Tártaro em cachorros: como prevenir e tratar

O tártaro é a formação da placa bacteriana entre a gengiva e os dentes. Saiba como prevenir e tratar o tártaro em cachorros.

Com o aumento da expectativa de vida, o tártaro em cachorros vem se tornando um problema cada vez mais comum. A higiene bucal é muito importante para a saúde e a qualidade de vida dos cães e pode ter início com a prevenção – ou tratamento – deste problema.

Os cachorros usam a boca para quase tudo: comer, brincar, explorar o ambiente em que vivem. Portanto, a saúde bucal é imprescindível para a qualidade de vida. E ela passa pela eliminação do tártaro, que nada mais é que a formação gradual de uma placa de bactérias, acumulada a partir de restos de alimentos.

O tártaro nos cachorros, na maioria dos casos, começa a se formar nos dentes molares, avançando posteriormente para as presas e os incisivos. É comum encontrar cachorros com um sorriso bonito na frente, mas com os dentes escurecidos nas laterais. É preciso inspecionar a boca regularmente.

O que é o tártaro em cachorros?

Na boca dos cachorros, ocorre o mesmo fenômeno observado na nossa: a cada alimento ingerido, um grande número de bactérias se mistura à cada porção. Estes micro-organismos não são necessariamente nocivos: sem eles, a primeira fase da digestão – insalivação e mastigação – seria impossível.

As bactérias da boca ajudam a quebrar os alimentos em porções menores, facilitando o trabalho da faringe e do esôfago, que precisam empurrar a comida até o estômago. No entanto, depois de cada refeição, parte destas bactérias permanece em atividade.

Alguns fatores ajudam a ampliar a proliferação das bactérias: o tipo de alimento, a quantidade de saliva produzida, predisposições genéticas e, claro, falta de higienização adequada. É preciso escovar os dentes e a boca dos cachorros uma vez por dia. Como esta não é uma tarefa fácil, a melhor indicação é acostumá-los desde filhotes.

Do contrário, as bactérias permanecem na língua e nas gengivas e gradualmente se depositam em torno dos dentes. Bactérias vivas e mortas contribuem, juntamente com alguns minerais presentes nos alimentos, para formar uma placa rígida – o tártaro -, que causa mau hálito, impede o aproveitamento total dos alimentos, dificulta a mastigação e prejudica os dentes, facultando o desenvolvimento de cáries.

Uma vez que o tártaro canino esteja formado, é impossível retirá-lo em casa. O ideal é a prevenção, com a escovação regular dos dentes e a oferta de brinquedos rijos, que ajudam a limpar os dentes. Ossinhos sintéticos podem colaborar na limpeza.

Todos os cachorros podem ter tártaro; a partir dos cinco anos de idade, se não houver prevenção, todos apresentam o transtorno (dentes amarelados ou escurecidos são sinais do tártaro). No entanto, algumas características facilitam o desenvolvimento do tártaro em cachorro:

  • os cães muito gulosos, que procuram (e encontram) comida o dia todo;
  • os pets de pequeno porte, uma vez que os dentes são pequenos e o esmalte protetor é muito fino;
  • os braquicefálicos, que apresentam dentes muito próximos, devido ao formato do crânio e da mandíbula.

Cães braquicefálicos são os pets de cara amassada: pug, boxer, buldogue (inglês e francês), boston terrier, lhasa apso, shih tzu, pequinês, shar-pei, cavalier king charles e staffordshire bull terrier.

Os animais silvestres não desenvolvem o tártaro porque costuma devorar as suas presas inteiras, e os ossos e cartilagens auxiliam na limpeza mecânica dos dentes. Além disso, na natureza, a expectativa de vida é bem menor do que na companhia dos humanos – principalmente quando a saúde é bem cuidada.

Os problemas do tártaro em cães

Entre os cães, uma boca saudável significa ausência de odores, gengivas rosadas, que retomam a cor depois de pressionadas em poucos segundos, dentes brancos sem nenhum resíduo acumulado. Qualquer alteração é motivo de atenção por parte dos tutores.

As doenças bucais em cachorros costumam ser progressivas: surge a placa bacteriana, seguida pelo tártaro canino, que faculta o desenvolvimento de gengivites e periodontites. Sem tratamento, estas doenças avançam para estruturas adjacentes, como a raiz dos dentes; as gengivas se retraem, ampliando a área de exposição às bactérias.

Tártaro em cachorros: como prevenir e tratar

Em casos extremos, ocorre a perda dos dentes e as inflamações podem gerar abscessos (bolsas de pus que se acumulam nos tecidos); as colônias de bactérias são transportadas facilmente pela corrente sanguínea e danificar órgãos internos, como o fígado e os rins – e estas infecções podem ser fatais. Sem tratamento, podem surgir também danos ao nariz e aos olhos.

Os problemas dentais abaixo relacionados podem ser prevenidos com a higiene bucal, ou controlados pelo tratamento veterinário, mas, negligenciados, podem gerar infecções mais graves, uma vez que áreas cada vez mais amplas ficam expostas à ação de bactérias, fungos e vírus oportunistas. Existe risco de morte, porque estas infecções podem causar insuficiência renal e cardiorrespiratória.

• Mau hálito

Cedo ou tarde, começam a aparecer os primeiros sintomas do tártaro em cachorro. O primeiro deles, ainda antes do escurecimento dos dentes, é a halitose ou mau hálito. O mau cheiro na boca é normal quando os cães passam muito tempo sem se alimentar, mas o odor constante é indicativo de problemas de saúde.

A halitose causada pelo tártaro é sempre gradativa, mas o distúrbio também pode ser resultante de problemas mais graves, como ingestão de produtos cáusticos, úlceras e tumores bucais, inflamação nos lábios e gengivas, problemas na faringe ou laringe e dilatação do esôfago. O veterinário precisa avaliar as condições gerais do pet.

• Gengivite

É um problema decorrente da formação do tártaro em cachorros. À medida que a placa bacteriana se desenvolve, as gengivas são afetadas até o surgimento de uma inflamação. A coloração se altera, do rosado para o vermelho vivo ou arroxeado.

Nos casos de gengivite, a área inflamada é a que circunda a raiz dos dentes. Sangramentos são relativamente comuns. Sem tratamento, a gengivite abre espaços entre a gengiva e os dentes, onde se acumulam mais restos de alimentos – e, consequentemente, mais bactérias.

• Doença periodontal

É o resultado de anos de acúmulo de tártaro, formação da placa bacteriana e gengivite. Na imensa maioria dos casos, a periodontite é identificada a partir dos cinco ou seis anos de idade, depois de muito tempo de negligência por parte dos tutores, quase sempre provocada por ignorância.

A doença periodontal é uma lesão na gengiva, ligamentos dos dentes e ossos do maxilar e da mandíbula, mas afeta especialmente o lábio e os dentes superiores. Trata-se de uma doença progressiva, irreversível e que leva à perda de um ou mais dentes.

• As cáries

Relativamente raras entre os cachorros, as cáries caninas costumam ser superficiais, dificilmente progredindo além do esmalte. Afetam a região próxima à gengiva e as faces laterais dos dentes. O tratamento é semelhante ao humano, com preenchimento e restauração.

A alimentação dos cachorros, pobre em açúcares refinados, dificulta a formação de cáries. O açúcar branco é a principal causa de cáries em humanos, porque o nutriente começa a ser absorvido pela corrente sanguínea ainda na boca. A saliva dos cães neutraliza ácidos e isto também é uma forma de proteção contra as cáries.

A prevenção do tártaro canino

Em primeiro lugar, é necessário evitar oferecer comida caseira (feita para humanos) para os cachorros. Os nutrientes necessários para eles não estão presentes nas refeições que consumimos, a textura e os ingredientes são os principais causadores do tártaro.

Além de facilitar a formação da placa bacteriana, a comida humana é cheia de sal, açúcar, óleos vegetais e condimentos que podem ser prejudiciais para os cachorros. A cebola, por exemplo, é um fator de intoxicações graves, podendo ser letal de acordo com a quantidade e frequência com que é oferecida.

As rações moles, em forma de patê, devem ser oferecidas apenas em ocasiões especiais, como um prêmio para os cães, ou quando a ração seca for contraindicada pelo veterinário. Os produtos em pasta permanecem por mais tempo na boca dos cachorros, favorecendo a proliferação das bactérias.

A escovação dos dentes e gengiva deve ser uma providência diária ou, pelo menos, realizada a cada dois dias. Apesar de ser uma tarefa simples, é um dos cuidados mais negligenciados pelos tutores. Os cães de pequeno porte, por apresentarem um suporte ósseo pequeno para os dentes, demandam cuidados ainda mais intensos.

Para escovar os dentes do pet, escolha uma dedeira ou uma escova de cerdas macias, para não machucar a gengiva. Caso escovas específicas não sejam encontradas em pet shops, podem ser usadas escovas para bebês humanos.

Nunca use o creme dental indicado para humanos em cachorros. Os produtos indicados pelos dentistas são ricos em flúor, que adere à superfície dos dentes (no esmalte) e aumenta a mineralização. Os cachorros não precisam disso e o mineral quase sempre causa intoxicações, chegando a lesar a mucosa estomacal. Existem pastas dentais veterinárias de diversas marcas à venda nas pet shops.

Comece massageando a gengiva com uma gaze para depois substituí-la por escova e pasta. Para os filhotes, não se esqueça de intercalar a escovação com frases positivas, que auxiliam o condicionamento.

Escove inicialmente os dentes incisivos (frontais), levando posteriormente a escova para as laterais. Faça movimentos delicados. Ao terminar a tarefa, não se esqueça de oferecer uma recompensa e palavras de estímulo. Quando o pet estiver acostumado, as recompensas podem ser progressivamente retiradas.

Alguns brinquedos, ossos e rações especiais com grãos mais duros ajudam a limpar os dentes – e a manter a boca limpa por mais tempo. Estes produtos podem inclusive ser usados como recompensas por bom comportamento, caso os peludos se mostrem receptivos à escovação. Antes de oferecer o prêmio, no entanto, verifique a procedência e certifique-se de que ele é indicado para a idade e porte do pet.

Se você nunca escovou os dentes do seu pet e decidiu começar agora, porque o hálito está cada vez pior, é aconselhável uma consulta prévia ao veterinário. É possível que o seu cachorro esteja sofrendo com gengivas retraídas ou pequenos sangramentos, que tendem a piorar com a escovação.

Os tratamentos para tártaro em cachorros

Caso a placa bacteriana e o tártaro canino tenham se formado, a solução é consultar um veterinário com especialização em odontologia canina. A remoção da placa é semelhante a que fazemos regularmente, com ultrassom e polimento, com a diferença de que, assim como todos os tratamentos dentários em pets, precisa ser feita com o animal sob anestesia geral – nenhum cachorro aceitaria ter os dentes raspados sem exibir reações muitas vezes violentas.

Muitos cachorros, no entanto, não são elegíveis para a anestesia geral. Os cachorros idosos, em maioria, não podem ser sedados e outras condições de saúde contraindicam a sedação – por exemplo, uma insuficiência cardíaca ou respiratória.

Em geral, quando a retirada da placa bacteriana e do tártaro é indicada, o veterinário aproveita para realizar outros procedimentos cirúrgicos, para evitar a repetição da anestesia. O cachorro pode cuidar dos dentes e ser esterilizado na mesma baixa hospitalar, por exemplo.

Se o dano bucal for extenso, pode ser necessário extrair um ou mais dentes. O procedimento é feito durante a retirada da placa. Nestes casos, pode ser necessário medicar os cães com analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos e, em alguns casos, é preciso deixar o peludo internado na clínica veterinária por alguns dias.

Se alguns dentes forem retirados, será preciso fazer algumas adaptações na alimentação do cachorro. É muito provável que o pet tenha de se acostumar com uma vida sem petiscos duros, ossinhos, etc.

Mesmo com o tártaro no cachorro retirado, o problema pode voltar se os hábitos alimentares não forem alterados. O ideal é acostumar os cães à ração e aos petiscos secos, brincar com objetos duros e evitar comida humana, além de escovar os dentes com regularidade.

Não existem remédios caseiros para combater o tártaro em cachorros. Muitos “truques milagrosos” ensinados de boca em boca – e, mais recentemente, através das redes sociais – exigem bochechos e gargarejos, técnicas que os cachorros estão longe de dominar. A água oxigenada de dez volumes, por exemplo, pode reduzir manchas (especialmente as provocadas por flúor), mas não pode ser ingerida.

Uma vez instalada, a placa bacteriana tende a se ampliar até causar danos mais extensos. “Receitas” como vinagre e bicarbonato de sódio servem apenas para agredir o esmalte dos dentes e provocar problemas ainda mais graves.

A casca de laranja, outra receita famosa, acidifica a boca e pretensamente protege os dentes humanos, mas a boca dos cachorros já é naturalmente ácida. Reduzir o pH tornará o ambiente ainda mais ácido, podendo gerar refluxos esofágicos, gastrites, úlceras estomacais, etc.

Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.

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