Infelizmente, cachorro com diarreia é um fato comum e todos os tutores, mesmo adotando as melhores práticas de saúde e higiene, terão de lidar algumas vezes com estes episódios. Em geral, o organismo canino supera os quadros de diarreia sem necessidade de ajuda, mas há casos em que é preciso repor água e eletrólitos.
Os remédios devem ser evitados, porque a automedicação pode ter efeitos colaterais, alguns deles bastante severos. Além disso, a diarreia é uma doença em si, mas é igualmente um sintoma e remédios inadequados mascaram os sinais sem atacar as causas. Portanto, dar remédio, apenas com orientação profissional.
As causas da diarreia nos cachorros
Muitas vezes, casos leves de diarreia nem chegam a ter as causas estabelecidas. O cachorro demonstra alguns sinais de incômodo e desconforto e as fezes amolecidas ou líquidas já aparecem na primeira evacuação. A situação se repete algumas vezes ao longo do dia, até que o organismo começa a dar sinais de recuperação.
O mesmo quadro pode acontecer quando o cachorro recebe petiscos em grandes quantidades ou até mesmo ruins para eles, como doces, leite ou frutas com sementes, quando “assalta” uma lixeira destampada, quando resolve experimentar o sabor de uma planta do jardim, etc.
Uma situação bastante comum é a ingestão de objetos perfurantes ou contundentes. Qualquer lesão no estômago ou no intestino, por menor que seja, gera irritações e inflamações, acelerando o trânsito do bolo alimentar. Nesses casos, os tutores poderão notar traços de sangue nas fezes, que quase sempre desaparecem depois de duas ou três evacuações.
O trânsito intestinal desregulado também pode surgir com a troca de ração e mesmo com mudanças radicais (a mudança de casa, a chegada de um bebê ou de outro pet à família, etc.). Caso seja necessário trocar a ração, vale a regra dos 10%: a cada dia, aumenta-se a quantidade do novo produto em um décimo, enquanto a ração antiga vai sendo reduzida na mesma proporção.
Outros casos exigem mais cuidado e geralmente são acompanhados por outros sintomas, como vômitos, dor abdominal, inchaço, perda de apetite, apatia, febre, ansiedade, etc. os tutores precisam observar atentamente e, caso os sinais não cedam em 48 horas, recomenda-se levar o peludo ao veterinário.
A orientação médica também é urgente em outras situações, como as diarreias que ocorrem em seguida a traumas e quedas, com traços de sangue ou muco nas fezes, com incontinência fecal total, etc.
Uma diarreia também pode ter causas que exigem tratamentos específicos. Ela pode ser provocada por intoxicações (produtos de higiene e limpeza, inseticidas, temperos e condimentos, etc.), infestações por vermes, infecções virais ou bacterianas, etc.
É sempre importante contar com o apoio do veterinário, para que o diagnóstico seja obtido rapidamente, permitindo o início do tratamento. As diarreias, assim como as constipações, podem ser decorrentes de transtornos em diversos órgãos, bem como de desordens neurológicas e até mesmo motoras.
Os remédios indicados para cachorros
Em casos de intoxicação alimentar, um dos medicamentos mais receitados pelos veterinários são formulados com os seguintes princípios ativos:
- acetil-D-L-metionina;
- cloreto de colina;
- cloridrato de tiamina.
Estas três substâncias são hepatoprotetoras, aliviam as inflamações e contribuem para regularizar o trânsito gastrointestinal. Elas também são indicadas para diarreias provocadas pelo uso de medicamentos no tratamento de verminoses e também pela quimioterapia.
A dosagem recomendada fica entre 2 ml e 10 ml diários, de acordo com o peso do cachorro. Os medicamentos orais, disponíveis em diversas marcas, são os mais indicados para os peludos, em função da ministração mais simples.
Alguns veterinários receitam medicamentos para uso humano no tratamento das diarreias leves dos cachorros, por serem produtos mais baratos e acessíveis. Um dos mais indicados é o cloridrato de loperamida (comercializado como Imosec, Diasec, etc.).
É muito importante ficar atento à posologia, para evitar superdosagens. Seja como for, alguns cachorros apresentam intolerância à loperamida, que também não deve ser usada no caso de animais com diagnóstico de lesões no fígado. A dosagem não precisa ser alterada no caso dos cães idosos e dos portadores de insuficiência renal.
A reidratação
Uma das maiores complicações da diarreia nos cachorros é a perda considerável de líquidos e de eletrólitos (vitaminas e sais minerais). Alguns remédios de uso veterinário já são suplementados com vitaminas do complexo B e alguns micronutrientes importantes, como cálcio e potássio.
O soro caseiro pode ajudar a repor os líquidos perdidos com os episódios de diarreia, atenuando o desconforto dos cães. A receita é bem simples: basta adicionar uma colher (sopa) de açúcar e uma colher (café) de sal a um litro de água potável – mineral, filtrada ou fervida, mas sempre à temperatura ambiente. O soro pode ser oferecido ao longo do dia, em colheradas ou com o auxílio de uma seringa sem a agulha, para facilitar a tarefa. A regra geral é ministrar uma colher de sopa diária por quilo de peso corporal.
O soro pode ser enriquecido com suplementos eletrolíticos específicos para cachorros, vendidos em pet shops. Os produtos fornecem cálcio, cloro, magnésio, maltodextrina (carboidrato absorvido lentamente, que favorece a distribuição de nutrientes através da corrente sanguínea), potássio e sódio.
Providências caseiras
Nos casos de diarreias leves, os tutores podem submeter os doentes a um período de jejum. Ao notar as fezes amolecidas – quase sempre, elas surgem de manhã, minutos depois da primeira refeição – os peludos podem ficar de seis a 12 horas sem receber alimento, prazo suficiente para regularizar as atividades digestórias.
A água fresca deve estar disponível o tempo todo – os tutores também podem verificar a ocorrência de outros sintomas, como náuseas e vômitos, depois da ingestão de líquidos. Os suplementos eletrolíticos podem ser usados para repor os nutrientes perdidos. Na falta do produto, e apenas no caso de animais adultos e saudáveis, eles podem receber uma ou duas colheres de bebida isotônica diluída em 20 ml de água, durante o jejum.
Caso os cães se alimentem com comida caseira, o ideal, após o jejum, é oferecer uma refeição leve, feita com filé de peixe, peito de frango ou outra ave (sem osso nem pele), arroz cozido com um fio de óleo vegetal, batata, cenoura ou abóbora cozida. Lembre-se: sal, cebola e alho fazem mal para os cachorros e podem inclusive agravar a diarreia.
A água de arroz também ajuda a combater a diarreia. Use três partes de água para uma de arroz. Coloque a água para ferver, acrescente os grãos e deixe ferver por 20 minutos em fogo baixo. Coe a mistura e ofereça a água em colheradas, na temperatura ambiente. O arroz é rico em amido, uma boa fonte de energia para o organismo.
Nos dias seguintes, com a melhora do trânsito gastrointestinal, os tutores podem ter a ração habitual umedecida com iogurte natural: uma colher de sobremesa é suficiente para um animal de porte médio. O laticínio fornece probióticos que ajudarão a recompor a microbiota intestinal, imprescindível para a digestão e a absorção dos nutrientes.
Prevenindo a diarreia nos cães
Para evitar novos casos de diarreia, é importante manter uma dieta balanceada – o ideal é oferecer rações premium e super premium, ou caprichar nas receitas caseiras, sempre sem condimentos e com muito pouco óleo – que, inclusive, pode ser dispensado na maioria dos preparos.
Água fresca e limpa precisa estar disponível o tempo todo (inclusive durante as caminhadas diárias: basta levar uma garrafinha) e os exercícios físicos devem ser dosados de acordo com a idade, o porte, as condições gerais de saúde e o temperamento dos cachorros.
Desde a adoção, os tutores devem observar as reações dos cachorros aos alimentos oferecidos, já que não é incomum que eles desenvolvam alergias e intolerâncias alimentares, que podem se manifestar como diarreias, vômitos, respiração ofegante, etc.
Reforçar a imunização é uma das principais tarefas dos tutores. Os filhotes devem receber as primeiras doses de vacinas antes de completar dois meses de vida, todos os reforços indicados pelo médico e, anualmente, tomar preferencialmente uma vacina polivalente.
Algumas doenças transmitidas por vírus, como a cinomose e a parvovirose, que afetam o sistema digestório dos cães, são altamente incapacitantes e podem levar à morte, especialmente no caso dos filhotes, idosos e imunodeprimidos (convalescentes, portadores de doenças crônicas, etc.).
A vermifugação deve estar sempre em dia. Recomenda-se que os cachorros recebam um tablete mastigável de vermífugo a cada três meses, mas a dosagem pode ter de ser maior nos casos de animais com vida social mais intensa – e, portanto, mais expostos a excrementos de outros peludos, que podem estar infestados por ovos e larvas.
Evite ao máximo possível a automedicação, qualquer que seja o incômodo, desconforto ou dor. No caso das diarreias, se elas não cederem em dois dias, o veterinário deve ser consultado. Vale o mesmo para os casos em que se nota a presença de sangue, muco ou odor muito fétido.