Será que os cachorros choram? Eles são capazes de demonstrar emoções como os humanos?
Não é nenhuma novidade para os tutores que os cachorros têm sensações e sentimentos. Eles conseguem demonstrá-las de diversas maneiras, especialmente com a linguagem corporal e com expressões fisionômicas. Mas, será que os cachorros realmente choram?
As emoções e sensações causam reações fisiológicas. É o caso das lágrimas, cuja produção atende à necessidade de lubrificar os olhos, mantendo-os limpos e saudáveis. Entre os humanos as lágrimas também servem para expressar dor e tristeza.
Evidentemente, os cachorros também apresentam essas emoções, assim como boa parte dos animais superiores. O choro dos peludos quase sempre se revela por uivos, ganidos e outros ruídos curtos e intermitentes. Todos os tutores sabem identificar o choro e a tristeza dos filhos de quatro patas.
Lágrimas nos olhos?
O choro, entre nós, é uma construção cultural. Além da reação orgânica, chorar é uma convenção humana, para demonstração da dor, da tristeza e do luto por qualquer perda. Mas um estudo, publicado em 2022 na revista científica “Current Biology” demonstrou que os cachorros também choram – tanto nos momentos tristes, quanto nos de alegria.
Tudo começou quando um professor japonês percebeu que uma das suas cachorras, da raça poodle, vertia lágrimas enquanto amamentava os filhotes recém-nascidos. A partir de então, Takefumi Kikusui, do Laboratório de Interação e Reciprocidade Humano-Animal da Universidade de Azabu, resolveu estudar as reações emocionais dos cães.
Os cachorros não choram como nós, deixando as lágrimas escorrerem pela face. O motivo é óbvio: os pelos absorvem as secreções. Mesmo assim, no decorrer dos estudos, ficou evidente que o choro estava associado a sensações e sentimentos.
O autor da pesquisa, que consumiu seis anos, envolveu uma equipe de 12 técnicos e analisou as reações de centenas de cachorros, concluiu que estes animais também derramam lágrimas, mas associadas a momentos de felicidade.
Seres sencientes
Assim como nós, os cachorros são capazes de reagir a situações do cotidiano demonstrando sensações, emoções e sentimentos. Esta capacidade recebe o nome de senciência e está associada à percepção e à consciência.
Dor, medo, ansiedade, tristeza e alegria não são reações exclusivas dos seres humanos. A ciência já comprovou que elas estão presentes em diferentes espécies – entre elas, o Canis lupus familiaris, o nosso melhor amigo.
Durante muito tempo, a senciência – a percepção consciente da interação – permaneceu reservada apenas aos humanos. Mesmo considerando que a interpretação dos estímulos sensoriais é mais complexa na nossa espécie, sabe-se hoje que esta capacidade difere apenas na intensidade.
Do ponto de vista biológico, a função mais importante do cérebro é gerar comportamentos capazes de promover o bem-estar. O desenvolvimento do sistema nervoso central, comum a todos os vertebrados, permitiu o desenvolvimento de mentes sofisticadas na percepção, processamento e análise dos estímulos exteriores. Os cachorros são capazes de sentir e de reagir às sensações e aos sentimentos, diferindo dos humanos apenas na intensidade.
Eles são capazes de chorar, mas, aparentemente, o aumento do volume das lágrimas está associado a situações positivas. Em momentos de tristeza e dor, os cachorros reagem de maneira diversa da apresentada pelos humanos.
Cachorros choram de tristeza
Quando um cachorro está triste, ele demonstra o sentimento claramente e as lágrimas podem surgir, assim como ocorre com o aumento da produção de suor e saliva: são respostas fisiológicas aos estímulos de dor, medo, ansiedade e perda.
Os humanos construíram o choro culturalmente. Chorar se tornou uma expressão de luto e de raiva, provocada nas mais diferentes situações. Na convivência com os tutores, os cachorros também parecem estar elaborando essas expressões.
A tristeza é demonstrada principalmente através da linguagem corporal e das expressões fisionômicas. Cada cachorro é capaz de desenvolver reações individuais, mas algumas são facilmente identificáveis mesmo por pessoas estranhas.
Quando estão tristes, os peludos tendem a tensionar a musculatura. Manter a cabeça e a garupa abaixadas também é uma reação bastante frequente. Eles podem se isolar, recusar brincadeiras e até mesmo alimentos.
Algumas respostas são mais preocupantes. Quando se sentem tristes, além de chorar, salivar em excesso e vocalizar com uivos e ganidos, alguns cachorros podem perder o apetite e exibir mudanças bruscas de comportamento. Um animal extremamente sociável pode se isolar, mostra-se mal-humorado ou até mesmo agressivo.
Os cachorros tristes costumam lamber o focinho e as patas exageradamente. Coçar-se e bocejar também são sinais de algum tipo de insatisfação. Em casos mais graves, os peludos chegam a se automutilar.
É importante considerar que os cachorros são extremamente empáticos – esta é uma das razões por que o relacionamento entre eles e nós é tão próximo e forte. Quando eles percebem que os tutores estão tristes, desanimados, doentes ou irritados, também podem exibir sinais de “baixo astral”.
Os cachorros se entristecem profundamente com a ausência de um membro querido da família. Os mais ansiosos podem ficar deprimidos até mesmo por causa das saídas constantes dos tutores.
A morte de um parente (inclusive de outros pets da família), uma ausência prolongada e até mesmo a perda de um dos brinquedos favoritos é motivo suficiente para um cachorro ficar triste e, em alguns casos, chorar pelos cantos da casa.
Felizmente, os cachorros não são muito exigentes, quando se trata de relacionamentos afetivos. As necessidades são básicas: alimentação, agasalho, carinho, brincadeiras e alguns momentos de atenção.
Os tutores podem manter os cachorros satisfeitos oferecendo alimentos de qualidade (inclusive alguns petiscos eventuais), enriquecendo o ambiente com jogos e explorações, garantindo atividade física de acordo com o porte, a saúde e o temperamento e, claro, dispensando alguns momentos para simplesmente ficar ao lado deles, estreitando os vínculos afetivos da família.
Quando se observa um cachorro choramingando pelos cantos, um passeio prolongado pode ser a solução. A tristeza quase sempre está associada ao tédio, à falta de atividades. Sempre respeitando as características individuais, é possível propor novas brincadeiras e atividades, mesmo que seja por apenas uma hora diária.
Caso a agenda dos tutores não permita essa interação tão necessária, pode-se contratar um passeador ou matricular o cachorro em uma escolinha. O ideal, no entanto, é a convivência próxima da família.
Mas, se mesmo com todos estes cuidados, o cachorro continuar chorando, demonstrando tristeza, ansiedade ou medo, é preciso consultar um veterinário de confiança. Diversos problemas orgânicos podem se manifestar inicialmente apenas com alterações no comportamento.