A ideia de caminhar ao lado de um mamute-lanoso ou ouvir o chamado de um dodô parece pertencer puramente à ficção científica. No entanto, os avanços exponenciais na engenharia genética e na biologia sintética estão transformando essa fantasia em uma possibilidade científica real. O campo da “desextinção” não se trata mais de se podemos trazer de volta espécies extintas, mas sim de quais e se deveríamos.
A ressurreição de uma espécie depende de três fatores cruciais: a disponibilidade de amostras de DNA antigo de alta qualidade, a existência de um parente vivo próximo para atuar como mãe de aluguel e um ecossistema viável para reintroduzi-los.
Aqui estão 10 candidatos fascinantes que estão na vanguarda da pesquisa de desextinção.
1. Mamute-lanoso (Mammuthus primigenius)
- Extinção: Cerca de 4.000 anos atrás.
- Por que é um candidato principal? O mamute-lanoso é o garoto-propaganda da desextinção. Graças a espécimes incrivelmente bem preservados no permafrost da Sibéria, os cientistas recuperaram genomas quase completos. Empresas como a Colossal Biosciences estão ativamente editando o DNA de elefantes-asiáticos (seus parentes vivos mais próximos) com genes de mamute para características como pelos longos, camadas de gordura e sangue resistente ao frio, com o objetivo de criar um híbrido funcional. A reintrodução deles poderia ajudar a restaurar o ecossistema da “estepe de mamutes” e combater as mudanças climáticas, impedindo o degelo do permafrost.

2. Tigre-da-tasmânia ou Tilacino (Thylacinus cynocephalus)
- Extinção: 1936.
- Por que é um candidato principal? Sendo uma extinção muito recente, existem muitos espécimes de tilacino preservados em museus, incluindo filhotes em formol, que fornecem DNA de excelente qualidade. Como um marsupial, seu desenvolvimento inicial em uma bolsa pode, teoricamente, ser replicado em um ambiente de laboratório, contornando algumas das complexidades da gestação placentária. O diabo-da-tasmânia poderia servir como um parente para projetos genéticos.

3. Dodô (Raphus cucullatus)
- Extinção: Cerca de 1681.
- Por que é um candidato principal? Ícone da extinção causada pelo homem, o dodô tem um forte apelo emocional. Recentemente, cientistas sequenciaram o genoma completo do dodô a partir de amostras de museu. Seu parente vivo mais próximo é o pombo-de-nicobar. O plano envolveria a edição de células germinativas de um pombo para incluir o DNA do dodô, que então poderia, teoricamente, botar um ovo de dodô.

4. Pombo-passageiro (Ectopistes migratorius)
- Extinção: 1914.
- Por que é um candidato principal? Esta ave já foi a mais numerosa da América do Norte, com bandos que escureciam o céu. A sua extinção rápida e chocante serve como um conto de advertência. O DNA de espécimes de museu está disponível, e o pombo-de-cauda-em-faixa é um parente próximo que poderia servir como substituto. O projeto “Revive & Restore” está trabalhando ativamente para trazê-lo de volta.

5. Auroque (Bos primigenius)
- Extinção: 1627.
- Por que é um candidato principal? O auroque é o ancestral selvagem de todo o gado doméstico moderno. Isso significa que seus genes estão espalhados por centenas de raças de vacas. Projetos como a “Operação Taurus” não estão usando engenharia genética, mas sim “criação seletiva” (breeding back), cruzando raças de gado rústicas que retêm características do auroque para recriar um animal que se assemelhe e se comporte como seu antepassado.

6. Íbex-dos-pirenéus ou Bucardo (Capra pyrenaica pyrenaica)
- Extinção: 2000.
- Por que é um candidato principal? O bucardo detém uma distinção única: é a única espécie que já foi “desextinta”, ainda que por breves momentos. Em 2003, cientistas clonaram com sucesso um bucardo usando células de pele congeladas do último indivíduo e implantando o embrião em uma cabra doméstica. O clone nasceu, mas morreu minutos depois devido a problemas pulmonares. A tentativa provou que o conceito básico é possível.

7. Rinoceronte-lanoso (Coelodonta antiquitatis)
- Extinção: Cerca de 10.000 anos atrás.
- Por que é um candidato principal? Assim como o mamute, o rinoceronte-lanoso deixou para trás carcaças bem preservadas no permafrost. Seu DNA foi sequenciado, e seu parente vivo mais próximo, o rinoceronte-de-sumatra (que também está criticamente ameaçado), poderia potencialmente servir como um substituto genético ou mãe de aluguel.

8. Moa (Dinornithiformes)
- Extinção: Cerca de 1400.
- Por que é um candidato principal? Estas aves gigantes e não voadoras da Nova Zelândia deixaram para trás uma abundância de ossos e até ovos com material genético recuperável. O desafio é significativo, pois seus parentes mais próximos, os tinamiformes, são muito menores, tornando a maternidade de aluguel quase impossível com a tecnologia atual. No entanto, o DNA existe, aguardando um avanço tecnológico.

9. Arara-de-spix (Cyanopsitta spixii)
- Extinção na Natureza: 2019 (reclassificada).
- Por que é um candidato especial? Este caso é diferente. A arara-de-spix foi declarada extinta na natureza, mas uma pequena população sobrevive em cativeiro. Programas de criação e conservação estão trabalhando intensamente para aumentar seus números e reintroduzi-los na Caatinga brasileira. Embora não seja uma “desextinção” a partir do zero, é um exemplo real e inspirador de como a intervenção humana pode reverter uma extinção funcional, mostrando um caminho prático para outras espécies.

10. Pássaro-elefante (Aepyornithidae)
- Extinção: Cerca de 1.000 anos atrás.
- Por que é um candidato principal? Nativo de Madagascar, este pássaro gigante (até 3 metros de altura) deixou para trás ovos colossais, dos quais os cientistas conseguiram extrair DNA. Assim como a moa, o principal obstáculo é encontrar um substituto aviário adequado. O avestruz é um parente distante, mas a diferença de tamanho apresenta um desafio monumental para a incubação.

A Grande Questão: Deveríamos?
A possibilidade da desextinção levanta profundas questões éticas e ecológicas.
- Prós: Poderíamos restaurar a biodiversidade perdida, consertar ecossistemas danificados (como o papel do mamute no Ártico) e corrigir erros passados causados pela humanidade. O desenvolvimento dessas tecnologias também pode beneficiar a conservação de espécies atualmente ameaçadas.
- Contras: Os críticos argumentam que os enormes recursos financeiros poderiam ser mais bem gastos na proteção de espécies que ainda existem. Há também o risco de consequências ecológicas imprevistas e preocupações com o bem-estar animal, tanto para as mães de aluguel quanto para os primeiros animais “ressuscitados”, que não teriam pais para aprender comportamentos naturais.
A jornada para a desextinção está apenas começando. Ela nos força a confrontar nosso poder tecnológico e nossa responsabilidade como guardiões do planeta. Trazer uma espécie de volta do esquecimento não é apenas um feito científico; é uma decisão que definirá nosso relacionamento com a natureza para as gerações futuras.