Imagens dramáticas postadas na internet mostram um cachorro carregando um feto. Veja o que aconteceu.
Na última semana, duas fotos chocantes postadas na internet viralizaram e causaram furor entre os internautas. Em menos de 48 horas, a história sobre um cachorro carregando um feto já havia recebido 850 mil visualizações e mais de 300 mil compartilhamentos. Mas, será verdade?
Nas fotos postadas, é possível observar o que parece ser um bebê recém-nascido ou um feto em avançado estágio de desenvolvimento. Mas, apesar de terem sido postadas em português, imagens semelhantes já circulavam na rede social desde o dia 26 de outubro em outros idiomas, inclusive o híndi, língua falada na Índia, e o africâner (um dos idiomas oficiais da África do Sul).
O “cachorro salvando feto” já foi identificado como um “cidadão” de Campinas, Bauru (SP) e de Japaratuba (SE). No Google, o animal aparece em língua árabe (Arábia Saudita, Egito e Omã). Ele também é citado como se fosse da Argentina e Irã.
O recado nas postagens
Os posts brasileiros são encaminhados com uma mensagem que parece ter ranço religioso:
“A mãe jogou o bebê logo depois do nascimento e o cachorro imediatamente o pegou, levando-o até uma casa próxima. Levaram a criança até o hospital e ela está passando bem. Quando o ser humano se afasta por completo de Deus e faz isto, o Senhor usa quem ele quer e quando quer – até os animais, para proteger os inocentes. Glória a Deus eterno.”
O código penal brasileiro é bastante retrógrado em relação ao aborto. A legislação, de 1940, permite a interrupção da gravidez apenas em caso de estupro, ou quando a gestação implicar real risco de vida para a mãe.
Mais recentemente, decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal definiu que o aborto é legal – e pode ser realizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) – quando o feto sofre de anencefalia – e, portanto, não é viável depois do parto. Outros projetos que versam sobre o aborto estão engavetados na Câmara ou no Senado da República.
O novo projeto
No entanto, um projeto de lei tramita na Câmara dos Deputados sobre o assunto. Trata-se de uma proposta que pretende criminalizar a interrupção de uma gravidez decorrente de violência sexual.
O projeto de lei (PL) nº 5.069/2013, de autoria do atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atualmente em avaliação na Comissão de Cidadania, Constituição e Justiça, pretende impedir o aborto nestas situações, com exceção da ministração de medicamentos contraceptivos (com a pílula do dia seguinte).
Na prática, o projeto impede que mulheres que sofreram violência sexual possam decidir entre o aborto e a sequência de uma gravidez indesejada, provocada por um agressor. Em outras palavras, se não bastasse o trauma da violência sexual, a mulher agredida teria que esperar nove meses até entregar a criança para adoção.
Fatos reais
Em abril de 2014, um cachorro salvou um recém-nascido, jogado em um saco de lixo, na Tailândia, fato largamente noticiado pela imprensa (não é o mesmo cachorro da foto polêmica). Os cães sempre mantém o instinto de salvamento: há milhares de anos, eles acompanham a humanidade.
A imagem que correr a rede mundial não parece ter sido forjada, ao menos em uma primeira análise. É preciso descartar algumas hipóteses, no entanto. O feto encontrado em Bauru no dia 23/10/15 já estava morto havia cerca de uma semana quando foi encontrado. O de Japaratuba, encontrado em 25/07/15, também foi encontrado sem vida – e o cachorro chegou a arrancar um dos braços do resultado do aborto clandestino.
Isto significa apenas que os cães – os melhores amigos do homem – continuam nos protegendo. Seja real ou não, o fato – “o cachorro carregando um feto” – apenas demonstra que nossos amigos caninos são leais.
Ao que tudo indica, as atuais imagens veiculadas nas redes sociais foram geradas provavelmente em 2012, em Davanagere, na Índia (como relata o site e-Farsas) – e a criança havia morrido. Veja o vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=gFMHwQe4QZw&feature=youtu.be
No entanto, a história parece ter sido transportada no tempo e no espaço, para demonstrar a “magnanimidade” dos cães, muito mais solidários do que os homens. É fato que os cachorros tem um instinto natural de proteção, mas é mais provável nos casos citados os animais buscavam por comida.