Conheça algumas histórias de cães de rua que foram adotados e ganharam um final feliz.
As histórias de animais abandonados nem sempre têm um final feliz. Apresentamos a seguir alguns casos de cães que viviam nas ruas, foram adotados por pessoas responsáveis e conquistaram uma segunda chance na vida.
Estas histórias aquecem o coração e estimulam a adoção. Vale lembrar que não existem “cães de rua”: eles são animais que foram abandonados por tutores negligentes, ou que já nasceram sem teto porque os pais não foram esterilizados. Mas lugar de cachorro é em casa, com carinho, segurança, agasalho e saúde.
Por um lado, os humanos abrem as portas de seus lares, oferecem alimento, abrigo, brinquedos, passeios e assistência médica. Por outro, os cães oferecem fidelidade absoluta, amizade, lealdade, companheirismo e muitas brincadeiras.
Avelar
Avelar é o melhor amigo de Helena. Ele foi acolhido por Stella Petrovitz Barreto, depois de ter sido encontrado atropelado na rua – felizmente, ele não teve ferimentos graves. Stella é mãe de Helena, uma menina diagnosticada com o transtorno do espectro autista.
A ideia inicial de Stella não era receber um novo membro na família. Ela pretendia apenas oferecer um lar temporário para o cachorro se restabelecer. Em seguida, ele seria encaminhado para um abrigo – e ficaria na fila de espera a adoção.
Mas Helena e Avelar construíram uma relação extremamente sólida. Vale lembrar que os autistas apresentam dificuldades na interação social e não conseguem estabelecer laços sólidos de amizade. Mas a história com o cachorro foi diferente.
Menos de uma semana depois da chegada de Avelar, os pais começaram a notar diferenças no comportamento de Helena, que tinha apenas dois anos na época. Brincando com o cachorro, a menina começou a estabelecer elos mais sólidos – inclusive com a família humana.
A mãe afirma que a menina tinha dificuldades de expressão e evitar contatos físicos. Convivendo com Avelar, Helena começou a se mostrar mais carinhosa com a família – inclusive com os outros cachorros da casa. A garotinha vive conversando com o peludo e “Avelar” foi uma das primeiras palavras que Helena aprendeu a pronunciar corretamente.
Helena chegou a “mamar” no corpinho do cachorro. Ele não reclamava, nem rosnava. Nos momentos de crise, Avelar não sai do lado da companheira. “Ela está evoluindo cada vez mais”, diz a mãe, que não se importa de dividir o apartamento com mais três cachorros. “Foi um encontro de almas”, completa Stella.
Com o tempo, Avelar tornou-se um membro da família. Stella nem pensa na possibilidade de doá-lo ou perdê-lo. Helena, hoje com quatro anos, continua estabelecendo relações mais sólidas e o cachorro é o centro das atenções – e dos afagos – da menina e da mãe.
Muriel
Cães e gatos são antídotos para a tristeza e a solidão. É impossível conviver com um deles e continuar se sentindo sozinho. Diversos cachorros são adestrados como “terapeutas”, para acompanhar pacientes internados em hospitais, além de idosos de que vivem em asilos e crianças em orfanatos.
Muriel é uma cadelinha que comprova a regra. Marina Benetti passou por diversos especialistas até obter o diagnóstico definitivo: ela sofria de depressão. Ao contrário do que pensa o senso comum, a depressão não é causada por tédio, desilusões sentimentais, nem “falta de Deus”, como dizem algumas pessoas.
Trata-se de uma doença causada pela deficiência na produção de neurotransmissores, que se reflete nas reações emocionais. A depressão ainda não tem cura, mas os portadores podem ser tratados com medicamentos, acompanhamento psicológico e exercícios. A presença de um cão pode ser um diferencial.
Este é o caso de Muriel, uma cachorrinha sofrida e cheia de traumas colecionados durante a vida nas ruas. Além disso, ela já havia sido adotada e devolvida várias vezes ao abrigo, por “falta de adaptação”. Mas Marina pôde observar os benefícios do relacionamento em muito pouco tempo.
Muriel é muito medrosa – e não sem motivos. O abrigo que a acolheu constatou que ela tem muitos dentes quebrados em função da violência com que era tratada pelo primeiro tutor. De acordo com Marina, “Muriel tem medo até de mosquito”.
A jovem conta que a cachorra chegou na sua vida em um momento muito difícil para as duas. Mas ela sentia que uma tinha que cuidar da outra: “Mesmo estando muito mal, eu sabia que precisava me levantar da cama para cuidar dela, para sair para passear. Ela adora comer e eu penso que preciso preparar a comida, até porque eu mesma preciso me alimentar”.
Muriel e Marina estão juntas há quase três anos. Desde o primeiro encontro, a cachorra tem sido fundamental no processo de superação da doença. Muriel ainda é tímida e tem medo de sair na rua, mas a tutora garante: “todos os dias, a gente luta para avançar um pouco mais”.
Picasso
Esta história aconteceu nos EUA. Picasso nasceu em um canil ilegal, entre os muitos que obrigam cães machos e fêmeas a acasalarem e terem diversas ninhadas a cada ano. O cachorrinho nasceu com uma deformidade no focinho – os irmãos rapidamente foram negociados, mas Picasso não encontrou um pretendente.
O filhote estava crescendo e, como não apareciam tutores interessados, o canil decidiu sacrificá-lo. Então, Liesl Wilhardt, fundadora do Luvable Pet Rescue (Eugene, Oregon), decidiu assumir o cãozinho. Hoje, ele vive com a tutora e nove irmãos também adotados.
O cachorro foi abandonado com um irmão em um centro de animais em Porterville (Califórnia), no final de 2016. Foi lá que eles receberam os nomes de “Pablo” e “Picasso”, uma referência aos rostos desproporcionais criados pelo artista espanhol.
Liesl entrou em contato com o centro de animais justamente nessa época. Ela estava interessada em animais com algum tipo de problema ou deficiência físico. Ao tomar conhecimento de Picasso, ela foi até o abrigo – Pablo já havia sido sacrificado.
Além de ganhar uma família, Picasso foi adestrado para ajudar outras pessoas que sofrem com o preconceito por serem portadoras de algum tipo de deficiência física. A tutora afirma que o cachorro é “perfeitamente imperfeito”.
Atualmente, Picasso é o garoto-propaganda do abrigo mantido por Liesl. O cachorro é um dos muitos animais que nascem com deficiências, porque a “moda” é ter cachorros pequenos – os pocket dogs. Picasso é mestiço de lulu da Pomerânia, chihuahua e pitbull. Os cruzamentos foram feitos na tentativa de obter cães com a aparência do pitbull, mas de porte muito pequeno.
O abandono no Brasil
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, vivem abandonados nas ruas brasileiras 30 milhões de animais – 20 milhões de cachorros e dez milhões de gatos. Os cães são os melhores amigos dos humanos, mas pelo menos muitos destes definitivamente não são os melhores amigos dos peludos.
Nas pequenas e grandes cidades do país, há um cachorro para cada quatro ou cinco humanos. E dez por cento desses peludos não tem residência fixa. Muitos abrigos e até indivíduos procuram amenizar o problema, que não é apenas humanitário, mas também de saúde pública.
Moral da história
Nós tiramos os cachorros da natureza. Antes da parceria de sucesso entre humanos e caninos, eles viviam em bandos numerosos, caçavam, organizavam acampamentos para se proteger, defendiam-se dos predadores.
Nas ruas das cidades, os cães não têm segurança. Eles ficam expostos a acidentes e brigas, além de não poderem se proteger do frio, da chuva ou do sol. Alguns se tornam agressivos e criam um problema para todos os moradores – inclusive os humanos.
Outros se tornam vetores de doenças que podem ser transmitidas para os animais de estimação e também para os humanos, como a raiva, sarna, leptospirose, toxoplasmose e bicho geográfico. É fundamental que sejamos responsáveis pelos animais que retiramos da natureza, para o nosso proveito. A adoção é o melhor final feliz para os cães e gatos de rua.