Cachorros lambem nossos pés por vários motivos. E nem todos estão relacionados aos carinhos.
Os cachorros compartilham lambidas desde filhotes: eles lambem a mãe e os irmãos de ninhada quando ainda estão aconchegados, sem nada para se preocupar. Este gesto se mantém na vida adulta e mesmo os idosos gostam de lamber os nossos pés – e outras partes do corpo.
Os recém-nascidos desenvolvem o hábito de lamber por dois motivos principais: identificar a família (e a segurança) e pedir alimento. Ao lamber o ventre da mãe, eles estimulam a produção de leite e, alguns dias depois, começam a fazer o mesmo no focinho, na esperança de ganhar um bocado do que a cachorra está escondendo na boca.
Os motivos das lambidas
É difícil identificar a causa específica das lambidas. Nas alcateias, os lobos lambem os pés do alfa (o animal dominante) para demonstrar submissão e respeito à hierarquia. Os cachorros herdaram o comportamento dos seus ancestrais.
Desta forma, eles lambem os nossos pés para demonstrar que acatam os nossos comandos e as regras da casa. Trata-se de uma forma inteligente de convivência. É como se eles dissessem: “Trate-me bem, eu estou obedecendo a você”.
As lambidas também fazem parte da comunicação. Os cachorros identificam amigos e estranhos principalmente através do olfato, mas também do paladar. Em outras palavras, eles conhecem o “sabor” dos membros da família.
Este não é necessariamente um gesto anti-higiênico, a menos que os pés estejam muito sujos. Entre os humanos, os beijos e abraços são hábitos comuns – e nós trocamos secreções em cada um desses momentos.
É importante educar os cachorros para que eles não exagerem na dose. Eles podem lamber os nossos pés de vez em quando, mas não devem transferir o hábito para as solas dos sapatos, por exemplo: elas carregam diversos micro-organismos, adquiridos nas ruas, que podem causar transtornos graves.
Alguns cachorros, no entanto, parecem ser fixados em pés. Na imensa maioria desses casos, contudo, não há o que temer. Provavelmente, eles lambem os nossos membros posteriores porque eles estão mais acessíveis. E muitos cães aprendem (acertadamente) que não devem lamber o rosto dos tutores.
Alguns motivos
Nós sempre gostamos de racionalizar e queremos entender tudo. Os cachorros, mais simples do que nós, nem sempre têm um motivo específico para esta ou aquela conduta. Para eles, quase sempre é apenas um momento de descontração com o tutor.
Entre as razões para as lambidas nos pés, podemos destacar:
• demonstrar amor e carinho – os peludos são espontâneos, leais e extremamente agradecidos aos tutores, por tudo o que eles propiciam, mesmo quando os humanos da família são ausentes ou até negligentes. Especialmente depois de longas ausências, lamber os pés é um jeito de dizer: “Eu gosto de você”;
• sentir o gosto da nossa pele – apesar de parecer nojento, identificar o nosso sabor é muito importante para os cachorros – e alguns gatos também desenvolvem este hábito. Como a visão exerce papel secundário na comunicação, eles usam o paladar para identificar os tutores, que significam segurança, carinho, alimento, agasalho, etc.;
• procurar informações – quando voltamos para casa, trazemos uma série de informações sobre onde estivemos e o que fizemos. Os cachorros “investigam” as nossas andanças procurando cheiros e sabores diferentes, que eventualmente possam estar impregnados na nossa pele – mesmo quando nós não conseguimos identificá-los;
• conhecer pessoas diferentes – estranhos, para os cachorros, são sempre identificados como ameaças. Os peludos estão sempre em alerta e, quando levamos um amigo ou parente desconhecido para casa, eles precisam se certificar de que está tudo bem. Os cães são naturalmente guardiães e protetores e precisam ter certeza de que o(a) novo(a) namorado(a) não trará problemas para a harmonia familiar;
• chamar atenção – muitas vezes, quando estamos cansados ou preocupados, não damos a atenção devida aos cachorros. Mas eles não fazem ideia dos problemas que povoam a nossa mente e agem para retomar a convivência. Desta forma, quando eles são ignorados (ou não muito festejados), lamber os pés do tutor pode ser uma boa estratégia para atrair carinhos, palavras meigas, cafunés, petiscos, etc.
As lambidas são um risco?
Veterinários e biólogos são unânimes em afirmar que nós não devemos permitir que os cachorros lambam o nosso rosto – especialmente olhos, nariz e boca. Da mesma forma, nós devemos nos abster de beijá-los também.
Veja também: Devo permitir o meu cachorro me beijar na boca?
Micro-organismos presentes no nosso organismo podem ser transmitidos para os cachorros e vice-versa, ocasionando irritações e infecções sérias. Por isso, eles devem ser ensinados desde filhotes a não exagerar nos lambeijos no rosto.
No caso dos pés, não há grandes problemas, desde que eles estejam limpos e não haja feridas na pele – mesmo o corte mais mínimo pode ser suficiente para servir como porta de entrada de patógenos, caso haja vírus e bactérias nocivas na língua dos peludos.
Outro ponto a ser considerado é a presença de micoses nas unhas e na pele, especialmente a que recobre os dedos. A maioria dos fungos e bactérias causadores das micoses é inofensiva para os cachorros, mas, em caso desses problemas, o ideal é manter os peludos a uma distância segura.
Transtornos psicológicos
Os cachorros gostam muito dos seus tutores e fazem questão de demonstrar o amor que sentem a qualquer hora, em qualquer lugar. Especialmente quando chegamos, depois de uma longa ausência (que pode ser uma ida ao mercado da esquina), eles se desmancham em festas e agrados.
No entanto, qualquer comportamento exagerado precisa ser investigado. Quando os cachorros ficam entediados, é comum que eles queiram compensar a falta de atividades com festas efusivas. Mas o ideal é que os tutores providenciem algumas tarefas para eles, especialmente no tempo em que ficam sozinhos.
A atividade reduz drasticamente a possibilidade de manifestações de ansiedade e depressão, doenças comuns ente os cães muito ociosos. Os tutores podem deixar alguns brinquedos, uma janela aberta, programar a TV para ser ligada por alguns minutos, etc.
No dia a dia, os cachorros precisam da convivência com os humanos. É preciso dar atenção a eles, brincar, passear, fazer carinho. estas são as funções primordiais dos tutores.
Caso seja identificado um comportamento obsessivo (como as lambidas excessivas), é importante consultar um veterinário, para que as causas do problema sejam identificadas e tratadas o quanto antes.
Vale lembrar que os transtornos de ansiedade também podem resultar em comportamentos voltados a eles mesmos: os cães podem, por exemplo, lamber as próprias patas de maneira exagerada. A conduta pode prejudicar a pele, os pelos, causar feridas e facilitar a instalação de infecções e inflamações.
É possível mudar?
Não há nada de errado no gesto (pelo menos, na imensa maioria das ocasiões), mas, caso o hábito de lamber os nossos pés seja considerado inadequado pelos tutores, os cachorros podem ser desestimulados a isso.
Basta dizer “não” com voz firme (sem necessidade de gritos) e retirar os pés do alcance. Em poucos dias, ele compreenderá que a atitude não está agradando. Os cachorros são seres extremamente inteligentes e, mais do que isso, eles querem apenas nos agradar.