Era apenas mais um passeio noturno do estudante de Arquitetura Willians Mollo Flores com seu fiel escudeiro, um cachorro alegre e extrovertido. O pet gosta de chamar atenção e adora a companhia do tutor, mas, naquela caminhada, ele farejou um perigo iminente, começou a uivar e não houve quem fizesse o peludo seguir em frente até que o mistério foi decifrado e a ajuda, finalmente providenciada.
Flores nasceu em Santiago, a capital do Chile, mas mudou-se para Antofagasta, para estudar na Universidade Católica do Norte. Foi nessa cidade que ele encontrou o cachorrinho abandonado que, desde então, partilha a casa e a vida com o jovem estudante.
O encontro
Flores e o cachorro, cujo nome não foi divulgado, caminhavam pelas ruas de Antofagasta, uma atividade que faz parte do cotidiano da dupla: quando o estudante chega das aulas, o cachorro sabe que está na hora de se aventurar e encontrar novos caminhos e descobertas.
Ao passarem por um canteiro de obras, o cachorro rapidamente farejou novidades. A reação do animal foi estranha para o tutor: ele é muito “falante”, mas, naquele momento, caminhou rapidamente até outro peludo junto a um fosso na construção e estacou ali, ganindo e uivando.
O mais curioso, para Flores, é que havia dezenas de buracos no chão, talvez abertos para a instalação das fundações da obra. Mesmo assim, o pet do jovem parecia interessado em investigar apenas um deles, assim como o novo amigo, que não se afastava do local.
O cachorro de Flores gosta da companhia do tutor e faz amizades facilmente com outros animais que encontra na rua, mas naquele momento ele estava compenetrado em descobrir alguma coisa oculta. O estudante chamou-o diversas vezes, mas o cãozinho parecia decidido a permanecer no local, solidário ao amigo recém-encontrado.
O cachorro desconhecido continuava farejando e uivando, como se quisesse atrair o tutor para que resolvesse uma situação de emergência. E o parceiro de Flores permanecia atento. Nenhum dos dois parecia disposto a se afastar do local.
Flores estava preocupado. Afinal, uma construção não é o lugar mais seguro para dois cachorros brincarem. Ao se aproximar, o jovem descobriu o motivo. Os animais passaram a alternar olhares entre o rapaz e algo dentro do buraco aberto no chão.
Ao se aproximar, o estudante descobriu o motivo. No fundo do buraco, havia outro cachorrinho, que provavelmente se acidentou e caiu. As paredes do fosso não permitiam que ele escalasse até a superfície e a profundidade não permitia que Flores saltasse para socorrer o animal em apuros.
O socorro
Flores não conseguia atentar sobre o que deveria ser feito, mas sabia que não poderia deixar o cãozinho acidentado no fundo do buraco. O jovem foi correndo para casa e voltou com o que pôde encontrar: comida, água e um cobertor. Ele não sabia quanto tempo havia se passado desde a queda.
Enquanto isso, à beira do buraco, os dois cachorros observavam a vítima da queda e o socorrista improvisado. Os uivos cessaram, mas a fisionomia dos peludos mostrava preocupação e solidariedade. Flores levou também uma corda. Ele saltou no buraco, tomou o acidentado no colo e conseguiu subir de volta para a superfície.
Vendo-se livre, o cãozinho correu para o lado do outro animal desconhecido. Eles provavelmente são irmãos: a pelagem é branca e encaracolada, o porte é semelhante e ambos são muito jovens. Talvez tenham nascido na mesma ninhada e foram abandonados na construção.
Os dois cachorros comeram e beberam. Eles pareciam agradecidos a Flores e ao novo amigo. Era como se dissessem: “a união faz a força”. Mas, a força estava bem distante deles. Eles estavam fracos e não conseguiriam acompanhar o jovem caminhando, e não poderiam ser deixados para trás.
Durante as quatro horas seguintes, Flores usou as redes sociais para divulgar a história dos cachorros perdidos no canteiro de obras. Ele acionou a sua rede de contatos e também postou imagens dos peludos em páginas de abrigos e serviços de resgate de animais.
Uma luz no fim do túnel
Valeska Torres Tapia, uma ativista dos direitos dos animais que também mora em Antofagasta, visualizou as postagens de Flores nas redes sociais. Em uma rápida troca de mensagens, ela identificou o local do acidente e do abandono e prontificou-se a ajudar.
Em poucos minutos, Valeska encontrou Flores e os três cachorros. Com alguma experiência em resgate de cães abandonados, ela foi até o local de carro, para permitir o deslocamento dos cãezinhos acidentados (Flores estava a pé e não conseguiria carregar os dois animais fragilizados e o seu parceiro, que, naquele momento, era um grande herói).
Valeska tomou a decisão de levar os dois irmãos para casa. Eles estavam com medo e com frio, maltratados e fracos, mas sentiram algum alívio na companhia de Flores. Na casa da nova benfeitora, os peludos receberam banho, escovação dos pelos e um cantinho quente e confortável para se acomodarem.
Os dois pets são adoráveis. Eles receberam os nomes de Angel e Salvador. Eles passam a maior parte do tempo e ainda não superaram o trauma do abandono e do acidente: sentem muito medo de estranhos e qualquer barulho os coloca imediatamente em guarda.
Os cãezinhos foram oficialmente adotados por Waleska e recebem visitas constantes de Flores e seu amigo de quatro patas. Eles já foram higienizados e tosados e revelaram uma beleza insuspeitável oculta sobre a sujeira. Estão recebendo cuidados médicos e encontraram uma nova família.
A jovem ativista já havia feito alguns resgates e responsabilizou-se por encontrar lares adotivos definitivos para as vítimas encontradas nas ruas. O motivo principal para ela decidir adotar os irmãos é porque percebeu que eles são inseparáveis e seria difícil encontrar uma família disposta à adoção conjunta.
Aos poucos, Angel e Salvador estão se adaptando à vida nova. Os dois cãezinhos estão sempre juntos e ainda são muito medrosos e desconfiados. Felizmente, os cães não desenvolvem traumas profundos e, com os cuidados devidos, conseguem se transformar e oferecer amizade e lealdade para os amigos. A nova família está pronta para contar uma longa história de camaradagem, com muita alegria.