O comportamento do cachorro sempre pode melhorar. Confira algumas dicas simples.
Os cachorros são amigáveis, amorosos, guardiães, brincalhões – em resumo, são companheiros perfeitos. Muitas vezes, no entanto, o comportamento dos peludos deixa a desejar. Felizmente, os nossos melhores amigos gostam muito de nos agradar e, com algumas dicas simples, é possível torná-los verdadeiros anjos.
Na verdade, ninguém quer ter um anjo em casa – se fôssemos anjos, estaríamos em algum tipo de paraíso. O cachorro ideal é aquele que é um pouco bagunceiro, curioso, carinhoso, divertido e bem comportado, para a alegria de toda a família – inclusive os membros e quatro patas.
Para melhorar o comportamento do cachorro
Todo tutor responsável, antes de se decidir por receber um cachorro em casa – seja adotado, seja adquirido em um canil registrado – precisa ter em mente que está dando início a um relacionamento de longo prazo, que pode durar 12, 15 ou 20 anos. Em alguns casos, até mais.
Cachorros são seres vivos gregários e sencientes. Isto significa que a espécie evoluiu vivendo em grupos organizados e complexos. Eles são capazes de ter e expressar sentimentos, como alegria, tristeza, raiva, medo, confiança, etc.
Além do aumento das despesas domésticas – um cachorro necessita de ração de qualidade, consultas veterinárias, medicamentos e suplementos, roupas e acessórios, brinquedos, etc. -, o mais importante é ter disponibilidade. Os peludos precisam interagir com os tutores, exprimir seus sentimentos, necessidades e vontades.
Naturalmente, eles dão trabalho. Diversos acidentes caseiros sempre ocorrem enquanto eles ainda não dominam a rotina da casa – locais em que podem ou não transitar, o lugar certo para as necessidades fisiológicas, um cantinho para ficar sozinho, horários de brincadeiras e cafunés, etc.
Mas, mesmo os cachorros adestrados, que conhecem os comandos básicos e são capazes de fazer alguns truques para alegrar a família, continuam dando trabalho. Alguns soltam muitos pelos na casa, outros babam excessivamente e, quando não são banhados e escovados com frequência, podem espalhar sujeira e mau cheiro.
O mau comportamento dos cachorros quase sempre é reflexo da forma como eles são criados. Eles são muito inteligentes e descobrem rapidamente o que se espera deles, mas têm necessidades e vontades: eles também são exigentes.
Quem não tem disponibilidade – de tempo, espaço e paciência – pode optar por um animal de estimação mais independente. Os gatos, apesar da fama, exigem igualmente a sua cota de carinho, brincadeiras e cafunés. Quem não pretende gastar algumas horas diárias pode escolher outros pets, como chinchilas, furões, hamsters, etc.
Todo cachorro procura sempre identificar a posição que deve ocupar na matilha (é assim que eles entendem a família, formada por humanos, gatos, aves, etc.). Não se trata apenas de saber onde pode circular, mas as funções que os tutores esperam que ele execute:
- os cães são guardiães naturais: é preciso estar atento e forte para garantir a segurança do grupo. Desta forma, quando os instintos de dominância e territorialidade são estimulados, eles se tornam violentos e bravos;
- quem acha graça em um cachorro agressivo, que destrói tudo que fica ao alcance das suas patas, garras e dentes, deve esperar que ele continue destruindo não apenas os brinquedos e trastes velhos, mas também almofadas, cortinas, móveis, etc. Um peludo não se importa com grifes e marcas;
- se o cachorro vive isolado em um canto do quintal, sem interagir com a família – muitos animais são adotados apenas para a guarda da casa – é natural que eles se tornem independentes e solitários. Isto, no entanto, pode ser um risco não apenas para os parentes humanos, mas igualmente para outros pets, entregadores, prestadores de serviços, etc.;
- cachorros que passam a maior parte do tempo sozinhos e inativos, sem nada para fazer, podem se tornar destrutivos. É preciso fazer algumas alterações na rotina doméstica. Isto não significa que o cachorro precise de companhia 24 horas por dia, mas os tutores devem providenciar algumas distrações para os momentos solitários: uma janela para observar o movimento, um brinquedo novo, uma peça de roupa com o cheiro do melhor amigo, alguma coisa para explorar, etc.
A escolha da raça
Apesar de todos os cachorros geralmente refletirem o comportamento dos tutores, que eles observam e reproduzem no dia a dia, as raças caninas podem ser determinantes quando se fala em cães bem comportados.
Os cães de trabalho, por exemplo, não são indicados para “tutores de primeira viagem”. Os pastores e boiadeiros podem ficar entediados com a falta de atividade – alguns deles chegam a tentar conduzir manadas de carros e motos.
Da mesma forma, os cães de trenó precisam de muito exercício físico diariamente. Hoje em dia, quase ninguém adota um samoieda, um husky siberiano ou um malamute do Alasca como animal de tração, mas eles continuam disponíveis para a tarefa e, quando de folga (praticamente, o dia inteiro), podem se mostrar bagunceiros ou muito intensos. Afinal, é o momento de lazer.
Dachshunds e yorkshire terriers quase sempre são encarados como cães de colo, assim como os poodles de pequeno porte (toy e miniatura). Na verdade, no entanto, as duas primeiras raças foram desenvolvidas para a caça, enquanto o poodle é especialista em mergulhos: os ancestrais pulavam nas lagoas frias da Europa para resgatar aves abatidas pelos tutores.
Evidentemente, todo cachorro gosta de atenção e paparicos, mas um yorkie pode se mostrar confuso, insatisfeito e irritado quando é sempre levado no colo, sem possibilidades para correr e explorar – por menor que seja o tempo dedicado a isso. Afinal, ele é minúsculo.
Outros minúsculos também não gostam de carinho fora de hora. O pinscher miniatura tem a fama de ser “metade tremedeira, metade raiva” justamente por causa da insistência dos tutores em mantê-lo sempre no colo.
“Pinscher”, aliás, parece derivar do francês “pincer”, que significa agarrar, morder. O pinscher alemão (modelo que derivou o cão miniatura, os schnauzers e o doberman) já foi usado em rinhas e os cães da raça, independentemente do porte, ainda demonstram vocação para luta.
Um tutor atlético provavelmente fica um pouco frustrado na companhia de um buldogue inglês. Ele também já foi utilizado em combates (inclusive contra touros, lobos e ursos), mas os animais atuais são pacatos, tranquilos e bonachões. Eles preferem uma soneca a uma corrida ou um jogo de bola, por exemplo.
Os tutores que gostam de ensinar novos truques para os peludos não devem escolher os muito pequenos e frágeis, que podem sofrer lesões com uma simples queda de um degrau. É o caso do shih tzu, lhasa apso, cavalier king charles – lembrando que as exceções servem para comprovar as regras.
Mas não são apenas os pequenos que dispensam atividades físicas intensas e prolongadas. Um dálmata prefere caminhar tranquilamente ao lado do tutor, sem correrias e agitações. Um akita, que passou séculos na companhia de bois e vacas, pode se mostrar independente demais para um tutor interessado em adestramento complexo.
O afghan hound é considerado o menos inteligente no ranking “A Inteligência dos Cães”, elaborado pelo psicólogo americano Stanley Coren. Na verdade, no entanto, ele é apenas um cão independente, acostumado ao isolamento.
Séculos atrás, no Afeganistão e no Irã, os cães da raça eram soltos pela manhã, para perambular sozinhos o dia inteiro, retornando à noite com o resultado da caça (para partilhar com os humanos do grupo). Eles eram totalmente independentes até que exploradores ingleses se encantaram com a beleza dos afghan hounds.
Para garantir o bom comportamento
Independentemente do porte e da raça, os tutores podem garantir o bom comportamento com algumas providências simples. A primeira delas é começar a ensinar o cachorro já no primeiro dia na casa nova.
Ele já pode aprender por onde transitar, onde dormir, apropriar-se de alguns objetos (brinquedos, comedouros, roupas, etc.). Os tutores também devem organizar a rotina, estabelecendo os horários das refeições e não cedendo aos pedidos insistentes, mesmo que esta não seja uma tarefa fácil.
Enquanto o cachorro não recebe as últimas doses das vacinas, ele não pode sair para passear na rua, mas os tutores podem começar a ensiná-lo a se comportar nas caminhadas. Pode-se vestir a coleira, ensinar comandos simples, como puxar a guia para fazer o peludo parar ou seguir em frente, etc.
Os comandos básicos devem ser ensinados imediatamente. Os cachorros precisam aprender o significado de “sim”, “não”, “fica”, “vem”, “para”. Em geral, os peludos assimilam estas ordens com três ou quatro repetições.
O “vem” e o “fica” são importantes para que o cachorro entenda que o tutor é o referencial que ele deve seguir. Ao aprender a ficar parado – e a se mover em direção ao humano – ele incorpora elementos importantes para a segurança, a tranquilidade nas tarefas do dia a dia, etc.
As regras da casa devem ser simples e claras. Se um cachorro não pode, por exemplo, entrar na sala de estar, ele precisa ser advertido toda vez que se aproximar da porta de entrada. Não há nada errado em deixar o cachorro circular livremente, nem subir na cama e no sofá, mas tudo depende da rotina.
De qualquer maneira, os tutores precisam evitar ordens conflitantes. Se ele não pode subir na cama, não pode e pronto. O peludo não consegue entender que “hoje pode, amanhã não pode”, de acordo com o estado de espírito dos humanos.
Caminhadas
Os passeios são importantes por diversos motivos: são bons momentos para exercitar o cachorro (e tirar os tutores do sedentarismo), permitem a interação com outras pessoas e com espaços desconhecidos. Além disso, podem ser verdadeiras sessões de adestramento.
Quando os passeios têm início, também é importante estabelecer uma rotina. As caminhadas devem ser realizadas de preferência no mesmo horário. Os roteiros podem variar a cada dia, mas é preciso lembrar que os cachorros preferem repetições, por se sentirem mais seguros.
No trajeto, é importante lembrar quem está passeando: o cachorro. O humano envolvido na tarefa é apenas o condutor. Por isso, o peludo tem direito a parar em todos os postes e troncos de árvores, para identificar quem passou por lá antes e deixar as suas próprias marcas.
Mas, se o passeio é do cachorro, as regras são do tutor. O peludo não pode avançar sobre outras pessoas e animais e os humanos têm o direito (e o dever) de afastá-lo de perigos, como latas de lixo, canteiros (que podem ter plantas tóxicas), carros em movimento, etc.
Um leve puxão na guia é suficiente para o cachorro entender que não deve seguir em frente. Ele também não pode puxar a guia, tentando definir o roteiro: toda vez que a guia estiver esticada, o tutor precisa parar, mostrar o que está errado e só depois seguir em frente.
Acertos e recompensas
Os cachorros gostam de nos agradar e este é o principal motivo para aprenderem regras que não fazem muito sentido para eles. Mas não se pode esquecer que se trata de um aprendizado: os peludos não nascem sabendo.
Por isso, seja para ensinar o significado do “sim” e “não”, seja para fazer o cachorro percorrer um circuito de agility com rapidez e eficiência, é preciso armar-se de muita paciência e persistência. O tutor deve apresentar o comando, estimular o cachorro a reproduzi-lo e, sempre que tiver êxito, recompensar o peludo.
Alguns métodos coercitivos são usados com alguma eficiência, mas os resultados geralmente são obtidos por raiva ou medo – sentimentos inadequados para despertar e cultivar em um cachorro (ou qualquer outro ser vivo).
Por isso, ao ensinar o cachorro, gritos são desnecessários a castigos físicos, totalmente contraproducentes. A voz do tutor precisa ser firme – não é possível aprender se o comando for dado no mesmo tom usado durante o cafuné – mas não é preciso gritar.
Nas sessões de adestramento – desde o “dá a bolinha” até uma corrida com obstáculos -, os tutores precisam ter à mão alguns petiscos para contemplar os alunos a cada acerto. Na primeira semana de treinamento, as recompensas materiais são imprescindíveis.
À medida que o cachorro aprende as respostas esperadas, os prêmios podem ser dispensados, mas os acertos precisam continuar sendo incentivados com afagos e palavras de estímulo.
Para garantir o sucesso e conquistar um cachorro muito bem comportado, é preciso ter em mente que toda sessão de adestramento precisa ser divertida e prazerosa, tanto para o peludo, quanto para o tutor. Além de garantir bons resultados, o treinamento deve ser encarado como um momento a dois, que reforça os vínculos entre cães e tutores.