Cachorros vivem “falando” conosco, especialmente através da linguagem corporal. Entenda a linguagem corporal dos cachorros.
“Só falta falar”. Esta é uma frase comum entre os tutores de cachorros. Quem convive com um cãozinho – ou um canzarrão – sabe que estes pets conseguem entender muitas de nossas sensações e reações. Mas, como nós fazemos para entender o que eles sentem? Observar a linguagem corporal facilita bastante o relacionamento.
Os cachorros possuem uma linguagem própria, desenvolvida durante a evolução da espécie. Eles usam posturas corporais e sons – uivos, latidos, ganidos, rosnadas – para se comunicar. Nos milênios de convivência com os humanos, os peludos aprenderam outras estratégias – inclusive imitando alguns dos nossos gestos.
Os cães são animais extremamente sofisticados. Eles são capazes de sentir alegria, amor, vergonha, raiva, ciúme (zelo) e medo. Eles também podem emitir sinais de otimismo ou pessimismo e desenvolvem sintomas de ansiedade, angústia e submissão.
“Ruídos na comunicação”
Muitas pessoas estabelecem uma relação tensa com os cachorros por não conseguir entender as ações e reações deles. Em muito casos, alguns tutores esperam demais dos pets, como se eles fossem humanos.
Não se trata de subestimar a inteligência canina. Efetivamente, eles são menos inteligentes do que nós, mas não é isso que dificulta o relacionamento. Quando os tutores falam demais, os cachorros simplesmente não entendem: eles não falam a nossa língua.
Da mesma forma, algumas atitudes humanas são ininteligíveis. Os cachorros esperam previsibilidade e estabilidade. Quando as regras mudam de uma hora para outra, eles não sabem o que fazer (em muitos casos, nós também não).
Outras regras apenas não fazem sentido. não se pode ensinar um cachorro molhado a não se sacudir para eliminar a umidade do pelo. Trata-se de um gesto natural e saudável. Quem não quer que o cachorro molhe os ambientes deve providenciar outro local para o banho.
Sinais de perigo
A linguagem corporal dos cachorros não se limita apenas a indicar contentamento, relaxamento, descontração ou, por outro lado, dúvida, confusão, raiva e medo. Os sinais também podem indicar algumas anomalias.
Ao correr atrás do próprio rabo, o cachorro quase sempre está apenas se divertindo. Quando o hábito se torna muito frequente, ou quando o pet causa ferimentos na cauda, ele pode estar com problemas neurológicos.
Lambidas excessivas nas patas podem ser indício de alergias ou de ferimentos decorrentes de traumas. Quando um cachorro passa muito tempo lambendo as patas, ele pode estar desenvolvendo um quadro de ansiedade e até de depressão.
A cabeça inclinada indica confusão, indecisão. Mas, se o pet pende a cabeça ao se movimentar, ele pode estar com inflamações nos ouvidos ou nos olhos. Nestas condições, uma paralisia facial também pode ser investigada pelo veterinário.
A linguagem corporal
Não é difícil entender a linguagem corporal dos cachorros. Apesar de algumas diferenças individuais, todos eles respondem dentro de um repertório limitado, assim como nós: ninguém diz “sim” balançando a cabeça horizontalmente e vice-versa, por exemplo.
As orelhas para trás sempre indicam que alguma coisa está errada. Os cachorros estão nervosos, irritados ou amedrontados. Em posição ereta, eles estão atentos, procurando identificar a natureza de algum estímulo, como um barulho ou movimento.
A cauda é provavelmente o apêndice mais conhecido dos tutores. Mas, além da alegria que demonstram abanando o rabo como se fosse uma bandeira, eles também usam para demonstrar medo (escondendo a cauda entre as pernas) ou atenção (posicionando a cauda no nível do tronco). O “rabo entre as pernas” também indica submissão aos tutores e a outros animais de estimação.
Um olhar fixo indica curiosidade, atenção e, certas vezes, algum nível de desconfiança. Olhar com o canto dos olhos indica confusão ou incômodo. Na presença dos tutores, o olhar enviesado quase sempre significa que os pets não entenderam o que se espera deles.
A melhor maneira de entender o que os cachorros dizem é a observação, em especial nos momentos em que eles não estão interagindo com os tutores – por exemplo, quando estão empenhados em abrir uma bolinha cheia de petiscos ou em trucidar um brinquedo de pelúcia. Basta ficar atento aos sinais do corpo.
• Ataque – o cachorro porta a cauda erguida e rígida, com movimentos rápidos e curtos, que nem de longe lembram o abanar de rabo amistoso. Os pelos ao longo da coluna vertebral ficam eriçados, a cana nasal e o focinho se franzem, as orelhas se voltam para frente e o peso do corpo pende para as patas dianteiras.
O cachorro identificou uma ameaça real e está pronto para atacar. O adestramento é fundamental para que o tutor consiga controlar as ações do peludo. Os pelos eriçados são uma estratégia de diversos animais para que pareçam maiores; o rosto franzido demonstra o potencial ofensivo.
• Atenção e alerta – o cachorro fica com as orelhas eretas (na medida do possível), com o pavilhão auditivo voltado para frente. A cauda fica se alinha ao tronco, a boca permanece fechada e as pernas dianteiras ficam paralelas.
Esta posição indica que o cachorro está prestes a partir para a ação. Ele ouviu um ruído estranho, observou alguma coisa diferente no passeio diário ou percebeu alguém entrando em casa (ou no “local de trabalho”). A reação será vinculada ao temperamento e à gravidade da situação.
• Bocejo – não se trata de sono ou cansaço (aliás, a ciência ainda não descobriu as razoes por que nós bocejamos). O abrir da boca indica estresse ou incômodo em relação a um estímulo qualquer. Os pets aprendem esta reação desde filhotes: quando são pegos no colo, eles sentem medo e demonstram o desconforto bocejando.
Mas o bocejo, quando é uma repetição do gesto humano, significa apenas cumplicidade e calma. Quando os tutores bocejam – especialmente no final da noite ou depois de uma refeição –, os pets apenas imitam, demonstrando que estão prontos para relaxar e dormir.
• Defesa – o cachorro eriça os pelos, coloca a cauda entre as pernas traseiras, baixa levemente a garupa, direciona as orelhas para trás e as pupilas se dilatam. Ele identificou uma ameaça e está sentindo medo e está em dúvida se deve enfrentar ou esconder-se.
Provavelmente, o peludo avaliou a situações e percebeu que não tem condições de enfrentar a ameaça que se aproxima – pode ser um intruso na casa, uma saraivada de fogos de artifício ou a aproximação de uma tempestade. A grande maioria dos pets, nestas condições, se torna agressiva; cabe ao tutor acalmá-lo e mostrar que está controlando a situação.
• Desvio do olhar – o gesto tem duas interpretações. Na presença de pessoas conhecidas, especialmente da família, os cachorros evitam olhar diretamente quando são observados porque eles se sentem testados, avaliados. Com estranhos invasivos, que gostam de abraçar e beijar, os pets simplesmente estão demonstrando desconforto com a intimidade excessiva.
Muitas vezes, o desvio é entendido como a percepção de que o pet fez algo errado. Nem sempre isso acontece. Cachorros gostam de agradar e não entendem certas regras, como não sujar o tapete com as patas cheias de terra (isso não faz nenhum sentido para eles). O olhar desviado indica confusão, a sensação de ter feito uma arte, mas o pet não faz ideia do que poderia ser.
• Lambidas no focinho – a menos que o focinho esteja lambuzado ou sujo, estas lambidas indicam desconforto, irritação ou nervosismo. Quanto mais rápidas as lambidas, mais perto do limite de paciência o cachorro está.
Os cachorros ajustados e bem adestrados dificilmente reagirão a uma situação desconfortável, mas as lambidas no focinho podem indicar preferências pessoais: se o cachorro faz isso quando o rosto é soprado no rosto, ou quando bolhas de sabão são soltas perto dele, ele está indicando que não gosta da brincadeira. Alguns adoram; é uma questão de personalidade.
• Mordidas na mão – este e um convite simples e bastante: o cachorro quer brincar e pretende atrair a atenção dos tutores. Normalmente, os pets fazem isso quando não foram condicionados a respeitar horários específicos para as brincadeiras.
É importante notar que essas mordidas são inofensivas. Os cachorros sabem a força que têm nos dentes. Se as mordidas forem dolorosas, é um sinal de que o peludo não identifica liderança no tutor – e provavelmente está tentando “assumir o comando”.
• Neutralidade – a cauda fica relaxada e caída, sem indícios de tensão. O cachorro mantém a boca entreaberta, com os cantos sem nenhum retesamento. As orelhas permanecem na posição natural ou são levemente portadas para trás.
Esta é uma posição comum depois da “festa de retorno”, quando pet e tutor se reencontram. O cachorro também pode se mostrar neutro depois de uma atividade física moderada. É um sinal de que ele está se sentindo seguro e confortável em relação às pessoas e ao ambiente.
• Rosnadas – elas não significam apenas agressividade. Quando elas são acompanhadas de gestos naturais e amplos – como uma correria, apenas vocalizam a satisfação dos cachorros. Mas, acompanhadas de dentes à mostra ou focinho franzido, elas indicam raiva, medo, ameaça ou defesa.
A apropriação de alguns recursos é natural por parte dos cachorros, mas é importante que eles sejam treinados a não rosnar quando o tutor retira a ração ou um brinquedo, por exemplo. Nesses casos, a rosnada indica tentativa de insubordinação e deve ser reprimida prontamente, para que o pet se mantenha submisso à família humana.
• Sobrancelhas levantadas – este é um gesto que os cachorros provavelmente aprenderam com os humanos: ele não é apresentado na mesma intensidade e frequência pelos lobos e outras espécies de canídeos selvagens. O levantar das sobrancelhas indica dúvida e indecisão.
O gesto consegue atrair a atenção dos tutores para os pets. Ao elevar as sobrancelhas, os cachorros deixam os olhos mais arredondados, semelhantes aos dos filhotes. Mostram-se desprotegidos e carentes, demandando a proteção dos tutores.
• Submissão – os cachorros são animais gregários e organizam-se em uma hierarquia rígida. Para se mostrarem submissos (ao tutor ou a outro cão da casa), eles baixam o corpo, deixam a cauda abaixo da linha do tronco e colocam as orelhas para trás.
Muitos cães também podem tentar lamber a boca do “superior hierárquico” e quase sempre evitam o contato visual direto. Esta é uma posição comum quando eles sabem que fizeram alguma travessura ou quando o “chefe do pedaço” decide demonstrar liderança.
A submissão também pode ser passiva: o cachorro se deita de costas e vira a cabeça de lado, deixando o abdômen exposto: é um sinal de que não pretende desafiar a autoridade. É um sinal de confiança e o pet espera uma reação positiva: um agrado que demonstre estar tudo bem no relacionamento doméstico.
Os cachorros, aliás, quase nunca mostram a barriga. Se o seu peludo dorme assim, é um sinal de que ele confia plenamente em você e na família e sente-se seguro, pacificado e relaxado em casa.
• Traseiro levantado – quando o cão empina a garupa – podendo dobrar as patas dianteiras ou apenas baixa-las um pouco, ele está demonstrando amistosidade. Ele quer travar contato com alguém – um humano, cachorro ou gato, por exemplo – e está afirmando que os dois podem se divertir bastante.
O traseiro levantado pode vir acompanhado por patadas no chão, latidos breves e abanos da cauda. Este é um dos principais motivos por que muitos gatos não se dão bem com cachorros: entre os felinos, levantar os quadris indica resposta a um ataque, uma linguagem corporal totalmente diferente.