Vicki Spencer sempre foi apaixonada por cães. Ela decidiu, há pouco mais de dez anos, desenvolver uma raça canina específica: ela queria criar animais fisicamente semelhantes aos lobos, mas sem perder a lealdade e a alegria dos cachorros. Aos poucos, surgiu o pastor da baía azul.
Spencer, no site da raça, afirma que a nova raça canina, ainda não reconhecida por nenhuma entidade oficial, que os cães foram inspirados no azul profundo da lagoa do Indian River, que banha Palm Bay, uma cidade da Flórida separada do Atlântico por uma restinga.
Ainda não existem muitos pastores da baía azul (blue bay shepherd, em inglês), mas a raça tem tudo para se tornar popular, especialmente entre os amantes de cães de grande porte. A criadora conseguiu reunir a aparência selvagem dos cães com a camaradagem dos cães pastores.
Ele é um cão de grande porte (molossoide), pelo cinza e longo, que exibe belos olhos azuis. Os lobos-cinzentos (Canis lupus), utilizados nos cruzamentos que selecionaram a raça, também nascem com estas características.
Trata-se de um animal imenso: os machos chegam a atingir 75 cm de altura na cernelha. O peso varia entre 38,5 kg e 47,5 kg. As fêmeas são sensivelmente menores, com 65 cm de altura e peso de 31,5 kg e 38,5 kg.
A pelagem dos cães da raça é sempre sólida, raramente exibindo marcações ou manchas. O cinza é a cor predominante, variando na tonalidade (o pastor alemão antigo é sempre cinza e nunca exibe a capa distintiva dos pastores modernos). Alguns pastores da baía azul ainda nascem com outras cores:
Os cães black and tan e os azuis e castanhos tendem a ter o pelo fortemente clareado e esmaecido à medida que a idade avança. Os azuis (característica perseguida pela criadora) mantêm a cor durante toda a vida.
Eventualmente, alguns filhotes nascem com os olhos verdes e, mais raramente, são castanhos. Isto é um indicativo da presença de um ou mais genes recessivos circulando entre as gerações do pastor da baía azul.
A semelhança entre o pastor da baía azul e o lobo-cinzento é impressionante, mas os cães do Southern Ranch exibem a cabeça mais delicada e olhos menores, o que reduz sensivelmente a aparência selvagem.
Os cães da raça são mais esguios que os parentes não domesticados, mas nem de longe podem ser considerados frágeis. O pastor da baía azul é forte, resistente e muito atlético. Ele mantém as orelhas sempre eretas, um sinal de que está atento e pronto para agir.
As características emocionais parecem estar definitivamente estabelecidas. O pastor da baía azul é extremamente gentil para o tamanho e dificilmente apresenta evidências de traços negativos, como dominância e territorialidade. Naturalmente, o temperamento canino é fortemente influenciado pela maneira como ele é criado.
Pode-se definir o pastor da baía azul como um cão equilibrado, tranquilo, agradável, ativo (muito brincalhão e atlético) e sociável. Os cães da raça são gregários e adoram a companhia da família. Alguns descendentes se mostraram bastante úteis no manejo do gado.
O tutor precisa ser igualmente ativo e a família preferencial do pastor da baía azul é numerosa, para que ele possa estabelecer relações diferenciadas: do cuidado com crianças pequenas às atenções necessárias aos idosos.
O pastor da baía azul é um andarilho, característica herdada dos lobos-cinzentos (também presente nos pastores alemães e nos cães nórdicos). O passeio ideal, para um cão da raça, não pode ser inferior a quatro quilômetros diários. Mas o passo predileto é o trote (não é um animal de corrida).
Um grande quintal murado é o espaço ideal para os cães da raça, sem esquecer os passeios diários. O pastor da baía azul gosta de perseguir rastros, nadar, mergulhar e aceita trabalhar em atividades complexas, como agility e flyball.
Com atributos tão destacados, o pastor da baía azul tem tudo para se tornar um campeão de popularidade, cruzar fronteiras e figurar na lista dos preferidos entre os cães de grande porte. Resta ainda muito trabalho a ser feito, para fixar todos os atributos físicos e psicológicos da raça.
Vicki Spencer está organizando o primeiro clube oficial do pastor da baía azul, um pré-requisito para a publicação de um padrão oficial das raças nos EUA. Alguns cães já estão aptos para participar de exposições e competições, igualmente obrigatórias para o reconhecimento.
Por fim, é preciso que outros criadores se interessem pela raça e entrem em acordo sobre as diretrizes para o desenvolvimento do pastor da baía azul.
Para dar início à criação, Spencer selecionou cães lobos com algumas características específicas. Durante cinco gerações, ela reservou para reprodução apenas os animais que exibissem tanto a anatomia quanto o temperamento desejados.
Todas as gerações do pastor da baía azul nasceram no Southern Breeze Ranch, em Palm Bay, no leste da Flórida. O interesse da criadora era obter cães com as seguintes características:
Ao mesmo tempo, Spencer esforçou-se por eliminar alguns traços, considerados indesejáveis por ela:
Ao mesmo tempo, a criadora procurou atenuar a curvatura exagerada na linha dorsal superior, especialmente na garupa. Quase todos os cães de grande porte exibem esta curva, que é responsável pela displasia de quadril.
Esta doença, que também vem sendo eliminada em raças tradicionais, é o principal problema de saúde dos cães pastores e boiadeiros, como rottweilers, dogues alemães, são bernardos, bloodhounds e wolfhounds, por exemplo.
A primeira ninhada com as características perseguidas por Spencer nasceu em março de 2011: todos os filhotes exibiam a pele densa e longa, de cor acinzentada, com olhos azuis. Nos últimos 20 anos, a criadora incorporou outros cães para melhorar a raça, mas este é um segredo mantido a sete chaves.
Sabe-se que Spencer cruzou cães lobos com pastores alemães (a raça é, talvez, o principal símbolo da lealdade canina), mas a criadora não revela a “receita”. Alguns estudos isolados sugerem a colaboração de pelo menos oito raças caninas para o desenvolvimento do pastor da baía azul; entre elas, o husky siberiano e o malamute do Alasca.
Na verdade, a criadora importou da Alemanha dois altdeutsche schäferhunds (pastores alemães de linhagem antiga). Esta é uma variedade de pelos compridos, que deixou poucos sobreviventes após a Segunda Guerra Mundial, mantidos na antiga Alemanha Oriental.
Por enquanto, as sucessivas gerações do pastor da baía azul apresentam temperamento amoroso, gentil e estável, além de gozarem de boa saúde. Nos EUA, é comum encontrar anúncios oferecendo cães blue bay shepherd à venda, mas os cachorros legítimos são apenas os nascidos no Canil Southern Breeze.
Poucos cães da raça nascem a cada ano, uma vez que Spencer afirma manter todas as garantias para as cachorras reprodutoras, que não acasalam no cio seguinte ao nascimento das ninhadas. Por isso, encontrar um pastor da baía azul ainda é muito raro.
O American Kennel Club (AKC) deu início à avaliação da nova raça, visando a um possível reconhecimento oficial. Por enquanto, o United Kennel Club (UKC) ainda não se pronunciou sobre o pastor da baía azul. AKC e UKC são as principais entidades cinológicas dos EUA.
Raças de cães lobos surgiram em diversos pontos do planeta, de forma acidental ou provocada pela intervenção humana. As raças nórdicas são as mais predispostas ao acasalamento com lobos selvagens.
Três raças são reconhecidas por entidades internacionais: o cão lobo de Saarloos (dos Países Baixos), o de Kunming (da China) e o tchecoslovaco (da antiga união entre Eslováquia e República Tcheca).
O Saarloos foi obtido através do cruzamento entre um pastor alemão e uma loba de zoológico; o cão tcheco, de outro pastor alemão e uma loba dos Cárpatos; não há notícias sobre as linhagens que resultaram no cão de Kunming, mas é certo que ele surgiu no Oriente).
As três raças são empregadas em atividades de resgate e principalmente em tarefas bélicas, como rastreio de minas e outros artefatos explosivos. Em comum, elas mantêm o tamanho e a agressividade dos lobos.
Esta característica, no entanto, não é desejada pela maioria dos tutores. Por isso, as criações de Kunming, Saarloos e tchecoslovacos são muito restritas. Estes cães também necessitam de muito espaço, são exímios caçadores e preferem vagar sozinhos.
Spencer procurou manter as características lupinas, mas em paralelo à lealdade e à camaradagem que transformaram o cachorro no melhor amigo dos humanos. O pastor da baía azul é dotado destes atributos.
Uma desvantagem é que, apesar de o primeiro pastor da baía azul ter sido documentado em 2011, não existem outros criadores da raça, além da moradora de Palm Bay. Por isso, os acasalamentos consanguíneos são muito frequentes, o que pode favorecer uma série de doenças genéticas.
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