O que a ciência descobriu com os Amish — e como isso pode mudar a forma como vemos nossos pets
Desde a chegada dos Amish à América do Norte, vindos da Europa Central no século 18, seu modo de vida simples e próximo à terra tem despertado curiosidade e fascínio. Mas nos últimos anos, esse estilo de vida passou a chamar a atenção da comunidade médica por um motivo surpreendente: a saúde imunológica das crianças Amish é significativamente melhor que a de populações semelhantes.

A conexão entre o estilo de vida rural e a imunidade infantil
Estudos realizados em 2012 compararam crianças Amish, que vivem no interior de Indiana (EUA), com crianças Huteritas, uma comunidade também agrícola, mas que adotou tecnologias modernas na Dakota do Sul. Apesar de semelhantes em muitos aspectos — como origem europeia, dieta natural e baixa exposição à poluição —, os Huteritas apresentam taxas muito maiores de asma, alergias e eczema.
A diferença? O contato direto e constante das crianças Amish com os animais da fazenda.
Microbioma: o elo entre saúde e convivência com animais
Os cientistas descobriram que as crianças Amish possuem sistemas imunológicos mais equilibrados, com destaque para um maior número de células T reguladoras, fundamentais para evitar reações alérgicas exacerbadas. Esse equilíbrio parece estar ligado à exposição precoce a uma grande diversidade de microrganismos presentes em ambientes rurais e, principalmente, trazidos pelos animais.
O “efeito minifazenda” dentro de casa
Pesquisas globais têm reforçado esse achado. Crianças que crescem com pets — especialmente cães — têm risco significativamente reduzido de desenvolver alergias e asma. Especialistas como Jack Gilbert, da Universidade da Califórnia em San Diego, apontam que mesmo um único cão em casa pode diminuir em até 14% a chance de alergias.
Gilbert, cofundador do projeto American Gut, destaca que nossos sistemas imunológicos evoluíram ao longo de milênios convivendo com bactérias trazidas por cavalos, vacas, cães e outros animais. Essa exposição natural parece ensinar o corpo humano a desenvolver uma resposta imune saudável.
Os animais como aliados invisíveis da nossa saúde
Embora os microrganismos dos pets não se instalem permanentemente em nossos corpos, eles atuam como estímulos valiosos para o sistema imunológico. Isso ajuda a manter o equilíbrio bacteriano na pele e no intestino, prevenindo doenças autoimunes e fortalecendo a resistência natural do organismo.
Estudos indicam: o microbioma ancestral é mais saudável
Pesquisas com outras populações, como os Irish Travellers, reforçam essa teoria. Vivendo em contato direto com diversos animais, esse grupo marginalizado da Irlanda apresentou microbiomas semelhantes aos de tribos indígenas da Tanzânia, Mongólia e Peru — populações que ainda mantêm hábitos de vida pré-industriais.
O microbioma dos Travellers é mais diversificado e semelhante ao de humanos antigos, segundo estudos liderados pelo professor Fergus Shanahan, da University College Cork. Isso pode explicar a baixa incidência de doenças autoimunes entre eles, como lúpus, doença de Crohn e colite ulcerativa.
Intervenções modernas inspiradas na natureza
Diante dessas descobertas, cientistas têm buscado formas de “reintroduzir” os benefícios da vida com animais em contextos urbanos. Na Itália, uma fazenda educativa permitiu que crianças de cidades interagissem regularmente com cavalos — o resultado foi um aumento na produção de metabólitos benéficos em seus intestinos.
Nos EUA, pesquisadores da Universidade do Arizona analisaram o impacto da adoção de cães por idosos e observaram melhora na saúde física, mental e imunológica.
Atividade física e exposição ambiental: benefícios adicionais
Além do contato direto com os microrganismos dos pets, ter um cão em casa também estimula atividades saudáveis. Caminhar ao ar livre, frequentar parques e entrar em contato com o solo expande ainda mais a variedade de microrganismos úteis absorvidos pelo corpo.
Como destaca o imunologista Liam O’Mahoney, da APC Microbiome Ireland, “os benefícios vão muito além do lar — eles se estendem aos ambientes que frequentamos por causa dos nossos animais.”
Os pets são aliados poderosos da nossa imunidade
A ciência está cada vez mais convencida de que conviver com animais de estimação pode ser uma forma natural, acessível e eficaz de fortalecer o sistema imunológico — especialmente na infância.
Embora os micróbios trazidos pelos pets não permaneçam em nosso corpo, eles deixam um rastro benéfico: ajudam a moldar um sistema imune mais equilibrado, ativo e preparado para lidar com os desafios da vida moderna.
Ter um pet não é só bom para o coração — pode ser também uma vacina natural contra alergias, asma e doenças autoimunes.
Com informações do BBC News.