Confira os cuidados necessários para garantir o bem-estar de cachorros que estão perdendo a visão.
Um número cada vez maior de tutores está convivendo com cachorros que estão perdendo a visão. São inúmeras as causas da cegueira canina e muitas delas estão associadas à maior expectativa de vida: os cães idosos são mais propensos à cegueira. Com alguns cuidados simples, é possível garantir o bem-estar e a qualidade de vida dos peludos afetados.
Problemas de visão são mais comuns especialmente na terceira idade. Quase sempre, são determinados por doenças como catarata e glaucoma. Algumas raças de cães são mais suscetíveis, mas os idosos quase sempre apresentam dificuldade para enxergar.
A diferença, em relação aos humanos, é que os cães são dotados de dois sentidos excelentes, bastante superiores aos nossos: o olfato e a audição. Com estas “ferramentas”, a perda da visão não é tão traumatizante.
Os cuidados com os cachorros cegos
É importante manter uma rotina de avaliações clínicas e exames para todos os cachorros, em qualquer idade. Os sinais das doenças oculares podem progredir muito lentamente, e apenas um profissional é capaz de determinar o diagnóstico e o tratamento, que pode inclusive evitar ou retardar a perda da visão.
Uma vez instalada, a cegueira ou a baixa visão exige que os tutores adotem alguns cuidados, para garantir não apenas a segurança e a integridade dos cachorros, mas também a qualidade de vida, o conforto e o bem-estar.
Com as dicas e sugestões que apresentamos a seguir, os cachorros com problemas oculares podem levar uma vida tranquila e prazerosa. Os cuidados são simples.
01. Facilite a passagem
Qualquer deficiente físico precisa de um espaço previsível. Por isso, nos locais em que os cachorros transitam – os ambientes variam de casa para casa – os tutores devem evitar deixar objetos espalhados, que podem provocar acidentes.
Deixe as portas e outros acessos sempre desobstruídos, para evitar esbarrões. Mesmo que não tenham consequências graves, as colisões podem deixar os cachorros confusos e desorientados, com medo de circular pela casa.
É preciso fazer algumas adaptações. Sempre que possível, devem ser eliminadas as arestas e cantos pontiagudos dos móveis e objetos de decoração, que preferencialmente devem ficar fora de alcance dos cachorros. Existem protetores de espuma que podem ser afixados nas quinas das mesas, por exemplo.
Muitas pessoas gostam de redecorar a casa, mas quem vive com um cachorro que está perdendo a visão precisa evitar mudar os móveis de lugar. Com a baixa visão, eles passam a usar os objetos como referências para se localizar nos ambientes.
02. Mantenha a rotina
Não há motivos para deixar de brincar e passear por causa da perda da visão. Os cachorros gostam de rotinas previsíveis, que os fazem sentir-se seguros e protegidos. Naturalmente, a intensidade dos jogos e exercícios deve ser modulada à capacidade de locomoção e orientação dos peludos.
Os acessórios também precisam ser mantidos nos lugares habituais. Se o cachorro tem o costume de buscar a guia na hora de sair para passear, ela deve ficar pendurada no local em que ele está acostumado. Vale o mesmo para outros objetos, como comedouros, tapetes higiênicos, caminhas, etc.
03. Faça barulho
Todos nós, seres sencientes, usamos os sentidos para perceber o mundo exterior e interagir com ele. Quando um desses sentidos começa a dar sinais de comprometimento, os demais são empregados para substituí-lo, na medida do possível.
Um cachorro que está perdendo a visão tende a se orientar principalmente através da audição. Por isso, os tutores devem providenciar estímulos sonoros. É importante conversar com ele, para que o peludo saiba que o tutor está por perto.
Os comandos simples ganham novas utilizações. Um cachorro cego entende rapidamente os novos significados do “para”, “fica”, “junto”, etc. As ordens se revestem de continência para eles, conferindo a sensação de segurança, necessária para que os cães se mantenham confiantes.
Novos sons são incorporados com facilidade. O barulho da coleira balançando passa a ser um sinal de que está na hora da caminhada diária; o barulho da ração sendo despejada na janela indica o momento das refeições, e assim por diante.
04. Valorize o faro
O olfato é o principal sentido dos cachorros – eles conseguem farejar um cheiro a quilômetros de distância e, ao identificar um rastro qualquer, os peludos o decompõem e sabem exatamente como ele é formado.
O faro também pode ajudar os cachorros que estão perdendo a visão. Algumas rações são indicadas para os cães portadores de deficiências visuais, mas os tutores podem apenas umedecer a ração costumeira com um molho diferente (um pedaço de carne cozido em água, por exemplo).
Durante os passeios, é ainda mais importante permitir que o cachorro identifique cheiros e decida segui-los. As limitações da falta de visão podem deprimir os peludos, mas a possibilidade de seguir uma pista é um estímulo poderoso para que eles se sintam necessários e parceiros.
05. Ele precisa do médico
Os tutores não podem negligenciar as consultas médicas. Todos os cachorros precisam ser avaliados regularmente e, quando passam a exibir algum tipo de deficiência, as visitas ao veterinário se tornam ainda mais importantes.
Algumas doenças oculares podem determinar outras condições de saúde, que devem ser avaliadas e corrigidas. Em outras situações, a cegueira (ou baixa visão) é determinada por outras enfermidades.
É importante considerar também que algumas doenças oculares levam rapidamente à perda da visão, enquanto outras apenas reduzem o alcance e os sinais podem ser atenuados com o tratamento adequado. Além disso, a cegueira pode estar associada a outros transtornos, que prejudicam a qualidade de vida e podem ser até mesmo fatais.
As causas da cegueira nos cães
O olfato e a audição, no entanto, não eliminam totalmente as limitações que um cachorro enfrenta quando está perdendo a visão. Além disso, a surdez também é uma condição frequente entre os cães idosos (o faro costuma permanecer intacto).
São diversas as causas que levam a perda da visão canina – entre elas, a erliquiose, ou doença do carrapato. Os principais motivos, contudo, estão relacionados a doenças oculares propriamente ditas, quase sempre associadas ao avanço da idade.
É importante considerar que os cachorros de grande porte tendem a envelhecer mais cedo, porque apresentam um desenvolvimento físico inicial muito rápido. Enquanto um dogue de Bordéus pode ser considerado idoso com quatro ou cinco anos, um chihuahua e um dachshund aparentam estar na “flor da idade” mesmo depois de atingirem 12 ou 15 anos de vida.
Mas há uma causa comum para a cegueira em todos os cães, independentemente do tamanho: os traumas (atropelamentos, quedas, etc.). Neste sentido, os pequenos costumam apresentar sequelas mais pronunciadas.
Os tutores não devem permitir que os cachorros saiam para a rua sem supervisão de um humano adulto. Além disso, é importante providenciar acessos para os pequenos, como escadas improvisadas, além de revestir pisos escorregadios e instalar cercas em escadarias e rampas.
As raças braquicefálicas (de focinho achatado) são mais suscetíveis a diversas doenças oculares genéticas. É o caso do pug, lhasa apso, shih tzu, pequinês, boston terrier, buldogues inglês e francês e boxer. Os animais com olhos saltados são ainda mais propensos.
Excetuadas as condições decorrentes de traumas, as cinco doenças oculares mais comuns, que podem levar à perda da visão, são as seguintes:
- glaucoma – leva ao aumento da pressão intraocular e isto prejudica a irrigação sanguínea da retina e do nervo óptico. Os sintomas são graduais, da vermelhidão no olho à perda de reflexos e da visão;
- úlcera da córnea – comum em todas as idades, pode ocorrer por traumas, infecções, mal posicionamento dos cílios, contato com substâncias abrasivas. As ulcerações podem ser superficiais ou profundas, atingindo várias camadas da córnea e podendo causar perfuração ocular;
- catarata – consiste na turvação do cristalino (lente transparente e flexível localizada atrás da pupila), que progressivamente impede a visão normal. Os olhos se tornam gradualmente azulados ou esbranquiçados. Doenças metabólicas, como diabetes, podem provocar a catarata canina;
- uveíte – é uma inflamação no trato uveal do olho (íris, coroide e retina), que é responsável pela vascularização do globo ocular. Ela pode ocorrer de forma secundária, decorrente de infecções bacterianas, virais ou fúngicas, além de doenças sistêmicas, como hipertensão arterial e desenvolvimento de tumores;
- ceratoconjuntivite seca – a má lubrificação da superfície ocular leva a inflamações e irritações na córnea e na conjuntiva, membrana que reveste a pálpebra e protege a esclera (a parte branca dos olhos). Além de fatores genéticos, a doença pode ser causada também por problemas imunológicos e neurológicos, ser decorrente de infecções ou ser o efeito colateral de algumas medicações. Os olhos perdem o brilho e são recobertos por substâncias acinzentadas ou esverdeadas.
As raças geneticamente mais propensas são as seguintes:
• glaucoma – poodle, basset hound, bloodhound, akita, cocker spaniel (inglês e francês), boston terrier e buldogue francês;
• úlceras na córneas – podem ocorrer com qualquer cachorro, mas são mais frequentes entre os suscetíveis ao entrópio, quando as pálpebras se dobram para dentro, fazendo com que os cílios irritem o globo ocular. Os animais de “olhos caídos” ou com dobras cutâneas extras, como basset hound, shar-pei e chow-chow, são mais suscetíveis;
• catarata – poodle, cocker spaniel (inglês e americano), schnauzer miniatura, golden retriever, retriever do Labrador, afghan hound e west highland white terrier;
• uveíte – não há determinantes genéticos para a doença, que pode afetar cães de todas as raças e idades;
• ceratoconjuntivite seca – shih tzu, lhasa apso, pug, cocker spaniel (inglês e americano), buldogue inglês, yorkshire terrier e west highland white terrier.