Entre os nossos hábitos de identificação e saudação, cheirar as pessoas está longe de ser corriqueiro. Apesar de, entre os nordestinos, a expressão “dar um cheiro” ser comum, ela significa “dar um beijo”, “fazer um carinho”. Os cachorros, no entanto, são bastante literais: eles cheiram as partes íntimas das pessoas. Mas, por quê?
A explicação principal está no olfato. Os cachorros investigam o mundo ao seu redor principalmente através do faro, que é extremamente apurado. Eles usam todos os sentidos, mas os peludos possuem 300 milhões de receptores olfativos – os humanos possuem “apenas” seis milhões.
Além do faro
Com o avanço da civilização humana, nós deixamos de usar o olfato. Por questões culturais, até mesmo disfarçamos cheiros que, há alguns milhares de anos, eram exatamente os nossos cartões de visita – era através deles que amigos e inimigos identificavam a nossa presença.
Nós usamos perfumes há pelo menos quatro mil anos. Os sabonetes são mais recentes: são empregados há 2.500 anos – e inicialmente eram apenas uma mistura de sebo e cinzas, para esfoliar a pele.
Com isso, nós deixamos o olfato em segundo plano. Os cachorros, por outro lado, continuam usando os focinhos para identificar a presença de amigos, estranhos, invasores, etc.
Nos seres humanos, existem algumas glândulas sudoríparas especiais – chamadas apócrinas – que se localizam especialmente nas axilas, mamilos, região genital e região perianal. A secreção produzida é mais viscosa e se acumula entre os pelos.
As glândulas sudoríparas apócrinas começam a atuar a partir da puberdade. Seria o nosso “cheirinho natural”, um aroma especial para atrair parceiros sexuais, se não o disfarçássemos com aromas e muitos banhos.
São os nossos feromônios, substâncias utilizadas pelos animais para indicar a maturidade sexual e a disponibilidade para o acasalamento. Entre os humanos, namoro e casamento são muito mais complexos do que uma “cheiradinha”, mas o aspecto animal continua presente.
Para os cachorros, com o seu olfato apuradíssimo, estes cheiros são apenas atenuados. Eles os reconhecem e procuram identificar o produtor. E, como este suor mais viscoso fica impregnado nas partes íntimas, os peludos apontam os radares diretamente para a virilha e o bumbum.
Um aperto de mão
Pessoas se saúdam com apertos de mãos, abraços, beijos, etc. Mesmo assim, estas formas de relacionamento social variam de região para região, sendo fortemente afetadas pela estrutura cultural de cada povo.
Os cachorros reconhecem a família, os amigos e os estranhos principalmente através do cheiro, que eles detectam de longe – algumas centenas de metros de distância não são dificuldade para o reconhecimento.
Ao encontrar um amigo – humano, gato ou outro cão –, o gesto de cheirar as partes íntimas das pessoas, para os peludos, significa apenas algo como “olá, companheiro, que bom te ver”. Mas, como eles estão sempre alerta, para servir e proteger, é preciso identificar positivamente qualquer pessoa que chegue perto da família.
O suor na virilha e nas axilas dos humanos se altera de acordo com o estado de humor – ele está diretamente relacionado à disponibilidade para a reprodução. Os cachorros conseguem perceber, cheirando as partes íntimas dos tutores, se eles estão dispostos para brincadeiras ou se é melhor manter alguma distância por um tempinho.
As mulheres podem sofrer um pouco mais. Os cachorros conseguem identificar a menstruação e até mesmo a ovulação e a tensão pré-menstrual. Além disso, eles sabem quando a mulher está amamentando. Nestas condições, o cheiro do suor é mais consistente.