Estudos indicam que lamentar a perda de um cachorro pode ser tão forte quanto o luto por humanos.
“É apenas um cachorro, não há motivo para tanto sofrimento”. Esta é uma frase sempre repetida por muitas pessoas, às vezes bem intencionadas, quando comentam a morte de um animal de estimação.
Mas, mesmo sendo repetida em muitas ocasiões, ela pode ser extremamente dolorosa para quem está de luto. Lamentar a morte de um cachorro pode ser uma situação tão intensa quanto a vivenciada pela perda de um parente humano.
O luto quase sempre é descrito, na literatura médica, como o conjunto de reações enfrentadas por quem perde um humano muito próximo, mas ele pode ser vivenciado por tutores de cachorros (e também de gatos e outros pets). Muitas vezes, a dor é tão intensa que facilita o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.
O não reconhecimento do luto
Um estudo sobre o luto por cachorros foi desenvolvido pelas psicólogas Dioni Kammer Lapa e Maria Tereza Duarte Nogueira, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), avaliou a situação de cinco tutoras, com idades entre 30 e 60 anos.
As cinco mulheres, que vivem no interior gaúcho, foram escolhidas aleatoriamente, a partir de buscas em clínicas veterinárias. O estudo pretendia analisar o impacto da perda, mas revelou um fato muito mais importante: os danos decorrentes da falta de empatia, por parte de amigos e parentes, no processo de superação do luto.
O estudo demonstrou que o luto vivenciado pela perda de um cachorro é real e não pode ser subestimado. Mesmo não sendo socialmente reconhecido, ele afeta a vida de pessoas que estabeleceram vínculos profundos.
A perda precisa ser acolhida. O processo de luto se instala não apenas em função da morte do animal de estimação, mas da ausência de tudo que ele representou durante um período bastante significativo.
Com a falta de empatia, os tutores enlutados sofrem duplamente: pela ausência do companheiro e por não conseguirem externar os sentimentos que a perda faz aflorar. Superar a perda é um processo difícil e não pode ser negligenciado.
Vivência e superação do luto
A perda de um animal de estimação sempre implica o desenvolvimento de sensações de tristeza e melancolia que devem ser observadas e acolhidas. O reconhecimento deve partir tanto dos amigos, colegas e parentes, quanto dos profissionais que se envolveram nos últimos dias dos cachorros.
O luto pode se instalar a partir da morte de qualquer pet. Os cachorros, no entanto, por participarem com intensidade maior na vida dos tutores, acabam sendo identificados como membros da família, importantes aliados para a conquista e conservação do bem-estar, segurança, independência, etc.
Os veterinários devem ficar atentos quando se deparam com quadros graves, com diversos sinais que sinalizam a morte próxima de um cachorro, seja em função de uma doença, seja de um trauma.
Enquanto o animal é tratado e tem os sintomas atenuados, é importante dar atenção aos tutores, que estão sofrendo com a separação. Médicos e enfermeiros muitas vezes são os primeiros a reconhecer o quadro de luto e a oferecer o suporte necessário para os tutores.
Como superar o luto por um cachorro?
A morte é um fenômeno natural, mas é também uma separação definitiva, dolorosa e muitas vezes brutal. Como diz o poeta Vitor Martins, “a barra da morte é que ela não tem meio termo”. Não, “não é só um cachorro”: é um companheiro leal, divertido e brincalhão que não está mais ao nosso lado.
O luto é uma ocasião difícil, mas precisa ser enfrentado e superado. É importante conversar com amigos e parentes sobre a perda, escolhendo preferencialmente interlocutores que convivam com animais de estimação.
Em alguns casos, o tutor pode procurar ajuda profissional, submetendo-se a algumas sessões com um psicólogo especializado. A psicoterapia comportamental cognitiva oferece instrumentos para superar a perda e pode ser bastante útil.
Quando o cachorro é filho único, pode ser difícil se desfazer dos pertences – brinquedos, tigelas, agasalhos, etc. O tutor enlutado precisa definir o tempo certo para fazer isso. Não se deve forçar a situação, mas, ao mesmo tempo, não é saudável procrastinar a entrega para outros pets.
Quase sempre, é muito difícil pensar em adotar um novo animal de estimação nos dias seguintes à morte do companheiro que deixou tantas lembranças. Mas é importante saber que a presença de um novo cachorro pode atenuar a dor e ajudar a retomar a vontade de seguir em frente.
Os tutores de cachorros experimentam uma série de benefícios para a saúde integral. Um deles é a constatação da relação de dependência: os peludos dependem de nós para tudo e, quando damos conta das necessidades dos pets, estamos nos tornando responsáveis por uma vida.
Isto pode conferir um significado especial para o nosso dia a dia e, neste sentido, a adoção de um peludo permite revivenciar uma série de situações: ensinar a “ir ao banheiro”, conferir as vacinas e vermífugos, treinar os comandos básicos, definir o que pode e não pode, etc.
Não se trata de uma substituição: nenhum ser vivo é capaz de substituir o outro. Adotar um novo pet, no entanto, pode trazer significados importantes para a nova rotina, fazer lembrar algumas situações engraçadas, estressantes ou emocionantes já vividas anteriormente e descobrir novidades neste novo ser que chega à casa.
De qualquer forma, ninguém deve se sentir envergonhado por sofrer a perda de um cachorro, que é sempre um companheiro dedicado e fiel. A dor é uma resposta natural. Mas, se a situação estiver saindo de controle, é importante buscar ajuda profissional.