Os cachorros sempre lambem as próprias patas, as mãos e pés dos tutores. Descubra por quê.
Os cachorros dedicam boa parte do tempo para lamber coisas. Isto pode parecer um gesto corriqueiro (e às vezes é), mas quase sempre está repleto de significados. Os tutores ficam um pouco perdidos, porque os peludos lambem quando parecem estar satisfeitos, aborrecidos, ansiosos e até preocupados.
Os cachorros lambem por todas estas razões – e mais alguns outros motivos. Quando as lambidas são excessivas, é preciso prestar atenção: o motivo pode ser uma irritação nas patas ou no focinho, mas também um sintoma de ansiedade e estresse.
Os motivos das lambidas
Identificados nos animais saudáveis, quando os “beijos” são direcionados aos tutores e outros membros da família (inclusive gatos, aves e até roedores com quem tenham intimidade, como gerbils e hamsters), os cachorros lambem principalmente para demonstrar afeto.
Os filhotes podem lamber para explorar objetos novos ou descobrir o sabor de algum alimento (seja permitido, seja “encontrado” durante as explorações). Aliás, filhotes enfiam a língua (e o focinho em quase tudo que surge à sua frente).
Apesar de os cães terem um número limitado de papilas gustativas, elas são suficientes para reconhecer o doce, o salgado, o azedo e o amargo. Mas ainda antes de se tornarem adultos, os cachorros passam a identificar os alimentos principalmente pelo olfato.
Observando os nossos peludos no dia a dia, podemos perceber que as lambidas carregam uma série de significados diferentes, todos eles igualmente importantes. Entre os principais motivos, lamber serve para dizer muitas coisas:
• Demonstrar afeto – os cachorros não são dotados de uma linguagem oral articulada, com exceção de um repertório de latidos, ganidos e uivos (que, aliás, é mais limitado do que o verificado entre os lobos).
Para compensar, eles abusam das expressões fisionômicas e da linguagem corporal. Os cachorros amam incondicionalmente e demonstram o afeto de forma explícita: quando um peludo lambe as mãos, os pés, o rosto e até as orelhas dos tutores, ele está querendo dizer que gosta muito de nós
Em “outras palavras”, eles estão dizendo que nós somos importantes para eles. Evidentemente, pode haver segundas intenções: eles querem chamar atenção, brincar, ganhar um afago ou um petisco. Mesmo assim, todas essas interações indicam afinidade, afeto e cuidado com os membros da família.
• Reconhecimento – as lambidas nas mãos, no rosto e até nos pés também são maneiras de os cachorros identificarem as pessoas conhecidas e estranhas. As narinas caninas estão muito próximas à boca e, quando eles lambem, também inspiram os odores.
Os humanos desenvolveram o hábito de disfarçar os cheiros naturais. Há alguns milênios, nós usamos perfumes, essências e extratos vegetais e minerais, para eliminar odores considerados indesejáveis. Para os cães, no entanto, esses cheiros funcionam de forma parecida com as impressões digitais.
Quando um cachorro lambe o tutor, ele pode estar apenas se certificando: “Ah, é ele mesmo!”, pensam os peludos através das lambidas e inspirações. Vale o mesmo para um ambiente recém-higienizado: para perceber o ambiente além dos odores dos produtos de limpeza, os cachorros lambem e cheiram.
O olfato é o principal sentido dos cachorros. Mesmo realizando uma identificação visual, eles precisam de confirmação. As lambidas, que espalham partículas no ar (em seguida absorvidas pelo nariz), funcionam como uma estratégia de “checagem dupla”.
• Eliminação do suor e da saliva – além das lambidas, os cachorros também podem “premiar” os tutores com muita baba, que nada mais é que o excesso de saliva que escapa da boca. Em momentos de excitação, a produção de saliva aumenta, porque a temperatura corporal sobe e o organismo canino precisa controlá-la.
Com isso, a baba escapa da boca, especialmente nos animais em que os lábios são menos aderentes às gengivas. As raças de cães mais babões são: São Bernardo, bull mastiff, terra nova, basset hound, bloodhound, dogue alemão, boxer e buldogue inglês.
Mas atenção: os “beijos babados” também podem indicar problemas. Estresse, cansaço, ansiedade e enjoo em carro estão entre as condições que aumentam irregularmente a salivação e a transpiração.
• Chamar a atenção – os cachorros gostam de ficar ao lado dos tutores, mesmo sem nenhuma atividade. Este tempinho ocioso com a família transmite para eles a sensação de segurança e estabilidade: se todos estão juntos e ninguém está “trabalhando”, o grupo está em paz e equilíbrio.
De qualquer forma, eles preferem interagir com a família, em brincadeiras, afagos, passeios, sonecas. Quando os cachorros percebem que não estão recebendo muita atenção, eles procuram uma forma de atrair os tutores: uma das principais maneiras é justamente lamber, especialmente mãos e pés.
Trata-se de um convite especial, feito apenas para pessoas que transmitem segurança, conforto e bem-estar: os cachorros não desperdiçam lambidas com pessoas desconhecidas, nem mesmo com aquelas que lhes são indiferentes.
Os mais apegados (aqueles que seguem os tutores por todos os cantos da casa, por exemplo) são os mais propensos a distribuir lambeijos, mas mesmo os cães independentes oferecem lambidas, mesmo que seja no modo econômico.
• Ansiedade – aqui, podem começar a surgir alguns problemas. Quando as lambidas são excessivas, o cachorro pode estar demonstrando ansiedade. Ele pode estar passando muito tempo inativo e o tédio começa a interferir no equilíbrio emocional.
A solidão quase sempre gera ansiedade, especialmente quando os tutores não preparam um ambiente que seja continente para os peludos, com alguns atrativos para eles passarem o tempo: uma janela com vista para a rua, um brinquedo novo, uma peça de roupa do familiar preferido, etc.
Quando um cachorro passa muitas horas sozinho em casa, ele precisa ter alguma coisa para fazer. Do contrário, ele se torna ansioso, o que pode levar a crises de estresse e até mesmo à depressão.
Lamber as patas excessivamente, muitas vezes ignorando estímulos externos, é um sinal de que o peludo está ocioso demais: trata-se de um sintoma obsessivo. Se nada for feito, o cachorro pode se tornar agressivo (inclusive contra ele mesmo) ou destrutivo.
Os hábitos destrutivos, aliás, quase nunca representam “vinganças”, como pensam muitos tutores. Eles não estão querendo “descontar” a raiva que sentem por ficarem sozinhos. Entre os filhotes, isto pode ser apenas uma tentativa desastrada de exploração.
Mas cães adultos que passam a destruir coisas (brinquedos, pés de móveis, tapetes e cortinas, etc.) ou a urinar nos cantos da casa quando ficam sozinhos estão informando que precisam de atenção e atividade física e mental.
O excesso de lambidas nas patas também pode ser um efeito de outros problemas. A infestação por pulgas e carrapatos ou as infecções na pele são situações muito incômodas (além de prejudiciais à saúde) e precisam ser identificadas e tratadas.
Os cães também podem estar sofrendo com alergias e outros problemas de pele, que podem ser causados pelas lambidas excessivas (em casos de comportamento obsessivo) ou até mesmo pelo hábito de molhar as patas com muita frequência.
Algumas raças caninas são mais predispostas a dermatites (que podem ocorrer em qualquer cão, independentemente de raça, sexo e idade). É o caso do lhasa apso, pug, buldogue francês, shih tzu e yorkshire.
Além das muitas lambidas, os tutores precisam ficar atentos a outros sinais, como manchas vermelhas nos dedos, rachaduras de pele, feridas de difícil cicatrização e perda localizada de pelos. Nestes casos, que podem inclusive indicar a presença de infecções por fungos, é preciso levar o pet para o veterinário.
• A síndrome de Pica – a doença pode afetar qualquer mamífero, mas, quanto mais peludo, mais evidentes se mostram os sintomas. Denominada de alotriofagia, a síndrome se caracteriza também pela voracidade e pelo hábito de comer itens como madeira, cimento, etc.
A doença pode ser determinada por fatores externos, como sujeita ou a presença de micro-organismos e obriga os cães a cheirar, lamber e provar tudo o que encontram pela frente. Sem tratamento adequado, ela pode evoluir para um transtorno obsessivo compulsivo.
Os comportamentos repetitivos sempre exigem a atenção dos tutores. Além de exaurir os cães e prejudicar a pele e a pelagem, eles podem indicar disfunções cognitivas e emocionais, cujas causas precisam ser identificadas e eliminadas.