A cachorra foi fotografada em representação do Natal e as imagens viralizaram na internet.
Era uma cena corriqueira de fim de ano. Nádia Rosângela estava passeando com a família na Praça Monsenhor Lopes, em Inhuma (PI), aproveitando para admirar o presépio instalado para comemorar o Natal, quando observou uma cachorra dormindo na manjedoura do Menino Jesus.
Empolgada com a cena inédita, Nádia fotografou a cachorra, que dormia tranquilamente no cenário religioso. Em seguida, postou as imagens nas redes sociais. Em pouco tempo, ela recebeu milhares de curtidas e compartilhamentos.
O passeio
Nádia aproveitou a noite de 7 de dezembro para visitar, com o marido e o filho, o presépio instalado na praça da pequena cidade do centro-norte piauiense, de menos de 15 mil habitantes, como parte da decoração de Natal.
Ao se aproximarem do presépio, o casal e a criança se depararam com a cachorrinha deitada na manjedoura. Nádia ficou encantada: “para mim, que sou cristã, foi tudo muito significativo, aquela cena me deixou emocionada”.
A moradora tirou fotos da nova versão do nascimento de Jesus e fez uma postagem nas suas redes sociais. A repercussão foi imensa e, pouco depois, uma amiga entrou em contato com ela para dizer que havia alguém interessado em acolher a cachorra.
A adoção e final feliz
Logo na manhã seguinte, Nádia voltou à praça para procurar a cachorra, mas não conseguiu encontrá-la nas imediações. À tarde, a cadelinha foi avistada mais uma vez, mas, enquanto Nádia deixava o filho em casa, ela desapareceu.
A pessoa interessada em adotar desistiu, mas apareceram novas opções, mesmo com a cadela tendo desaparecido. Na quarta-feira (9), uma amiga de Nádia identificou a cachorra perambulando novamente em torno do presépio. Logo pela manhã, o pet foi recebido no novo lar.
Para surpresa de todos, outra cachorra, com características semelhantes, foi avistada no mesmo local, no mesmo cantinho da praça. De acordo com os moradores de Inhuma, trata-se da irmã da cadelinha fotografada por Nádia.
Francisco José, um amigo da fotógrafa, que já estava acompanhando a história, encontrou a irmã poucas horas depois. Apegado e emocionalmente envolvido com o “caso das cachorrinhas do Natal”, o coração falou mais alto e o pet foi levado para casa.
Um final feliz: duas cachorras sem raça definida, abandonadas nas ruas de uma cidade do interior do Piauí, encontraram novas famílias para amar (e para chamar de suas) em um intervalo de poucas horas. O espírito natalino parece ter falado alto em Inhuma.
Abandono dos animais
A história das duas cadelas SRD de Inhuma, contudo, está longe de ser um fato corriqueiro no país. Não existem estudos brasileiros oficiais, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que haja uma população de 30 milhões de animais abandonados: 20 milhões de cães e dez milhões de gatos.
Vivendo em abrigos e ONGs provisoriamente, à espera de adoção, há quatro milhões de animais sem família no Brasil. Em nossa população, para cada cinco humanos, há um cachorro – e 10% deles vivem nas ruas.
O país possui alguns mecanismos legais para defender os animais. Em 2020, a pena para o crime de maus tratos contra animais domésticos, silvestres e exóticos passou para detenção de dois a cinco anos.
Anteriormente, os condenados pela prática podiam ser condenados a, no máximo, um ano de reclusão. Mas, como os maus tratos eram considerados como “de menor potencial lesivo”, a maioria dos processos terminava em pagamento de cestas básicas. Com a nova lei, o crime pode levar os responsáveis à cadeia.
Na prática, porém, os animais que vivem na rua não contam com nenhum tipo de proteção. Algumas organizações não governamentais resgatam, acolhem e preparam os pets para a adoção, mas há poucas iniciativas do poder público.
É importante que os órgãos públicos de saúde promovam campanhas de esterilização gratuitas regularmente (pelo menos uma vez por ano), para atenuar esta triste situação, que também é um problema de saúde pública: animais abandonados podem atacar e transmitir doenças (as chamadas zoonoses).
Os tutores também precisam ter mais responsabilidade em relação aos seus pets. Quem não pretende dar início a uma criação deve esterilizar os seus cães e gatos ainda quando filhotes. A castração impede gestações indesejadas e reduz consideravelmente o número de brigas e invasões.
Principalmente, é importante deixar de ver cães e gatos como “coisas”: eles são seres vivos, com desejos, necessidades e direitos. Não cabe a ninguém abandonar um animal de estimação, sejam quais forem os motivos para esta prática – que é um crime, no sentido legal e principalmente no sentido ético.