Cachorra se recusa a sair do lado de seu amigo elefante em suas últimas horas de vida

Ela chegou da rua a um santuário de elefantes. Nos momentos finais, esta cachorra não deixou o amigo.

Pancake faz tudo com os elefantes – ela passa o dia inteiro com eles. A paixão é tanta que a cachorra chegou a se recusar a se afastar de um deles, que estava agonizante: ela ficou ao lado do amigo até o último suspiro.

Para esclarecer: Pancake é uma cachorra que se perdeu ou foi abandonada nos arredores de um santuário de elefantes. Ela foi resgatada e adotada pelo BLES – Boon Lott’s Elephant Sanctuary. Há três anos, ela é a mascote oficial e desenvolveu relacionamentos especiais com os animais imensos ali recolhidos.

Pancake e os elefantes

Katherine Connor, fundadora e diretora do BLES, contou a história de Pancake para o The Dodo. Um voluntário do santuário havia avistado a cachorra em uma praia próxima e perguntou à dirigente se poderia resgatá-la e levá-la para junto dos elefantes.

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A resposta foi imediata e positiva. O BLES fica em Sukhotai, uma pequena cidade tailandesa situada 420 km ao norte da capital Bangcok, às margens do rio Yom, em plena floresta tropical do Sudeste Asiático.

Sukhotai foi a sede de um dos antigos reinos siameses, que deram origem à Tailândia atual. As ruínas da antiga capital fazem parte do patrimônio histórico mundial, estabelecido pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

Desde que Pancake chegou ao santuário, ela se tornou uma espécie de sombra de Katherine Connor: ela segue a dirigente por todos os cantos e acostumou-se a conviver com os elefantes que ali encontram um abrigo seguro.

Os elefantes asiáticos são uma espécie em risco de ser extinta. Estes animais são caçados por causa de sua carne, considerada uma iguaria na região. A tromba e os órgãos sexuais dos machos também são muito procurados – alega-se que eles tenham propriedades afrodisíacas.

O nome do santuário foi emprestado de um bebê elefante, Boon Lott (o termo significa “sobrevivente”, em tailandês). A fêmea, nascida prematura, foi transportada para um hospital veterinário, em que Connor era voluntária.

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Quando Boon Lott tinha seis meses, o então proprietário decidiu vendê-la a um hotel temático de Bangcok. A mãe da pequena elefanta, Pang Tong, seria devolvida às atividades de extração ilegal de madeira. Para impedir que isso acontecesse, Connor arrecadou fundos e criou o santuário em que Pancake é uma trabalhadora de destaque.

O BLES é uma proposta vitoriosa de recuperar a população dos elefantes e de fornecer um local para que eles possam viver e se reproduzir. O santuário arrecada doações e também oferece instalações turísticas, para os viajantes interessados em uma imersão na natureza.

Pancake é uma excelente funcionária. Ela faz rondas com os funcionários, “conversa” com os elefantes resgatados e aposentados e está sempre atenta.

Amigos até a morte

A maioria dos habitantes de Boon Lott não tem a mesma resistência física de Pancake. Em geral, os elefantes locais foram explorados em atividades turísticas ou como animais de carga e tração, até que a idade impediu que eles continuassem sendo “úteis”.

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A morte é uma ocorrência comum no santuário. Connor contou que, alguns anos atrás, um elefante idoso estava morrendo. Sao Noi se afastou dos outros animais, mas teve a sorte da companhia de um amigo: Boon Thong, outro elefante, foi avistado diversas vezes ao lado de Sao Noi, chegando a acariciá-lo com a tromba, para confortá-lo.

Dessa vez, no entanto, o elefante estava apenas levemente doente – talvez ele tenha contraído uma virose. Mesmo assim, Sao Noi quis se isolar e contou com a presença de um amigo para distraí-lo.

É muito provável que Pancake tenha testemunhado muitas situações parecidas. Passados alguns anos, chegou também a vez de Boon Thong se despedir da vida. Quando a cachorra percebeu que o elefante não estava se sentindo bem, ela fez questão de ficar ao lado do amigo.

Os cachorros são naturalmente agitados e muito ativos. Na natureza, os lobos estão sempre caçando, vigiando, ensinando os mais jovens. Eles chegam a caminhar vários quilômetros por dia em busca de alimento e abrigo.

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Mas Pancake parece ter se acostumado com a vida tranquila dos elefantes. Ela descobriu o prazer da calma e da paz que reinam no santuário. Por isso, nas últimas semanas de vida de Boon Thong, não foi difícil para a cachorra passar horas ao lado do amigo.

A cachorra e a dirigente do santuário permaneceram ao lado de Boon Thong. Connor relembrava histórias antigas do elefante e contava-as para a cachorra, que parecia entender. Certamente, Pancake compreendia claramente a gravidade do momento.

Estima-se que Boon Thong tenha ultrapassado os 60 anos de idade. Ele passou os últimos cinco anos da vida no santuário, depois que foi resgatado de um acampamento, em que era empregado como montaria para os turistas.

De acordo com as informações recebidas, o elefante carregava turistas nas costas todos os dias. A rotina continuou por mais de 30 anos. O trabalho comprometeu a coluna vertebral e as dores foram se tornando mais e mais insuportáveis.

Felizmente, o elefante teve a sorte de passar cinco anos “vivendo como um elefante”. Ele encontrou novos amigos, caminhou tranquilamente em busca de água e forragem, divertiu-se, descobriu que a vida pode ser prazerosa.

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“Ele era livre para controlar a própria vida, tomar as próprias decisões, expressar-se. Boon Thorn era uma criatura de hábitos: ele tinha os seus locais favoritos [nas áreas de soltura do santuário], para onde ele sempre gravitava nas caminhadas diárias. Ele sempre arranhava a mesma árvore e parava na mesma curva de rio para jogar lama nas costas”. Escreveu Connor em uma homenagem póstuma ao elefante, na página do Facebook do santuário.

Quando finalmente Boon Thorn se deitou no chão, os trabalhadores do santuário sabiam que ele estava se despedindo. Connor e Pancake ficaram ao lado do elefante por muito tempo: no último dia, elas permaneceram durante nove horas confortando o animal.

Mais uma vez, Connor escreveu nas páginas sociais: “Pancake, com aquele lindo coração que tem, nunca deixou Boon Thorn. Ela sabia que a sua presença era necessária, para oferecer apoio. Ela ficou quieta ao lado do elefante até o pôr-do-sol – até o último suspiro”.

Boon Thorn foi enterrado no santuário, na passagem dos elefantes, cercado por frutas e flores, ao lado de velhos amigos que já deixaram a vida. Os sobreviventes permanecem caminhando perto do velho amigo: o elefante continua ao lado dos que o amavam, inclusive Pancake.

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