Trata-se de uma infecção uterina que ocorre durante o cio. Entenda a piometra em cadelas, as causas, os sintomas e como é feito o tratamento.
Apesar do nome pouco conhecido, a piometra canina é uma doença relativamente comum – trata-se da afecção uterina mais frequente nas cadelas depois que atingem a maturidade sexual. é classificada como uma infecção secundária devida a uma combinação de fatores: aumento da progesterona no final do cio, alterações morfológicas do endométrio e infecção por bactérias oportunistas.
A doença afeta cadelas a partir dos cinco anos de idade e rottweilers e golden retrievers estão entre as raças mais suscetíveis, apesar de haver casos comprovados entre cadelas de todos os portes e raças. Caso não seja tratada de maneira adequada, a infecção pode acarretar uma série de complicações, inclusive evoluindo para o óbito.
Dança de hormônios
A piometra em cadelas é decorrente do ciclo reprodutor das cadelas. No início do cio, o estrogênio induz e liberação dos óvulos pelos ovários e determina algumas alterações físicas que predispõem as fêmeas ao acasalamento.
No final deste período, as taxas de estrogênio decaem e aumentam os níveis de progesterona, necessários à adaptação do organismo canino a uma possível gravidez. Mesmo sem acasalar, uma cadela pode apresentar sintomas de gestação (a gravidez psicológica) decorrentes desta alteração hormonal.
É a progesterona que causa o espessamento do endométrio, para viabilizar a implantação dos zigotos (óvulos fecundados, unificados a espermatozoides) às paredes do útero. Esta nidificação é o passo inicial da gestação.
As cadelas, porém, passam pelo cio duas vezes por ano, em um longo processo de elevação e redução dos hormônios. A partir da puberdade (entre seis e 18 meses de vida), as pets experimentarão este vaivém hormonal até o final da vida, a menos que sejam castradas.
A piometra em cadelas
A piometra canina é uma infecção no útero que ocorre apenas durante o cio – mais especificamente, no final dele. Neste período, o útero das cadelas sexualmente ativas (todas as fêmeas adultas, independente de terem contato com machos) fica muito mais sensível.
Ele se prepara para uma possível gravidez e o endométrio (tecido que reveste o órgão internamente) se torna mais espesso e recebe uma quantidade maior de sangue, exatamente para que os óvulos fecundados possam se fixar, dando início ao desenvolvimento embrionário.
Mais exposto, o útero pode receber invasões bacterianas. O canal vaginal, que liga o útero à vulva, está relaxado e a própria vulva mostra-se inchada: são os sinais de que a cadela está pronta para cruzar. Em fêmeas não castradas, este processo metabólico se repete duas vezes por ano, desde a puberdade até o fim da vida – as cachorras desconhecem a menopausa.
As causas da piometra
As bactérias causadoras da piometra canina vivem normalmente no organismo das cadelas, principalmente no intestino grosso, e podem transitar pelos genitais. O problema ocorre quando um desequilíbrio hormonal das cadelas favorece a proliferação excessiva destes micro-organismos.
No fim do período do cio, verifica-se um aumento da progesterona, um dos principais hormônios sexuais femininos, responsável, entre outras coisas, pelo espessamento do endométrio. Esta oscilação cria condições favoráveis para a multiplicação das bactérias – no caso das cadelas, a principal responsável é a Escherichia coli.
No entanto, a E. Coli não pode ser vista como a vilã da história. Ela representa 0,1% do total das bactérias presentes no intestino dos animais de sangue quente (alguns répteis, todas as aves e mamíferos, inclusive nós).
Em condições normais, ela é a responsável pela absorção da vitamina K, nutriente associado à coagulação do sangue – animais carentes do nutriente sofrem com hemorragias e dificuldade de cicatrização. A piometra canina resulta apenas de um distúrbio metabólico.
O cio também é um período em que os glóbulos brancos – as células de defesa do nosso sangue – são reduzidos na circulação sanguínea do útero. A progesterona, além de estimular a proliferação das bactérias, também reduz a capacidade de defesa orgânica.
Isto tudo é necessário para que os embriões se fixem e se desenvolvam no útero. Na natureza, as lobas costumam engravidar a cada cio – e a gestação evita a proliferação das bactérias. Nossas cadelas, no entanto, não têm contato sexual tão frequente. A maioria não tem contato nenhum.
As bactérias, no entanto, aproveitam o período de maior abertura do colo do útero para causar infecções, que se tornam mais comuns à medida que as cadelas passam por vários cios sem engravidar. Quanto mais espesso fica o endométrio, maiores são as probabilidades de desenvolvimento da piometra canina.
Alguns veterinários indicam contraceptivos para cadelas que vivem na companhia de cães machos. No entanto, dependendo da dosagem de progesterona nestas pílulas, as probabilidades de piometra aumentam consideravelmente.
Esta infecção de manifesta de duas formas:
• piometra aberta – é a forma mais comum (mais de 80% dos casos). Entre quatro e seis semanas a partir do final do cio, a cadela afetada começa a apresentar corrimentos purulentos. Fácil de identificar, apresenta bom prognóstico. Sempre que a cadela apresentar corrimentos depois do cio, a causa precisa ser investigada por um especialista;
• piometra fechada (ou oculta) – a infecção provoca o surgimento de nódulos no colo do útero, que podem inclusive obstruir o órgão. As secreções não são eliminadas e começam a se acumular no útero. A doença não apresenta sinais visíveis e as complicações prejudicam severamente a saúde e a qualidade de vida.
Os sintomas da piometra
A piometra aberta é fácil de identificar. Algumas semanas depois do cio, as cadelas infectadas passam a apresentar secreção purulenta e fétida na região da vulva, às vezes com um pouco de sangue.
As infecções internas precisam de avaliação clínica e laboratorial, mas os tutores devem ficar atentos a alguns sinais:
- falta de apetite;
- apatia e ausência de resposta a certos estímulos (brinquedos, petiscos, etc.);
- sede intensa e aumento do volume da urina;
- febre alta, nos estágios mais avançados.
A irregularidade na alimentação e a ingestão excessiva de água pode provocar vômitos e diarreias. Caso você perceba estes sinais, ofereça ração e líquidos em horários espaçados e leve a cadela para o veterinário com urgência.
Sem o tratamento adequado, a piometra compromete seriamente a saúde. As bactérias podem migrar para o peritônio (membrana que reveste os órgãos abdominais) e causar peritonite. Em casos graves, a piometra canina pode levar à insuficiência renal aguda e, por fim à sepse.
Diagnóstico e tratamento
O veterinário faz a avaliação clínica e a anamnese, uma entrevista com os tutores para entender o estado geral da cadela. Exames de urina e de sangue ajudam a definir o diagnóstico, eliminando outras causas possíveis.
Nos últimos tempos, os especialistas têm recorrido a exames de imagem, para verificar lesões e ulcerações na cavidade uterina, como a piometra, mucometra e hidrometra, hiperplasia uterina e endometrite. Um exame de doppler permite verificar o fluxo sanguíneo na artéria uterina e eventuais falhas de irrigação do órgão.
Com exceção da piometra, as demais enfermidades são raras, atingem apenas cadelas com oito anos de idade ou mais e quase sempre são determinadas pela negligência no tratamento das afecções uterinas.
• Mucometra e hidrometra são alterações não inflamatórias que afetam o útero por meio de acúmulo de fluidos no órgão: seromucoso no primeiro caso e seroso no segundo. O diagnóstico é difícil e quase sempre ocorre quando são feitos exames de imagens para identificar outras doenças.
• Hiperplasia uterina (hiperplasia endometrial cística, HEC) é o aumento do útero, provocado pela piometra e pelo espessamento do endométrio. Em casos de HEC, é comum o surgimento de cistos e ulcerações no útero, facilitando ainda mais o desenvolvimento de novas infecções.
• Endometrite é um processo semelhante ao da endometriose humana, em que a camada de revestimento do útero extrapola o órgão e ocupa porções das tubas uterinas e do canal vaginal. Tem início como uma inflamação, mas dificulta a circulação sanguínea local e facilita o surgimento de novas infecções em todo o aparelho genital das cadelas.
O principal tratamento da piometra, chamado tecnicamente de terapêutica de eleição, é a cirurgia. É o procedimento adotado na maioria dos casos de piometra fechada é a histerectomia radical, que consiste na retirada total do útero e dos ligamentos (paramétrios) que o envolvem, bem como a parte superior do canal vaginal. Em alguns casos, são retirados também os ovários e as tubas uterinas.
O tratamento clínico, muito menos frequente, inclui a lavagem do útero e drenagem transcervical, realizadas sob anestesia geral, o que pode ser contraindicado no caso de cadelas idosas ou com a saúde comprometida por outros problemas.
Os procedimentos devem ser acompanhados pela ministração de antibióticos e anti-inflamatórios, além de prostaglandinas, que aumentam as contrações uterinas. Esta terapia é adotada apenas em casos leves de piometria aberta, quando se pretende preservar a fertilidade da cadela afetada.
A prevenção é sempre a melhor solução, seja para preservar a capacidade de engravidar, seja para evitar sofrimentos desnecessários e mesmo a morte da cadela.
Em geral, as cadelas utilizadas para reprodução devem ser esterilizadas ao completar cinco anos. As demais, empregadas como animais de companhia ou vigilância, podem ser castradas antes de atingir o primeiro cio. Cadelas não apresentam problemas de saúde ou de comportamento por não ter tido cria.
O procedimento é rápido, a cadela recebe alta no mesmo dia e a convalescença é breve, demandando apenas os cuidados básicos. A esterilização precoce facilita bastante a vida das melhores amigas dos homens.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.