Elegante, tranquilo e amigo de crianças. Saiba tudo sobre o rough collie.
A raça rough collie se tornou popular nos anos 1950 e 1960 graças a um seriado de TV, “Lassie”, que ficou conhecida apenas como collie. Este cachorro de origem escocesa é brincalhão, sempre disposto e não perder uma chance para se divertir.
O rough collie ou collie de pelo longo – para diferenciá-lo do border collie – ainda não tem a origem estabelecida, mas é certo que ele descende dos cães pastores criados na fronteira da Inglaterra e a Escócia. Ele se destacou nas Ilhas Britânicas, em funções de pastoreio, guarda de gado e resgate, mas por séculos se manteve desconhecido no continente e no restante do mundo.
Os cães da raça rough collie são muito inteligentes, dotados de excelente senso de direção e muito mais comuns do que os smooth collies, ou collies de pelo curto. São animais bem educados, dóceis, leais e ideais para o adestramento.
O termo “collie” significa “preto” em dialetos ancestrais das Ilhas Britânicas. O mais provável é que os cães da raça tenham recebido este nome porque cuidavam de ovelhas colley, espécie escocesa conhecida pela máscara preta no rosto.
Um pouco de história da raça rough collie
Os rough collies são descendentes de diversos cães pastores da Escócia e do País de Gales (norte e sudoeste da Grã-Bretanha). Os primeiros cães escoceses da raça eram maiores e mais agressivos, responsáveis pelo pastoreio de ovelhas nas Terras Altas.
Os cães galeses, também pastores, eram mais dóceis, adestráveis e apresentavam porte menor. Ao contrário dos primos do norte, estes animais eram criados mais próximos às famílias humanas. Os cruzamentos resultaram em cães elegantes e confiáveis.
Com o advento da Revolução Industrial, a Grã-Bretanha se tornou mais urbana e os rough collies foram se adaptando à vida contemporânea. No século 19, ingleses e escoceses desenvolveram diversas raças caninas e os cães originais foram cruzados com borzois russos, para a obtenção de um porte mais nobre.
O rough collie se tornou mais parecido com os cães atuais, com o focinho mais afilado e a pelagem “esculpida”, formando curvas harmônicas em torno o corpo. Um cão nobre, na medida certa para a burguesia emergente britânica.
A própria rainha Vitória rendeu-se aos encantos da raça e abriu as portas do Castelo de Balmoral (Aberdeenshire, Escócia), adquirido pelo príncipe Albert para a rainha em 1852, para abrigar alguns rough collies. Até hoje, Balmoral é a residência oficial de verão da Coroa britânica – e alguns cães da raça são mantidos no palácio.
Ainda no século 19, foram fixadas as pelagens tricolor e zibelina (a preferida da realeza); alguns cães da raça foram apresentados na primeira exposição cinológica oficial, em 1859 (em Newcastle, Inglaterra). Os cães com pelos azuis merle surgiram mais tarde, apenas na primeira metade do século 20.
A aparência continuou mudando. Há apenas 60 anos, o rough collie era mais baixo e exibia um tronco mais volumoso.
Em 1938, a personagem Lassie começou a encantar os amantes de cães. Originalmente, ela figurou em um conto, de Eric Knight, publicado no Saturday Evening Post (revista semanal americana publicada até 1969).
Em 1940, foi lançado o livro “A Força do Coração”, do mesmo autor, com as aventuras de um cachorro que se perde da família humana e envolve-se em muitas aventuras até retornar ao lar. Em 1943, Lassie estrelou nas telas de cinema, no longa-metragem “Lassie Come Home”. Uma curiosidade: um dos coadjuvantes do filme foi Elizabeth Taylor, então com nove anos de idade.
Lassie se tornou um seriado de sucesso transmitido pela rede de emissoras CBS, a partir de 1954. Esta foi a forma pela qual a raça rough collie foi apresentada para o mundo. Estes cães passaram séculos pastoreando ovelhas na Escócia, transformaram-se em cães de companhia da nobreza britânica, mas eram praticamente desconhecidos fora da Grã-Bretanha.
A série, que rendeu outros cinco longas-metragens, foi transmitida durante 11 anos consecutivos e ainda hoje faz sucesso. Em 2002, uma pesquisa da Vox News revelou que Lassie continuava sendo o animal mais popular do cinema e da TV. A cadela obteve mais da metade dos votos e superou personagens antológicos, como o porquinho Babe e a coruja Hedwig, da franquia “Harry Potter”.
O padrão oficial do rough collie
O rough collie faz parte do Grupo 1 da Federação Cinológica Internacional (FCI), que reúne os cães boiadeiros e pastores (exceto pastores suíços). Em exposições oficiais, os cães não são submetidos a provas de trabalho, em função de, atualmente, serem criados principalmente como animais de companhia.
O padrão oficial considera que os smooth e os rough collies pertencem à mesma raça, diferenciando-se apenas no comprimento e textura da pelagem. Por aqui, a própria Confederação Cinológica Brasileira (CBKC) nomeia estes animais apenas como “collie”, sem mencionar “áspero” e “macio” (rough e smooth, em inglês).
Apesar da aparência digna e nobre, o collie ainda pode desempenhar as funções de guarda e pastoreio. Ele ainda é considerado um cão de trabalho, mesmo com toda a beleza que apresenta. Os cães da raça são elegantes e não apresentam nenhuma desproporção.
O conjunto anatômico é harmônico e a movimentação parece ser complementada pelo balanço da pelagem. Além de elegante e bonito, o collie é amistoso, sem exibir sinais de nervosismo ou agressividade.
O collie é um excelente companheiro, sempre afetuoso com a família humana. É alegre e ativo, ideal para casas com crianças e com outros animais de estimação. Não apresenta traços de dominância, apesar de ser um guardião do território.
Com os adultos, o collie adora aprender novos truques. Praticar esportes com os tutores é uma paixão dos animais da raça. O afeto e a dedicação com as crianças, no entanto, talvez seja o traço mais marcante destes cachorros.
As características anatômicas do collie são de grande importância e devem ser consideradas em relação ao porte do cão. Um exemplar ideal deve apresentar conformidade entre cabeça, tronco e membros, com movimento livre, sem parecer pesado.
• Cabeça – vista de frente ou de perfil, a cabeça apresenta formato cuneiforme, com limites bem definidos. O contorno do rosto é suave e o crânio é plano. As faces laterais convergem suavemente das orelhas para a ponta da trufa preta, sem fazer relevo nas bochechas, nem afilamento no focinho.
Vistas, de perfil, as linhas superiores do crânio e do focinho são paralelas e de igual tamanho, separadas pelo stop suave, mas perceptível. No ponto médio entre os olhos (que é o centro do stop bem situado), deve estar o centro de equilíbrio proporcional da cabeça.
O arremate do focinho é suave e bem arredondado. Deve ser arredondado, e não quadrado. A mandíbula é forte e bem definida. A profundidade do crânio, medida do supercílio à linha inferior do focinho, não pode ser excessiva, nem muito profunda.
A trufa é sempre preta. Maxilar e mandíbula são fortes (com a mandíbula bem delineada). A dentição é completa e a mordedura, em tesoura (os dentes superiores recobrem os inferiores). Os dentes são inseridos em posição ortogonal (ângulo reto) às gengivas.
Os ossos das bochechas não são proeminentes. O pescoço é musculoso, poderoso, de bom comprimento e bem arqueado.
Os olhos têm tamanho médio, inserção ligeiramente oblíqua e formato amendoado, conferindo um aspecto suave e doce ao collie. A cor dos olhos é o marrom escuro. A expressão é inteligente. O olhar do collie é rápido e alerta.
Com relação à cor, os cães de pelagem azul-merle podem apresentar olhos parcial ou totalmente azuis, inclusive porcelanizados (traços de azul brilhante sobre o fundo castanho). A heterocromia (um olho de cada cor) é frequente entre collies azul-merle.
As orelhas são pequenas, inseridas no topo do crânio e separadas por um espaço moderado. Em posição de repouso, são portadas para trás. Quando o cão está em alerta, são trazidas para frente e portadas semieretas (o terço final das orelhas fica naturalmente caído para frente, abaixo da linha do crânio).
• Tronco – comparado à altura, o tronco é um pouco mais alongado. A linha superior é firme e o lombo, ligeiramente elevado. O peito é profundo, razoavelmente amplo atrás dos ombros e as costelas são bem arqueadas.
• Cauda – a cauda é longa, com a última vértebra atingindo pelo menos a altura dos jarretes. Quando em repouso, o collie porta a cauda baixa, com uma ligeira curva para cima na ponta. Quando está excitado e alegre, pode ser portada para cima, mas nunca sobre o dorso.
• Membros – nos anteriores, os ombros são inclinados e bem angulados. Os cotovelos não viram para dentro nem para fora e os antebraços são retos e musculosos, com ossos redondos moderadamente desenvolvidos.
As patas dianteiras são ovais, com coxins plantares bem acolchoados. Os dedos são arqueados e bem fechados.
Nos membros posteriores, as coxas são musculosas e os joelhos, bem angulados. As pernas são limpas e vigorosas e os jarretes, bem descidos. As patas traseiras são semelhantes às dianteiras, mas os dedos são um pouco menos arqueados.
• Movimentação – é uma das principais características da raça. Um collie bem proporcionado jamais expulsa os joelhos quando se move, ainda que caminhe com as patas anteriores relativamente próximas.
Trançar os passos, cruzar as patas e mover-se em “roll” (balanceio, rebolado com o quadril) são passos considerados inadequados e indesejáveis para os collies. A movimentação deve parecer suave.
Vistos de trás, os jarretes ficam paralelos entre si (mas não muito próximos) e perpendiculares ao solo. As patas posteriores são potentes e apresentam boa capacidade de propulsão.
É desejável uma passada longa, que deve parecer leve e quase sem esforço. A harmonia absoluta é essencial na caminhada dos collies. A harmonia dos movimentos é imprescindível para uma boa apresentação.
• Pelagem – muito densa, revela os contornos do collie. Os pelos são retos, de textura áspera. O subpelo é suave, denso e fechado, a ponto de esconder a pele. Na juba (colar) e no ventre, os pelos são abundantes, enquanto são curtos no focinho, na máscara e na extremidade das orelhas.
Na base das orelhas, verifica-se maior concentração de pelos semilongos. Os membros anteriores são bem franjados, característica ainda mais evidente nos membros posteriores, especialmente nas coxas (abaixo dos jarretes, os pelos são mais curtos). O pelo da cauda é profuso.
Os collies podem apresentar três cores:
• zibelina ou “sable” – as nuances variam do dourado claro ao mogno escuro. Zibelina é uma espécie de marta bastante comum no norte da Europa. “Sable” pode ser traduzido como “areia”, mas o collie pode revelar uma série de tonalidades. Curiosamente, cães muito claros, cor de palha, são indesejáveis;
• tricolor – a cor predominante é o preto, com marcas castanhas bem saturadas na cabeça, braços e pernas. Matizes tendendo a ferrugem no pelo de cobertura são indesejáveis;
• azul-merle – predominantemente claros, em tons de azul prateado. Os cães podem ser salpicados ou marmorizados com preto. As marcações em castanho intenso são as preferidas, mas manchas pretas, cor de ardósia ou ferrugem são indesejáveis.
Cães de todas as cores podem apresentar marcações brancas em maior ou menor grau. As marcações mais valorizadas são o colar branco (completo ou em parte), antepeito, pernas, patas e ponta da cauda. Marcas brancas também podem aparecer no crânio e no focinho. Por outro lado, um animal total ou predominantemente branco é altamente indesejável.
• Tamanho e peso – a altura na cernelha fica entre 56 cm e 61 cm nos machos e entre 51 cm e 56 cm nas fêmeas. O peso deve ser proporcional, para garantir força e robustez, sem prejudicar a elegância e dignidade da raça.
• As faltas – qualquer desvio do padrão descrito pela CBKC deve ser considerado e pontuado de acordo com a proporção e os efeitos sobre a saúde e bem-estar dos cachorros. Nas competições oficiais, são desqualificados os cães tímidos ou agressivos em excesso, além dos portadores de anomalias físicas ou comportamentais.
A saúde do rough collie
O rough collie é um cão saudável e robusto, com longa expectativa de vida: em média, eles vivem 14 anos. A raça foi desenvolvida para atividades ao ar livre e só recentemente, nos últimos 150 anos, passou a ser aproveitada para companhia.
Por isso, os cães da raça são quase tão resistentes quanto os lobos, seus ancestrais diretos. A única modificação anatômica feita pelo homem foi o leve afunilamento do focinho, que não chega a causar problemas específicos.
Uma doença relativamente comum entre os rough collies é a anomalia do olho. Trata-se de um problema específico da raça, conhecida em inglês como collie eye anomaly (CEA). O problema genético afeta o desenvolvimento da coroide, membrana, que reveste externamente o globo ocular.
A coroide é responsável por conduzir oxigênio e nutrientes às células de estruturas importantes do olho, como a retina e o corpo ciliar. A CEA causa problemas à visão e pode levar o cachorro à cegueira. Estudos indicam que quase 90% dos collies americanos são afetados por esta anomalia, também frequente no border collie, no whippet e no pastor australiano.
Não há prevenção nem cura, mas procedimentos cirúrgicos podem atenuar os efeitos da CEA, que não apresenta sinais claros no início do desenvolvimento. Criadores responsáveis não empregam os cães portadores nos cruzamentos.
A dermatomiosite afeta a pele e os músculos, causando inflamações. É também uma doença hereditária. Os sintomas iniciais são lesões nos membros e no rosto (ao redor dos olhos, orelhas e focinho).
A inflamação muscular surge depois dos sinais cutâneos, que podem incluir descamação, feridas e crostas. A doença afeta os músculos da boca e garganta, causando dificuldades de mastigação e deglutição. Em alguns casos, os animais atingidos desenvolvem pneumonia por aspiração.
Não existe um tratamento padronizado para a dermatopiosite canina. A maioria dos veterinários sugere a castração dos animais quando surgem os primeiros sintomas, porque os hormônios sexuais aceleram a doença. A restrição à luz solar também é indicada. A terapia consiste em medicamentos para atenuar as feridas e outros sinais. Apesar de ser assustadora, o prognóstico da doença é positivo na imensa maioria dos casos.
Collies, assim como dobermans e pastores alemães, também são portadores de genes associados à hemofilia, uma doença do sangue que inibe a produção de enzimas e proteínas que tornam o sangue mais espesso, permitindo a coagulação. A hemofilia pode ter consequências graves, como hemorragias e sangramentos internos. A doença é genética e afeta os cães machos.
Como todos os cães, os rough collies são suscetíveis a infestações de parasitas internos e externos. Alguns animais, no entanto, são intolerantes à ivermectina, substância presente na maioria dos vermífugos e antipulgas.
A droga causa danos neurológicos, que podem levar à morte. Veterinários não usam ivermectina m rough collies, mas é muito importante que os tutores não mediquem os cães por conta própria.
Os cuidados com a raça
Descrito como muito gentil, inteligente, afetuoso e devotado, o rough collie é o parceiro ideal para qualquer tipo de família. Ele revela a sua lealdade, disposição para brincadeiras e um pique quase inesgotável especialmente na relação com crianças.
Por ser um cão de pelo longo, o rough collie exige escovações regulares, de preferência diárias. O pelo áspero favorece a formação de nós, que prejudicam gravemente a aparência e podem até mesmo atrapalhar os movimentos.
A pelagem longa e densa, aliada ao subpelo espesso e fechado, também é o “habitat ideal” para ectoparasitas, como piolhos, pulgas e carrapatos. O rough collie deve ser banhado a cada seis semanas, com xampus especiais que combatam os insetos. Comprimidos, tabletes, sprays, talcos e coleiras antipulgas também precisam ser usados.
O banho, aliás, é um capítulo à parte. O ideal é levar o rough collie a uma pet shop especializada, para garantir uma higiene perfeita, além da aparência ideal. Em casa, é muito difícil secar os pelos destes cães de maneira adequada, e a umidade excessiva pode causar problemas de pele – de caspa a dermatites mais graves.
No Brasil, recomenda-se aparar um pouco os pelos do rough collie, o mínimo necessário para deixar o cão mais confortável nas épocas mais quentes do ano.
Por descender de cães pastores, o rough collie pode caminhar por horas seguidas, sem demonstrar cansaço. Os passeios devem ser diários, por pelo menos 30 minutos. Em geral, os cães da raça não gostam de corridas: eles costumam associar o passo acelerado a emergências, como uma ovelha sendo atacada por lobos, mesmo que não haja lobos nem ovelhas por perto.
Além das caminhadas diárias, o rough collie precisa de companhia e de muitas brincadeiras durante o dia. Ele gosta de conviver com humanos e protegê-los. Por isso, é fundamental reservar alguns momentos do dia para desfrutar a companhia destes peludos.
Mantidos sozinhos ou isolados, estes cães podem desenvolver comportamentos destrutivos, mas é raro que se revelem agressivos. Famílias que passam a maior parte do tempo fora de casa devem providenciar atividades para o rough collie se entreter. Uma boa ideia é adotar um segundo cão, para que um faça companhia para o outro.
Os dentes devem ser escovados pelo menos uma vez por semana, para evitar a formação de tártaro e da placa bacteriana, que compromete a qualidade de vida dos cães. Oferecer ossos e brinquedos resistentes para eles roerem também ajuda bastante a higiene bucal.
Um rough collie deve ser bem alimentado. De acordo com a intensidade dos exercícios físicos, ele precisa receber de 100 a 200 gramas de ração por dia. Os cães da raça não costumam ser gulosos, mas é importante fornecer alimentos de qualidade, para garantir a saúde e a boa aparência.
Os filhotes de rough collie
É importante iniciar o adestramento logo que os cães são adotados. Em geral, rough collies não são desobedientes, mas podem “exagerar na dose” dos latidos se não forem ensinados quando ainda são filhotes.
Evidentemente, eles irão latir bastante. A vocalização é uma das estratégias dos cães pastores para controlar o gado. O objetivo do adestramento é apenas impedir o barulho excessivo, mas um collie sempre registra a presença de pessoas estranhas, animais, iminência de tempestades, etc.
Os filhotes de rough collie não demandam tratamentos especiais. Eles exigem apenas vacinação, vermifugação, alimentação indicada para a idade e cuidados básicos de higiene. As fêmeas grávidas, por outro lado, costumam se mostrar mais dependentes e carentes. Elas também apreciam dividir os cuidados da ninhada com os tutores.
Um filhote de rough collie custa entre R$ 2.000 e R$ 4.000. Tudo depende da genealogia: os filhos de campeões são sempre mais caros. Alguns animais sem pedigree, no entanto, podem sair bem mais baratos: entre R$ 700 e R$ 1.500.