Esta é uma emergência. Veja o que pode estar acontecendo com um cachorro evacuando sangue.
A presença de sangue nas fezes do cachorro é sempre um sinal de alerta. Cachorro evacuando sangue regularmente pode ser um reflexo de uma dieta pobre em líquidos e em fibras vegetais, por exemplo. Outra condição comum é a ingestão de um objeto que provoque lesões no sistema digestório, em especial no reto, a porção final do intestino que conduz as fezes.
A perda de sangue, se for muito frequente, pode levar a outros problemas de saúde, como anemia e prejuízos ao sistema imunológico. Por isso, é muito importante que o cachorro que evacua sangue seja avaliado o mais rápido possível, para eliminar as causas, prevenir problemas secundários e garantir a saúde dos peludos.
Uma série de doenças dos cachorros pode provocar prisões de ventre, que pode ser observada quando um cachorro demora muito para fazer as necessidades ou quando o volume das fezes é muito reduzido. A constipação canina, um dos fatores mais comuns da presença de sangue no cocô dos peludos, pode ser decorrente de:
- sedentarismo;
- desidratação;
- ingestão insuficiente de fibras vegetais;
- efeitos colaterais de alguns medicamentos, como os anti-inflamatórios não esteroides;
- presença de pelos no intestino, causada por lambeduras excessivas nas patas e na cauda;
- ansiedade.
A prisão de ventre também está presente em casos de inflamação da glândula adanal e em alguns tipos de câncer (colorretal, de bexiga e de próstata, no caso de machos não castrados). No caso dos idosos, os transtornos nas articulações podem dificultar o agachamento; com a dor, os animais evitam evacuar.
Fezes endurecidas, redução do volume fecal e do número de vezes em que o banheiro é usado, distensão, incômodo e dor na região abdominal são sintomas da prisão de ventre que devem ser investigados pelo veterinário, porque, se persistirem, danificam as paredes internas do reto e provocam a presença de sangue nas fezes.
O sistema digestório dos cachorros
A maioria dos cães adultos apresenta dentição completa. São 42 dentes: 12 incisivos, quatro caninos. 16 pré-molares e dez molares. Nos animais de pequeno porte, os molares podem ser reduzidos e é comum que eles não percam os dentes de leite, que ficam encavalados com os permanentes. Este é um fato bastante comum entre chihuahuas e pinschers miniatura, por exemplo.
Seja como for, a mastigação canina não é muito minuciosa. Grande parte dos peludos usa os dentes apenas para apreender o alimento, que é engolido sem muita mastigação. Em geral, isto não interfere na digestão, mas, no caso dos cachorros muito vorazes, recomenda-se particionar a quantidade diária em três ou quatro refeições.
Outros cães engolem a comida em poucos segundos, para regurgitá-la ou até vomitar em seguida. Existem “comedouros lentos” disponíveis nas pet shops, em que os grãos da ração demoram um pouco mais para ficar disponíveis. O ideal é acostumar os cachorros a comer devagar desde filhotes.
Os alimentos passam rapidamente pelo esôfago, graças à boa quantidade de saliva produzida junto à raiz da língua. No estômago, ocorre a chamada digestão ácida: os sucos gástricos dissolvem rapidamente os alimentos, facilitando a quebra das proteínas e gorduras, os dois principais macronutrientes para os cães.
O tamanho varia muito. O estômago inflado de um lulu da Pomerânia tem capacidade para meio litro; o de um mastim napolitano, para até oito litros. E, como os alimentos chegam quase intactos, o órgão tem mais trabalho: a digestão ácida varia de 90 minutos a até quatro horas.
É no intestino delgado que ocorre a absorção da maioria dos nutrientes. Juntos, o jejuno e o íleo podem medir de 3,7 a 13,1 metros. Substâncias produzidas pelo fígado e pelo pâncreas se misturam ao bolo alimentar e as capilaridades absorvem os açúcares, proteínas e gorduras.
No intestino grosso, que tem apenas de 30 cm a 1 metro de comprimento, são absorvidos os eletrólitos (sais minerais e vitaminas) e a água. O trabalho é demorado e pode se prolongar por até 12 horas, até que os rejeitos da alimentação finalmente cheguem ao reto.
Quando alguma coisa não funciona corretamente, a nutrição se torna incompleta. O sistema digestório também pode sofrer com diversos transtornos, de indigestões leves a neoplasias. Os sinais são bastante difusos, mas os tutores devem ficar atentos para o surgimento frequente dos seguintes sintomas:
- falta de apetite;
- perda de peso;
- diarreias;
- náuseas e vômitos;
- prisão de ventre;
- salivação excessiva (sialorreia).
Quando um cachorro evacua sangue, este pode ser resultado de um processo mecânico – a ingestão indevida de um brinquedo, que causa lesões e ferimentos ao longo de todo o sistema digestório. Como regra geral, os problemas da boca à cárdia (passagem do esôfago para o estômago) causam vômitos e regurgitações; do estômago ao reto, diarreias, constipações e alterações nas fezes.
Sangue no cocô
Na imensa maioria dos casos, a presença de sangue nas fezes, que se mostra na forma de pequenas estrias mais escuras, é devida à ingestão de objetos perfurantes ou contundentes. O sistema digestório dos cachorros é relativamente curto e até mesmo uma peça de brinquedo pode causar ferimentos na extremidade distal: o reto e o ânus.
Eventualmente, o cachorro pode desenvolver problemas no fígado, no pâncreas e no estômago, desregulando a produção de substâncias que participam da absorção dos nutrientes. Elas podem ser excessivamente ácidas ou alcalinas, danificando a mucosa gástrica e as paredes internas do intestino, provocando sangramentos.
No caso de cães muito pequenos ou fisicamente debilitados, até mesmo os grãos da ração podem lesionar órgãos internos. Caso o veterinário identifique esta situação, uma forma de amenizá-la é umedecer as refeições: basta ferver um pedaço de carne e usar o líquido para regar a ração. O iogurte natural também é indicado, mas ele aumenta o teor de gorduras e proteínas, o que pode levar a problemas de sobrepeso e obesidade.
Ossos
Cachorros adoram roer ossos e eles são bem-vindos: colaboram na higiene bucal, fornecem alguns nutrientes e ajudam o tempo a passar. O ideal é oferecer ossos naturais bovinos ou suínos. Os chatos, como o fêmur, são os mais indicados. O estômago canino é capaz de dissolver pequenos fragmentos sólidos.
Os ossos de aves são contraindicados. Eles são mais frágeis e são ocos, o que favorece a movimentação de codornas, frangos e galinhas, mas podem se quebrar formando pontas agudas, que ferem órgãos internos e podem ser responsáveis pelo sangue nas fezes, além de engasgos, obstruções, etc.
Há também ossos artificiais mastigáveis. O cuidado necessário é conferir a presença de corantes e, caso sejam comestíveis, é importante equilibrar a dieta, para não fornecer doses desnecessárias de gorduras e proteínas, por exemplo.
Os corantes artificiais, aliás, são uma causa frequente de pequenos sangramentos no sistema digestório. Eles irritam a mucosa gástrica e a oferta frequente pode levar a casos de gastrites e até mesmo de úlceras. Os corantes estão presentes também em algumas rações coloridas, que não mudam em nada a percepção dos cães em relação aos alimentos. Alguns aditivos sintéticos são comprovadamente cancerígenos.
Ossos de náilon ou de plástico devem ser evitados, por causa do grande risco de algumas partes serem ingeridas e provocar prejuízos. Os populares “ossos de couro” devem ficar bem distantes dos cachorros. Sempre que um osso for oferecido, deve haver supervisão dos tutores e, no caso de produtos naturais, devem ser retirados depois, no máximo, de dois dias.
Os ossos precisam ser ferventados para eliminar micro-organismos e eventuais ossos de vermes. Basta mergulhá-los em água fervente por dois minutos, já que fervuras prolongadas cozinham o tecido, amolecendo-o e favorecendo acidentes.
Infecções virais e bacterianas
A vacinação deve estar sempre em dia. Infecções virais graves, como a parvovirose e cinomose, são transmitidas no contato social, através do ar e da água, e causam a morte na maior parte dos casos envolvendo filhotes. Os sangramentos, notados inicialmente em traços nas fezes, evoluem para hemorragias intensas nas duas infecções.
A coronavirose canina é outra infecção viral, que afeta os sistemas respiratório e digestório dos cachorros – trata-se de um coronavírus diferente do que provoca a Covid-19 e não afeta humanos. A evolução da doença, no entanto, tende a ser benigna entre os peludos, cedendo em poucos dias.
Algumas bactérias também podem ser responsáveis pela presença de sangue nas fezes. Micro-organismos do gênero Clostridium provocam intoxicações intestinais, que se manifestam através de diarreias mais ou menos intensas. A doença é oportunista e costuma afetar indivíduos com o sistema imunológico já comprometido. Cães filhotes, idosos e convalescentes são as principais vítimas.
As bactérias do gênero Salmonella podem estar presentes em alimentos crus ou mal cozidos – ovos, carnes e contato direto com animais doentes, mesmo que sejam assintomáticos. A salmonelose compromete o trato gastrointestinal e também afeta humanos, animais domésticos e silvestres.
Maus hábitos alimentares
Um alerta para os tutores inexperientes: a má alimentação também pode ser a causa do sangue nas fezes. Os alimentos muito duros podem gerar lesões e hérnias ao longo de todo o sistema digestório dos cães. A voracidade deve ser controlada desde os filhotes, dividindo o total diário em várias porções, para evitar a ingestão de bocados grandes demais ou muito rapidamente.
A voracidade é identificada quase sempre nos cães de grande porte: os comedouros lentos são altamente recomendados para eles. O consumo muito rápido, no médio prazo, favorece o surgimento de úlceras no estômago e no duodeno, que provocam sangramentos, restringem a absorção dos nutrientes e comprometem a qualidade de vida. Além disso, o mau hábito também é responsável pela torção gástrica, um incidente potencialmente fatal.
A colite
Intolerâncias e alergias alimentares prejudicam a qualidade de vida dos cachorros e devem ser diagnosticadas precocemente, para que o tratamento adequado garanta os melhores resultados possíveis para a saúde e o bem-estar.
A colite é uma inflamação do intestino grosso. Ela pode ser causada por traumas, mas a causa principal é a irritação provocada por agentes alergênicos. A doença provoca o surgimento de úlceras (ferimentos) ao longo de todo o cólon, da válvula ileocecal ao reto. A enfermidade é cíclica e predispõe o surgimento de tumores malignos (cânceres).
Lesões no reto e no ânus
Até onde se sabe, os cachorros não sofrem com hemorroidas, mas alguns tumores na região anorretal podem pressionar os vasos sanguíneos e causar obstruções ou hemorragias. A furunculose anal, também chamada de fissura perianal, causa o mesmos transtornos.
Trata-se de uma fístula, uma rachadura na pele que se aprofunda pelo tecido conjuntivo. É relativamente comum entre cães de grande porte, especialmente os pastores alemães e belgas. O principal sintoma é a liberação de pus ensanguentado, que muitas vezes se mistura com as fezes.
O câncer na próstata, que evolui lentamente nos cachorros, pode provocar pressões em diversos pontos do cólon descendente e do reto, levando aos sangramentos. Vale lembrar que estes tumores raramente afetam os machos castrados.
Como ajudar
Qualquer sinal de desconforto, incômodo ou dor emitido pelos cachorros deve ser avaliado por um veterinário. Uma vez que o diagnóstico tenha sido firmado, é preciso seguir à risca os procedimentos indicados, para garantir a saúde e o bem-estar dos peludos.
- Verifique a textura e a coloração das fezes com sangue. Muitas vezes, o problema é bastante simples. Fezes duras e secas, parecidas com pedras, geralmente são devidas a quadros de desidratação. O cocô ressecado é mais difícil de ser expelido e a consistência pode ferir o reto e o ânus, causando sangramentos.
- Aumente a quantidade de água. O tutor pode usar brincadeiras com cubos de gelo, mangueiras e borrifadores para aumentar a ingestão de líquidos, enquanto espera o horário da consulta médica. Reduza a quantidade de ração, dê preferência aos alimentos úmidos e mantenha o repouso.
- Uma vez confirmada a presença do sangue, através do exame clínico, do histórico de saúde e de alguns exames laboratoriais, é preciso adotar o tratamento prescrito pelo veterinário. Evite a automedicação e mantenha as medicações e demais terapias mesmo depois de os sintomas cessarem.