Os cachorros imitam a personalidade dos tutores? DESCUBRA!

Cara de um, focinho do outro. Veja por que os cachorros têm personalidades parecidas com as dos tutores.

Diversos estudos contemporâneos sobre comportamento vêm comprovando o que os tutores já sabem de forma empírica há muito tempo: os cães “imitam” a personalidade de seus pais adotivos. Na verdade, quando os peludos convivem com humanos desde filhotes, eles desenvolvem personalidades muito parecidas com as de seus cuidadores.

Um artigo publicado em 2012, por Iris Schöberl, etologista da Universidade de Viena (Áustria), tem sido revisado e validado continuamente na última década. A pesquisadora e seus colaboradores avaliaram a modulação do cortisol, conhecido como hormônio do estresse, nas parcerias entre humanos e cachorros.

Os cachorros imitam a personalidade dos tutores?

O apego

A reprodução de hábitos e emoções exibida pelos cachorros, quando eles imitam a personalidade dos tutores, é explicada pela Teoria do Apego, formulada a partir da década de 1950 por psicólogos ingleses, que procuravam compreender o estresse e a ansiedade de separação de crianças pequenas quando tinham de se afastar dos pais.

John Bowlby, um dos pioneiros nesta área de pesquisa, formulou a teoria, que explica como os seres humanos estabelecem conexões emocionais (psicológicas) entre si. Anos mais tarde, descobriu-se que essas conexões também estão presentes em animais domésticos e de estimação. Os cães figuram entre os mais influenciados pelos tutores.

Bowlby classificou três tipos de apego: seguro, evitante e ambivalente. Nos anos 1970, as pesquisadoras americanas Mary Main e Judith Solomon postularam uma quarta categoria: o apego desorganizado. Estas formas de conexões estruturam o relacionamentos, contribuem para a formação emocional das crianças e são fundamentais na elaboração da personalidade dos cachorros.

• No apego seguro, os cuidadores são responsivos às necessidades dos tutelados – crianças ou pets. Este relacionamento ajuda a desenvolver seres mais integrados, coerentes e seguros, já que recebem respostas adequadas às suas vontades e necessidades.

• No apego ambivalente, o comportamento do cuidador não pode ser previsto pelo tutelado. Em algumas ocasiões, as respostas são assertivas e adequadas, enquanto em outras, elas são insuficientes, gerando insegurança e estresse.

• O apego evitante é aquele em que as demonstrações de afeto e cuidado nunca estão presentes; os adultos responsáveis se mantêm distantes, gerando ambientes caóticos para os tutelados. No caso dos cachorros, os resultados são comprometedores, gerando pets amedrontados ou agressivos, porque os tutores são as referências principais – em muitos casos, são as únicas referências.

• No apego desorganizado, misturam-se características dos relacionamentos evitantes e ansiosos. Crianças e cachorros desenvolvem sentimentos confusos sobre as relações mais íntimas. Conforme se desenvolvem, os tutelados desejam intimidade e proximidade, mas, ao mesmo tempo, sentem-se desconfortáveis com as interações.

Os cachorros imitam a personalidade dos tutores?

O estudo

De acordo com a teoria desenvolvida, os níveis de cortisol se alteram nos cachorros de acordo com a personalidade dos tutores. Este fenômeno é observado em todos os relacionamentos que envolvem apego diádico (de díades, ou duplas).

As crianças humanas, por exemplo, estabelecem relacionamentos diádicos com os seus pais ou cuidados e, por isso, na primeira infância, elas apresentam personalidades muito semelhantes. Em relação aos cachorros, a diferença é que as crianças crescem, sofrem outras influências de colegas, da escola, etc., enquanto o universo canino é muito limitado.

Mesmo os peludos com vidas intensas – hospedagens frequentes em hotéis, treinamentos em escolinhas, participações em competições, etc. – passam a maior parte do tempo com a família humana – ou sozinhos, quando os pais se ausentam. Este é o motivo por que a maioria exibe personalidades muito semelhantes às dos seus humanos.

Os dados foram coletados com 52 tutores do sexo masculino de e 62 do feminino, tutores de cães de porte médio ou grande com idade entre 18 meses e seis anos. O novo Inventário de Cinco Fatores (NEO FFI) foi empregado para classificar as personalidades dos tutores, que também foram entrevistados sobre a personalidade dos pets, que foram avaliados em casa, no ambiente doméstico a que estão acostumados.

O NEO FFI é um instrumento de avaliação de personalidades normais baseado nos cinco grandes Fatores de Personalidade: neuroticismo (nível de desajuste e instabilidade emocional), extroversão, abertura a novas experiências, amabilidade e conscienciosidade.

Os cachorros tendem a ser classificados nas mesmas categorias dos tutores, especialmente entre os humanos avaliados com altos graus de neuroticismo e baixa consciência. As personalidades, também são influenciadas por fatores ambientais e pelo nível de intimidade.

Os cachorros mais parecidos com os tutores são exatamente aqueles descritos, pelos humanos, como “parceiros sociais” e “companheiros”.

Uma curiosidade: especialmente os homens neuróticos apresentaram altos níveis de cortisol no início da manhã, quando as atividades foram realizadas. Os cães desses tutores também tiveram o cortisol aumentado, mas eles conseguiram devolvê-lo a níveis mais baixos, ao contrário dos humanos. Isto pode indicar que os cães conseguem desenvolver respostas mais adequadas ao estresse.

Mais descobertas

Os cachorros que vivem com tutores ansiosos e pessimistas expressam as mesmas sensações de seus humanos. Em contrapartida, os animais classificados como tranquilos e amigáveis são bastante úteis nos eventuais momentos de tristeza e desânimo da família, quando convivem com pessoas amáveis e conscienciosas.

Nas análises, foram mensurados os batimentos cardíacos e a resposta a ameaças, em situações simuladas. O cortisol foi colhido em amostras de saliva dos tutores e dos cachorros. Este hormônio controla o biorritmo e também reduz inflamações e estimula a imunidade.

Os resultados do experimento comprovaram o que pode ser observado no dia a dia: os cachorros e seus tutores são pares sociais e influenciam-se mutuamente, mas os humanos são mais decisivos na formação da personalidade. Os peludos são sensíveis aos estados emocionais das pessoas significativas para eles e são capazes de imitá-los.

Os cachorros imitam a personalidade dos tutores?

O comportamento dos tutores afeta fortemente a personalidade dos cachorros. Os portadores de transtornos emocionais podem “transmiti-los” para os peludos. Características como extroversão ou timidez, otimismo ou pessimismo, respostas a situações de estresse, etc. quase sempre são reproduzidas pelos pets, notadamente os cães.

A imitação é visível nos casos de fobias: um cachorro que observa o tutor desesperado, por exemplo, com relâmpagos e trovões certamente desenvolverá o medo das tempestades. Por outro lado, um tutor sociável e extrovertido verá estas características reproduzidas no animal de estimação.

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