Cachorro sempre bate no focinho do colega cego e surdo para orientá-lo no dia-a-dia

Eles se conheceram há quatro meses. Um cachorro é o guia do outro e o orienta sempre.

Tamale é um cachorro que foi adotado através do programa Speak for The Unspoken (“fale pelos que não falam”, em tradução livre), um projeto de resgate de cães portadores de deficiências sediado em Columbus, capital de Ohio (região centro-leste dos EUA).

Trata-se de um cachorro que nasceu surdo e cego. Tamale foi adotado quando tinha quatro meses e, apesar das deficiências, ele não sofre tantas limitações como se poderia imaginar à primeira vista.

Jimmy e Tamale

Estes dois melhores amigos fazem parte da família de Kayleigh Otstot. De acordo com a tutora, Tamale às vezes esbarra nos móveis e objetos, mas, fora isso, ele leva uma vida praticamente normal. Pessoas que não o conhecem quase nunca percebem as deficiências do peludo.

Ainda de acordo com a tutora, Tamale é um cachorro muito extrovertido e sociável. Ele gosta da companhia de pessoas – especialmente crianças – e de outros animais. Kayleigh acredita que foram justamente estas habilidades sociais que o fizeram encontrar o melhor amigo.

Tamale encontrou Jimmy no parque para cães de Columbus. Eles se conheceram no final de 2020. Kayleigh marcava encontros na praça com Melinda, a tutora de Jimmy, e os dois cães se viam algumas vezes por semana.

Os dois cachorros desenvolveram uma amizade sólida e única. De acordo com a tutora, Tamale parece sentir, de alguma forma, que Jimmy é “um pouco diferente” e, justamente por isso, pode ser usado para as aventuras da dupla.

Jimmy e Tamale estabeleceram uma espécie de ritual de encontro. Quando Rayleigh chega ao parque, Tamale espera no carro, já com a porta aberta, e Jimmy corre ao seu encontro. Quando chega perto o suficiente, o amigo bate no focinho de Tamale.

Esta é a senha para começarem as brincadeiras e correrias. O cachorro surdo e cego se orienta através dos latidos de Jimmy. Às vezes, ele perde o rumo, mas o amigo volta a se aproximar, bate novamente no focinho e a brincadeira é reiniciada.

Jimmy parece compreender que Tamale não é capaz de vê-lo nem de ouvi-lo. Por isso, encontrou uma forma tátil para “marcar presença”. Apesar de o contato visual e auditivo ser inexistente, os dois amigos brincam por horas seguidas, sem interrupções.

Entre os humanos, as deficiências físicas sempre são acompanhadas por preconceitos. Muita gente grita com surdos, ou tenta segurar o braço de cegos, para orientá-los na conversa ou na caminhada. Isto é totalmente desnecessário.

Para os cachorros, no entanto, não há ideias preconcebidas. Jimmy sabe que Tamale é diferente dele, mas, em alguma medida, todos nós somos diferentes de todos os outros. Não há motivo para interromper a brincadeira e o contato e eles conseguem se divertir sem temores nem limitações.

Tamale consegue identificar o amigo através do faro – talvez o sentido mais apurado entre os cachorros. Eles perseguem um ao outro pelas alamedas do parque sem que ninguém que não os conheça perceba que um dos colegas de brincadeiras não consegue ver nem ouvir.

Em alguns momentos, porque Jimmy se distancia demais – ou porque o vento contrário está soprando forte – Tamale perde o rastro do amigo. Mas isso também não é problema: Jimmy volta rapidamente e corrige a situação, com mais um tapinha no focinho.

O duplo merle

No Tik Tok, é possível acompanhar as brincadeiras de Jimmy e Tamale e outras aventuras do cachorro cego e surdo na página @t.thedoublemerle1, que reúne quase 30 mil seguidores. O cachorro é apresentado com um pastor australiano mestiço.

Merle é um padrão da pelagem dos cães, que ocorre em diversas raças, como dachshund, collie, pastor de Shetland, corgi galês e old english sheepdog, além do pastor australiano.

O gene merle, que é dominante (isto significa que ele sempre se manifesta nos filhotes), é o responsável por manchas salpicadas sobre a pelagem sólida (unicolor ou bicolor). Alguns animais também apresentam olhos de cores diferentes (heterocromia).

O padrão é bonito, mas não é aceito por diversas associações cinológicas, justamente por estar associado a deficiências e más-formações genéticas. Estas ocorrem quando o gene merle está presente tanto no pai, quanto na mãe.

Quando dois cães merle se cruzam, existe a probabilidade de 25% dos filhotes nascerem com o “duplo merle”, que determina cegueira e surdez, entre outras anomalias. A maioria desses cães exibe pelagem branca, com o salpicado apenas insinuado.

Além dos problemas visuais e auditivos, os cães com duplo merle também apresentam maior predisposição genética ao albinismo. E, apesar de cães totalmente brancos serem muito charmosos, eles podem desenvolver uma série de doenças, como câncer de pele, dermatites e distúrbios oftalmológicos.

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