Os cachorros são tudo de bom. Eles são amistosos, leais, companheiros, brincalhões e muito protetores. Eles fazem parte da nossa família há muito tempo, mas, mesmo assim, existem vários fatos curiosos e atraentes que a maioria dos tutores desconhece.
Os nossos melhores amigos são também verdadeiras obras-primas da natureza: a anatomia e a mentalidade dos peludos se desenvolveram ao longo de milênios. Seja qual for o aspecto pelo qual observarmos os cachorros, eles sempre têm alguma coisa diferente para nos mostrar.
Os cães possuem 200 milhões de terminais olfativos, espalhados pelas narinas e pelo órgão vomeronasal, entre a trufa e a boca, uma exclusividade dos quadrúpedes e das serpentes. Os humanos possuem apenas cinco milhões – 40 vezes a menos.
Cheirar, para os cães, é a melhor maneira de entrar em contato com o mundo ao redor. É através dos aromas que eles identificam a presença de presas (eles são caçadores natos!), de amigos, inimigos e parceiros sexuais. Eles conseguem até mesmo descobrir o humor dos tutores, de acordo com as substâncias químicas que exalamos quando estamos irritados, tristes e até mesmo doentes.
O nosso nariz consegue captar o cheiro de um bolo delicioso, mas o dos cães vai muito além: ele identifica os aromas de todos os ingredientes do bolo: farinha, manteiga, leite, açúcar, etc. Eles também conseguem perceber o avanço da fermentação e do cozimento da massa (do pão, da torta, etc.), sem necessidade de ficar espiando o forno.
Todos os animais superiores possuem impressões individuais. As digitais de cada ser humano são únicas, assim como os focinhos dos cachorros. É possível comprovar a identidade de cada cão pelo conjunto do nariz e boca, que apresentam um padrão exclusivo em cada animal.
Olhando de perto, é possível ver pequenos sulcos que se espalham. A observação é mais fácil na trufa: a região das narinas. Essas depressões e elevações são exclusivas, assim como ocorre na ponta dos nossos dedos.
A identificação ainda não é possível em documentos, apesar de já existir o RG animal em diversas cidades do país. Mas, por enquanto, os cães muito peludos, ou com a pele muito fina na região do focinho não podem ter o registro.
Para identificar um cão entre vários “sósias”, o ideal é implantar um microchip. Em caso de perda ou fuga – situações muito comuns –, qualquer clínica veterinária equipada com scanners de leitura podem descobrir a identidade de um peludo extraviado com toda a segurança.
Os cachorros se orientam principalmente pela audição e pelo olfato – são os dois sentidos mais desenvolvidos na espécie. As orelhas são formadas por nada menos do que 18 músculos: além de deixar os peludos mais charmosos e atraentes, esta estrutura também permite que eles movam as pinas (a parte cartilaginosa, ereta ou caída) em diversas direções.
As orelhas caninas também podem se movimentar de forma independente. Com isso, os cães conseguem identificar sons provenientes de lugares diferentes. Mas, quando querem um pouco de sossego, eles simplesmente usam as orelhas como abafadores de ruídos.
A audição canina é muito mais apurada do que a humana. Eles conseguem captar frequências em uma amplitude mais ampla: enquanto nós ouvimos sons de 16 a 20.000 Hz, os cachorros ouvem tudo que vibra entre 10 e 40.000 Hz.
Existem diversos petiscos disponíveis para os cachorros atualmente – de bombons a cervejas. Mas, quando o assunto é sabor, eles não são nada exigentes. A principal impressão dos possíveis alimentos chega através do olfato, e não do paladar.
Para os cães, uma lata de lixo transbordando restos de alimentos é muito mais interessante do que a vitrine de uma confeitaria (especialmente se a vidraça for muito grossa). De acordo com os veterinários, o paladar é o menos desenvolvido dos sentidos caninos.
Os cachorros sentem os mesmos sabores que os humanos: doce, salgado, azedo, amargo e umami, mas com intensidade muito menor. Enquanto nós temos cerca de nove mil papilas gustativas espalhadas na boca, os cachorros apresentam apenas 1.700 terminais especializados no paladar.
Ainda não há consenso sobre as funções dos sonhos, mas sabe-se que eles contribuem para a fixação do aprendizado, para a organização da memória e principalmente para recarregar as baterias. Assim como nós, os cachorros também sonham.
Os sonhos surgiram quando os intervalos para repouso noturno se tornaram mais longos – quando tínhamos que vigiar para que nenhuma fera nos atacasse, nós dormíamos de forma intermitente, por períodos curtos.
Com a sedentarização, em parte proporcionada pelo pastoreio (e mais tarde pela agricultura), o sono noturno foi se alongando. Os animais domésticos – cavalos, gatos e, claro, cachorros – também adotaram o novo hábito, e o sonho surgiu naturalmente.
É provável que os cachorros sonhem com situações cotidianas, como brincadeiras, petiscos e broncas dos tutores – nestes casos, pode ocorrer um pesadelo. Não é necessário acordá-los quando eles se mostram agitados: basta aconchegá-los e o carinho é automaticamente incorporado ao sonho.
Os cães pequenos sonham muitas vezes durante a noite, enquanto os grandões sonham menos. Os idosos (a partir dos sete anos) sonham mais que os de meia idade (entre quatro e sete anos). Este detalhe pode ser comprovado através de eletroencefalogramas.
O psicólogo Stanley Coren, autor de “A Inteligência dos Cães” e uma das maiores autoridades sobre comportamento canino, concluiu em seus estudos que os cachorros são tão inteligentes quanto crianças humanas de dois anos.
A pesquisa de Coren baseou-se na capacidade de comunicação. O psicólogo concluiu que os cães adultos têm, em média, um vocabulário de 165 palavras (a mesma quantidade observada em crianças pequenas).
Os cachorros, no entanto, ampliam a capacidade de comunicação com a linguagem corporal. Além de palavras e expressões simples, eles também são capazes de entender a tonalidade adotada (especialmente quando a pessoa que fala é conhecida).
Eles também combinam os cheiros com os diálogos. Tristeza, cansaço, alegria, desânimo e outras sensações liberam neurotransmissores, substâncias químicas que são inodoras para nós, mas captadas pelo olfato dos cães.
Em geral, as cadelas entram no cio duas vezes por ano. Nesses períodos, que duram de 15 a 20 dias, elas se mostram receptivas ao sexo e, se acasalarem, poderão engravidar e ter filhotes. O primeiro cio ocorre quase sempre no segundo semestre de vida, mas as cachorras muito grandes podem levar até dois anos para atingir a maturidade sexual.
Os tutores que desejam ter filhotes em casa, no entanto, não devem permitir que as cadelas acasalem todas as vezes que entrarem no cio. O ideal é o nascimento de uma ninhada a cada dois anos, para não sobrecarregar o organismo materno.
A maioria das famílias, no entanto, não tem interesse em filhotes. O melhor a ser feito é castrar os peludos (machos e fêmeas), para evitar uma série de problemas, como brigas, invasões de quintal, fugas, acidentes e crias indesejadas.
A esterilização das fêmeas também previne uma série de doenças graves, como a piometra e os cânceres de ovário e de útero. A ideia de que os cachorros precisam acasalar pelo menos uma vez na vida é puro mito.
Ainda bebês, por volta das três semanas de vida, os cachorros já começam a abanar no rabo como forma de interagir com o ambiente. Quase sempre, o gesto significa excitação: o peludo está alegre com a chegada do tutor, uma brincadeira ou apenas uma presença amiga.
Alguns especialistas afirmam que a festa acontece quando a cauda é abanada para a direita: no sentido contrário, pode indicar medo, ansiedade ou estresse. Isto acontece porque o hemisfério esquerdo do cérebro é o responsável pelos sentimentos positivos – e os reflexos são cruzados.
A cauda é muito importante para os cães se comunicarem com outros animais conhecidos ou não e também para garantir o equilíbrio do corpo no trote, no salto ou na corrida. Por isso, o corte (caudectomia) por motivos apenas estéticos deve ser evitado. No Brasil, a cirurgia é proibida por lei.
Nos dez primeiros dias de vida, os cachorrinhos não conseguem enxergar nem ouvir. Trata-se, na verdade, de um verdadeiro luxo: na natureza, os filhotes precisam se apressar, se não quiserem virar caça antes da hora.
Durante duas semanas, os cachorros não usam os olhos, os ouvidos e as patas. Eles se orientam apenas pelo olfato e, nesta primeira etapa da vida, tudo que eles precisam é sentir o cheiro da mãe, que se responsabiliza pela alimentação, higiene, agasalho e defesa.
Os cãezinhos apenas comem e dormem, despreocupados de tudo. A partir do início da terceira semana, no entanto, é preciso começar a se aventurar pelo mundo – apenas alguns passos distantes do aconchego materno. Então, são abertos os olhos e o canal auditivo dos filhotes. Nesta fase, já é possível conhecer um pouco da personalidade do peludo recém-chegado: alguns são mais tímidos e medrosos, outros são ousados e até mesmo atrevidos.
Sensitivos de diversas vertentes religiosas afirmam que os cachorros – pelo menos alguns deles – são dotados de dons sobrenaturais ou mediúnicos. Um dos principais argumentos é que vários cães antecipam crises convulsivas e identificam tumores malignos.
Na verdade, essas “descobertas” podem ser explicadas pelos sentidos comuns. Os cachorros apenas identificam odores associados a neoplasias e a aceleração da atividade cerebral (no caso de epilepsias, por exemplo). O olfato muito apurado, mais uma vez, é responsável pelas manifestações incríveis dos peludos.
Não é possível dizer se os cachorros têm percepções extrassensoriais, que escapam aos sentidos humanos. Uma possível mediunidade canina permanece no campo da crença, fora do alcance (e do interesse) da ciência.
O suor é uma das principais maneiras pela qual os mamíferos e aves regulam a temperatura corporal. De quebra, suar também contribui para eliminar algumas toxinas. Assim como nós, os cachorros também suam, mas de maneira diferente.
Os humanos possuem glândulas sudoríparas espalhadas por todo o corpo (as exceções são os lábios, o clitóris e os pequenos lábios da vulva feminina, o prepúcio e a glande masculinos). Nos cachorros, elas se concentram nos coxins plantares, as almofadinhas dos dedos que amortecem o impacto do peso do corpo durante as caminhadas.
O suor se esvai entre os dedos e, por isso, nos dias quentes, alguns cachorros deixam um rastro úmido por onde passam. O calor corporal excessivo também é compensado através da salivação: os cães babam para refrescar o corpo.
Provavelmente, todos os tutores já notaram o cheiro característico, parecido com o de salgadinhos de má qualidade, que emana dos pés dos cachorros. O aroma pode ser classificado como chulé, o mesmo que aflige os humanos que precisam passar longas horas com os pés em sapatos fechados.
Como já foi visto, os cachorros suam através dos coxins plantares. Quando o suor é excessivo (nos dias muito quentes, por exemplo), ele acaba se acumulando entre os dedos e pelos das quatro patas. Alguns cães dedicam longos minutos para lamber os pés.
A condição não é considerada anormal, mas o acúmulo de suor na pelagem e entre os dedos favorece a proliferação de bactérias que vivem normalmente na pele dos cachorros. Esse aumento de micro-organismos facilita o surgimento de irritações, inflamações e infecções. O exagero nas lambidas também acende o alerta amarelo: ele pode se tornar um hábito compulsivo, prejudicando a saúde e o equilíbrio dos peludos.
O cheiro ruim que a boca dos cachorros exala, até certo ponto, pode ser considerado normal. A boca é o habitat de diversos micro-organismos que desdobram os alimentos, dando início à digestão. Quando o odor se torna muito fétido, no entanto, o tutor pode estar sendo negligente.
Os cachorros precisam escovar os dentes regularmente – a prática inclui a higienização da língua, gengivas e bochechas. O ideal é acostumar os peludos desde filhotes, mas é possível “convencer” cães adultos a escovarem os dentes – por exemplo, há cremes dentais com cheiro de carne.
O importante é envolver a atividade em diversão – os cachorros aprendem melhor quando pensam que estão brincando. Alguns fatores provocam piora no cheiro, como comer ração úmida (ela deve ser reservada para duas ou três refeições semanais, a menos que haja orientação médica).
As principais causas do mau hálito nos cachorros, porém, são a ingestão de alimentos humanos e o acesso a lixeiras. Quando se percebe que os dentes estão escurecendo junto às raízes, é porque passou da hora de visitar o veterinário.
A placa bacteriana, que escurece dentes e gengivas, causa não apenas mau hálito, mas também desconfortos e dores bucais, prejudica a mastigação e contribui para o desenvolvimento de infecções sérias, que inclusive podem levar o cachorro à morte.
Comer cocô é considerado um hábito nojento pela maioria dos tutores, mas praticamente todos os cães já fizeram isso. Os motivos são os mais diferentes possíveis: um deles é a própria curiosidade do peludo.
Além disso, as fezes são materiais nutritivos. Se o cachorro sentir fome e os excrementos estiverem à disposição, eles não se importarão de fazer um lanchinho. Os cães não são preconceituosos.
Evidentemente, as fezes podem causar problemas sérios. Elas podem estar infestadas por parasitas internos, como tênias e lombrigas (em forma de ovos ou larvas). Diversas infecções podem ser transmitidas pelo contato, como a cinomose e a parvovirose, que podem ser fatais.
Outro motivo comum é a educação errada: o tutor briga com o cachorro sempre que ele faz cocô “no lugar errado”. Mas o cachorro quase nunca sabe qual é o lugar certo e pode entender que o que está errado é o próprio cocô. Desta forma, ele pode comer as fezes para eliminar “as provas do crime”.
Isto pode se parecer com as teorias da conspiração que volta e meia circulam na internet, mas a hipótese está sendo considerada por diversos especialistas em comportamento animal. Você já reparou que, antes de fazer cocô, o cachorro gira em torno do corpo, como se estivesse procurando uma posição especial?
A explicação mais aceita sempre foi a de que os giros estimulam os movimentos do intestino e facilitam a eliminação das fezes. Um estudo de pesquisadores da Universidade Tcheca de Ciências Naturais, publicado em 2013 na revista “Frontiers in Zoology” demonstrou que os cachorros são sensíveis a variações magnéticas.
Eles preferem fazer cocô voltados para o norte ou para o sul e os giros são uma forma de geolocalização. O mesmo estudo mostrou que os cães perdem a capacidade de se orientar em dias chuvosos e instáveis. A intensificação da atividade solar também interfere na posição.
Em 2008, outra pesquisa (da Universidade Duisburg-Essen, na Alemanha), já havia demonstrado a mesma atividade entre o gado bovino. As manadas sempre se deslocam na direção da linha do Equador. O estudo observou o comportamento de 8.500 vacas pastando ou apenas descansando. Ao que tudo indica, o planeta também tem os seus mistérios.
E, ao contrário dos humanos, eles não conseguem esconder sentimentos. Quando um cachorro sente ciúmes, ele deixa isso explícito para os tutores. Ele pode se mostrar irritado ou até mesmo agressivo com um novo pet ou com pessoas desconhecidas em casa.
Os cachorros deixam claro que não gostam de partilhar os seus humanos com estranhos. Eles podem passar a fazer xixi no lugar errado, latir sem motivo (para chamar atenção) quando os tutores estão atendendo outras pessoas ou apresentar comportamentos obsessivos ou superprotetores.
O ideal é que o cachorro aprenda a conviver com outros seres desde filhote – os passeios são boas situações para eles compreenderem que não há nada errado para parar e cumprimentar outras pessoas e pets, inclusive brincando e oferecendo carinho.
Para cachorros adotados já adultos, ou para aqueles que não se socializam com estranhos, é preciso ter paciência e começar a reeducação. O processo é trabalhoso, mas os pets ficam mais felizes quando aprendem a compartilhar.
Alguns cachorros não são muito chegados a abraços apertados. Outros correm para se esconder com a chegada de alguns visitantes à casa. Em parte, isso pode ser explicado pela personalidade de cada pet. Os animais mais independentes (e os teimosos também) podem não gostar dos agrados exagerados.
Na maioria dos casos, a reação é devida ao medo. Basta tentar imaginar o que sente um cãozinho quando alguém, sem aviso prévio, o levanta do chão para uma altura de dois metros em alguns segundos – convenhamos, esta é uma experiência aterrorizante.
Abraços apertados e movimentos bruscos não são agradáveis e cachorros não são brinquedos: são seres vivos, com desejos e interesses próprios. Um cachorro mais independente pode interagir com brincadeiras e jogos, sem necessidade de contato constante.
Muitas vezes, os tutores (e os amigos) confundem os cães pequenos com bibelôs. É preciso lembrar, no entanto, que eles são legítimos representantes dos lobos. Um poodle toy é um mergulhador nato, sempre disposto a resgatar uma presa, enquanto um yorkshire terrier é um caçador eficaz que, durante muitos anos, se aventurou por galerias nas minas de carvão inglesas atrás de ratos e outras ameaças aos humanos.
A vida dos cachorros não transcorre em preto e branco, como algumas pessoas imaginam, mas ela não é tão colorida quanto a observada pelos olhos humanos. Os cães não são daltônicos, nem apresentam nenhum problema de visão: apenas enxergam o mundo de outra forma.
Enquanto os humanos possuem três tipos de receptores de luz (chamados cones), os cachorros possuem apenas dois. Desta maneira, a visão se torna diferente. Enquanto nós conseguimos enxergar, com nitidez, objetos a 25 metros de distância, os nossos peludos começam a ver tudo embaçado a partir de seis metros.
Eles enxergam o mundo em tons azuis e amarelos – os olhos não são impressionados pelos objetos esverdeados. Há também muitas tonalidades de cinza na visão canina.
Isto não significa que eles tenham defeitos na visão: a espécie se desenvolveu sem a necessidade de identificar todas as cores do espectro solar. Os humanos também não conseguem enxergar nada mais “lento” do que o vermelho, nem mais “rápido” do que o violeta.
O instinto animal nada mais é do que um conjunto de ações para garantir a sobrevivência e a segurança. Em casa, eles acreditam viver em uma matilha, formada também pelos tutores e pelos outros pets da família.
Naturalmente, eles não sabem que a vida social humana é muito mais complexa. Por isso, qualquer estranho que se aproxime representa uma possível ameaça – e é melhor mantê-lo a distância. Por isso, muitos cães são verdadeiros terrores para carteiros, entregadores e prestadores de serviços.
O instinto natural é atenuado com a convivência com estranhos. Quanto mais oportunidades o cachorro tiver para interagir com desconhecidos, mais tranquilamente ele reagirá. Portanto, a solução para o problema consiste em aumentar o tempo dos passeios e atividades fora de casa.
Por outro lado, os animais que vivem isolados em um canto do quintal, sem brincadeiras nem jogos, se transformam em pouco tempo em terrores para qualquer um que se aproxime do muro e do portão. O segredo para resolver o problema é socializá-los, sempre deixando-os expostos a visitas, entregadores, parentes distantes, etc.
Os cachorros conseguem apreender o significado de algumas centenas de palavras, mas eles não desenvolveram uma linguagem oral aprimorada como os humanos. Muitos peludos não sabem que se chamam “Rex” ou “Bob”: eles apenas associam estes sons a um chamado dos tutores.
Mas, se não é possível ensinar análise sintática e morfológica para os pets, eles conseguem entender muito bem a intenção das expressões dos tutores: quanto mais proximidade, mais facilmente eles compreendem o que os humanos querem dizer.
Por isso, no adestramento, os tutores devem empregar palavras curtas (de preferência, monossílabos como “sim”, “não”, “vem”, etc.), sempre as mesmas para cada situação. Não é necessário (nem indicado) elevar a voz – os cães odeiam gritos, inclusive porque têm uma audição muito melhor do que a nossa.
O tatibitate (uso de voz infantilizada) também é útil no relacionamento. Os cachorros associam esta forma de expressão a brincadeiras, agrados e “momentos a dois” com os tutores. O segredo da comunicação é simples: palavras curtas e firmes para indicar o que deve (ou não) ser feito, palavras doces para as brincadeiras e aconchegos.
Naturalmente, bocejos são indicativos de preguiça ou de sono. Mas o bocejo canino pode ter muitos outros significados. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Tóquio (Japão) em 2018, por exemplo, indica que os peludos abrem a boca em solidariedade aos tutores: quando estes estão quietos, desanimados ou cansados.
A pesquisa observou 24 pares (tutores e cachorros) e constatou que, em 72% dos casos, os cachorros repetem o bocejo quando os tutores demonstram estar cansados ou sonolentos. Isto pode indicar apenas a sincronização (os horários de descanso são os mesmos para humanos e caninos na casa), mas é mais provável que seja um gesto de companheirismo.
Nestes casos, os bocejos são uma forma de expressar solidariedade (o “contágio” também pode ser verificado em pessoas próximas). É como se eles dissessem: “Eu entendo você, tudo vai ficar bem”. Mas há também outros significados.
Um cachorro que passa a bocejar ininterruptamente pode estar tentando se tranquilizar. Isto ocorre em situações de estresse e ansiedade e é equivalente ao nosso “fechar os olhos e respirar profundamente”.
Cães e gatos pertencem a espécies diferentes, que evoluíram em condições diferentes. Os cachorros apresentam instintos de caça sempre aflorados e tendem a perseguir qualquer coisa que se mova por perto. Os gatos, por sua vez, arrepiam os pelos frente a qualquer ameaça, para parecerem maiores, e escondem-se o mais rápido possível.
Enquanto os cães querem caçar, os gatos sabem que precisam se esconder, já que são mais frágeis, mas alguns, mais ousados, entendem que “a melhor defesa é o ataque” e partem para cima dos cachorros.
A rivalidade natural, no entanto, é facilmente contornável. Para estabelecer uma relação saudável, o tutor não deve incentivar nenhum comportamento agressivo – não se pode rir quando o cão sai em disparada perseguindo o bichano.
Os cachorros sempre querem agradar os tutores e, quando percebem que as perseguições não são aceitas, passam a controlá-las. Em pouco tempo, os pets aprendem a interpretar os movimentos uns dos outros e estabelecem uma relação saudável.
Mas, se os cães e gatos da família podem se tornar “os melhores amigos de infância”, é muito difícil controlar a reação dos cachorros no caso de gatos estranhos, que circulam pelo muro da casa. Para os cães, eles sempre serão encarados como invasores, que precisam ser contidos.
A temperatura corporal dos cães é dois ou três graus mais elevada do que a nossa: quando o termômetro indica de 38,5°C a 39,5°C, o peludo não está com febre. Mas os tutores precisam garantir que os ambientes sejam arejados, porque o arrefecimento dos peludos não é muito eficiente.
Os cachorros suam apenas através das patas. Eles também controlam a temperatura eliminando saliva pela boca. Mas, se o local estiver muito quente, isto pode não ser suficiente. É o caso de um cão preso em um carro. Mesmo que o automóvel esteja na sombra, o peludo pode ficar rapidamente em apuros.
Em nenhuma hipótese, os cachorros devem ficar sozinhos em um carro estacionado, mesmo que as janelas estejam parcialmente abertas e haja oferta de água. Um cão com 39,5°C já está em situação de hipertermia.
O aumento da temperatura também pode indicar algum problema de saúde. É difícil medir em casa, mas os animais febris apresentam outros sintomas, como apatia, respiração ofegante, dificuldade na locomoção, salivação excessiva e, em alguns casos, diarreia, vômitos, desorientação e taquicardia. Nestes casos, é preciso levá-los com urgência ao veterinário.
Muitas pessoas gostam tanto de cachorros que querem acariciar e brincar com qualquer um que encontrem nas ruas. Mas é preciso tomar alguns cuidados com cães desconhecidos. Mesmo os animais sociáveis podem entender gestos bruscos como ameaças.
Antes de qualquer interação, é preciso observar o peludo. Se ele estiver latindo, arreganhar os dentes, levantar as orelhas e apontá-las para frente, erguer a cauda acima do nível da linha superior do dorso, arrepiar os pelos ou mostrar as patas rígidas, é melhor não se aproximar.
As mãos podem ser apresentadas para o cachorro, mas não devem ser estendidas na direção dele: este é um gesto de ataque. Se for preciso aproximar-se (no caso de um animal perdido na rua, por exemplo), faça a abordagem lentamente e:
A aproximação e o contato podem levar um tempo considerável. Se o cachorro apresentar sintomas de medo ou agressividade, afaste-se. Se ele estiver acompanhado do tutor, pergunte antes de fazer qualquer gesto.
É comum ouvir dizer que um ano canino equivale a sete anos humanos, mas esta conta não é exata. Em geral, o desenvolvimento inicial é rápido – muitos já são adultos com um ano de vida, mas, depois disso, o avanço da idade varia de pet para pet.
Entre os 18 meses e os sete anos de idade, quase todos os cachorros são adultos saudáveis: é como se eles se congelassem na faixa dos 30 anos humanos. Depois disso, alguns envelhecem muito rapidamente: o dogue de Bordéus dificilmente atinge os dez anos. Outros são muito longevos: dachshunds e yorkshire terriers ultrapassam os 15 anos e muitos estão ativos com 18 ou 20 anos.
Cães e humanos são animais gregários – isto é, nós e nossos melhores amigos evoluímos vivendo em grupos. É importante estabelecer uma hierarquia no nosso grupo doméstico, mas o “chefe da casa” não pode se tornar um opressor.
O tutor precisa ser o líder, mas não pode exagerar. Do contrário, o cachorro naturalmente tentará desafiar o seu humano. Se ele se sentir menosprezado, será fácil tentar “assumir o poder”. Em geral, felizmente, os peludos querem apenas agradar os tutores.
Portanto, eles não passam o tempo todo em atitudes de desafio. Os cães podem não entender o que se espera deles, mas não assumem atitudes apenas para contrariar os tutores. É importante ensinar os comandos básicos e as regras da casa, mas a chave para o sucesso é a paciência.
Para o cachorro, há muitas vantagens quando o tutor é encarado como o “alfa da matilha”. Demonstrando submissão, o peludo garante alimento, agasalho, abrigo, brincadeiras, carinhos e cuidados. Mas, se o tutor se tornar um tirano, o cão pode sentir-se infeliz; o passo seguinte será procurar outras formas de satisfação.
A maioria dos tutores adora as lambidas dos cachorros. O beijo se tornou uma expressão de afeto entre os humanos e, quando os cachorros dão lambeijos, a tendência é considerá-los como demonstrações de amor.
Mas não é tão simples assim. Os filhotes lambem as mães na busca de proteção e alimento – muitas cadelas chegam a regurgitar diretamente na boca das crias. Os adultos também costumam lamber o focinho de outros cães para encontrar substâncias que possam identificá-los.
Nestes casos, as lambidas são apenas buscas de informação. O cachorro pode passar a fazer isso sempre que o tutor volta para casa (e está recoberto de cheiros diferentes, mesmo que não consigamos captá-los).
As lambidas são manifestações de carinho e não há nada errado com elas. Certifique-se apenas de que o cachorro esteja vermifugado e vacinado, não deixe que ele se aproxime de lixeiras, escove os dentes do peludo regularmente (pelo menos uma vez por semana) e não esqueça as consultas com o veterinário.
Cachorros gostam de cheirar o traseiro uns dos outros e, às vezes, eles também procuram captar odores de humanos, felinos etc. Este é um comportamento normal. Algumas substâncias presentes nas glândulas perianais (em torno do ânus) são úteis na identificação e revelam diversas características, como um comportamento amistoso ou agressivo, por exemplo.
As cafungadas no traseiro também servem para informar se o animal encontrado é macho ou fêmea, o que ele comeu recentemente, se ele está contente e relaxado (ou ansioso e violento), etc. É uma espécie de bate-papo, em que as palavras são substituídas por substâncias químicas.
Os cachorros não são os únicos animais que se comunicam através dos cheiros exalados pelo traseiro. A maioria das espécies usa alguns aromas quando estão sexualmente receptivos, por exemplo. Os cheiros podem ser desagradáveis para o nariz humano, mas são preciosidades para os peludos.
Conviver com um cachorro envolve inúmeros benefícios. Por exemplo, os tutores se tornam mais sociáveis, as exigências caninas ajudam a afastar a depressão e a ansiedade, os passeios diários combatem os males do sedentarismo.
Um estudo de 2013, realizado na Universidade de Maryland (EUA), demonstrou que cuidar de um cachorro pode ter influência direta na regularização da pressão arterial. A pesquisa observou humanos de 50 anos ou mais, diagnosticados com quadros de hipertensão leve e moderada, vivendo ou não com um pet em casa.
Os voluntários passaram a usar medidores automáticos de pressão arterial, que, durante três meses, foi mensurada a cada 20 minutos. Os resultados demonstraram a redução tanto da pressão sistólica (quando o músculo cardíaco se contrai) quanto diastólica (quando o coração relaxa). Ficou comprovado que a presença de um cão melhora a qualidade de vida dos humanos.
Os cachorros apresentam uma terceira pálpebra, chamada membrana nictitante. Ela está localizada na região inferior do olho, entre a pálpebra inferior e a córnea, e é dotada de uma glândula especial.
Junto com a glândula lacrimal, a glândula da terceira pálpebra é responsável pela produção das lágrimas. Esta substância é fundamental para lubrificar os olhos e também exerce papel fundamental na atividade imunológica do globo ocular.
Esta glândula pode apresentar alguns problemas de hiperplasia ou hipertrofia. O mais frequente é a protrusão, que pode ser uni ou bilateral. A condição tem origem genética e é mais comum em cocker spaniels, shih tzus, lhasa apsos, basset hounds, beagles, buldogues ingleses e shar-peis.
O tratamento é feito com anti-inflamatórios e antibióticos, que controlam as inflamações e infecções nos olhos. Muitas vezes, a protrusão da terceira pálpebra desaparece depois do tratamento. Em alguns casos mais raros, pode ser necessária uma cirurgia para resolver o problema.
Alguns cachorros são treinados para farejar drogas, armas e objetos ilícitos sem necessidade de entrar no domicílio ou em algum esconderijo: basta levá-los até as redondezas do local suspeito, para que eles indiquem alguma ilicitude.
Isto é muito útil quando policiais e membros do Ministério Público não reúnem evidências suficientes para obter um mandado de busca em alguma residência ou escritório. Está previsto, no Código de Processo Penal, que as demonstrações dos cachorros podem ser usadas em tribunais.
Desta maneira, os agentes legais podem usar cães farejadores para encontrar materiais ilegais. Se os cachorros identificarem objetos ou substâncias, a reação pode ser apresentada para embasar a permissão para uma ação policial mais detalhada.
Já é lendária a notoriedade do São Bernardo, quando se trata de resgatar vítimas de avalanches. Em países frios e montanhosos, muitos cães da raça aparecem em manchetes como protagonistas em salvamentos.
Menos conhecidos, os terras novas também são verdadeiros heróis. O nome da raça, que foi desenvolvida no nordeste da América do Norte, é imponente: newfoundland dog (cão da “nova terra descoberta”, a península do Labrador, no Canadá.
O terra nova tem grande reputação como salva-vidas. Descendente de cães d’água britânicos, ele é fã de brincadeiras aquáticas e tornou-se especialista em ações de busca, socorro e resgate. A raça foi além: apesar de não ter se adequado à guarda de patrimônio, o terra nova também atua em incêndios, inundações e outros desastres.
Muita gente quer conhecer a identidade da personagem da música “Martha, My Dear”, que integra o White Album dos Beatle, lançado em 1968. Pois bem: a música foi composta por Paul McCartney, para homenagear a cadela Martha, da raça bobtail.
Outros cachorros inspiraram astros do rock. Em “Bron Yr-Aur Stomp”, música do disco III do Led Zeppelin (1970), Robert Plant conta alguns momentos partilhados com Strider, o seu parceiro de quatro patas. O autor afirma na letra que “esta relação é uma amizade que ninguém poderia substituir”.
Neil Young tinha um cachorro chamado Elvis, que o acompanhava em todas as viagens e shows. Para homenagear o amigo, mas não causar confusões com o lendário astro do rock Elvis Presley, ele chamou o cachorro de “Old King” na letra da música country.
Eles não têm calendários nem relógios, mas também conseguem contar o tempo. Os cachorros antecipam algumas atividades, como a hora de sair para passear, e algumas vezes parecem ter poderes sobrenaturais, quando antecipam a chegada dos tutores.
Provavelmente, os cachorros não sabem calcular quanto tempo eles permaneceram sozinhos em casa, à espera dos tutores. Entre brincadeiras e sonecas, eles ocupam o dia enquanto os humanos estão ausentes, mas sentem falta e sabem que os amigos não estão ali.
Os nossos peludos também conseguem reconhecer quando é hora de ir para cama – e também quando levantar-se. Eles também possuem um ciclo circadiano, que dura cerca de um dia (como diz o nome) e organiza as tarefas de acordo com os “horários”.
O cachorro Duke exerceu, durante três mandatos consecutivos, o cargo de “prefeito honorário” de uma cidade americana. Entre 2014 e 2016, Duke foi eleito para chefiar o executivo municipal de Cormorant Township, em Minnesota (norte dos EUA).
O cachorro foi eleito pelos habitantes da cidade em uma festa municipal, na qual é preciso doar um dólar para votar. O dinheiro obtido é revertido em ações sociais. Depois dos três mandados, Duke se aposentou.
Cormorant Township é apenas uma vila rural com pouco mais de 1.100 moradores. Por isso, Duke se tornou muito famoso na região, sempre ajudando a angariar fundos. O cachorro morreu em 2019, aos 13 anos, e foi reverenciado por toda a população.
A convivência com os humanos trouxe muitas vantagens e benefícios para os cachorros. A vida é muito mais segura em nossas casas do que na natureza, tendo de lutar todos os dias pela sobrevivência. Enquanto um lobo livre vive entre dez e doze anos, alguns cachorros domésticos atingem os 20 anos.
Mas também há problemas. Os humanos também transmitiram alguns hábitos inadequados para os cachorros. Um deles é o sedentarismo: uma alcateia caminha até 200 km em um dia, enquanto os nossos peludos andam apenas poucas quadras.
A alimentação deficiente, a falta de estímulos para os exercícios físicos e as comodidades da vida moderna também atrapalham os cachorros: atualmente, a obesidade é o principal problema de saúde dos nossos peludos.
A obesidade canina acarreta diversos outros males. Ela prejudica as articulações, ossos e músculos, compromete a digestão e está associada a transtornos respiratórios, neurológicos e cardiovasculares. Os tutores precisam se levantar do sofá e começar a praticar exercícios com os cães: a saúde das duas espécies agradece.
Em abril de 1912, foi registrado um dos maiores naufrágios da história, já contado em livros, peças de teatro e filmes: o desastre do Titanic, considerado “inafundável”, mas que naufragou em sua viagem de estreia, entre a Inglaterra e os EUA.
Na época, transportar animais de estimação em viagens de passeio era um luxo reservado aos passageiros da primeira classe. A embarcação zarpou de Southampton, com destino a Nova York, mas a viagem foi interrompida em apenas quatro dias.
Havia 2.435 passageiros humanos a bordo, além de 12 cães e algumas aves engaioladas (é possível que houvesse outros pets embarcados clandestinamente). Apenas três peludos sobreviveram ao naufrágio: dois lulus da Pomerânia e um pequinês.
Oficialmente, o título de cachorro mais velho coube a Bluey, um boiadeiro australiano, que viveu incríveis 29 anos, cinco meses e sete dias. O registro foi feito no Guinness Book of Records. Bluey viveu entre 1910 e 1939, em Rochester, na Austrália.
Em 2016, outro tutor australiano, Brian McLaren, tentou reivindicar o título para a cachorra Maggie, afirmando que ela tinha completado 30 anos. O tutor, no entanto, não dispunha da certidão de nascimento do animal, nem de registros veterinários que comprovassem a longevidade.
No Brasil, o cachorro mais velho é Fred, um pinscher miniatura que fez algum sucesso ao aparecer em um programa de TV em 2018. Na época, o tutor afirmou que o cãozinho tinha 24 anos. Não surgiram outras notícias sobre Fred.
Atualmente, o cão mais velho é o dachshund Funny, que vive em Osaka (Japão) e está prestes a completar 22 anos de idade. Os cães da raça são famosos pela longevidade, apesar de muitos deles apresentarem problemas na coluna vertebral.
O responsável pelo estrago é a teobromina, um alcaloide da família das metilxantinas que está presente no cacau e também nas sementes do guaraná. No organismo humano, o consumo excessivo causa náuseas e prejudica o apetite.
Nos cães, o problema é mais grave. Para os peludos, a DL50 (dose letal, que causa a morte de metade dos indivíduos que ingeriram a substância) é de 300 mg/kg (miligramas por quilo de peso corporal). O organismo canino também metaboliza mais lentamente a teobromina, que só é eliminada totalmente depois de 17 horas do consumo.
Um chocolate ao leite de 50 gramas tem, em média, 95 miligramas de teobromina. Os cães, de acordo com a quantidade ingerida, podem apresentar os seguintes sintomas:
Os danos são cumulativos. O prognóstico é positivo quando se identifica a ingestão em até quatro horas, principalmente se houver indução ao vômito ou lavagem cerebral. Depois dessas quatro horas, ou quando surgem efeitos cardiotóxicos e/ou convulsões, a taxa de mortalidade ultrapassa 50% dos casos.
A razão principal é a autoproteção. Quando estamos dormindo, ficamos mais expostos a eventuais ameaças no ambiente e os cachorros enrolam o corpo para proteger os órgãos torácicos e abdominais.
A posição também facilita o aquecimento. No frio, muitos cachorros tocam o baixo ventre com o focinho, para garantir melhor conforto térmico. Portanto, ela é mais comum entre os animais friorentos – é a posição favorita dos filhotes e dos idosos, por exemplo.
Quando um cachorro estica o tronco e as patas, tornando a coluna vertebral mais reta, é um sinal de que ele está confortável e confia totalmente no local – e nas pessoas que estão à sua volta. Esta posição indica que o peludo confia plenamente nos tutores.
Os latidos podem ser um problema sério para os tutores e também para os vizinhos. Mas não há muito que se possa fazer: os cachorros latem para se comunicar e, com exceção dos exageros, quase sempre relacionados ao medo e à ansiedade, o barulho é normal.
A única raça canina que não late é o basenji, um dos poucos desenvolvidos no continente africano. A ausência dos latidos é devida à estrutura específica da laringe, que impede a formação dos ruídos. Mesmo assim, ele consegue “falar” com alguns uivos.
Algumas raças são mais silenciosas, enquanto outras são especialmente barulhentas, como é o caso do beagle. Entre os cães mais “quietos”, estão o malamute do Alasca, o ridgeback, o terra nova, o akita, o shiba, o afghan hound e o dogue alemão, mas o “silêncio” varia de indivíduo para indivíduo.
Em média, os cachorros conseguem assimilar o significado de 160 a 250 palavras – como já foi dito, eles apresentam um vocabulário semelhante ao exibido por uma criança de três anos. Mas não é toda palavra que os peludos compreendem.
De acordo com o estudo de Stanley Coren já citado, os cães têm mais facilidade com consoantes fortes (C, D, P e T), enquanto as suaves (F, L, R e S) representam desafios maiores para eles. O aprendizado é mais fácil com substantivos, como “bola”, “osso”, etc. Os verbos também são assimilados, desde que estejam associados a ações imediatas: “vem”, “fica”, etc.
O título de mais inteligente do mundo pertence à cadela Chaser, cujo tutor é Jon W. Piller, professor de psicologia do Wolford College (Carolina do Sul, EUA). A cachorra consegue compreender o significado de 1.000 palavras diferentes.
Muito provavelmente, o shiba é a raça canina mais antiga, ao lado do akita. As duas raças, que são muito semelhantes (o shiba é menor), foram desenvolvidas no Japão. Há ilustrações datadas de sete mil anos de animais muito parecidos com o shiba e o akita.
O saluki é descendente dos antigos cães egípcios (como o "hound do faraó") e migrou para outros pontos da África e do Oriente Médio há mais de quatro mil anos – costuma-se dizer que a raça é mais antiga do que as pirâmides do Egito.
Outras raças consideradas primitivas são o basenji, com registros de 2.500 anos, o chow-chow, que parece ter sido retratado há 2.200 anos. Na Europa, os mais antigos são os spitz, nativos da Alemanha: entre eles, está o lulu da Pomerânia, ou spitz alemão anão.
Gestores públicos estão sempre à procura de novas formas de arrecadação de tributos. Um dos heróis da independência americana, que se tornou o terceiro presidente dos EUA, teve a ideia de taxar a posse de cães.
Antes de chegar à presidência, Jefferson governou a Virgínia, uma das treze províncias inglesas que se uniram para formar os EUA. Durante o mandato, o chefe do executivo ajudou a aprovar um imposto sobre cachorros. Ele estava incomodado com a quantidade de cães que circulavam livremente no Estado, considerados um perigo para os rebanhos de ovelhas.
No Brasil, metade do preço das rações para cachorros é composta por tributos – os principais são o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Esta taxação é uma das responsáveis por apenas metade da população canina do país (52,4 milhões de cães) serem alimentados com restos de comida.
Joe Biden, atual presidente dos EUA, mudou-se para a Casa Branca – sede do governo federal, em Washington – juntamente com os seus dois cães, Champ e Major, retomando uma antiga tradição de “cachorros no poder” no país.
Antes de Biden, o republicano Donald Trump se tornou o primeiro presidente, em cem anos, a não levar cachorros (nem outros animais de estimação) para a Casa Branca. Uma curiosidade: os últimos inquilinos antes dos cães de Biden foram Bo e Sunny, dois cães d’água portugueses, uma raça até então pouco conhecida nos EUA.
No Brasil, desde a redemocratização (em 1985), todos os presidentes levaram cães e gatos para o Palácio da Alvorada. O casal Bolsonaro adotou um cão de rua, sem raça definida, que foi alçado à condição de “primeiro cachorro” da República.
A adoção de um cachorro sempre traz reflexos positivos para a família. Um peludo faz companhia, protege, estimula os exercícios físicos, proporciona bons momentos e até melhora a saúde em todos os sentidos.
Não existe uma “idade certa” para adotar um cachorro. Mas, quem quer se tornar pai ou mãe de um filho de quatro patas e pretende acompanhar todas as fases do desenvolvimento deve escolher um filhote entre sete e oito semanas de vida.
Com esta idade, os cãezinhos são mais independentes dos cuidados maternos, provavelmente já receberam as primeiras doses de vacinas e vermífugos e os candidatos a tutor conseguem avaliar melhor a personalidade: alguns são mais ousados, outros são tímidos e carentes.
Vale lembrar: um cachorro exige uma série de cuidados, carinhos, brincadeiras, além de educação para desenvolver a inteligência e o organismo físico. Os tutores precisam se armar com muita paciência e avaliar cuidadosamente o impacto sobre o orçamento doméstico: eles dão trabalho e muitas despesas.
Durante 11 anos consecutivos, uma cadela sempre à procura da família perdida conquistou os corações de milhares de fãs. O seriado é um dos mais icônicos da TV americana e fez sucesso no mundo inteiro.
Assim como Rin-Tin-Tin, outro astro de quatro patas, Lassie foi interpretada por vários cães. O que manteve o papel por mais tempo (sete anos) foi Pal, um collie macho. A personagem surgiu na literatura, em “Lassie Come Home”, do inglês Eric Knight.
Nas telas, a cachorra surgiu primeiro no cinema, em 1943. No Brasil, o filme recebeu o nome de “A Força do Coração”. Ao lado da collie, uma atriz estreante atuou como coadjuvante: nada menos que a lendária Elizabeth Taylor. Na sequência, em “O Mundo de Lassie”, a cachorra contracenou com Janet Leigh (a protagonista de “E o Vento Levou”).
O seriado televisivo estreou em 1954 – com o filho de Pal, Lassie Jr., no papel principal. Produzida pela CBS, a atração mobilizou os fãs americanos durante 17 temporadas consecutivas. No Brasil, o programa “As Aventuras de Lassie” foi transmitido de 1956 a 1974, com diversas reprises.
Em 2021, um cachorro ficou famoso nos meios de transporte de Istambul, uma das maiores cidades da Turquia. Boji passou a circular em ônibus, trens e até mesmo balsas – a cidade é dividida pelo estreito de Bósforo, que separa a Ásia da Europa.
Boji aprendeu até mesmo a usar os elevadores do metrô de Istambul. Ele sabe acessar as plataformas de embarque e aparentemente conhece os itinerários, porque sempre desembarca nas mesmas estações. Com um rastreador, os técnicos do metrô descobriram que ele circulava cerca de 30 km por dia.
O cachorro permaneceu por dois meses perambulando pela cidade e encantando os passageiros. Finalmente, ele foi adotado pelo Departamento de Trens de Istambul, tornando-se a mascote oficial do metrô. Na sua conta no Instagram, Boji é seguido por mais de 24 mil internautas.
Todos os cachorros descendem dos lobos. Um estudo publicado em 2017 vai além: de acordo com pesquisadores coordenados por Krishna Veeramah, da Universidade Stony Brook (Nova York, EUA), os cães atuais surgiram a partir de uma população de um único local, em algum momento entre 40 mil e 20 mil anos atrás.
O estudo partiu da análise dos fósseis de três cães encontrados na Irlanda e na Alemanha, com idades entre 4,7 mil e sete mil anos. Os três peludos mostraram ter ancestrais comuns com os cães atuais.
Os humanos aparentemente não se beneficiaram imediatamente do processo. De acordo com a nova pesquisa, a variedade levou algumas centenas de anos antes de estabelecer a parceria de caça com o H. sapiens.
De lá para cá, os cães foram selecionados por características específicas e, desta forma, surgiram animais tão diferentes quanto um chihuahua e um dogue alemão.
Os cachorros domésticos convivem há muito tempo com os humanos. Tanto tempo que acabaram se tornando imprescindíveis, de alguma forma. Atualmente, apesar de a maioria ser adotada apenas como companhia, eles estão presentes em pelo menos 30% dos lares mundiais.
Um estudo da Organização Mundial da Saúde, em 2012, estimou a população canina em 525 milhões de indivíduos. Nos dias de hoje, este número deve ter saltado para 900 milhões. Acredita-se que 70% da população seja composta por animais abandonados.
O Brasil tem uma população de 52,4 milhões de cães, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. É mais do que o dobro dos 23,9 milhões de gatos. No total, 76% dos lares brasileiros contam com pelo menos um pet.
Os cachorros conversam com olhares e são capazes de perceber quando nós estamos ou não prestando atenção a eles. O longo tempo de convivência entre humanos e cães levou estes últimos a desenvolver diversas estratégias de comunicação desconhecidas na natureza.
Estudos indicam que os cachorros tentam estabelecer comunicação visual com os humanos (especialmente os tutores) e se esforçam muito para serem percebidos. Eles se incomodam não apenas quando os tutores os ignoram, mas também quando não prestam atenção ao que os peludos estão fazendo.
A pesquisa, que serviu de base para a tese de doutorado de Carine Redigolo, apresentada ao Instituto de Psicologia da USP, pode facilitar bastante o adestramento dos cachorros. Os peludos se tornam mais comunicativos quando a interação com os tutores é mais frequente.
É muito comum observar um cachorro disparar em corridas pela casa. Do nada, os peludos desatam a correr de um lado para outro, pular sobre os móveis e espalhar brinquedos, em verdadeiras explosões de energia.
Esta atividade já recebeu um nome por parte dos especialistas em comportamento animal: é o zoomie, ou uma explosão de euforia. Desde que não ocorram com frequência excessiva, os zoomies não indicam nenhum problema específico.
Também chamados de FRAP (sigla para “frenetic random activity period”, ou período de atividade aleatória frenética), são episódios de atividades desenfreadas, mais comuns nos filhotes e jovens. O zoomie pode ocorrer até mesmo a noite, durante o repouso.
Uma das explicações possíveis é que os cachorros são animais de hábitos crepusculares: eles se tornam mais ativos no fim da madrugada ou no início da noite. Como o nível de atividade física é muito menos agitado nos ambientes urbanos, os peludos acabam “explodindo”.
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