Os cães também se cumprimentam e usam linguagem corporal para expressar diversas coisas.
Os cachorros são seres gregários – eles vivem em grupo – e, por isso, nada mais natural que eles se cumprimentem quando se encontram. As formas destas interações sociais variam conforme o contexto do encontro.
O significado dos cumprimentos varia de acordo com a ocasião. Entre os humanos, por exemplo, é comum o hábito de dar a mão ao encontrar um conhecido. O gesto já figura em hieroglifos do Antigo Egito (onde tinha o significado de doação), mas talvez seja ainda mais antigo.
Os humanos tinham o costume de andar armados quando se aventuravam em campo, para se proteger dos eventuais perigos – uma fera ou um rival. O aperto de mãos teria surgido como uma demonstração de intenções: ao estender a mão direita, mostrava-se não estar armado. Os cumprimentos caninos seguem regras semelhantes.
As formas de cumprimentos dos cachorros
Os cães cumprimentam os familiares humanos (e também outros pets da família), animais que reconhecem nas caminhadas diárias e também outros, que lhes são desconhecidos. Mas as formas diferem e a linguagem corporal denuncia as intenções.
Quando o tutor chega em casa depois de um longo dia cheio de atividades, os cães sempre se apressam em cumprimentar o amigo. Eles rodeiam, giram o corpo, abanam o rabo, erguem-se sobre as patas traseiras, lambem mãos, aparentemente em uma sequência aleatória, mas todos os gestos estão carregados de significados.
Os cachorros utilizam todos os sentidos para identificar o ambiente e interagir com os estímulos que chegam do entorno. A audição e o olfato respondem pela maior parte das informações processadas durante as comunicações.
A visão exerce papel importante: os cães são capazes de distinguir fisionomias e expressões, inclusive de desaprovação. O comunicante, no entanto, precisa estar próximo: a partir dos seis metros de distância, os objetos e seres vão se tornando cada vez mais “chapados”, sem profundidade.
O paladar também é fundamental na comunicação. Por isso, os cães lambem ou colocam na boca quase tudo que encontram pela frente. As informações do paladar chegam a se confundir com as do olfato, em função da proximidade.
Na rua, ao encontrar outro cachorro, eles podem cheirar (é geralmente o primeiro gesto). lamber, abanar o rabo ou mantê-lo em determinada posição, rosnar ou latir. O faro dos cães é muito apurado e é através dos cheiros que eles “decifram” quem é o recém-chegado:
- se já for um cachorro conhecido, ele é prontamente identificado pelos aromas;
- se é desconhecido, é possível conhecer as intenções através dos feromônios.
Um cão descobre se o “forasteiro” é amigável, agressivo ou submisso a partir dos cheiros que ele exala.
Se o cachorro recém-chegado for violento e agressivo (é o caso de um animal dominante ou territorialista), quem está cumprimentando decide rapidamente o que fazer: caso o peludo acredite que o animal que se aproxima pode ser contido, por ser menor ou mais frágil, ele manterá a cauda ereta, acima da linha superior do dorso: é um sinal de que está pronto para “controlar a situação”.
Se a cauda ficar abaixada, o cão mostra sinais de camaradagem, como se dissesse: “Vamos ser amigos”. Mas quando o rabo se volta para o meio dos membros posteriores e a garupa fica caída (abaixo da linha superior do dorso), ele está dizendo: “Eu sou mansinho e obediente, não me machuque”.
Em seguida, os cães começam a “conversar” – literalmente através de sons, que podem ser latidos, rosnadas, ganidos, uivos ou choramingos. Quando um cão ladra forte ou rosna, ele está decidido a manter a sua posição. Os ganidos e choramingos são usados para demonstrar que ele não é uma ameaça.
Os uivos são um pedido de ajuda: o cachorro está informando aos demais cães da vizinhança que há um peludo desconhecido “invadindo o território”. É difícil acontecer alguma coisa a partir desta comunicação, mas, na natureza, os lobos começam a se reunir – para o ataque, a defesa ou a fuga – a partir da vocalização ouvida.
Os aromas captados também são úteis para descobrir uma série de outras informações. Os machos não castrados identificam as fêmeas disponíveis para o acasalamento principalmente através dos feromônios, por exemplo.
Além disso, para os cachorros, é possível identificar algumas doenças ao cheirar o novo amigo – especialmente através do orifício anal, informações preciosas sobre o estado de saúde podem ser obtidas.
Mais uma vez, a continuação da “conversa” depende do temperamento dos peludos que estão interagindo. Animais dominantes podem entender que conseguem controlar os doentes, enquanto os mais acolhedores tentam ajudar os amigos em apuros.
Os cachorros mais independentes e solitários tendem a se aproveitar das informações obtidas através do olfato. Alguns são mais continentes e acolhedores e tentam encontrar maneiras de ajudar o recém-chegado. A maioria dos pastores e boiadeiros normalmente escolhe auxiliar os outros animais.
A organização dos cumprimentos
Os cumprimentos caninos geralmente obedecem a uma sequência lógica. A previsibilidade do comportamento dos cachorros, aliás, é um dos motivos que mantêm a parceria com os humanos: se eles reagissem de forma diferente e inesperada para as mesmas situações, não teriam conquistado a nossa confiança.
Os lobos possuem formas complexas e sofisticadas de comunicação. Os cachorros, além de terem herdado este comportamento, também desenvolveram outras estratégias durante os milênios de convivência com os humanos.
Por exemplo, entre os mamíferos não primatas, o Canis lupus familiaris é a espécie que apresenta a maior variedade de expressões fisionômicas. Os nossos peludos aprenderam com os humanos a franzir a testa, levantar sobrancelhas e orelhas, etc.
No sistema social que envolve os cachorros, repleto de códigos e sinais convencionados, a interação pode ser resumida a três fases principais, que se apresentaram com maior ou menor ênfase, de acordo com as situações enfrentadas:
• aproximação – ao avistar outro animal, o cachorro passa a se aproximar traçando uma linha curva com o corpo. É um sinal de que ele não quer problemas, está apenas cuidando da própria vida. Uma aproximação em linha reta é um claro desafio;
• inspeção – é o momento em que o olfato faz a maior parte do trabalho. O cachorro fareja feromônios e outros aromas em busca de informações, que são rapidamente processadas. Os cheiros indicam as condições físicas e diversos estados de espírito, como tristeza, ciúme, medo, apreensão, irritação, etc.;
• reação – reunidas todas as informações, o cachorro decide o que fazer. Ele pode se aproximar de maneira amistosa, desviar o caminho (para não ter de enfrentar um adversário mais forte) ou partir para o ataque, caso entenda que está em condições de subjugar o adversário.
“Partir para o ataque”, no entanto, não significa necessariamente entrar em combate. Tudo depende da personalidade do cachorro, que pode latir, abanar o rabo, pular e, em último caso, atacar. Cães e lobos preferem evitar confrontos sempre que possível.
A postura mais frequente é o convite para brincadeiras. A imensa maioria dos cachorros não precisa enfrentar invasores e agressores. Por isso, mesmo ao avistar animais desconhecidos, o comportamento usual é “estreitar os laços”.
Para isso, os cachorros dobram as pernas anteriores, aproximam o peito do chão e abanam o rabo. A sequência de posições indica o interesse pelas brincadeiras. Naturalmente, isto acontece com mais frequência entre animais conhecidos.
Entre animais que não se conhecem, a primeira reação é estudar o comportamento do “estranho”. Os cães ficam atentos aos movimentos. Eles podem partir para os jogos e brincadeiras quase imediatamente, mas também podem ignorar um candidato a parceiro que se mostre pouco amistoso.
Este é um dos motivos por que as caminhadas diárias são tão importantes. Desde filhotes, os cachorros começam a exibir todos esses comportamentos. Os encontros casuais nas ruas acabam se tornando momentos para a socialização.
No caso de animais que passam boa parte do tempo presos e sem contato com outros cães (e com os humanos da família), em alguns meses, eles podem perder a confiança natural e passar a identificar inimigos em todos os transeuntes. Eles se tornam “bravos”, em outras palavras.