O cachorro notou que a ave tinha caído do ninho, salvou-a e continua cuidando do papagaio.
“Ele não sai de perto do papagaio”, diz Viviana D’Ávila, uma jovem porto-riquenha que vive com Hiro, um retriever do Labrador de quatro anos. há pouco mais de um ano, a tutora estava relaxando no quintal quando notou a excitação do cachorro. Ele havia encontrado um filhote de papagaio, que caiu do ninho e não sabia como voltar para casa.
Viviana conta que Hiro sempre foi um bom menino: esperto, prestativo e sempre atento a tudo que acontece. Em junho de 2020, ele demonstrou todas estas qualidades. O peludo não apenas alertou para a ave em perigo, como ficou a postos durante o salvamento e há mais de um ano convive com o papagaio, que ele encara como uma espécie de irmão mais novo.
O salvamento
Hiro e Viviana estavam descansando no quintal, quando alguma coisa caiu no chão, perto da cerca. O fato despertou a atenção do cachorro, que se levantou imediatamente para verificar o que estava acontecendo. Os cães estão sempre em alerta.
A tutora contou ao site The Dodo que notou o cachorro lambendo essa coisa que tinha caído. Ele alternava o olhar entre Viviana, que continuava sentada perto da porta da cozinha, e a coisinha verde no chão.
Viviana percebeu os sinais e foi verificar o que Hiro tinha descoberto. Ela imaginou que pudesse ser uma folha ou um galho, mas acabou se surpreendendo ao ver que o retriever do Labrador havia encontrado um filhote de papagaio.
Ficou evidente que o filhote precisava de ajuda. Viviana rapidamente envolveu a ave, que estava totalmente indefesa, em uma toalha, ainda sem saber exatamente o que fazer. Ela decidiu levar a ave ao veterinário.
O médico avaliou a ave e constatou se tratar de um papagaio-quaker (Myiopsitta monachus). Ela estava paralisada, provavelmente por causa da queda do ninho e, de acordo com o especialista, tinha poucas chances de sobreviver.
Certamente, se Hiro não tivesse encontrado o papagaio, ele não teria chance nenhuma. Mas a ave resistiu bravamente e, aos poucos, conseguiu recuperar os movimentos. Viviana resolveu adotá-la e deu-lhe o nome de Hope (“esperança”, em inglês).
A orientação do veterinário foi pela eutanásia, mas ele mesmo ficou surpreso com a recuperação de Hope. A ave realmente estava se esforçando para continuar viva. Seguindo as instruções médicas, a tutora alimentou o papagaio na mão e higienizava-o várias vezes por dia, sempre sob o olhar atento de Hiro.
Em alguns meses, a ave parecia outra. Ela se mostrava melhor e mais forte a cada dia. Hiro fez parte do esforço: desde o primeiro dia, era difícil mantê-lo afastado. O cachorro mostrou ser um excelente enfermeiro.
Hope passa boa parte do tempo na gaiola, mas, para ela, a melhor parte do dia é quando Viviana a solta e ela pode aconchegar-se no pelo do herói que a salvou. É comovente observar o papagaio encostado no peito de Hiro, curtindo uma soneca.
A ave se acostumou a explorar a casa, mas não parece disposta a alçar voo, talvez para encontrar um bando de papagaios. Os papagaios-quaker são muito sociáveis e, quando criados por humanos, tendem a se adaptar ao modo de vida urbano.
E, onde quer que Hope vá, o fiel escudeiro Hiro segue atrás. Ele realmente se preocupa com o bem-estar e a saúde do irmão de asas que o acaso escolheu para ele. A amizade se fortalece dia a dia e o papagaio ensinou a Viviana uma bela lição de perseverança, enquanto o cachorro segue ensinando sobre empatia e solidariedade.
A espécie
Mais tarde, a tutora descobriu tratar-se de um papagaio-quaker, também conhecido como periquito-monge e caturrita, uma ave em risco moderado de extinção, que não é nativa do arquipélago de Porto Rico. É uma das menores espécies de papagaios, medindo em média 28 cm da ponta da cauda à base do bico.
Apenas para comparar, o papagaio-verdadeiro, muito comum no Brasil (na Amazônia e mata Atlântica), pode atingir até 38 cm de comprimento.
O papagaio-quaker é nativo da América do Sul, especialmente da Argentina. Ele foi introduzido nos EUA e no Caribe como ave de estimação, mas não faz parte da fauna local. A espécie, que é a única entre os papagaios que constrói ninhos para chocar os ovos, acabou se espalhando pelas florestas tropicais de ilhas da América Central, como Cuba, Hispaniola e Porto Rico.
Quando deixam o ninho, os papagaios-quaker já se mostram virtualmente idênticos às aves adultas. A única diferença é que, nos espécimes jovens, a plumagem é de um verde um pouco mais claro – mas é necessário ter um adulto por perto para poder comparar a diferença.