A presença de sangue nas fezes do cachorro é determinada, na maioria dos casos, pela ingestão de objetos contundentes ou perfurantes que causam lesões no trato gastrointestinal: brinquedos, galhos, fragmentos de ossos, etc. podem ocorrer rompimentos de pequenos vasos. O sangue vai sendo empurrado com o bolo alimentar até ser eliminado. Mas a diarreia é sempre um elemento complicador.
A diarreia é uma urgência médica. Eliminar fezes líquidas por mais de 48 horas, com ou sem sangue, já é motivo para agendar uma consulta com o veterinário. Felizmente, na maioria dos casos, o sangue é decorrente do estresse provocado pela necessidade de eliminar eventuais substâncias tóxicas. De qualquer forma, é preciso estar atento, porque o transtorno pode se tornar crônico.
A diarreia em cachorros
É um transtorno intestinal que acelera os movimentos peristálticos – uma alternância de contrações e relaxamentos dos músculos lisos, que garante a absorção dos nutrientes e da água. O peristaltismo é observado desde a faringe até o reto.
Com a aceleração, o intestino delgado, formado pelo jejuno e o íleo, não consegue absorver de forma adequada os macronutrientes (proteínas, gorduras e açúcares) e os micronutrientes (vitaminas e sais minerais), enquanto a água é desperdiçada no intestino grosso (cólon ascendente, transverso e descendente).
As fezes perdem a consistência pastosa característica, porque são eliminadas com a água – o líquido geralmente permanece mais de dez horas no intestino grosso, sendo absorvido lentamente. O cocô do cachorro (e o nosso também) fica amolecido ou totalmente aquoso. Caso as paredes do trato digestório sofram ulcerações, o sangue poderá ser observado nas fezes.
As causas da diarreia são variadas. Vermes parasitas podem infestar o intestino dos cachorros (por isso, a vermifugação regular é imprescindível), assim como algumas bactérias, como as dos gêneros Campylobacter, Clostridium, Escherichia e Salmonella, quase sempre ingeridas com alimentos e água intoxicados.
A diarreia, na verdade, é uma estratégia orgânica para eliminar algumas impurezas e agentes invasores, mas, quando ocorre com certa frequência, causa desidratação e desnutrição: são as chamadas diarreias de repetição. A vacinação precisa estar em dia, para evitar infecções virais como cinomose e parvovirose, potencialmente fatais, especialmente quando afetam os filhotes.
As diarreias de repetição levam a quadros de desnutrição crônica, que provocam perda de peso, indisposição geral, cansaço sem motivo aparente e desinteresse por brincadeiras e outras atividades intensas. Quando acomete os filhotes, o transtorno também prejudica o desenvolvimento físico. Em casos de negligência, diarreias frequentes podem causar a morte.
O que fazer?
Qualquer cachorro que apresente um quadro de diarreia prolongado, com ou sem a presença de sangue, deve ser observado atentamente. Os tutores podem ministrar soro fisiológico já a partir do segundo dia.
Para preparar o soro, misture um litro de água potável – mineral, filtrada ou fervida, mas já fria – com uma colher (café) de sal e uma colher (sobremesa) de açúcar. Ofereça durante o decorrer do dia, com uma colher ou uma seringa.
Elimine todos os petiscos do cardápio. Ofereça apenas a ração habitual e observe eventuais reações. Se a diarreia persistir por 48 horas, é preciso levar o peludo ao veterinário. Os cachorros desidratados podem exibir um ou mais dos seguintes sintomas (além das fezes amolecidas):
- fraqueza generalizada;
- olhos afundados;
- gengivas pálidas;
- urina escurecida;
- saliva espessa;
- respiração ofegante;
- perda de elasticidade da pele.
O sangue nas fezes
Identificado o sangue nas fezes – ele pode se apresentar em estrias marrom-avermelhadas ou em pequenos pontos espalhados, coagulado ou líquido – é importante reunir outras informações sobre o doente. Verifique se ele está mastigando corretamente, se não recebeu “alimentos proibidos” (doces, leite, sementes de frutas, uvas, abacate, etc.) e se não teve acesso a lixeiras descobertas.
Muitas vezes, o sangue expelido com a diarreia é resultante de um depósito de fezes endurecidas no reto (a porção final do intestino), que arranha as paredes internas e pode provocar ferimentos e sangramentos. Em seguida, o material amolecido é eliminado. Apesar de não serem agradáveis, estes episódios são mais facilmente controlados: assim que o trânsito intestinal é regularizado, os sintomas desaparecem.
Enquanto se espera o momento da consulta com o médico, o cachorro deve receber alimentação leve e hidratação constante. Até que o diagnóstico seja estabelecido, não suspenda as refeições nem exagere nas quantidades, porque o sistema digestório pode estar muito sensível.
A presença do sangue é uma emergência médica, que não deve ser negligenciada. Os tutores devem reunir o máximo possível de informações, mas apenas o veterinário, com uma análise clínica e alguns exames de laboratório, pode determinar as causas e oferecer o tratamento mais adequado.
Os motivos da diarreia com sangue são muito variados. Um dos mais comuns é a infestação por vermes que parasitam o intestino. O vermífugo deve ser ministrado ainda no primeiro mês de vida, com duas doses de reforço em intervalos de 15 dias.
A partir de então, a vermifugação dos cachorros deve ser feita a cada três meses, mas esse intervalo pode ser menor em regiões endêmicas. A dirofilariose, popularmente conhecida como verme do coração, pode exigir doses mensais, caso o Dirofilaria immitis, que é transmitido através de picadas de mosquitos, esteja circulando na vizinhança.
Outras infestações também podem ocorrer e a contaminação geralmente surge a partir do contato com fezes de animais já infectados. A coccidiose, por exemplo, afeta cães, gatos, aves domésticas e silvestres. Ela é transmitida por protozoários do gênero Cystoisospora, provocando os mesmos sintomas: diarreia com sangue, desidratação, desnutrição, prostração, etc.
Vermes como lombrigas e solitárias também prejudicam os cachorros – os vermes que afetam cães e humanos pertencem a espécies diferentes. Felizmente, os vermífugos combatem as verminoses rapidamente e é possível usar tabletes mastigáveis, sem dificuldade para convencer os peludos a ingeri-los.
A clostridiose e a salmonelose são facilmente evitáveis: basta não oferecer alimentos crus ou mal cozidos para os cachorros, especialmente carne e ovos. Vale lembrar que, mesmo com boa procedência, estes produtos podem ser contaminados em diferentes etapas, do armazenamento no distribuidor à gôndola do supermercado.
Algumas intolerâncias alimentares podem facilitar o desenvolvimento de lesões intestinais. A maioria dos transtornos tem origem genética, mas eles também podem se desenvolver em função de maus hábitos nutricionais. Além das diarreias frequentes, estas alergias também apresentam alguns dos seguintes sintomas:
- vômitos;
- alergias de pele;
- perda de pelos;
- vermelhidão na pele;
- coceira.
As intolerâncias alimentares geralmente se manifestam nos primeiros meses de vida dos cachorros. Apenas o veterinário pode diagnosticar os distúrbios, com base nos relatos dos tutores, exame clínico e alguns testes laboratoriais. Os sintomas são bastante difusos e o diagnóstico muitas vezes é firmado por eliminação de outras causas possíveis.
Em alguns casos, os cães alérgicos podem desenvolver colites – inflamações das paredes internas do cólon. A doença provoca diarreias frequentes, muitas vezes com sangue dos ferimentos desenvolvidos no intestino grosso. Os sinais se intensificam lentamente, mas é importante procurar o tratamento o quanto antes, para evitar complicações.
A proctite é uma inflamação da mucosa retal, que pode resultar de uma infecção ou uma doença inflamatória no intestino. O diagnóstico definitivo é obtido com proctoscopia ou biópsia da região. É uma doença crônica, que exige acompanhamento médico durante a vida inteira.
Por fim, tumores benignos e malignos podem provocar hérnias e obstruções no intestino, gerando lesões sanguinolentas. É importante obter o diagnóstico precoce e dar início ao tratamento o quanto antes. Tumores em outros órgãos abdominais também podem prejudicar o trânsito intestinal.