No início de fevereiro de 2022, um portador de deficiência visual foi vítima de atropelamento no centro de São Paulo. Ele estava com uma vira-lata caramelo, que fez questão de ficar com o tutor quando ele foi internado na Santa Casa de Misericórdia da capital paulista.
A dedicação da peluda comoveu a equipe de saúde, que acabou permitindo que o animal se tornasse o acompanhante oficial do paciente, com direito inclusive a um crachá de identificação, para circular pelas dependências do hospital.
O homem não identificado foi atropelado enquanto passeava com a cachorra pelas ruas do centro de São Paulo, conhecidas pelo tráfego intenso. Uma ambulância resgatou a vítima e levou-o à Santa Casa, referência no atendimento a traumatizados.
A vira-lata caramelo, no entanto, não permitiu que o tutor ficasse sozinho em uma situação tão delicada. Ela acompanhou o serviço de remoção e postou-se em frente aos portões do hospital, cujas instalações são envolvidas por árvores e canteiros.
Lucimara – este é o nome da cachorra – estava ansiosa por receber notícias sobre a saúde do tutor. Ela ficou em frente à entrada do pronto-socorro e recusou-se a sair – e até a ser alimentada – enquanto não foi levada à enfermaria.
O homem sofreu traumatismo craniano e algumas escoriações, além de reclamar de dores no peito. Ele precisou ficar internado para observação, mas Lucimara não estava entendendo a situação. Ela ficou um pouco mais tranquila depois que funcionários do hospital mostraram a ela a camiseta do tutor, permitindo que ela sentisse o cheiro familiar.
A estratégia, por outro lado, serviu apenas para que a cachorra tivesse certeza de que o tutor estava em algum lugar por ali – e ela resolveu não arredar pé (ou patas) enquanto não “falasse” com o amigo.
A vira-lata caramelo praticamente colou o focinho no portão do pronto-socorro. Ela só parou de latir depois de farejar a camiseta e confirmar que o amigo estava ali. Mas continuava demonstrando ansiedade.
Os funcionários perceberam que precisavam fazer alguma coisa. A cachorra, além de estar aflita com a situação do tutor, também estava atrapalhando os outros pacientes com os latidos insistentes. Por isso, ela foi admitida para uma rápida visita.
Lucimara viu o tutor acamado, conseguiu confirmar que estava tudo bem com ele e só depois disso aceitou os “presentes” da equipe de saúde da Santa Casa: ração e restos de quentinhas. Mas ela não pretendia se afastar.
O paciente é um morador de rua. Ele não tem nenhum familiar a quem recorrer e Lucimara é a única “parente” que pode responder por ele. A direção do hospital ofereceu uma pulseira de visitante para a cachorra, que acabou servindo como coleira – era a identificação para que o animal tivesse acesso ao tutor.
Depois de avistar o tutor, que estava sendo bem cuidado, Lucimara foi instalada na portaria do hospital. Funcionários providenciaram um cobertor para improvisar uma caminha e a cachorra permaneceu ali, vigiando os movimentos de todos.
Diversas pessoas que circulavam pela Santa Casa fotografaram e filmaram a cachorra, que revelou ser um símbolo de dedicação e lealdade. As imagens foram parar nas redes sociais e atraíram inclusive a atenção de equipes de reportagem. Os portais G1 e o R7, por exemplo, “entrevistaram” Lucimara enquanto ela continuava esperando o tutor.
O episódio ocorreu no sábado, 05.02.22, e o paciente permaneceu internado até a noite da segunda-feira seguinte. Liberado, o tutor e a cachorra seguiram caminhando pelas ruas da cidade – eles voltaram a ser anônimos.
Fábio Agostini do Amaral Gomes, diretor técnico do pronto-socorro da Santa Casa, disse em entrevista que não se trata de permitir a circulação de um animal entre os pacientes, sem maiores cuidados.
Como se trata de um deficiente visual, que precisa da cachorra como guia em seus movimentos, ele tem o direito de permanecer com a peluda – no hospital e em qualquer outra área pública da cidade. Cães guia podem circular em meios de transporte, órgãos de atendimento públicos e privados, equipamentos de lazer, etc., desde que estejam acompanhando os seus tutores.
Além disso, os animais de estimação são excelentes auxiliares nas práticas terapêuticas. Ficar com o cachorrinho ao lado confere segurança e bem-estar, especialmente em situações limite, como uma internação hospitalar.
No caso de deficientes visuais, a presença do cão guia é importante não apenas nos deslocamentos, mas também para que os pacientes mantenham a tranquilidade, apesar de expostos à poluição sonora gerada em uma área de emergência médica.
Lucimara e o tutor já estão de volta às ruas. Felizmente, o homem pode contar com o apoio de uma amiga incondicional, para todas as horas.
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