Existem cachorros gays?

Tudo indica que sim. Cachorros (e animais de outras espécies) podem ser gays.

Existem cachorros gays. Isto não significa, no entanto, que todo cachorro que tenta montar (ou aceita ser montado) em outro macho seja homossexual. Os cães utilizam prioritariamente a linguagem corporal, enquanto os humanos gradualmente desenvolveram a oralidade.

Isto quer dizer, em outras palavras, que os cachorros usam o corpo para expressar as vontades e necessidades. E o sexo pode ser um instrumento para fazer novas amizades, conquistar poder, relaxar e até mesmo evitar brigas e confrontos.

Existem cachorros gays?

Sexo, prazer e adaptações

Durante os últimos séculos, a homossexualidade tem sido encarada como um tabu, especialmente no Ocidente. Diversos naturalistas, quase sempre influenciados por crenças e valores religiosos, afirmaram que relações sexuais e homoafetivas seriam “anormais”.

Na primeira metade do século 20, as manifestações que divergiam da heterossexualidade chegaram a ser patologizadas. No entanto, pesquisas e estudos acadêmicos não corroboram o conceito de “sexualidade doentia”.

Em 17.05.1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade do CID-10 (a décima revisão da Classificação Estatística Internacional das Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Desde então, o 17 de maio é o Dia Internacional de Enfrentamento à LGBTFobia.

Existem cachorros gays?

Práticas homossexuais já foram atestadas em diversas espécies animais – mais precisamente, em 1.500, inclusive entre alguns insetos. Estudos de diversos etologistas (especialistas em comportamento animal) deitaram por terra os tabus sobre o assunto.

Com relação aos animais domésticos, no entanto, a homossexualidade restrita, no entanto, só foi observada entre carneiros. Um estudo do Professor Charles Roselli, da Universidade de Ciência e Saúde do Oregon (Portland, EUA), publicado em 2002, descreveu estruturas cerebrais diferentes, na comparação com carneiros e ovelhas heterossexuais.

A pesquisa estudou o cérebro de 27 animais, entre eles nove carneiros que transavam apenas com outros machos. As mesmas adaptações cerebrais foram encontradas em outras espécies, mas ainda são necessários outros estudos para verificar se elas são realmente responsáveis pelas preferências sexuais.

Cães e gatos

A homossexualidade pode ser observada no cotidiano dos pets preferidos dos brasileiros: cerca de 52 milhões de cachorros e 22 milhões de gatos convivem nos lares do país, de acordo com dados da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O comportamento pode ser explicado também pelas alterações excessivas do habitat. A proporção entre machos e fêmeas (nos lares e nas ruas) não é a mesma encontrada na natureza. Alimentação, atividade física e formação de grupos foram igualmente alterados.

Existem cachorros gays?

Até mesmo a produção e liberação de hormônios sexuais dos cães e gatos é diferente da observada entre animais silvestres. É óbvio que, ocorrendo alterações no total de machos e fêmeas disponíveis, seja natural a formação de casais de gays e lésbicas.

Mesmo assim, boa parte dos comportamentos considerados gays entre os cachorros pode ser explicada pela antropomorfização. Um cão de pequeno porte cheio de adornos e acessórios pode ser considerado gay por algumas pessoas.

Mas o que está ocorrendo na verdade é que este cãozinho pode ter se habituado aos enfeites simplesmente porque eles o fazem parecer maior – e isto confere sensação de segurança, em nada relacionada à sexualidade.

Relações homossexuais parecem ser mais comuns entre cães machos, apesar de também serem observadas nas fêmeas. Animais adultos, saudáveis e não castrados naturalmente expressarão a sexualidade de acordo com os recursos que encontram no ambiente.

Os cachorros jovens, com os hormônios sexuais à flor da pele, tentam copular com todos os eventuais parceiros que aparecem, um fato natural especialmente quando dois machos (ou duas fêmeas) vivem na mesma casa.

O fenômeno já foi observado entre outras espécies: nos primeiros 30 minutos da vida adulta das moscas-das-frutas (gênero Tephritidae), todos os indivíduos tentam cruzar com todos. Apenas depois dessa primeira meia hora é que os insetos aprendem a diferenciar os feromônios de machos e fêmeas.

Motivos evolutivos

Em diversos casos, comportamentos de homossexualidade e bissexualidade normalmente têm uma explicação evolutiva. Machos do besouro-castanho (Tribolium castaneum) podem copular e depositar em outros machos que, quando cruzam com fêmeas mais tarde, podem transferir o material genético para elas.

Neste caso, os besouros não precisam se dar ao trabalho de cortejar as fêmeas para obter sucesso reprodutivo. A corte é realizada através de voos elaborados, que exigem forte dispêndio de energia.

Na maioria dos casos, as relações homossexuais são fortuitas e casuais, mas elas também podem ser duradouras – é o caso, por exemplo, de dois cães que vivem na mesma casa, sem acesso a outros parceiros.

Existem cachorros gays?

O fato também foi observado entre aves monogâmicas. O albatroz-de-laysan (Phoebastria immutabilis) elege um parceiro e permanece “casado” por toda a vida. Em uma ilha do Havaí, no entanto, metade dos casais é formada por fêmeas sem parentesco.

Biólogos explicam que a união ocorre depois de “transas casuais” com albatrozes machos “casados”. As fêmeas ficam sozinhas com o trabalho de preparação do ninho e os cuidados com os filhotes. A relação homossexual é a melhor opção para a sobrevivência, nesses casos.

Entre os primatas, a homossexualidade também é comum. Os bonobos (Pan paniscus), também conhecidos como chimpanzés-pigmeus, são muito ativos sexualmente e machos e fêmeas mantêm relações diversas.

O sexo, neste caso, consolida as relações sociais no grupo: é relativamente comum ver animais submissos aproximarem-se dos líderes. O comportamento homossexual também já foi observado para alegrar bonobos estressados ou tristes, que ganham abraços e relações dos outros membros do grupo.

Sexo e tabu

Na verdade, os cães e animais de diversas outras espécies seriam mais bem descritos como bissexuais, e não como homossexuais exclusivos, comportamento que tende a ocorrer apenas em casos de isolamento.

O certo é que não existem tabus entre cães, gatos e outros animais. A maioria transita facilmente entre relações homossexuais e heterossexuais. De qualquer forma, o comportamento dos animais derruba a tese de que o sexo é um instrumento exclusivo para procriação.

As relações sexuais são usadas para relaxar, socializar, dar carinho e, em alguns casos, fortalecer a estrutura hierárquica dos grupos. O sexo gera prazer – esta é a estratégia traçada pela natureza: todos querem prazer e, nesta busca, acabam perpetuando as espécies.

Existem cachorros gays?

Existem cachorros gays, mas não existe homofobia entre os cães: eles não estão nem um pouco interessados no comportamento sexual dos outros, a menos que estejam interessados nesses outros.

A homofobia humana, no entanto, transpõe as barreiras entre as espécies. Muitas pessoas se sentem incomodadas ao testemunharem dois cachorros transando sem cerimônia na frente de todos. Na verdade, toda a sexualidade foi reprimida no Ocidente.

Em março de 2022, um caso de discriminação sexual foi registrado nos EUA e teve forte repercussão na imprensa e nas redes sociais. É o caso de um cãozinho que foi abandonado “por ser gay”.

O caso ocorreu na Carolina do Norte. Fezco, um cachorro sem raça definida com quatro a cinco anos de idade, foi entregue em um abrigo porque os antigos tutores viram o animal “tentar montar em outro cachorro”.

A informação foi transmitida inclusive por um executivo da rede NBC, Mike Sington. Diversos internautas reagiram negativamente à atitude dos tutores, considerada “odiosa” e “vergonhosa”.

Fezco, por sua vez, atraiu o interesse de diversos candidatos e foi adotado em poucas semanas. Ele também foi responsável por divulgar o trabalho do canil, que conseguiu alocar duas dezenas de animais graças à propaganda gratuita.

Os cachorros ainda têm muita coisa para ensinar aos humanos.

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