“São como minha família”. Conheça a história do santuário construído por este amante dos animais.
Mert Akkök é mais um cidadão que se afastou dos centros urbanos em busca de qualidade de vida. Ele vive em Istambul, uma das maiores cidades da Turquia – e também uma das mais famosas da história – mas decidiu deslocar-se para a periferia, onde ergueu um santuário para animais de rua.
Istambul possui uma população de mais de 100 mil cães de rua e já adotou medidas polêmicas, como segregar os animais em áreas florestais no entorno da cidade e até, há pouco mais de cem anos, a deportá-los para um rochedo estéril no mar de Mármara. Felizmente, Akkök acredita que os peludos têm direito a um lugar para viver com dignidade.
O santuário
Akkök, um empresário de 48 anos, decidiu que os cães de rua não deveriam deixar a cidade. Ele adquiriu um terreno no Distrito de Üsküdar e ergueu o santuário na região da antiga Crisópolis – a “terra dourada” – palco de uma batalha na qual, vitorioso, Constantino, o Grande, consolidou-se como imperador romano.
Istambul marca a união entre a Ásia e a Europa: a cidade se espalha pelos dois continentes. Üsküdur é um bairro no lado asiático, a leste do mar de Mármara. Sem sair da cidade, Akkök construiu um lugar para mais de 70 “parentes” – ele considera os cães como “ a sua família de abandonados”.
O santuário foi construído em Tuzla, também no lado asiático de Istambul, e ocupa uma área de 0,81 hectare (8.100 metros quadrados), na qual o empresário ergueu a sua nova casa, cercada pela natureza e a menos de uma hora do barulhento e agitado centro da cidade.
Além dos cães, Akkök abriu espaço para outros animais abandonados ou vadios – que já nasceram nas ruas. O santuário também abriga gatos, cavalos, gansos e patos, encontrados pelo empresário nas ruas de Istambul.
Nenhum dos habitantes do santuário foi encontrado em boas condições. Todos estavam doentes, muitos feridos por acidentes ou brigas nas ruas. Alguns são cegos, outros são velhos demais para despertar o interesse dos demais humanos.
Mas Akkök abriga e trata todos eles. O santuário também foi responsável pela reabilitação de algumas dezenas de gaivotas, encontradas com as asas quebradas. As aves marinhas voltaram a pescar no mar de Mármara, mas estabeleceram o sítio do empresário como base para descansar e construir os ninhos.
Akkök mantém os negócios em Istambul – afinal, ele precisa de dinheiro inclusive para as despesas com os animais abandonados. Ele dedica todo o tempo livre para cuidar da “família” e diz gostar muito da atividade.
À reportagem do Daily Sabah, jornal com edições em inglês e árabe (além do turco), o empresário declarou: “Eu abri mão do conforto da vida na cidade pelos meus amigos animais, mas não reclamo. Nós temos uma relação especial aqui”.
Parte do terreno é dedicada aos gatos e às gaivotas, que vão e vêm. Os bichanos são mais ariscos, mas acostumaram-se a receber alimento e carinho do tutor. Em outro setor, os cavalos e cachorros partilham o espaço – os cães utilizam o primeiro andar da casa como “dormitório”.
Cada animal tem uma história própria e, como foram resgatados doentes e fragilizados, a maioria precisa de uma dieta específica, preparada por Akkök, que não tem auxiliares humanos no santuário. Quando o tempo esfria, todos são recolhidos na casa. Os invernos de Istambul são frios e muito chuvosos, com algumas leves precipitações de neve em janeiro e fevereiro.
A adoção de cães abandonados não é uma atividade recente. Quando morava na região central de Istambul, Akkök já convivia com diversos animais – em uma casa confortável, com um pequeno jardim.
Quando o número de “familiares” aumentou, no entanto, o empresário turco percebeu que havia chegado o momento de erguer um local especial para acolher os animais. Ele encontrou o terreno em Tuzla, construiu a casa e as dependências para acomodar os amigos de penas e pelos.
Akkök permite que alguns “parentes” sejam adotados por pessoas interessadas, que visitam o santuário – o número tem sido cada vez maior. Antes de permitir que cães e gatos (em maioria) se transfiram para outra casa, no entanto, ele investiga cuidadosamente os candidatos a tutores.
Grande parte, contudo, não desperta interesse. Animais cegos, com dificuldade de locomoção, aves sem o viço das plumas, cavalos que não suportam o trabalho de montaria ou de tração. Eles continuam vivendo em Tuzla, assim como as mais de 40 gaivotas.
A iniciativa de Akkök certamente não é suficiente para resolver a situação dos animais de rua de Istambul. O empresário também não pretende “salvar o mundo”. Ele está apenas fazendo a sua parte e divertindo-se muito com os “colegas de casa”, que encontraram finalmente espaço para um final feliz.