Foi a primeira raça brasileira reconhecida internacionalmente. Saiba tudo sobre o fila brasileiro.
Forte, corajoso e dotado de temperamento forte, o fila brasileiro exige o pulso forte de criadores experientes no seu adestramento. Conhecido pelo faro extremamente apurado durante as suas andanças pelas florestas do país, ele é um cão de defesa e ataque.
O nome da raça faz mais sentido no português lusitano: o verbo “filar” é usado em Portugal como sinônimo de “agarrar, segurar”. Portanto, um cão de fila é aquele que “morde e não larga”. Duas raças portugueses partilham o DNA com o fila brasileiro: os cães de fila de São Miguel e da Terceira, ambos nativos do arquipélago dos Açores.
Os cães da raça fila brasileiro são muito desconfiados com estranhos, característica herdada pelo fato de terem sido usados como boiadeiros e, portanto, deviam evitar a aproximação de desconhecidos.
A valentia do fila brasileiro foi desenvolvida nos avanços em territórios inexplorados pelo homem branco, que estava sempre sujeito ao ataque de feras e dos habitantes originais da América, que buscavam defender os seus espaços de plantio, caça e coleta.
O fila brasileiro não é apenas desconfiado com pessoas estranhas: ele pode se mostrar francamente hostil. De acordo com a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), a raça teve o padrão original alterado “para mostrar um perfil menos intimidante”.
Mas, apesar de toda esta história de agressividade e independência, os cachorros da raça sempre são descritos como seguros, equilibrados e comportados. Estes cães grandalhões são inclusive indicados para famílias com crianças.
A origem do fila brasileiro
A primeira hipótese sobre o surgimento da raça é que ela seria descendente de três grandes cachorros britânicos. O fila brasileiro teria herdado o porte dos mastins ingleses, a pele solta e as orelhas pendentes dos bloodhounds e a resistência dos antigos buldogues.
Atualmente, no entanto, acredita-se que o fila brasileiro tenha resultado de acasalamentos entre cães portugueses e espanhóis, que foram os primeiros europeus a pisarem o solo da América do Sul. Os cães chegaram ao “Novo Mundo” durante a União Ibérica, entre 1580 e 1640.
Entre os ancestrais, estariam mastins de León (variedade funcional do mastim espanhol), rasteiros do Alentejo, alões portugueses (raça já extinta), cães de gado trasmontanos e cães de Castro laboreiros, entre outros.
Um pouco da história do fila brasileiro
Os cães provavelmente chegaram ao continente americano juntamente com os primeiros humanos, há cerca de 20 mil anos. Estes cachorros ancestrais, no entanto, quase não deixaram rastros genéticos nos animais atuais. O fila brasileiro é resultante de cruzamentos entre cães de trabalho trazidos pelos primeiros europeus que chegaram aqui, no início do século 16.
Os avós do fila brasileiro foram personagens anônimos das conquistas portuguesas. Eles estiveram presentes nas primeiras expedições para os sertões – entradas e bandeiras que ocuparam a Baia, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Os cães protegiam os colonos dos ataques de suçuaranas e onças-pintadas e conduziam o gado (inicialmente pelas margens do rio São Francisco).
Como todo cachorro, o fila brasileiro é extremamente leal aos tutores. Esta fidelidade foi usada, infelizmente, para capturar índios e escravos que escapavam das primeiras fazendas e engenhos estabelecidos no Brasil. Hoje em dia, no entanto, esta característica atrai as pessoas interessadas em um cão guardião e protetor.
O fila brasileiro foi a primeira raça canina do país a ser reconhecida pela Federação Cinológica Internacional (FCI), que publicou o primeiro padrão oficial ainda na década de 1960. Acredita-se que cães da raça estiveram presentes em todo o território, especialmente nas rotas das tropas de tropeiros.
Estas rotas saíam do litoral e procuravam desbravar o sertão da colônia. Os principais caminhos partiam da foz do rio São Francisco (atual divisa de Alagoas e Sergipe) e do planalto de Piratininga (atual região metropolitana de São Paulo).
Os cães de fila acompanharam os rebanhos e fazendeiros que se instalaram em Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, e igualmente os exploradores que procuravam ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
No século 17, quando a ocupação portuguesa avançou sobre os Pampas da região Sul, o fila brasileiro acompanhou os aventureiros. A distribuição desses cães era mais comum no Sudeste e no Sul, mas há gravuras de animais semelhantes retratados no Nordeste ainda no século 18.
No século 19, o príncipe Maximilian Neuwied, da Renânia (atual Alemanha), visitou o país e fez desenhos de cães, à época chamados onceiros, cabeçudos e boiadeiros, no sul da Bahia. Os animais desenhados apresentam formato retangular (como os atuais), mas as orelhas eram cortadas. Os vaqueiros representados usam chapéus e gibões de couro, típicos da região.
Na década de 1930, alguns cães da raça – chamados de filas nacionais – começaram a ser apresentados em exposições caninas. Os onceiros e boiadeiros foram descobertos pelos habitantes urbanos de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Os primeiros criadores foram Benedito Faria de Camargo e Paulo Santos Cruz, o primeiro a descrever o padrão do fila brasileiro, em 1954. Finalmente, nos anos 1970, foram realizados os primeiros cruzamentos para abrandar o temperamento dos cães da raça.
Surgiu uma grande polêmica: de um lado, os criadores que acreditavam ser o cão de fila um animal com “ojeriza natural” a estranhos – e, portanto, destinado à guarda de pessoas e propriedades. De outro, os criadores que percebiam o fila como um bom companheiro da família e de crianças; desta forma, ele não seria naturalmente agressivo e violento.
No padrão atualmente adotado, o termo “ojeriza” foi atenuado e substituído por “aversão”. As tentativas de alteração da raça, surgidas nas décadas de 1970 e 1980 para atenuar a agressividade, foram abandonadas.
Surgiu nessa época uma associação independente de criadores, o CAFIB (Clube de Aprimoramento o Fila Brasileiro), que até hoje defende o padrão da raça sem as mestiçagens. O clube inclusive rejeita algumas linhagens reconhecidas pela CBKC.
O padrão da raça fila brasileiro
O fila brasileiro faz parte do Grupo 1 da FCI, que engloba pinschers e schnauzers, molossoides, boiadeiros e montanheses suíços e raças assemelhadas. A raça faz parte da Seção 2.1, dos cães molossoides tipo mastife.
Atualmente, em exposições e competições oficiais (no Brasil e no exterior), o fila brasileiro não é mais submetido a provas de trabalho. A CBKC atualizou o padrão pela última vez em 2016.
O fila brasileiro é tipicamente molossoide, apresentando ossatura poderosa, figura retangular, compacta, harmoniosa e proporcional. Aliada à forte massa muscular, o cachorro apresenta grande agilidade concentrada. As fêmeas devem exibir feminilidade bem pronunciada, diferenciando-se dos machos nitidamente.
De acordo com as últimas atualizações, o fila brasileiro apresenta o focinho ligeiramente mais curto do que o crânio e o comprimento do tronco, medido da ponta do esterno à raiz da cauda, excede a altura na cernelha em 15%.
O fila brasileiro é um cão corajoso e determinado, dócil com a família, obediente e extremamente tolerante com crianças. Trata-se de um animal extremamente fiel, que sempre procura a companhia dos tutores.
O comportamento sereno revela segurança e autoconfiança. Os cães da raça fila brasileiro absorvem perfeitamente ruídos e ambientes estranhos. É fiel à guarda da propriedade, dedicando-se também, por instinto, ao acompanhamento do gado e de animais de grande porte.
A raça se caracteriza pela aversão a estranhos, devendo ter manejo controlado em pistas de exposição (também nas caminhadas diárias). Em repouso, a expressão é tranquila, nobre e segura. Não apresenta olhar vago, nem de tédio. Em atenção, a expressão é de determinação, com olhar firme e penetrante.
• Cabeça – grande pesada e maciça, em harmonia com o tronco. Visto de cima, o aspecto é periforme, inserido em um trapézio. De perfil, o crânio e o focinho apresentam proporção aproximada de 1:1, com o focinho ligeiramente menor.
O crânio, visto de perfil, mostra uma curva suave do stop ao occipital, que é bem marcado e saliente (especialmente nos filhotes). De frente, o crânio é largo, amplo, com uma linha superior ligeiramente arqueada. As faces descem em curva quase vertical, estreitando-se em direção ao focinho, sem fazer degrau.
Visto de frente, o stop é quase inexistente. O sulco sagital (entre os hemisférios do cérebro) apresenta uma ascendência suave até a metade do crânio. Visto de perfil, o stop é baixo e inclinado, formado pelas arcadas dos supercílios, que são bem desenvolvidas.
• Face – a trufa apresenta narinas pretas largas e bem desenvolvidas, mas sem ocupar toda a largura do maxilar. O focinho é forte, largo e profundo. Visto de cima, é cheio abaixo dos olhos, estreitando-se levemente até o meio e voltando a alargar-se, também levemente, até a curva anterior. Visto de perfil, a linha superior é reta ou levemente romana. As linhas anterior e superior são quase perpendiculares, com ligeira depressão da linha anterior logo abaixo da trufa.
Os lábios superiores, que são grossos e pendentes, sobrepõem-se aos inferiores e seguem em uma curva, da linha inferior do focinho até a comissura labial, que é sempre aparente. Os lábios inferiores são bem ajustados à mandíbula, da ponta do queixo até os dentes caninos. Daí para trás, são soltos, com bordas denteadas.
O focinho apresenta boa profundidade na raiz, sem ultrapassar o comprimento. Na oclusão (fechamento) dos lábios, a rima labial se delineia em formato de “U” invertido, bastante profundo.
O maxilar e a mandíbula, fortes e claros, são mais largos do que altos. Os dentes incisivos superiores apresentam-se largos na base e afilados nas pontas. Os caninos são fortes e poderosos, bem inseridos e afastados. O fila brasileiro deve apresentar, preferencialmente, mordedura em tesoura.
Os olhos, razoavelmente grandes, são inseridos bem afastados. O formato é amendoado e a inserção, de média a profunda. A coloração, sempre combinando com a pelagem, vai do castanho-escuro ao amarelado, sendo que os olhos escuros são os mais desejáveis. Em função da pele solta, muitos filas brasileiros apresentam pálpebras caídas, que reforçam o “aspecto triste” típico da raça. As pálpebras são bem pigmentadas.
As orelhas em forma de “V” são grandes e espessas. Largas na base, vão se estreitando em direção às bordas arredondadas. A inserção das orelhas fica na altura da linha média dos olhos (mais elevada quando em atenção) e é inclinada, com o bordo anterior mais ato do que o posterior. Em repouso, as orelhas são portadas caídas ou dobradas para trás, revelando o pavilhão auditivo.
• Pescoço – é extraordinariamente forte e musculoso, dando impressão de ser curto. A linha superior é levemente arqueada, mas coloca em destaque a passagem do crânio para a nuca. A garganta do fila brasileiro apresenta barbelas.
• Tronco – forte, largo e profundo, revestido de pele grossa e solta. O tórax é mais longo do que o abdômen.
Na linha superior, a cernelha é inclinada e aberta, devido ao afastamento das escápulas. A cernelha é ligeiramente mais baixa do que a garupa. O plano inclinado (em ascendente) da cernelha para a garupa não apresenta tendência para sela ou carpeamento.
O tórax revela costelas com bom arqueamento, sem influenciar na posição dos ombros. O peito é largo e profundo, atingindo a altura dos cotovelos. O antepeito se mostra bem saliente.
Os flancos são menos profundos e longos do que o tórax, mostrando as partes que os integram. Nas fêmeas, as abas dos flancos são mais desenvolvidas. Vistos de cima, os flancos são menos largos do que o tórax e a garupa, mas não chegam a marcar uma cintura.
A garupa, angulada a aproximadamente 30° com a horizontal, é larga, longa e apresenta uma curva suave. Fica um pouco mais alta do que a cernelha. Vista de trás, a garupa deve ser ampla, de largura equivalente ao tórax, podendo ser ainda mais larga nas fêmeas.
A linha inferior revela o peito longo e paralelo ao solo, em toda a sua extensão. O abdômen é suavemente ascendente, mas não pode ser esgalgado.
• Cauda – de raiz larga e inserção média, a cauda vai se afinando rapidamente. A ponta alcança a altura dos jarretes. Quando o fila brasileiro está excitado, ele porta a cauda elevada, acentuando a curva na extremidade. A cauda não deve enroscar-se, nem ficar deitada sobre o dorso.
• Membros – o comprimento dos dianteiros, do solo ao cotovelo, deve equivaler à metade da altura do solo à cernelha. Os ombros são estruturados por dois ossos (úmero e escápula) de tamanhos iguais.
A escápula do fila brasileiro faz um ângulo de 45° com a horizontal e de 90° com o úmero. A articulação entre a escápula e o úmero, que forma a ponta do ombro, situa-se no mesmo nível e um pouco atrás da ponta do esterno.
O ideal é que o ombro ocupe o espaço entre a cernelha e o esterno, e que a ponta do ombro se situe no meio desta distância. Uma reta perpendicular, traçada a partir da cernelha, deve atravessar o cotovelo e atingir a pata.
Os braços são paralelos, com ossatura reta e poderosa. Os carpos são fortes e aparentes e os metacarpos, curtos, levemente inclinados. As patas são formadas por dedos fortes e bem arqueados, não muito juntos, apoiados sobre digitais espessas que contornam coxins plantares largos, profundos e grossos. As unhas são fortes e escuras, mas podem ser brancas se esta for a cor do dedo respectivo.
A ossatura dos membros posteriores também é forte, mas ligeiramente mais leve do que a dos anteriores, sem parecer fina em relação ao todo. As pernas são paralelas.
As coxas são largas e apresentam contorno abaulado, formadas por músculos que descem do ísquio e do ílio. Estes ossos do quadril delineiam a curvatura dos glúteos, razão por que é exigido um ísquio de bom comprimento.
Os tarsos são fortes, enquanto os metatarsos são levemente inclinados e mais altos do que os metacarpos. As angulações dos joelhos e dos jarretes são moderadas. As patas traseiras são semelhantes às dianteiras, apenas um pouco mais ovaladas. O fila brasileiro não deve apresentar ergôs.
• Movimentação – os passos são largos e elásticos, lembrando os de um felino. A característica principal é o passo de camelo: dois membros de um mesmo lado avançam antes, para depois serem movidos os membros do outro.
Este tipo de passada confere ao fila brasileiro um movimento gingante, com balanço lateral do tórax e dos quadris (“roll”), que é acentuado na cauda, quando esta está erguida. Ao caminhar, o fila brasileiro mantém a cabeça abaixo da linha superior do tronco.
O trote é fácil, suave e livre, com passadas largas, bom alcance e rendimento. O galope é poderoso: o fila brasileiro atinge velocidades incomuns para cães molossoides. Mas, como todo cão de grande porte, a movimentação dos animais da raça é determinada pelas articulações típicas, que proporcionam mudanças de direção rápidas e súbitas.
• Pele – é uma das principais características da raça. A pele é grossa e solta em todo o corpo, especialmente no pescoço, onde forma barbelas acentuadas, que, em alguns animais, se estende pelo tórax e o abdômen.
Alguns cães da raça apresentam dobras nas faces laterais da cabeça e também na cernelha (estas últimas descem até os ombros). Quando o fila brasileiro está em repouso, a cabeça não apresenta rugas; quando está excitado, as contrações para erguer as orelhas formam pequenas dobras longitudinais na pele do crânio.
• Pelagem – o pelo é baixo, assentado, macio e espesso. Os filas brasileiros apresentam pelagem dourada, baia ou preta, podendo ser tigrados. Alguns exemplares apresentam máscara preta.
Em todas as cores, são admitidas marcações brancas nas patas, no peito e na ponta da cauda. No restante da pelagem, manchas brancas são indesejáveis.
• Tamanho e peso – na altura da cernelha, os machos medem de 65 cm a 75 cm e as fêmeas, de 60 cm a 70 cm. O peso mínimo dos machos é de 50 kg e o das fêmeas, de 40 kg. Peso e altura devem ser proporcionais.
As faltas
Em competições e exposições oficiais, qualquer desvio dos termos do padrão oficial são despontuados na proporção da gravidade e dos efeitos sobre a saúde e bem-estar dos cachorros.
As seguintes faltas são observadas pelos árbitros:
- mordedura em torquês;
- focinho curto;
- orelhas pequenas ou de implantação alta;
- olhos excessivamente claros;
- prognatismo inferior;
- rugas no crânio, quando o cachorro está em repouso;
- papadas;
- dorso selado;
- garupa muito estreita;
- cauda portada enroscada, acima da linha do dorso;
- peito pouco profundo;
- desvios acentuados dos metacarpos e metatarsos;
- membros posteriores muito angulados;
- passos curtos.
São consideradas faltas graves:
- apatia e timidez;
- figura quadrada;
- cabeça pequena;
- stop pronunciado, quando visto de frente;
- lábios superiores curtos;
- olhos protuberantes ou redondos;
- despigmentação nas pálpebras;
- falta de dois ou mais dentes (exceto pré-molares P1);
- falta de barbelas;
- dorso carpeado;
- linha superior do tronco plana;
- linha inferior do tronco excessivamente esgalgada;
- ossatura leve ou falta de substância;
- jarretes de vaca (desaprumo das patas posteriores, que se abrem para os lados);
- perna de porco (falta de angulação dos posteriores);
- marcações brancas que excedam um quarto da pelagem;
- altura acima do estabelecido no padrão;
- sensibilidade negativa ao tiro.
As faltas seguintes são eliminatórias:
- agressividade com o tutor;
- anomalias físicas ou comportamentais;
- covardia;
- trufa cor de carne (despigmentação);
- prognatismo superior;
- prognatismo inferior que deixe os dentes à mostra, com a boca fechada;
- falta de um dente canino ou molar (exceto o terceiro);
- olhos azuis ou porcelanizados;
- orelhas ou cauda operadas;
- garupa mais baixa do que a cernelha;
- ausência do passo de camelo;
- ausência de pele solta;
- abaixo da altura mínima;
- albinismo.
Além disso, estão fora das competições oficiais todos os cães com pelagem branca, cinza-rato, azul, preto e castanho (black and tan) e fulvo e castanho. Os filas campeões também não podem ser salpicados (manchetados ou cor de codorna) nem malhados.
Os cuidados com o fila brasileiro
O fila brasileiro é um cachorro rústico, acostumado a dormir ao relento, acompanhando rebanhos e caravanas. Ele não é dado a latir muito e, quando isso acontece, existe sempre um bom motivo – e é prudente verificar.
Ele também não é um animal destruidor. Não é do feitio do fila brasileiro destruir móveis e roupas. No entanto, é ideal que o cachorro tenha o seu espaço: uma casa ampla em um quintal é o paraíso da raça. Ele pode passar horas apenas observando o movimento – ou a falta dele.
É importante acostumá-lo desde pequeno sobre os espaços por onde ele pode transitar. O fila brasileiro é um cachorro imenso e ativo; por isso, não é recomendado que ele partilhe a sala ou o quarto com a família, mesmo porque os cães da raça não exibem a elegância de alguns primos, como os rough collies e os dálmatas.
De qualquer forma, o fila brasileiro precisa de companhia. Os tutores precisam dedicar alguns momentos do dia para brincar ou apenas deixar o cachorro ao lado. Eles gostam de pousar a cabeça no colo, pedindo carinho. Os grandões também podem ser dengosos.
O adestramento é fundamental para a raça. A maioria dos exemplares não exibe comportamento violento, mas o instinto de proteção sempre fala mais alto – e eles podem concluir que um entregador ou uma visita representa um risco para a família.
Os ancestrais do fila brasileiro eram boiadeiros: a raça está acostumada a lidar com animais de grande porte. Por isso, é importante acostumá-los com o trânsito de carros e pedestres, para que eles entendam que buzinas, freadas e outros ruídos fazem parte da paisagem cotidiana.
Do contrário, eles podem identificar uma motocicleta (ou mesmo um carro compacto) com uma rês desgarrada. Nesses casos, eles farão o possível e o impossível para trazer o “fugitivo” de volta ao rebanho.
O adestramento dos filhotes de fila brasileiro começa com os comandos simples (“sim”, “não”, “fica”, etc.), passando pelo aprendizado dos espaços de trânsito. Inicialmente, podem ser usadas grades de proteção móveis, mas os filas aprendem rápido e não são dados a desafiar os tutores, invadindo “áreas proibidas”.
O fila é um animal inteligente, que pode surpreender os tutores pela capacidade de aprendizado. Os comandos de obediência são rapidamente incorporados e eles também podem ser treinados para fazer rondas. Com muita cautela, em função do porte e da força, estes cães podem ser treinados para ataque e defesa e ataques de alto impacto.
Os passeios diários são importantes, para que o cachorro se acostume com o fluxo de pessoas e carros e também porque os cães da raça estão acostumados a percorrer longas distâncias diariamente. Ficar parado os deixa entediados.
Nos passeios, é recomendado o uso de guia curta, para facilitar a condução. Em algumas cidades brasileiras o fila brasileiro só pode circular em áreas públicas com o uso de focinheira, mesmo que seja um animal dócil e obediente.
O fila deve aprender a diferenciar os momentos de trabalho e de lazer. Apesar de não ser um cão bagunceiro, é importante que ele reconheça a hora das brincadeiras, inclusive em função do porte: não é nada agradável ser interceptado por um canzarrão quando se chega à casa carregado de pacotes.
Dependendo do local de residência, os passeios podem ser aproveitados como momentos ideais para os banhos de Sol. O fila brasileiro apresenta ossatura forte e complexa: o Sol ajuda a fixar a vitamina D e fortalece a saúde dos ossos, dentes, unhas e pelos. Os horários ideais são antes das 10h ou depois das 16h, quando os raios ultravioleta estão mais inclinados e a incidência é menos intensa.
A frequência dos banhos depende da intensidade da atividade física e dos locais que o cachorro costuma percorrer. Ele pode ser banhado semanalmente ou de seis em seis semanas, caso passe a maior parte do tempo em pisos cimentados, longe da terra e da água. No inverno, os banhos precisam ser mais espaçados.
A pelagem pode ser escovada uma vez por semana. Como os pelos são curtos e deitados, não costumam acumular sujeira. O fila brasileiro também não apresenta tendência a perder pelos, mas é importante escová-lo, inclusive para verificar a presença de parasitas.
As unhas e orelhas, por outro lado, devem ser verificadas com regularidade. As unhas devem ser aparadas sempre que começarem a bater no piso, para não atrapalhar a movimentação do cachorro.
O fila brasileiro apresenta tendência a acumular muita cera nos ouvidos, que deve ser retirada com regularidade, para evitar infecções nas orelhas. Alguns animais costumam portar as orelhas deitadas para trás, deixando o pavilhão auditivo parcialmente exposto; isto é característico da raça, mas e também uma forma de acumular ainda mais sujeira.
Os cães da raça tendem a acumular secreções nos olhos, que precisam ser inspecionados com frequência. O excesso de secreções pode ser retirado com uma gaze embebida em soro fisiológico (em temperatura ambiente).
A saúde do fila brasileiro
O fila brasileiro é um cachorro saudável e forte. Por ser descendente de uma miscigenação entre diversas raças caninas e também por ter fixado as características genéticas há séculos, ele não costuma apresentar anomalias típicas da raça.
Como todo cão de grande porte, no entanto, o fila brasileiro pode ter problemas ósseos e articulares. A displasia de cotovelo e de quadril é relativamente comum, apesar de estar sendo combatida em cruzamentos seletivos.
Por outro lado, o fila brasileiro pode se tornar extremamente guloso. A insuficiência de exercícios físicos e o excesso de alimentos (especialmente petiscos e guloseimas) pode causar sobrepeso, que facilita o desenvolvimento de problemas, especialmente os osteomusculares e os cardiorrespiratórios. A obesidade, aliás, é o problema de saúde mais comum entre os filas.
As infecções de ouvido são relativamente frequentes entre os cães da raça: por isso, as orelhas devem ser inspecionadas regularmente e secas com cuidado após os banhos – inclusive de chuva. As infecções repetidas podem levar a uma otite crônica, que prejudica o bem-estar dos animais e pode inclusive levar à surdez.
Os filhotes de fila brasileiro
Os cãezinhos de fila brasileiros devem ser alimentados, desde o desmame até completarem 18 meses de vida, com rações de crescimento especiais, indicadas para filhotes com metabolismo acelerado e rápido ganho de peso e de massa corporal.
Os alimentos enriquecidos com cálcio e fósforo, no entanto, devem ser interrompidos quando os cães de tornam adultos, uma vez que eles estão associados à obesidade e a transtornos nos ossos e nas articulações.
Os filhotes são ainda mais gulosos e, por isso, devem ter a ração diária fracionada em porções: cinco refeições até os seis meses, quatro até os 12 meses e três até os 18 meses. Eles são muito vorazes e esta característica pode levar a uma torção gástrica (quando o estômago se dilata e gira na cavidade abdominal).
Os filhotes devem dormir no local destinado pela família desde a primeira noite. É possível que eles chorem a noite toda (e algumas outras noites também), mas, se estiverem em um lugar aquecido e confortável, eles se acostumarão em menos de uma semana.
Os tutores não devem cair na “tentação do filhotinho fofo e desprotegido”: o fila brasileiro cresce muito rápido e, em menos de um mês, não haverá espaço ao lado da cama para acomodá-lo – e muito menos em cima da cama.