Um cachorro mimado e comportado foi abandonado na rua depois que a tutora faleceu.
Osito (“ursinho”, em português) é um cachorro de médio porte sem raça definida que morava com a tutora. Como todo bom cachorro – leal, comportado e brincalhão – ele era muito mimado. Mas isso foi antes da morte da amiga. Depois disso, ele foi abandonado e teve de suportar o luto e a solidão.

O cachorrinho era descrito como sociável e amistoso: um animal que qualquer pessoa gostaria de ter em casa. Mas a vida segue em frente e nem sempre é muito justa. Quando a tutora morreu, Osito foi gradualmente sendo deixado de lado, até que acabou indo parar na rua da amargura.
A história de Osito
O cachorro nunca poderia imaginar que, depois de ter de enfrentar a saudade e a tristeza pela ausência da melhor amiga, ele teria de enfrentar dias ainda mais difíceis. A tutora morreu esperando que os familiares tomassem conta de Osito.
As preocupações do dia a dia, no entanto, aliadas a certa dose de crueldade, mudaram os rumos dos acontecimentos. Osito foi, aos poucos, sendo deixado de lado. Para os parentes, ele era um cachorro incômodo.

Nos primeiros dias da ausência da tutora, Osito demonstrou toda a tristeza que estava sentindo. Ele passava muito tempo com o olhar parado e expectante, uivava por longos momentos e chegou a recusar a comida.
Era a sua maneira de mostrar a saudade – cada um de nós exibe sinais diferentes do luto, e todos eles devem ser respeitados. Mas, para os parentes, Osito tornou-se um estorvo: era barulhento, isolava-se com facilidade, não queria interagir.
Para complicar a situação, o cachorro foi deixado no quintal da casa nova, sem autorização para entrar na residência. Não há nada de errado em manter os cães em jardins e quintais, especialmente os de grande porte, desde que haja refúgio e sombra para eles.
Mas, para quem, como Osito, estava acostumado com uma cama quentinha, brincadeiras e muitos afagos antes das sonecas, foi uma mudança bastante drástica.

Osito se transformou em um cachorro barulhento. Ele vivia choramingando pelos cantos. Além da falta que a tutora fazia, ele também se ressentia da carência de carinhos e “conversas” a que estava acostumado.
Apesar das promessas de cuidar do cachorro, que nada faltaria ao peludo, os parentes da tutora não tiveram tempo para se dedicar a Osito. Quanto menos carinho e atenção ele recebia, mais se tornava arredio.
Por fim, a nova família resolveu livrar-se do animal incômodo. Osito foi simplesmente descartado, abandonado nas ruas. Os parentes esqueceram o que tinham prometido e jogaram o cachorro como se fosse um traste inútil.
O resgate
Osito sempre viveu em Culiacán, capital do Estado de Sinaloa, na entrada do golfo da Califórnia, costa oeste do México. Trata-se de uma cidade grande e ensolarada, mas, para um cachorrinho mimado, que sempre viveu em ambientes fechados, Culiacán se mostrou aterrorizante.
O cachorro ficou sozinho por cerca de duas semanas. Ele estava desorientado, com dificuldade para conseguir alimento e abrigo, exposto a brigas com outros cães de rua, doenças e acidentes nas vias – Culiacán é uma cidade grande, com quase um milhão de habitantes na região metropolitana.

Em questão de dias, Osito estava magro, desnutrido e cheio de pulgas. Os ataques dos animais mais experientes na sobrevivência nas ruas também não demoraram a acontecer. O cachorro também sofreu um processo inflamatório que exigia tratamento com urgência.
Então, apareceram alguns voluntários da Fundação Amigos Animalistas A.C. As equipes costumam percorrer as ruas de Culiacán fornecendo água e ração para os animais de rua. A entidade também resgata cães e gatos em situação de risco.
Os cuidados
A fundação ainda não possui um abrigo, por isso, precisa selecionar os animais que recolhe – os cães e gatos resgatados são mantidos em lares provisórios até que seja encontrada uma família para adotá-los definitivamente.
A situação de Osito, no entanto, era realmente lastimável. O cachorro precisava de socorro urgente e era evidente, pelas condições que exibia, que não conseguiria sobreviver por muito tempo por conta própria. Os voluntários levaram o novo amigo imediatamente para uma clínica veterinária.
Os resultados da avaliação não foram animadores. A inflamação havia gerado um grande abscesso em uma das pernas traseiras. Os exames de sangue detectaram queda no número de plaquetas. O cachorro estava fortemente anêmico e também testou positivo para um parasita na corrente sanguínea.
Osito foi socorrido bem a tempo. A inflamação estava evoluindo para uma sepse (infecção generalizada) e o abscesso teria de ser drenado o quanto antes. Osito ficou internado vários dias na clínica. Os veterinários aproveitaram e esterilizaram o cachorro.

Já convalescente, a fundação postou a história de Osito nas redes sociais. Em primeira pessoa, o cachorro descrevia as desventuras que se acumularam em pouco tempo na sua vida. As postagens serviram também para arrecadar fundos, que custearam as despesas médicas e hospitalares.
O mais importante, contudo, era encontrar um novo lar para Osito. Alguns pretendentes se apresentaram e a escolha da fundação recaiu sobre a família Duarte, que vive na zona rural de Culiacán.
Na última postagem, o cachorro “contou” que agora tem uma casa nova, com pai, mãe e três irmãs de quatro patas. Ele está vivendo em um sítio, com muito espaço para brincar e muitas novidades para explorar.

A história do abandono nos causa indignação. Assim como Osito, milhares de outros cães e gatos vivem nas ruas, sem a segurança e o conforto de um lar, expostos a doenças, brigas, acidentes, à fome e ao frio.
É possível entender que alguns humanos não possam ou não queiram conviver com um animal de estimação. Cada ser conhece a própria disponibilidade (ou falta dela) para acolher outro ser. O abandono, no entanto, não pode ser justificado em nenhuma circunstância. Cães e gatos podem ser entregues a novos tutores ou em abrigos, que poderão cuidar deles. Jogar um animal na rua é um crime.