Os cachorros conseguem ouvir sons inaudíveis para os humanos. Eles também não dissociam as sensações recebidas do ambiente – para eles, tudo está interligado. Isto significa que sons, sabores, cheiros, toques e estímulos visuais estão sempre interligados: portanto, um som está sempre associado a determinadas experiências. Por isso, os cachorros odeiam alguns barulhos e ruídos.
Como regra geral, pode-se dizer que os cães odeiam todos os sons estridentes. Eles são percebidos como verdadeiros sinais de alerta: alguma coisa está errada nas redondezas – e esta coisa pode ser o próprio cachorro, quando o som estridente equivale a uma bronca do tutor.
Alguns barulhos são realmente insuportáveis para os cães. Uma vez que eles conseguem captar frequências de até 40 mil Hertz (o ouvido humano capta apenas metade: até 20 mil Hertz), os peludos normalmente odeiam sons muito altos, agudos, especialmente quando são prolongados.
Os cachorros também prezam muito a regularidade no dia a dia. Eles gostam de uma boa rotina – que inclui comida, brincadeiras, carinhos, explorações e aventuras. Para eles, alguns tons possuem o dom de alterar o cotidiano – e isto definitivamente não deveria acontecer.
O motivo é que, na natureza, tudo se encaminha normalmente. Quando um barulho estranho afeta os canais auditivos dos animais, isto significa que algo está errado. Os sons podem indicar a presença de predadores, mudanças de temperatura, aproximação de chuva, deslizamentos de rochas e terra, etc.
A intensidade dos sons estridentes pode desencadear sensações de medo (que pode atingir o pavor), irritação, ansiedade e estresse. Com o estímulo sonoro inesperado, o organismo começa a se preparar para enfrentar o perigo ou fugir dele.
Trata-se de uma resposta orgânica. Ao ouvir os sons que eles odeiam, o metabolismo canino aumenta a produção de alguns neurotransmissores, como dopamina, serotonina e adrenalina. Em condições normais, essas substâncias geram sensação de bem-estar e felicidade.
Quando ocorre uma mudança súbita, no entanto, esses mesmos neurotransmissores disparam os mecanismos de defesa (que incluem a fuga e o ocultamento). Os cães (e nós também) se preparam para o enfrentamento ou a fuga, uma situação de emergência, que pode ter consequências desagradáveis.
Sempre é possível encontrar cachorros que não se incomodam tanto com alguns ruídos, mas mesmo os peludos com perda auditiva parcial conseguem registrá-los e tentam identificar a origem. Alguns sons são especialmente odiados pelos cães.
Eles certamente lideram a lista dos mais odiados e não adianta substituí-los pelos “silenciosos” (que, na verdade, não são isentos de ruídos, especialmente para a audição canina). A pólvora de projeção, que lança os artefatos coloridos para o céu, é sempre barulhenta.
Há alguns anos, algumas cidades brasileiras proibiram a comercialização de fogos de artifício barulhentos, mas não a sua produção. A justificativa é que a interdição total causaria prejuízos financeiros insanáveis. No entanto, essa legislação, na melhor das hipóteses, implicaria apenas a “exportação de barulho” para outras localidades.
Os fogos barulhentos foram banidos de celebrações oficiais, como a queima nas festas de Réveillon, mas não impediram o uso em festas particulares – e em comemorações de finais de campeonato. Não é possível fiscalizar todos os consumidores que adquirem esses produtos.
Para os cães, os fogos são muito semelhantes a trovões e, na intensidade em que eles são detonados, só há uma explicação possível para os peludos: está se aproximando uma tempestade violenta, como nunca foi vista.
Desta forma, chega o momento de esconder-se, para garantir a vida e a integridade. É um grande problema para os tutores, porque muitos cachorros escapam e fogem de casa, expondo-se a riscos – como não saber voltar, sofrer traumas, envolver-se em brigas nas ruas, etc.
Os tutores precisam demonstrar que está tudo sob controle e não há risco nenhum durante uma queima de fogos. Apesar de a tranquilidade ser algo inexplicável para os peludos, eles tendem a sujeitar-se e imitar os pais humanos.
De qualquer forma, é necessário demonstrar segurança para a maioria dos cachorros, afagá-los e oferecer algumas alternativas ou distrações, como brincadeiras tranquilas ou massagens. Eles podem ser mantidos em um local isolado, por exemplo. O truque do pano (Tellington Touch) costuma acalmar muitos animais.
Quando o céu fica carregado, as nuvens escondem o Sol, raios riscam o firmamento e trovões explodem no ar, é preciso se proteger. Na natureza, isto significa tentar encontrar uma gruta, uma cova, etc. O problema é que todos os animais da região tentam fazer a mesma coisa.
Chuvas muito fortes causam transtornos. A correnteza pode carregar animais até rios e lagoas ou provocar deslizamentos perigosos. Os relâmpagos chegam a incendiar as árvores. Os cachorros não conseguem compreender toda a segurança de uma residência, que, para eles, é apenas uma gruta hi-tech.
Os trovões são a deixa para procurar um lugar para se esconder. Os tutores precisam acolher os peludos, recebê-los em ambientes protegidos. Para os cachorros, o problema não é a água, mas a intensidade da chuva e seus efeitos nocivos.
Alguns cães não se incomodam com os trovões. Outros chegam mesmo a tentar atacar o responsável invisível pelo barulho, mas a maioria trata de se esconder. Para minimizar o desconforto, os animais podem ser deixados no colo ou ao lado dos tutores, no sofá.
Mas alguns tutores também sentem medo fóbico de tempestades com relâmpagos e trovões. Nestes casos, se não for possível disfarçar o pavor, o ideal é sair da presença dos cachorros, que certamente tentarão reproduzir o comportamento dos seus humanos.
Uma dica de treinamento para cães muito apavorados (o medo pode prejudicar inclusive o coração e a circulação sanguínea) é reproduzir trovoadas e o barulho da chuva, em volume baixo, durante alguns minutos. O melhor horário é o das brincadeiras, para facilitar a associação entre o barulho e um momento prazeroso.
Gradualmente, o volume da gravação deve ser aumentado, até ficar próximo ao barulho de uma tempestade na região. Na maioria dos casos, o medo não é totalmente superado, mas as reações são menos intensas, e isto reduz a possibilidade de acidentes, por exemplo.
Ambulâncias, carros de polícia e dos bombeiros disparam pelas ruas da cidade com as sirenes abertas, indicando uma emergência a ser controlada. E os cachorros, em casa, se irritam ou se apavoram com o barulho incessante.
Alguns cachorros chegam a uivar quando a sirene de uma viatura qualquer está circulando pelas redondezas. Quase sempre, surge uma reação em cadeia e todos os cães da vizinhança acompanham os uivos em coro.
O motivo era desconhecido até que pesquisas de acústica (o ramo da Física que estuda os sons) identificaram semelhanças entre o barulho das sirenes e a modulação dos uivos. Na natureza, os uivos adquirem características específicas: em uma alcateia, nenhum lobo vocaliza da mesma forma que um colega de grupo.
Uivos, latidos e ganidos são as vocalizações dos cachorros e lobos. Eles se identificam através dos sons emitidos. O problema é que eles não conseguem identificar qual animal é o responsável pelo barulho (a sirene), nem porque o som é tão restrito.
Se não é possível reconhecer, existe a possibilidade de que o cachorro responsável (pela sirene) seja um invasor, um valentão querendo briga. Por isso, em casa – o seu território por excelência – os peludos fazem questão de deixar claro que são os “donos do pedaço”.
Eles latem e uivam até que o intruso se afaste. Como a estratégia sempre funciona (a ambulância ou carro de bombeiros se afasta depois de alguns minutos), o comportamento é reforçado e será repetido sempre que necessário.
Os cachorros odeiam quando ouvem uma sirene se aproximando e colocam-se em posição de defesa (ou de fuga, de acordo com o temperamento), mas ficam muito felizes e satisfeitos quando conseguem “expulsar” o forasteiro.
Muitos tutores se divertem com a reação dos cachorros quando alguns eletrodomésticos são ligados, mas, para eles, a situação de emergência está declarada. Basta considerar que o som de um bate-estaca na construção ao lado, ou mesmo um aspirador de pó ligado é bastante desagradável também para nós.
Em geral, sons de máquinas de lavar e secar, aspiradores de pó, lixadeiras, parafusadeiras e furadeiras elétricas, liquidificadores, batedeiras e secadores de cabelos são apavorantes para alguns cachorros. Normalmente, eles reagem aos aparelhos portáteis, mas alguns se amedrontam até mesmo com o som do forno de micro-ondas.
A melhor maneira de superar este medo é o adestramento positivo. Antes de acionar o equipamento, os tutores devem oferecer alguns petiscos, sempre acompanhados por afagos e palavras de encorajamento.
Deixar os cães “inspecionarem” os equipamentos também é eficiente. Cheirando e tateando um secador de cabelos, por exemplo, o produto passa a ser menos aterrorizante. Em seguida, os tutores podem usá-lo para secar os pelos depois do banho.
Não é uma tarefa para apenas uma sessão única de treinamento. Instintivamente, os cachorros continuarão a se afastar da fonte de ruído, mas gradualmente conseguirão perceber que ela não representa riscos.
O manuseio dos equipamentos barulhentos deve ser feito sempre com brincadeiras, agrados e recompensas. No caso dos animais mais medrosos, no entanto, o ideal é retirá-los do ambiente em que o motor será acionado, deixando-o entretido em outro canto da casa com um brinquedo ou uma guloseima.
Por fim, chegamos a um som produzido pelos humanos que os cachorros realmente odeiam: os gritos. Muitos tutores aumentam a voz quando descobrem algum malfeito dos peludos. A reação pode ser natural, mas não gera bons resultados.
Em primeiro lugar, porque os gritos ferem desnecessariamente os canais auditivos dos cachorros. Ninguém gosta de ser tratado aos gritos – imagine quando a capacidade auditiva é muito mais elevada do que a nossa.
Os cachorros sabem que, quando os tutores gritam, eles estão reclamando de alguma coisa: xixi no lugar errado, brinquedo destruído, objeto enterrado no canteiro, pequenos furtos, etc. A lista é longa. Eles acabam reagindo porque foram flagrados no “ato criminoso”.
Seja como for, os gritos não educam. Os cachorros reagem escondendo-se, demonstrando submissão, evitando olhar diretamente para os tutores. Alguns podem tornar-se agressivos. O problema é que eles quase nunca entendem o que está errado.
Para nós, um canteiro prestes a florir é resultado de muito esforço e estamos ansiosos para ver as flores e sentir o perfume. Para os cachorros, o canteiro é apenas um local perfeito para enterrar ossos ou brinquedos.
Os peludos tendem a nos agradar sempre. Eles fazem coisas que não conseguem compreender apenas para que os tutores fiquem satisfeitos. Mas os gritos funcionam na direção contrária: eles apenas colocam o animal na defensiva.
Sem saber os motivos reais, os cachorros apenas “se entocam”, mas, em uma próxima oportunidade, eles voltarão a exibir o comportamento errado. Alguns sabem que ouvirão gritos, mas não compreendem os motivos.
O jeito certo de adestrar os cachorros é a adoção de métodos positivos e muita paciência, já que quem está em aprendizado tem direito a errar. No caso dos canteiros, no entanto, em muitos casos os instintos falarão mais alto: alguns cães são especialistas em cavar e enterrar; o melhor a fazer é impedir o acesso dos peludos ao jardim.
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