêneros Culex (os mais comuns nas cidades brasileiras, como as muriçocas e pernilongos), Aedes (como o transmissor da dengue) e Anopheles (transmissor da malária). Todos estes insetos apresentam distribuição em regiões tropicais e subtropicais.

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Estas larvas são absorvidas pelos mosquitos quando eles picam e sugam o sangue de um animal infectado. Entre duas e três semanas, as larvas ficam maiores que os insetos e migram para a boca, onde estão prontas para encontrar um mamífero para parasitar.

A doença do verme do coração

Muitas verminoses afetam a saúde dos cachorros, prejudicando a qualidade de vida e invariavelmente causando a morte quando o animal não é socorrido a tempo e tratado de forma adequada. A maioria (como as teníases, por exemplo), no entanto, é causada por parasitas que se alojam no sistema gastrointestinal.

As dirofiliárias são muito semelhantes às populares lombrigas – com corpos compridos e segmentados. As semelhanças, no entanto, param aí: o D. immitis, ao contrário de outros vermes, se aloja no coração dos peludos e pode causar problemas graves.

O nome do verme vem do latim e expressa bem os prejuízos que podem ser causados: “filaria” significa novelo de linha e “diru”, cruel, desumano. O verme do coração já foi identificado em cachorros, gatos e ferrets. Eles também ocorrem em animais selvagens tão diferentes como os leões-marinhos e os lobos.

A infestação do verme do coração

Ovos e larvas do verme do coração hospedam-se em tecidos subcutâneos e nas bainhas musculares, de onde penetram na corrente sanguínea dos cachorros através de picadas de mosquitos infectados; a maioria é eliminada pelo sistema digestório e pelas defesas orgânicas. Entre 90 e 100 dias da infecção, contudo, algumas larvas sobreviventes podem se alojar entre o átrio direito e a veia cava.

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Adulto, o verme do coração atinge até 35 centímetros de comprimento. Sem tratamento, o D. immitis começa a se reproduzir (as fêmeas botam ovos independente da presença de um macho, mas podem procriar na corrente sanguínea) e, em sete a oito meses, microfilárias já podem ser encontradas no sangue: o cão infectado passa a ser transmissor da dirofilariose.

A doença do verme do coração prejudica os cães de duas formas: o verme adulto reduz – podendo chegar a obstruir – a passagem da veia cava (cuja função é transportar o sangue venoso dos órgãos abdominais do abdômen para o coração) ou, em outros casos, preencher todo o espaço do átrio direito; já as larvas comprometem vasos sanguíneos em todo o organismo, especialmente no sistema digestório.

Os animais severamente infectados pelo D. immitis podem apresentar centenas de vermes no sangue e algumas dezenas de adultos imaturos no coração. Um verme do coração adulto pode viver até sete anos no organismo do seu hospedeiro, se não matá-lo antes.

Alguns vermes do coração adultos, já instalados no músculo cardíaco, podem morrer por diversas causas. Isto, porém, não significa o fim do problema: o organismo, ao tentar eliminá-los, deposita fragmentos nos pulmões, o que pode provocar uma embolia, a obstrução de um vaso pela migração de um corpo estranho através da corrente sanguínea.

Os sintomas da doença

Os principais sintomas da doença do verme do coração são os seguintes:

  • tosse persistente;
  • dificuldade para respirar;
  • recusa a fazer os exercícios e brincadeiras costumeiros;
  • perda de apetite;
  • emagrecimento rápido;
  • escurecimento da língua.

Os sinais clínicos, no entanto, tendem a aparecer apenas quando boa parte dos pulmões já está comprometida. Os sintomas são mais visíveis nos filhotes, uma vez que eles são menos resistentes do que os animais adultos saudáveis.

A tosse quase sempre se torna crônica, resultado do comprometimento das vias respiratórias. Caso o tratamento seja negligenciado, instala-se a insuficiência cardíaca, que prejudica o funcionamento dos rins e do fígado (além dos pulmões, que é causa inclusive de desmaios).

Os cachorros afetados podem sofrer com inchaço devido à retenção de líquidos no abdômen (ascite) e nos pulmões (edema respiratório). Animais de grande porte não tratados podem se tornar pacientes crônicos, com todas as limitações de respiração, locomoção e nutrição que a doença acarreta.

O diagnóstico da doença do verme de coração

Para avaliar o cachorro doente, o médico veterinário se baseia nas informações oferecidas pelo tutor, na inspeção clínica e em exames complementares para detectar a presença de microfilárias.

Caso a infestação seja mais recente, alguns reagentes podem identificar excrementos do verme do coração na corrente sanguínea. Exames de imagem podem ser necessários para avaliar a capacidade dos pulmões e do músculo cardíaco do pet.

Em casos graves, nos estágios mais avançados da doença do verme do coração, podem ser realizados exames para avaliar o comprometimento da capacidade dos rins e do fígado.

O tratamento para verme do coração

Uma vez constatada a dirofilariose, o tratamento pode se dirigir especificamente à extinção dos vermes adultos e/ou das microfilárias presentes no sangue.

Além disso, é necessário combater as insuficiências provocadas pelo verme do coração. Inicialmente, coração e pulmões são atingidos. Numa segunda etapa, ocorre o comprometimento das funções hepáticas e renais, que podem evoluir para a falência dos órgãos.

Os cães enfermos e convalescentes devem ser avaliados de perto pelo médico veterinário. A infestação normalmente cede depois de quatro meses de tratamento medicamentoso e, neste período, os vermes do coração podem continuar ativos e provocar problemas mais sérios. Mesmo quando os parasitas morrem, é preciso avaliar o risco de embolia pulmonar.

O ideal, no entanto, é proceder à prevenção do verme do coração. Existem vermífugos específicos que destroem o D. immitis adultos (chamados adulticidas). Os tutores podem optar por pipetas (tratamento tópico, geralmente aplicado na cernelha dos cães), medicações orais, coleiras repelentes de mosquitos e vacinas (as imunizações múltiplas protegem os pets, mas o ideal é usar um produto mensalmente, especialmente em regiões endêmicas).

A incidência

Em algumas regiões, como o Sri Lanka, a incidência da dirofilariose atinge 65% dos cachorros. Em locais não tão remotos, como a Flórida (EUA), 45% dos cães são afetados (o percentual ultrapassa os 50% entre os animais de rua). Em alguns países, a doença do verme do coração é considerada enzoótica (equivalente ao termo “endêmico”, utilizado apenas em relação a seres humanos).

A doença do verme do coração é uma zoonose, podendo também atingir seres humanos (a maioria dos casos foi diagnosticada nos EUA, mas isto pode significar subnotificação). Não existem estudos amplos no Brasil, mas alguns estudos demonstram o perigo do verme do coração:

• pesquisadores da Universidade Federal Fluminense, em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), publicaram pesquisa em 1998 revelando que 30% dos cachorros e pouco menos de 1% dos gatos de Niterói (RJ) são atingidos pela dirofilariose;

• em 1999, outra publicação da FIOCRUZ, desta vez a respeito de um estudo realizado em São Luís (MA) identificou prevalência de dirofilariose superior a 40% dos cães da cidade. A amostra avaliou 1.500 cachorros de rua e com domicílio.

Nos dois estudos, o vetor identificado das larvas do verme do coração é o Aedes albopictus, o segundo vetor mais prevalente da dengue, febre zika e febre chikungunya (o primeiro é o Aedes aegypti).

Cachorros que vivem em regiões litorâneas ou próximas a rios e lagoas são especialmente afetados pela dirofilariose. Os veterinários costumam alertar os tutores sobre os locais de maior incidência da doença do verme do coração.

Os pets podem ser infectados em uma região endêmica (em uma viagem, por exemplo) e, ao retornarem para casa, começam a desenvolver a dirofilariose. Em poucos meses, os animais doentes se tornam vetores da doença do verme do coração, transmitindo-a para animais saudáveis da vizinhança. Por isso, os vermífugos e repelentes nunca podem ser negligenciados.

Entre os homens

Há poucos registros oficiais de casos de dirofilariose no Brasil, apesar do número de casos entre animais domésticos. Entre 1982 e 1996, no entanto, foram diagnosticados 24 casos no Município de São Paulo. A idade desses pacientes variava entre 17 e 80 anos.

Até o momento, os humanos são considerados hospedeiros finais – isto é, não transmitem o verme do coração para outros seres. Na maioria dos casos diagnosticados, os vermes morreram antes de atingir a maturidade sexual, sem comprometer os sistemas orgânicos dos pacientes.

O diagnóstico entre pacientes humanos é realizado por exclusão, eliminando a existência de tumores, micoses pulmonares e outras doenças nodulares. Muitos casos podem ter sido confundidos com tuberculose. Os testes sorológicos quase sempre dão resultado negativo, em função do baixo número de larvas que consegue sobreviver na corrente sanguínea.

A maioria dos pacientes identificados revelou-se assintomática, mas houve relatos de transtornos como dor no tórax, dispneia, febre e tosse, inclusive com hemoptise (expulsão de sangue depositado nas vias respiratórias através da tosse).

Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.

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