Esses cães de duas patas ensinam os humanos a conviver com amputações

Conheça estes cães de duas pernas e veja como eles colaboram na reabilitação de amputados.

Estes três cães enfrentam sérias limitações na mobilidade. Eles têm apenas duas pernas, mas foram treinados para demonstrar que é possível seguir adiante. Eles colaboram na reabilitação de amputados, em um hospital na Filadélfia (Pensilvânia, nordeste dos EUA).

A perda de um membro por doença ou trauma gera alguns transtornos emocionais, em paralelo às dificuldades de locomoção. Mas Deuce, Lucky e Cyrus – estes são os nomes dos cães de duas pernas – oferecem não apenas apoio psicológico, mas contribuem diretamente nas sessões de fisioterapia.

Os cães

Os três cães terapeutas vivem na Pensilvânia com Domenick Scudera, o seu tutor e treinador. Lucky tem apenas as pernas anteriores (dianteiras); Deuce, os membros da direita; e Cyrus, apenas os posteriores (traseiras).

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Os peludos levam uma vida praticamente normal, sempre com a ajuda do tutor. Lucky, Deuce e Cyrus usam cadeiras de rodas durante parte do dia, mas desenvolveram técnicas próprias para brincar e explorar o mundo. Eles também precisam de muito colo, sempre recompensado com muitos lambeijos e carinhos.

Eles têm a própria página no Instagram (www.instagram.com/2legdogs), na qual compartilham as atividades e aventuras do dia a dia. Os cães terapeutas são seguidos por mais de cem mil internautas e estão se aproximando de três mil postagens.

A vida e o trabalho

Ao lado de Scudera, Lucky, Deuce e Cyrus frequentam o Hospital de Reabilitação Bryn Maur. O tutor já desenvolve estas atividades desde 2010. A equipe participa do programa de tratamento e reabilitação de amputados.

A terapia assistida por animais (TAA) não é nenhuma novidade. No Brasil, a técnica vem sendo regulamentada pelo menos há cinco anos. A diferença é que, no caso de Lucky, Deuce e Cyrus, trata-se de animais que vivenciam os mesmos conflitos e dificuldades: assim como os pacientes, eles também são amputados.

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Perder um braço ou perna é uma situação difícil e delicada. Muitos amputados se sentem limitados, incapazes e até mesmo imprestáveis ou inúteis. É então que Lucky, Deuce e Cyrus entram em cena, para mostrar, na prática, que a superação é possível.

Antes que possa pensar em algum tipo de exploração animal, é importante dizer que Scudera dedica algumas horas semanais ao trabalho de reabilitação, mas os três cães se revezam nas atividades: a cada semana, apenas um dos peludos é escalado para a terapia. Deuce, que ainda está em treinamento, é o menos acionado pela equipe.

A história

Os cachorros são inteligentes e capazes de aprender muitas coisas. O que muita gente ainda não sabe é que eles são igualmente capazes de ensinar. Esta afirmativa é especialmente válida para os animais de rua, cujo amor incondicional é sempre uma ferramenta poderosa.

Os peludos são também extremamente persistentes – o que, em uma avaliação rápida e superficial, pode ser considerado apenas como teimosia. Ao mostrar que nunca se deve desistir, os cães ensinam que vale a pena seguir em frente com os equipamentos que temos à disposição.

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Tudo começou quando um cachorro foi encontrado jogado em uma vala. Não se sabe se ele era um cachorro de rua ou se o abandono ocorreu depois do acidente. O fato é que ele estava com duas pernas fraturadas, já bastante inflamadas por infecções.

Ele foi encontrado por Jean Gibowski, que forneceu os primeiros socorros e encaminhou o animal para o hospital veterinário. O animal estava em péssimas condições e Jean chegou a acreditar que ele seria sacrificado nos dias seguintes.

O cachorro, que recebeu o nome de Deuce (“dois” ou “dupla”, em inglês), mostrou uma vontade de viver fora do comum. Jean resolveu oferecer um lar provisório, mesmo sem acreditar que ele pudesse resistir aos ferimentos e à amputação dos membros.

Deuce aprendeu a se deslocar com as pernas saudáveis que lhe restavam. Em pouco tempo, ele conseguia inclusive subir em móveis e explorar toda a casa. A tutora não sabe explicar como Deuce se deslocava tão bem apenas com as pernas esquerdas: ele é, ao mesmo tempo, ágil e delicado.

Jean se dedicou ao peludo, impressionada pela vontade de viver do animal. Ela não poderia mantê-lo, mas estava resolvida a encontrar um lar definitivo para Deuce. Publicando a história nas redes sociais, ela conheceu Domenick Scudera.

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O orgulhoso pai de dois cães também amputados, Lucky e Cyrus, que já trabalhavam no suporte a terapias. Além dos dois “bípedes”, Scudera mantinha em casa mais três gatos e outros três cachorros. Seria o local perfeito para acolher Deuce.

Apesar de ter a casa cheia, Scudera resolveu conhecer Deuce – do Kentucky à Pensilvânia, é uma viagem de quase 800 km. O tutor ficou encantado com o cachorro, que foi adotado “à primeira vista”. A adaptação de Deuce ao novo lar foi rápida.

O novo membro da família foi recebido com uma festa de boas-vindas, organizada pelos amigos de Scudera, enquanto ele voltava para a Pensilvânia. Deuce passou a integrar imediatamente a equipe de suporte terapêutico.

O primeiro amigo de Deuce na casa nova foi Lucky, o cão mais velho de Scudera. O animal sênior ficou observando o amigo, para ter certeza de que tudo estava bem e assumiu o papel de irmão mais velho. Desde a primeira noite, eles dormem um ao lado do outro.

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Uma das vantagens de Deuce é que ele é extremamente dócil, paciente e tolerante, características fundamentais para a TAA, mesmo no caso de simples visitas a orfanatos e casas de acolhimento de idosos.

O cachorro “lateral” (com pernas apenas do lado direito) descobriu muito rapidamente que a simples presença fazia bem aos amputados do Hospital Brin Maur. Sozinho ou ao lado de Cyrus e Lucky, ela sabe fazer a diferença.

Inacreditavelmente ágeis (considerando-se as limitações físicas), os três cães sabem ser gentis e tranquilos. Em relação a alguns pacientes, eles apenas fazem companhia, trocando afagos. Com outros, eles experimentam os primeiros passos, as novas formas de usar ferramentas e utensílios do dia a dia.

Por fim, eles também sabem que há momentos em que é preciso apenas ficar ao lado, esperando que os pacientes consigam processar as informações e encontrar caminhos próprios para enfrentar e superar desafios.

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