Cão sem teto se torna cão terapeuta

Este cachorro vivia nas ruas e praias gregas. Foi resgatado, treinado e tornou-se terapeuta.

Ele seria apenas mais um dos milhares de cachorros abandonados que vivem nas ruas de todas as cidades do planeta, grandes e pequenas. Mas este peludo teve a sorte de contar com um auxílio precioso. Resgatado e reabilitado, ele foi adestrado para se tornar um cão terapeuta.

Valia Orfanidou é uma jovem ativista dos direitos dos animais que vive em Atenas, capital da Grécia. Ela planeja construir um santuário para cães e gatos de rua, mas, enquanto isso não acontece, ele resgata alguns peludos, leva para casa, trata, alimenta e providencia a adoção. Foi Valia quem encontrou o cachorro em uma praia de Atenas.

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O trabalho de Valia

A jovem grega, há anos, resgata e trata animais de rua. Mas ela não tem espaço suficiente para acolher todos os peludos que encontra em situação de risco. Por isso, estabeleceu critérios para o acolhimento: na medida do possível, ela recolhe os mais necessitados, como filhotes, doentes, feridos e idosos.

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Valia também produz vídeos, especialmente quando encontra animais saudáveis vivendo nas ruas. As imagens são postadas nas redes sociais – a ativista tem um canal próprio no Youtube – para divulgar (ou denunciar) as condições em que cães e gatos vivem, ampliando as chances de adoção, ou pelo menos de alimentação e cuidado provisório.

O resgate

Certo dia, Valia estava passeando com os seus cachorros pelo calçadão de uma das praias de Atenas, como sempre faz todas as manhãs. Durante a caminhada, ela avistou mais um cão vadio: outro sem teto.

O peludo, no entanto, não preenchia os critérios que Valia utiliza para triar os animais que resgata e acolhe: era um cachorro jovem, aparentemente saudável, sem nenhuma necessidade urgente.

O cachorro, no entanto, fez questão de acompanhar Valia no seu passeio matinal. Ele demonstrou ser amigável e brincalhão, interagindo com os pets da ativista e, por mais que, objetivamente, ela soubesse que devia seguir adiante, alguma coisa lhe dizia que era preciso ajudar o peludo de alguma maneira.

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O cachorro de porte médio sabia como conquistar amigos. Quando Valia interrompeu a caminhada, ele simplesmente se deitou aos pés dela, oferecendo a barriga para um cafuné: um sinal clássico de submissão e um claro pedido de ajuda.

Valia deixou o cachorro na rua, mas não conseguiu dormir na noite seguinte. A imagem do peludo desamparado ficou presa à tela mental: era preciso tomar alguma providência. Alguns dias depois, ocorreu o reencontro.

A ativista não resistiu. Ela embarcou o cachorro no carro, junto com os seus pets, e rumou para casa. O sem teto foi chamado de Blue (azul), uma alusão à cor do mar que serviu de moldura para os encontros.

Valia mantém uma rede de contatos para as emergências e conseguiu encontrar rapidamente um lar provisório para Blue. Ela se movimentou nas redes sociais, procurando alguém que se dispusesse a adotar o cachorro, um simpático vira-lata que poderia fazer parte de qualquer família: ele não tinha necessidades especiais e era muito amoroso e afável.

A adoção

Enquanto Valia tentava encaminhar Blue, uma família no outro lado do continente vivia o luto pela perda de um grande amigo. Um dos cachorros da família Folkertz, residente em Finsterwolde, uma vila na província de Groningen (Países Baixos), tinha morrido recentemente.

Abbaio, o cachorro falecido, havia deixado uma lacuna não apenas no coração dos Folkertz, mas também de Rincewind, a outra mascote. A família mantém a Fundação Snoezelhond, que pesquisa o mal de Parkinson e atua com pacientes desta doença.

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Não eram apenas os Folkertz que estavam de luto. Abbaio trabalhava, juntamente com Rincewind, como cão terapeuta. Ele era conhecido nas casas de idosos do país, que sempre visitava para interagir com os hóspedes.

Navegando nas redes sociais, Karin Folkertz viu fotos e vídeos de Blue. Ela ficou apaixonada pelo cachorro, que demonstrava ternura, companheirismo e muita paciência nas imagens postadas: ele seria um cão terapeuta ideal.

Mas havia a distância: são quase três mil quilômetros entre Atenas e Amsterdã (capital dos Países Baixos). Os custos da viagem pareciam proibitivos. Então, novos personagens entraram nesta trama.

Voluntários da SCARS (Second Chance Animals Rescue Society), uma entidade não governamental grega de apoio a animais abandonados, tomaram conhecimento da história. A SCARS não apenas ajudou na recuperação de Blue, como também levantou fundos para a viagem do peludo para os Países Baixos.

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Depois de alguns contatos entre Valia Orfanidou e os Folkertz, ficou tudo acertado. A família reunia todas as condições necessárias para receber Blue e poderia adestrá-lo como cão terapeuta. Durante os preparativos, Blue chegou até mesmo a interagir por videochamada com Rincewind e os gatos da nova família.

A adoção de Blue contou também com o apoio da Animal Association International (AAI), uma entidade de resgate, acolhimento e treinamento de cães e gatos que atua em diversos países da Europa.

A viagem e traslado de Blue até os Países Baixos foram custeados por uma família holandesa que estava de férias na Grécia. Uma semana depois do primeiro contato de Valia, o “cachorro abandonado na praia” embarcou para finalmente conhecer a nova família.

Blue e Rincewind rapidamente se tornaram os melhores amigos. O cachorro grego foi treinado para se tornar cão terapeuta e recentemente realizou as primeiras visitas ao lar de idosos portadores do mal de Alzheimer. O comportamento foi irrepreensível: em menos de três meses, Blue foi aprovado no curso com louvor e distinção.

A nova tutora afirmou à imprensa que Blue foi um grande achado: “Ela não tem problemas para interagir com as pessoas, não importa o que estejam fazendo. Ela não tem medo quando falam alto, ficam com raiva, choram ou fazem barulho: Blue está sempre centrada e estável”.

Karin completou o êxito da adoção e do adestramento: “Sei que faz apenas três meses que Blue está conosco, mas parece que ele sempre esteve aqui. Ele faz parte da família, como qualquer um de nós”.

Em pouco mais de três meses, o vira-lata que perambulava pelas ruas e praias de Atenas em busca da sobrevivência não apenas conquistou uma nova família, mas aprendeu novas funções e está muito feliz. Ninguém queria se aproximar de Blue, mas agora todos o recebem de braços abertos.

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