Com medo de perdê-la, este cachorro dá um jeito de dormir abraçado à tigela de ração.
Adotado recentemente, Neville é um Jack Russell terrier que tem muito medo da fome e da solidão. Mesmo tendo conquistado uma casa e uma família, o cachorrinho só dorme abraçado à tigela de ração – ou debruçado sobre ela. Nunca se sabe o que o futuro nos reserva, não é mesmo?
A tutora de Neville, identificada apenas como Susanne, encontrou o cachorro enquanto navegava pelas redes sociais. Ao identificar o Jack Russell terrier no Facebook, ela resolveu que teria de adotá-lo. Susanne também é precavida: ela esperou três horas no centro de resgate, para garantir a tutela de Neville.
Neville e a tigela
Não se conhece a história de Neville. A equipe do centro de adoção acredita que ele tenha sido empregado para procriação durante muitos anos e, agora com dez anos estimados, não tem mais “serventia”. Por isso, foi abandonado à própria sorte.
Susanne conseguiu a tutela de Neville depois de enfrentar uma longa espera no centro de resgate de animais. O abrigo estava disponibilizando um grupo de cachorrinhos recolhidos de um canil irregular e havia muitos candidatos à adoção.
Ao chegar em casa, o tímido cachorro surpreendeu a tutora. No abrigo e no trajeto para casa, Neville havia se mostrado quieto, pacato e um pouco apavorado. Ao chegar ao novo lar, no entanto, ele disputou a comida com outro cachorro resgatado por Susanne.
Neville, apesar de dócil e amigável, é um animal dominante – o que reforça a hipótese de ele ter sido empregado como padreador durante muito tempo. Susanne precisou usar todas as técnicas que conhecia até convencer o Jack Russell terrier de que não era preciso disputar a comida – havia o suficiente para todos.
Desde a adoção, já se passaram dois anos. Mesmo assim, Neville ainda sente medo de passar fome. Todas as noites, ele se deita ao lado da tigela de ração, em atitude de vigilância. Quando percebe qualquer movimento, ele se debruça sobre o alimento, talvez para impedir que “algum aventureiro lance mão”. Ele passa a noite inteira dormindo abraçado.
A operação se repete mesmo que a tigela esteja vazia. Sem nunca ter visto o trajeto da ração do supermercado até a cozinha de casa, Neville não faz ideia de que a comida não “brota” da própria vasilha e prefere garantir que ninguém ouse tirá-la dele.
Há outra possível explicação para o comportamento de Neville. A preocupação do cachorrinho não é apenas com o alimento – que, a esta altura do campeonato, ele já percebeu que não corre o risco de ficar sem.
Para Neville, a tigela representa estabilidade. Ele associou a vasilha a abrigo, conforto, agasalho e segurança. O Jack Russell terrier não deve ter experimentado, em sua vida, maior proximidade com humanos – provavelmente, ele vivia em um quintal, apenas na companhia das fêmeas que deveria cobrir.
Com isso, o cachorrinho não estabeleceu vínculos fortes, que são comuns a todos os cachorros, desde que são filhotes. Neville passou a vida como um outsider, um “lobo solitário”. Protegido em uma casa, seguro e agasalhado, ele projetou na tigela a base desta mesma segurança – e pretende se agarrar a ela com toda a força.
No período em que está convivendo com Susanne, Neville já conseguiu compreender que não precisa disputar o alimento. No início da convivência na casa nova, o cachorrinho comia a ração o mais rápido que conseguia, para em seguida tentar “convencer” o colega a ceder uma parte para ele.
Mas atualmente ele convive normalmente com o outro cachorro da família e aprendeu a dividir e respeitar o espaço do irmão de quatro patas. A possessividade foi transferida para o objeto – a vasilha que ele protege como se fosse o Santo Graal.
O Jack Russell pode ter passado por experiências dolorosas, mas conseguiu de alguma forma manter o equilíbrio emocional – e o comportamento esperado para um cachorro, que é sempre de camaradagem e colaboração.
Felizmente, o cachorro não exibe outros comportamentos inadequados, como dominância e territorialidade. Ele é apaixonado pela tutora e mantém “relações cordiais” com os outros cachorros da família – apesar de não ser muito próximo. Mesmo assim, ele precisa garantir que os tempos antigos não irão retornar. Para espantar os fantasmas, ele se tornou um guardião fiel – mesmo que seja apenas de uma tigela.