Por mais estranho que pareça, muitos cães comem cocô. Descubra por que e o que fazer para corrigir.
Pode parecer espantoso para a maioria de nós, mas a coprofagia – o hábito de comer cocô – é bastante comum entre os cães. É nojento, mas é importante lembrar que as fezes são ricas em nutrientes rejeitados pelo organismo que as produziu. Para os cães e outros pets, comer cocô pode ser apenas mais uma forma de se alimentar.
Comer cocô, no entanto, não é observado entre lobos, coiotes, raposas e cachorros-do-mato. A coprofagia pode estar relacionada a alguns problemas comportamentais ou de saúde e é preciso identificá-los e corrigi-los.
Um hábito frequente
A American Veterinary Society of Animal Behavior, entidade americana fundada em 1976 para estudar o comportamento de animais domésticos e selvagens, publicou um estudo, em 2020, sobre a coprofagia canina. A pesquisa concluiu que:
- 16% dos cães analisados mantinham o hábito de comer cocô com bastante frequência;
- 24% deles já tinham sido encontrados em pelo menos um episódio de coprofagia.
A pesquisa chegou a uma conclusão interessante: de acordo com Benjamin Hart, o coordenador, os cães comem cocô porque são animais gregários, isto é, eles se organizam em grupos complexos e sofisticados.
Para impedir que outros membros da matilha adoeçam ao entrar em contato com eventuais vermes e/ou micro-organismos nocivos, eles encontraram um jeito de recolher os dejetos: engolindo-os.
Algumas curiosidades
O hábito de comer cocô pode ser nojento para a maioria dos tutores, mas é muito estimulante para os pesquisadores. Os estudiosos em comportamento animal já descobriram algumas curiosidades sobre os cães que comem cocô:
- o hábito é mais frequente entre os filhotes, sendo reduzido ou eliminado com o avanço da idade. Acredita-se que a maioria dos cãezinhos ingere as fezes por pura curiosidade;
- a coprofagia é mais frequente entre as fêmeas;
- os machos intactos (não castrados) são os menos interessados em comer cocô (próprio ou alheio), apesar de serem os primeiros a investigar fezes de estranhos;
- em casas com dois cachorros ou mais, o hábito de comer cocô atinge um terço dos animais. Entre os “filhos únicos), a coprofagia ocorre em apenas 20% dos indivíduos;
- na maioria dos casos (92%), os cachorros preferem fezes frescas, expelidas há no máximo dois dias;
- os coprófagos preferem fezes secas e endurecidas, desprezando cocô mole;
- não foram observadas diferenças na capacidade de adestramento dos cães que comem ou não cocô;
- os cães muito gulosos, que tendem a roubar comida sempre que têm oportunidade, são mais propensos à coprofagia.
Os motivos do cachorro comer cocô
Na vida dos cães, o hábito de comer o próprio cocô pode ser causado por uma série de motivos, como tédio (falta do que fazer), estresse, alguns problemas nutricionais e infestação por parasitas intestinais.
Alguns cães comem o cocô por puro medo. Depois de levarem muitas broncas dos tutores, por fazer as necessidades no lugar errado, eles passam a associar as reprimendas à própria evacuação, e não ao local em que as fezes foram depositadas.
Para impedir o flagrante, eles passam a ingerir as fezes. É uma tentativa de eliminar as “provas do crime”, já que os cachorros estão entendendo que o erro está em fazer cocô, e não em depositá-lo no meio da sala de estar, por exemplo.
Entre os problemas emocionais, a solidão parece ser o principal motivo para o hábito. Os cães que passam muito tempo isolados e os que vivem confinados quase sempre desenvolvem o hábito. A ansiedade e o adestramento inadequado também respondem por muitos casos.
A falta de nutrientes
Com exceção dos transtornos emocionais, comer cocô é um hábito mais frequente entre os filhotes. Em muitos casos, ele é motivado apenas pela curiosidade, mas os cãezinhos podem estar instintivamente tentando repor alguns nutrientes essenciais.
Os filhotes precisam de uma dieta rica em cálcio, fósforo e potássio, minerais fundamentais para o desenvolvimento físico. No caso de carências, eles podem tentar supri-las com as fezes, já que a capacidade de absorção dos micronutrientes pelo organismo é limitada.
Para cada etapa da vida, os tutores precisam providenciar alimentação balanceada para os cachorros – o fósforo, por exemplo, que é essencial para os filhotes, pode ser prejudicial para os idosos e também para os pouco ativos.
A melhor maneira de garantir uma nutrição eficiente é oferecer rações de acordo com a raça, idade, sexo, estado geral de saúde e algumas condições específicas, como gestação, lactação, convalescença de doenças e traumas, etc.
Além de escolher produtos de qualidade, os tutores também devem estar atentos ao armazenamento da ração, que deve ficar em ambiente sem umidade nem exposição direta à luz solar.
Os nutrientes da ração (especialmente a seca, a mais adotada pelos tutores brasileiros) se degradam com muita facilidade. Este é um dos motivos também para evitar produtos reembalados em pet shops (pacotes grandes de ração são particionados em embalagens menores).
As rações vendidas a granel são bem mais baratas, mas, a menos que se tenha total confiança no comerciante, o ideal é adquirir produtos embalados pelo fabricante. Caso a formulação nutricional seja (ou esteja) deficiente, comer cocô pode ser o menor dos problemas, já que os cães subnutridos podem desenvolver anemias, más-formações ósseas, etc.
O intestino dos cachorros é colonizado por milhões de bactérias, que ajudam a desdobrar os alimentos digeridos, para que vitaminas, minerais e macronutrientes possam ser absorvidos. A ração canina deve ser rica em:
- probióticos – bactérias benéficas para o organismo;
- prebióticos – fibras não digeríveis que se acumulam no intestino e regulam o trânsito intestinal.
Comer cocô pode indicar que o cachorro não está recebendo prebióticos e probióticos em quantidade suficiente, além das carências nutricionais propriamente ditas. O problema pode estar no alimento oferecido (neste caso, basta trocar a ração), mas também pode ser sintoma de disfunções gastrointestinais, que só podem ser diagnosticadas pelo veterinário.
Os vermes e a coprofagia
Os cachorros precisam receber vermífugos bem cedo. A primeira dose deve ser ministrada entre 15 e 30 dias de vida, reforçada por três ou quatro outras doses, de acordo com o porte do filhote.
Depois destas primeiras doses, a vermifugação precisa continuar sendo feita em intervalos de três a seis meses, de acordo com o estilo de vida do cão: quanto mais tempo ele passar em ambientes externos e em contato com outros animais, menor é o intervalo.
Os sintomas das infestações variam de acordo com o tipo de verme. Alguns se alojam nos pulmões, causando transtornos respiratórios. A maioria, no entanto, permanece no intestino, absorvendo a maior parte dos nutrientes. Nestes casos, surgem diarreias, enjoos, flatulência e até mesmo a presença de vermes nas fezes e na região anal dos peludos.
As infestações também mostram outros sintomas. Os mais frequentes são os seguintes:
- febre;
- tosse;
- perda de apetite;
- alteração nas fezes, com a presença de sangue ou muco;
- apatia;
- perda de pelos, que pode ser localizada ou generalizada;
- coprofagia.
Disputas entre cachorros
Nas casas em que vivem dois ou mais cachorros, sempre ocorrem disputas. Em geral, um dos peludos assume a posição de líder da matilha: ele se alimenta antes ou é o primeiro a atender o chamado dos tutores, por exemplo.
A harmonia doméstica se restabelece em poucas semanas depois da chegada do novato. Quase nunca os tutores precisam intervir: os cachorros são capazes de se organizar e estabelecer as formas de relacionamento. Mas, podem acontecer alguns problemas:
- o animal mais velho come toda a comida disponível – e o mais novo vai apelar para o cocô, para garantir a nutrição;
- o novato imprime uma dinâmica mais intensa de jogos e brincadeiras, fazendo o cão mais velho se exercitar mais do que o natural. Para suprir as novas necessidades nutricionais, o animal antigo pode passar a comer cocô, se a dieta não for reavaliada e corrigida pelos tutores.
Algumas doenças que podem levar o cachorro a comer cocô
Alguns transtornos de saúde podem levar o cachorro a comer cocô. As doenças metabólicas alteram as funções orgânicas e o peludo pode passar a ter maior necessidade de determinados nutrientes. Se a porção diária não for suficiente, as fezes podem funcionar como o “plano B” da alimentação.
É o caso do diabetes e de algumas doenças da tireoide. Elas aumentam o apetite dos cachorros e quase sempre são assintomáticas nas etapas iniciais. Por isso, sempre que o cachorro demonstrar alterações súbitas na voracidade, é preciso consultar o médico.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.