Você Perderia um Braço Para Crescer Outro? Axolotes Mostram Que Isso É Possível

O que são os axolotes e por que eles fascinam a ciência?

Os axolotes (Ambystoma mexicanum) são criaturas aquáticas conhecidas por sua aparência peculiar — pele verde fluorescente, guelras externas rendadas e um sorriso gentil — e, mais ainda, por um impressionante “superpoder”: a capacidade de regenerar partes do corpo perdidas, como patas, caudas e até porções do cérebro.

Estudar a função de sinalização do ácido retinoico nessas salamandras aquáticas "sorridentes" pode ajudar os cientistas a desenvolver novos métodos de cura e terapias genéticas para humanos  • Alyssa Stone/Universidade do Nordeste
Estudar a função de sinalização do ácido retinoico nessas salamandras aquáticas “sorridentes” pode ajudar os cientistas a desenvolver novos métodos de cura e terapias genéticas para humanos • Alyssa Stone/Universidade do Nordeste

Essa habilidade, rara entre vertebrados, tem intrigado cientistas há décadas. Agora, um estudo publicado na revista Nature Communications deu um passo decisivo na compreensão desse fenômeno, revelando o papel crucial do ácido retinoico no processo regenerativo.

O papel do ácido retinoico na regeneração dos axolotes

Uma substância comum com funções extraordinárias

O ácido retinoico, derivado da vitamina A e popular em tratamentos dermatológicos como o retinol, revelou-se um fator-chave para indicar às células dos axolotes que parte do corpo precisa ser regenerada — se apenas uma mão ou um braço completo, por exemplo.

“Uma questão antiga na área é: quais são os sinais que dizem às células no local da lesão que elas devem regenerar apenas uma mão, por exemplo, ou um braço inteiro?”, explicou o professor James Monaghan, biólogo da Universidade Northeastern e autor sênior do estudo.

Como os pesquisadores investigaram o processo regenerativo

Experimentos com axolotes fluorescentes

Para entender como o ácido retinoico atua, os cientistas utilizaram axolotes geneticamente modificados, que brilham em verde fluorescente nos pontos onde a molécula está ativa. Essa bioluminescência permitiu rastrear com precisão onde e como ocorre a regeneração.

Testes com excesso de ácido retinoico: o “efeito Frankenstein”

Em uma abordagem inicial, os pesquisadores injetaram grandes quantidades da substância nos axolotes. O resultado? Membros cresceram exageradamente — uma simples mão foi substituída por um braço completo. Isso mostrou que doses elevadas confundem o “plano corporal” das células.

A enzima que regula o processo regenerativo

O estudo também identificou a enzima CYP26B1 como reguladora fundamental do ácido retinoico. Ao bloquear essa enzima, os efeitos descontrolados voltaram a ocorrer, indicando que o equilíbrio entre produção e degradação da substância é essencial para uma regeneração precisa.

Os axolotes não brilham naturalmente no escuro — eles foram geneticamente modificados para entender melhor como usam o ácido retinóico para fazer crescer membros perdidos • Timothy Duerr
Os axolotes não brilham naturalmente no escuro — eles foram geneticamente modificados para entender melhor como usam o ácido retinóico para fazer crescer membros perdidos • Timothy Duerr

O que os axolotes podem ensinar sobre regeneração em humanos?

A diferença entre células humanas e de axolotes

Nas salamandras, células feridas passam por um processo de desdiferenciação, esquecendo sua identidade e retornando a um estado semelhante ao embrionário. Isso as torna receptivas aos sinais de regeneração. Já em humanos, feridas resultam em cicatrizes devido ao acúmulo de colágeno — e não em tecidos novos.

“Células humanas não respondem mais aos sinais do ácido retinoico porque perderam essa habilidade durante o desenvolvimento embrionário”, explicou Monaghan.

Regeneração humana ainda é um sonho, mas não impossível

Segundo o pesquisador, uma das promessas da medicina regenerativa está em técnicas como o CRISPR, que podem ativar ou desativar genes específicos sem alterar permanentemente o DNA. Isso poderia permitir, no futuro, que nossas células voltem a “obedecer” aos comandos regenerativos, curando-se sem deixar cicatrizes.

Caminhos para o futuro: terapia genética e medicina regenerativa

Apesar de a regeneração de membros humanos ainda parecer algo distante, os avanços com os axolotes oferecem uma base sólida para o desenvolvimento de novas terapias.

“Ainda estamos longe de regenerar um braço humano, mas compreender os genes ativados pelo ácido retinoico pode ser o início de um novo capítulo na biotecnologia e medicina regenerativa”, afirmou Monaghan.

Já a bióloga Catherine McCusker, da Universidade de Massachusetts Boston, que também estuda regeneração, destacou a importância de continuar essa pesquisa básica. “Estamos descobrindo formas super inovadoras de fazer coisas que hoje parecem impossíveis para a medicina humana atual.”

Uma luz no fim do túnel regenerativo

A pesquisa com axolotes não apenas desvenda os mecanismos complexos da regeneração, como também abre portas para avanços na terapia genética e medicina personalizada. Com o tempo e o aprofundamento dos estudos, aquilo que hoje parece ficção científica pode, em breve, tornar-se uma realidade clínica.

Com informações: cnnbrasil

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