Como interpretar os latidos dos cães

A inteligência dos cães se revela também nos latidos. Saiba como interpretá-los.

Os cães impressionam pela inteligência e, mesmo sem poder falar, são capazes de expressar as suas vontades, necessidades, desejos, como também os seus sentimentos. Além de usar a linguagem corporal, eles usam os latidos. Saber interpretar estes sons ajuda bastante na parceria.

Não são apenas latidos. Os cães emitem grunhidos, rosnadas, uivos e ganidos para se comunicar. Por meio destes sons, eles expressam emoções e sensações que, muitas vezes, não somos capazes de entender. É preciso saber interpretar.

Sabedoria ancestral

Os cães são animais gregários, isto é, eles se desenvolveram convivendo em grupos. Muito antes da convivência com os humanos, eles já se comunicavam nos seus grupos.

As alcateias são bandos altamente especializados. Os lobos — ancestrais dos cães — se comunicam para encontrar a caça, escolher o melhor a melhor estratégia para acuá-la e dar o golpe final.

É através dos sons — especialmente latidos e uivos — que eles criam e protegem os filhotes, montam guarda no acampamento, namoram (ou impedem que outros membros do grupo namorem), indicam o melhor caminho no deslocamento, encontram e divulgam refúgios contra o frio, a chuva ou simplesmente para descansar e dormir.

Até hoje, em uma alcateia, cada Lobo vocaliza em um uivo característico. A qualquer hora, quando se ouve o som de um indivíduo, todo o bando sabe o que ele está “dizendo”: “há uma presa desprotegida”, “tem água fresca aqui”, “estamos correndo perigo” ou “encontrei aquela planta que alivia a dor de barriga”.

Como interpretar os latidos dos cães

Eles também expressam sentimentos: solidão, raiva, medo, tédio, desejo, estão entre os mais frequentes.

Mais recentemente, já a serviço dos humanos, os cães também aprenderam o valor do silêncio em algumas situações. Dificilmente um grupo de beagles late em uma caçada, enquanto está farejando a presa (por isto, os beagles latem menos do que cães de outras raças).

Na hora de emitir o alerta, no entanto, eles fazem um estardalhaço. No ambiente urbano, eles aprenderam a identificar suspeitos e a chamar muita atenção quando alguma coisa está “fora da ordem”. Mesmo os de pequeno porte gritam alto e bom som quando precisam proteger a família.

Os rosnados e latidos, no entanto, vão muito além. Aprender a interpretar a “fala” dos cães pode tornar a convivência mais útil e proveitosa. Certamente, pode torná-la muito mais prazerosa.

Gritos e sussurros

Em comparação à fala humana, a linguagem dos cães é bem mais limitada. Mas, para interpretá-la, é necessário estar atento não apenas ao tipo, mas também à duração (frequência) e intensidade.

Nem todos os latidos possuem um significado especial. Algumas vocalizações servem simplesmente para que os cães se façam notados, outras para acompanhar determinadas atividades do dia a dia.

O diálogo

Ao contrário da nossa linguagem, que varia de país para país (e mesmo dentro de uma mesma nação), a linguagem dos cães, muito mais simples, é universal. Um cão japonês não terá dificuldade em se comunicar com um colega brasileiro.

No diálogo com humanos, no entanto, a situação muda. Apesar de conseguirem aprender um repertório amplo de palavras e expressões linguísticas, a recíproca não é verdadeira. Poucos tutores de dispõem a entender o que os cães “falam”. Isto reduz a possibilidade de entendimento e impede que nós enriqueçamos o nosso relacionamento.

A senciência

Senciência é a capacidade dos seres complexos de experimentar sensações e sentimentos e de transmiti-los de forma consciente ao grupo familiar. Em outras palavras, é a capacidade de perceber o mundo ao redor e interagir com ele.

Os cães, assim como gatos, cavalos e outros animais, são seres sencientes. Isto significa que eles conseguem perceber sensações (como agonia e dor)  emoções (como medo e ansiedade).

A principal função do sistema nervoso, do ponto de vista biológico, é gerar comportamentos que promovam o máximo bem-estar com o mínimo dispêndio de energia.

Alguns autores, como Charles Darwin, criador da teoria da evolução das espécies através da seleção natural, entendem que a senciência é um atributo comum aos animais sofisticados, e não uma característica exclusivamente humana. As diferenças seriam uma questão de grau, e não de gênero.

Os latidos

A maioria dos etólogos — biólogos especializados em comportamento animal — afirma não ser possível confirmar que os cães latem para transmitir algum tipo de informação. Isto se deve apenas ao fato de que não existe um tradutor automático de latidos.

A variedade de latidos, o fato de os cães latirem entre si (ao contrário da maioria  dos gatos, que, quando adultos, miam apenas para os humanos) e o fato de eles aprenderem o significado de palavras humanas permite inferir que os sons caninos são uma forma efetiva de comunicação.

Fique atento para os latidos dos cães, se quiser interpretá-los corretamente. Observe as características:

– latidos curtos, agudos e contínuos são “falas” amigáveis, geralmente empregados como forma de cumprimento na chegada de humanos e outros animais;

– latidos curtos e graves, incluindo os rosnados, surgem quando os cães detectam ou pressentem algum tipo de perigo. Eles podem surgir como resposta a um fato desconhecido, como a presença de pessoas estranhas ou a detecção de ruídos preocupantes.

É o caso, por exemplo, de fogos de artifício. O barulho é semelhante ao dos trovões, sinal de que está chegando uma chuva forte e, portanto, a matilha precisa se ocultar e proteger.

Os cães não sabem diferenciar o barulho da chuva e do final do campeonato ou das festas de fim de ano. Também não conseguem entender que estão em uma construção segura. Para eles, trovões são sinais de temporais, enxurradas e muita dor de cabeça.

Os rosnados são um sinal de perigo e, consequentemente, de defesa e ataque. Eles podem significar “afaste-se”, seja porque há um predador nas redondezas, seja porque eles simplesmente não querem partilhar um brinquedo ou uma refeição, por exemplo;

– os latidos intermitentes, geralmente com curtas interrupções e intercalados com tomadas de fôlego, são expressões de alegria. Quando estão latindo desta forma, os cães estão bastante entusiasmados.

É o caso, por exemplo, do momento do passeio diário. A simples visão da coleira sendo retirada do armário é motivo de muita alegria.

Estes momentos são ideais para adestramento de obediência. Os peludos podem ficar muito ansiosos na hora da caminhada. Isto não seria um problema, se alguns deles não transferissem a ansiedade para outros situações.

Os cachorros são imediatistas, mas precisam aprender, inclusive por motivos de saúde, que tudo tem o seu tempo certo. Por isso, durante os preparativos do passeio, o melhor a fazer é ignorar a “insistência canina”.

Este treino pode durar apenas alguns segundos, o suficiente para os pets “sossegarem o facho”. Pegue a coleira e a capa de chuva ou agasalho, verifique se as janelas estão fechadas, destranque a porta e só então deixe os peludos extravasarem a alegria;

– latidos repetidos e insistentes podem significar duas coisas: entre os cães adestrados, é um sinal de que algo lhes chamou a atenção, que pode ser a descoberta de drogas ou armas em uma atividade policial, de uma vítima que precisa ser resgatado ou de alguma coisa inusitada no trajeto (o voo de uma borboleta, por exemplo).

Estes latidos, no entanto, também podem indicar um erro grave dos tutores, quando estes deixam que os pets assumam o comando. Os latidos insistentes, nestes casos, podem significar: “quero atenção”, “pare o que está fazendo imediatamente”, “não dê atenção a ele”, “preciso da minha comida agora”.

Os cães precisam ser submissos aos tutores. Isto não significa servidão ou tirania. Eles gostam de saber que estão protegidos, que alguém zela por eles (e naturalmente precisa do trabalho canino).

Do contrário, eles se tornam “reis bebês”, pequenos ou grandes déspotas, chefes do pedaço. Na natureza, eles disputariam a liderança do grupo. Em um ambiente urbano, este fato gera apenas frustração e ansiedade.

Os uivos

A humanidade, em períodos menos ilustrados, emprestou o sentido de mau agouro aos uivos dos cães e lobos. Efetivamente, estes sons transmitem a sensação de dor, seja individual, seja coletiva.

Os uivos, no entanto, também representam um alerta. Na natureza, eles indicam que alguém da alcateia está vigilante, que não seguro se aproximar. O alerta vale para lobos de outros grupos e também para chacais, hienas e eventuais felídeos que estejam circulando pelas redondezas.

– Um uivo longo e contínuo representa medo, desconforto e dor, especialmente quando é entremeado de latidos.

– Os uivos, por outro lado, podem surgir por imitação. Um cachorro uiva, o vizinho repete o som e forma-se uma corrente, que pode inclusive ser desencadeada por outros ruídos, como sirenes de ambulâncias ou de bombeiros.

A audição dos cachorros é extremamente apurada e, por isso, o som inicial pode ser inaudível para os nossos ouvidos.

– Os uivos também podem significar tédio. São comuns as reclamações de vizinhos por causa de cachorros uivando. Isto acontece quase sempre quando eles são deixados sozinhos por longas horas.

Sem nada para fazer (alguns tutores chegam a deixar os cães presos em varandas e áreas de serviço para que eles não sujam nem destruam nada), os pets uivam para expressar aborrecimento.

Não há nada de errado em deixar os cães sozinhos, mas eles precisam ter algum tipo de entretenimento: brinquedos, movimentos constantes e monótonos, até mesmo uma peça de roupa do tutor (não é preciso que seja usada: o olfato dos cães também é bastante apurado).

Se você passa boa parte do tempo fora de casa, considere a possibilidade de adotar outro cão ou um gato. A falta de atividade pode prejudicar a saúde canina, contribuindo inclusive para um quadro de depressão.

– Entre os filhotes, o uivo é sempre uma queixa. Eles querem a companhia da mãe, que significa conforto, alimento, calor e carinho. Ao serem adotados, aos filhotes costumam passar algumas noites uivando, para demonstrar medo, desconforto e, quem sabe, saudade da família canina.

Na terceira idade

Os cães mais velhos podem começar a latir com maior intensidade e frequência. Isto pode ocorrer porque eles estão perdendo a audição — e acham que precisam falar mais alto, que a família não está compreendendo.

Isto faz parte dos avanço da idade e pode ser corrigido com uma dose extra de atenção. Afinal, todos nós sofremos (ou sofreremos) com as limitações impostas pela idade. Apenas quem morre jovem está livre delas, mas esta certamente não é a melhor opção.

Os latidos frequentes, quase sempre roucos, podem também ser interpretado com um lamento. Os peludos velhinhos podem desenvolver problemas nas articulações, com desconfortos e dores, e certamente não apresentam a mesma disposição para brincadeiras: é preciso reduzir a carga de exercícios físicos.

É preciso estar atento a esta condição. Uma vez que os nossos cães nos amam incondicionalmente e querem sempre nos agradar, eles dificilmente se recusarão a correrias e saltos. Nós precisamos aprender a dosar o gasto de energia. Os latidos frequentes são uma dica. É como se eles dissessem: “ei, companheiro, vamos mais devagar!”.

Resumindo

Cachorros latem pelas mesmas razões que passarinhos piam, gatos miam e cavalos relincham: para se comunicar e principalmente porque os latidos, grasnados, cantos e cacarejos fazem parte da natureza.

Os mais insistentes podem ser adestrados, mas, em resumos, os cães latem:

  • porque estão pressentindo algum tipo de perigo, que pode ser real ou aparente;
  • porque estão ansiosos ou aborrecidos. A falta de estímulos pode entediar a mais otimista das criaturas;
  • porque estão com fome, sede ou frio;
  • quando estão sentindo dor ou desconforto;
  • para chamar a atenção. Assim como nós, os cães precisam de afeto, brincadeiras, precisam sentir que pertencem a um lar e uma família.

Uma última consideração precisa ser feita: os cães latem. É óbvio, não? No entanto, a maioria das reclamações e castigos está relacionada aos latidos, especialmente os muito insistentes.

Cachorros podem aprender a não latir em determinadas situações. Eles também podem aprender a controlar a alegria nas chegadas dos tutores. Dito isto, é importante saber que eles nunca deixarão de latir. Isto faz parte da estrutura biológica da espécie.

Se você se incomoda tremendamente com os latidos constantes dos peludos — que servem inclusive para extravasar e demonstrar contentamento —, talvez seja melhor escolher outro pet silencioso. Um peixinho de aquário, talvez, seja a melhor opção.

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