Um novo estudo publicado na revista Current Biology revelou um comportamento fascinante das orcas residentes do sul: elas usam algas como ferramentas para higiene e interação social. Mais do que isso — as baleias não apenas utilizam objetos do ambiente, mas modificam as algas marinhas com os dentes para que fiquem no formato ideal para a limpeza da pele. É a primeira vez que se documenta mamíferos marinhos criando e moldando ferramentas.
A descoberta é considerada um marco na pesquisa sobre cetáceos e levanta reflexões sobre a inteligência, cultura e a urgência da conservação dessa população ameaçada.
Pesquisadores observaram cerca de 30 episódios em que orcas usaram talos de algas para esfregar umas nas outras, retirando pele morta. O comportamento foi descrito como semelhante à higiene social de primatas e outros mamíferos terrestres. As baleias são vistas pegando as algas no ambiente, cortando-as com os dentes e adaptando-as para facilitar a fricção contra a pele dos companheiros.
“Não é apenas o uso de ferramentas. Elas as modificam antes de usar — algo raramente documentado na vida marinha”, explicou Michael Weiss, diretor de pesquisa do Whale Research Center em Friday Harbor, Washington, e um dos autores do estudo.
Além do cuidado corporal, os pesquisadores acreditam que essa prática fortalece vínculos sociais, especialmente entre membros geneticamente relacionados. Esse tipo de comportamento reforça a teoria de que as orcas possuem uma cultura complexa, passada de geração em geração.
“É uma prática comparável à forma como macacos e outros mamíferos se alisam como forma de socialização”, disse Weiss. Deborah Giles, cientista da SeaDoc Society, reforça que as orcas são animais altamente inteligentes e com cérebros moldados para o aprendizado social, memória e emoção.
Apesar de serem estudadas há mais de 50 anos, o comportamento passou despercebido até recentemente, devido à dificuldade de observação subaquática. A mudança veio com a chegada de drones equipados com câmeras de alta resolução, permitindo que os pesquisadores visualizassem melhor as interações entre os animais.
“Com o novo drone, conseguimos captar vídeos muito mais nítidos. Agora, praticamente todos os dias em que voamos sobre as orcas, vemos ao menos um par praticando esse comportamento”, relatou Weiss.
A primeira observação foi em abril de 2024, e desde então os registros se tornaram frequentes.
As orcas residentes do sul são uma população criticamente ameaçada, com apenas 73 indivíduos catalogados, segundo o Whale Research Center. Elas vivem em grupos familiares liderados por fêmeas mais velhas, nas águas do estado de Washington, incluindo a região de Puget Sound, próxima a Seattle.
A espécie enfrenta diversas ameaças: escassez de presas (principalmente salmões), poluição e ruído causado por embarcações. Pesquisadores alertam que, sem medidas mais rígidas de proteção, as orcas podem desaparecer.
“Essa descoberta reforça o valor cultural e biológico dessa população. Não estamos falando apenas de 73 animais — estamos falando de uma sociedade, com tradições milenares”, declarou Weiss.
A descoberta do uso de ferramentas pelas orcas representa um avanço extraordinário na compreensão da inteligência animal. Também reforça a importância de proteger espécies ameaçadas que carregam culturas próprias, invisíveis até pouco tempo atrás por limitações tecnológicas.
“Estamos apenas começando a entender a profundidade da mente desses animais. E para isso, precisamos garantir que eles continuem existindo”, concluiu Giles.
Com informações: nbcnews
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