Eles adoram ver as bolinhas de tênis quicando e “fugindo” de um lado para outro. Por isso, este é um dos brinquedos prediletos de qualquer cachorro. Mas elas são perigosas, prejudicam a saúde dos peludos e podem até mesmo causar a morte.
Pode-se imaginar que o risco está em o cachorro rasgar a bolinha de tênis e engoli-la. Isto também é perigoso, mas o risco maior está na contaminação da superfície, que pode provocar danos à saúde bucal.
As bolinhas de tênis
O assunto voltou à ordem do dia com uma postagem do veterinário Hunter Finn, uma celebridade do Tik Tok, com mais de dois milhões de seguidores na rede social. Em agosto de 2023, o especialista alertou os tutores sobre os riscos das bolas de tênis para os cachorros.
No vídeo, Finn apresenta alguns motivos para cancelar a brincadeira aparentemente inofensiva. Para os cachorros, o grande perigo está no revestimento do acessório – que, de resto, é fundamental para a prática do esporte.
No processo de produção, são feitas duas conchas de borracha vulcanizada. Antes de serem coladas, é introduzida uma pastilha de nitrogênio que literalmente explode para formar uma esfera homogênea e regular.
O problema não está no gás: o nitrogênio é a substância mais abundante na atmosfera. O revestimento das bolinhas de tênis, no entanto, é feito com náilon e lã acrílica. Aqui começam os problemas.
A lã é a responsável pela cobertura. Ela é aplicada em maior ou menor quantidade, permitindo que as bolinhas quiquem mais (em uma quadra sintética) ou menos (em uma quadra de saibro). Mas, ao contato com a saliva dos cachorros, a lã fica impregnada de impurezas.
A cada nova quicada, junta-se um pouco mais de poeira e de material particulado. Em poucos minutos, as bolinhas de tênis tornam-se o ambiente perfeito para a proliferação de micro-organismos que podem ser nocivos, principalmente para os filhotes, idosos e portadores de doenças crônicas.
Mas há um problema ainda maior e mais imediato: à medida que a poeira vai se fixando nas bolinhas de tênis, aumenta o efeito abrasivo: o brinquedo se torna uma verdadeira lixa: a “cola” é a própria saliva dos peludos.
O contato com a língua, os dentes e as gengivas funciona raspando as superfícies da boca. O efeito afeta o esmalte dos dentes e reduz a umidade das mucosas. No curto prazo, as bolinhas de tênis comprometem a funcionalidade da boca.
Isto significa que a mastigação pode se tornar ineficiente. Os cachorros acostumados a brincar com bolinhas de tênis sentem dor e, para evitá-la, gradualmente passam a engolir bocados maiores, cujos nutrientes deixam de ser bem aproveitados pelo organismo.
O resultado disso tem o potencial de contribuir para a desnutrição e subnutrição, além dos ferimentos na boca, que ocorrem diretamente durante as brincadeiras. O organismo canino passa a exigir quantidades maiores de alimento, para compensar as perdas nutricionais. Em pouco tempo, o cachorro pode estar com problemas nutricionais e também de sobrepeso.
Um efeito mais imediato ocorre entre os cachorros pequenos. Yorkies, lulus da Pomerânia, chihuahuas e pinschers miniatura, entre outros, têm um problema comum: grande parte deles não perde os dentes de leite quando os permanentes despontam.
O resultado é que eles podem exibir um “sorriso” formado por duas filas de dentes, naturalmente muito mal alinhados. Esta condição, que deve ser corrigida apenas no consultório do veterinário, aumenta os riscos de abrasão representados pelas bolinhas de tênis.
Mais problemas
Outros transtornos podem ocorrer com o oferecimento de bolinhas de tênis para os cachorros. Os cães de pequeno porte apresentam dificuldade para agarrar o brinquedo, realizando uma série de manobras para “superar o adversário”.
O exercício muito vigoroso pode comprometer os músculos e ossos. A displasia de cotovelo, relativamente comum em pinschers miniatura, chihuahuas e yorkshire terriers, é uma doença degenerativa cujos efeitos são potencializados pelo esforço físico excessivo.
Alguns cachorros conseguem destruir uma bolinha de tênis – seja imediatamente, seja através do uso contínuo. Eles podem engolir partes pequenas, que, na melhor das hipóteses, interferem na digestão, mas também existe a possibilidade de obstrução da garganta, do esôfago e do intestino.
A maioria dos cachorros não consegue mensurar os perigos a que estão expostos, especialmente quando estão excitados com uma brincadeira. Os animais de grande porte conseguem engolir até mesmo bolas de tênis inteiras.
Não parece muito inteligente engolir um objeto tão grande, mas a empolgação nos leva a alguns exageros. É algo parecido a deparar-se com uma oferta imperdível no mercado e acabar voltando para casa carregando muito mais peso do que o recomendado (o que também prejudica a saúde).
Em maio de 2023, a morte de um cachorro mobilizou as atenções da imprensa e das redes sociais. Toby, um retriever do Labrador de três anos que morava com a tutora em Manchester, na Inglaterra, engoliu não apenas uma, mas duas bolas de gude.
Ele estava passeando com uma amiga da família – e ela não percebeu que Toby já estava envolvido com uma bolinha, o seu brinquedo preferido. A passeadora lançou uma segunda bola e o cachorro tratou de agarrá-la.
Os brinquedos ficaram alojados na garganta, pressionando a faringe e a laringe. Toby morreu asfixiado em poucos minutos
Por fim, existe o risco de o gás usado no processo de produção não ser o inofensivo nitrogênio. Alguns materiais são igualmente tóxicos: o tipo de borracha, o revestimento de feltro, etc. Para evitar os perigos, os tutores brasileiros devem oferecer aos cachorros apenas brinquedos (e outros objetos) certificados pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Por que eles gostam tanto?
Para os cachorros, as bolinhas de tênis são muito parecidas com presas ágeis que devem ser identificadas, perseguidas e destruídas. Não se pode esquecer que os cães são carnívoros muito bem equipados para a caça.
O instinto de perseguir faz parte da memória genética de todos os cachorros. Eles não precisam estar famintos para correr atrás de uma presa ou de qualquer objeto que evoque o rastreio, a perseguição e o abate.
A caça está presente em todas as raças caninas. As que foram desenvolvidas para a caça podem ser mais agressivas, mas vale lembrar que o dachshund e o yorkshire terrier, originalmente, eram cães de caça.
Ao “caçar” as bolinhas, os cachorros também as envolvem com saliva – uma forma de se apossar delas. No caso dos brinquedos felpudos, a mistura da baba com os fiapos é perfeita para deixá-los grudentos – e mais facilmente agarrados e submetidos.
Além disso, as bolinhas de tênis apresentam o tamanho ideal, tanto para a perseguição de um chihuahua quanto de um dogue alemão. Pode-se observar que, quando os peludos as agarram, movimentam as bolas furiosamente de um lado para outro. Na natureza, esta é a técnica ideal para quebrar o pescoço das presas, como ratos e coelhos, e matá-las mais rapidamente.