Erros e exageros no treinamento dos cachorros

Confira os erros e exageros mais comuns dos tutores durante o treinamento dos cachorros.

Treinar um cachorro não é a tarefa mais difícil do mundo, mas está longe de ser fácil. A maioria dos peludos aprende os comandos básicos rapidamente, mas não acumula novas conquistas depois de aprender a fazer xixi no lugar certo e dormir no cantinho. Muitos tutores esperam demais dos filhos de quatro patas e, sem querer, cometem erros e exageros.

O prazer de viver com um cachorro é sempre acompanhado por uma série de responsabilidades – e o adestramento faz parte. Os resultados são sempre individuais e, por isso, variam bastante. Os cães podem frustrar algumas expectativas dos tutores, mas quase sempre eles se esforçam ao máximo.

Os erros no treinamentos dos cães

O erro mais frequente ocorre justamente em função das expectativas. Os cachorros são divertidos, brincalhões, ativos, atentos, espertos e estão sempre à disposição, mas não se deve esquecer: eles são cachorros.

Os peludos não podem nem querem ser tratados como humanos e, menos ainda, como filhotes de humanos. Eles têm vontades, necessidades e desejos relativos à própria espécie. Da mesma forma, os cães não conseguem compreender algumas noções que, para nós, são básicas e evidentes.

Erros e exageros no treinamento dos cachorros

Os cães de pequeno porte sofrem bastante com tutores que os encaram como bebezinhos de colo. Alguns nanicos são muito valentes: lulus da Pomerânia são cães de guarda, lhasa apsos são guardiães, yorkshire terriers são poderosos caçadores de ratos e outras pragas. O tamanho pode inspirar proteção e cuidado, mas não indica que eles sejam indefesos.

Além disso, um cachorro não consegue entender algumas regras: por exemplo, que não deve entrar em casa com as patas sujas ou molhadas. O peludo pode concordar em limpá-las na volta das caminhadas diárias, mas, para ele, é apenas mais uma brincadeira.

Na visão de mundo canina, a água da chuva carregada para casa irá secar, não importa o tempo que demore. A lama se transformará em pó, que o vento arrastará para longe. E, se o “alojamento” se tornar inviável, basta procurar outro.

Cães não possuem noção de propriedade, nem de limpeza e higidez. Uma casa arrumada e perfumada não faz o menor sentido para eles (aromas estranhos, inclusive, podem atrair a atenção de outros grupos).

Eles também não conseguem assimilar algumas regras inúteis, como não se coçar, não esfregar o pelo nas paredes e tapetes ou não pular em sofás e poltronas. Os cachorros podem ser treinados para não fazer nada disso, mas são apenas outras brincadeiras, em que eles se envolvem para ganhar recompensas e afagos.

Outro “erro que provoca erros” durante o treinamento é a falta de estabilidade. Os cachorros gostam de uma rotina bem estabelecida: para ele, é um sinal de que tudo está correndo bem. Eles preferem ter uma agenda previsível e regras muito claras.

Por isso, muitos cães não conseguem entender por que os tutores ficam irritados ao serem acordados no domingo logo ao nascer do sol. Nos dias úteis, este é o horário da primeira refeição; por que mudaria apenas porque é dia de descanso? Aliás, o que significa “dia de descanso?”.

Mas eles podem se adaptar a isso: enquanto os tutores estiverem na cama, não se deve correr, saltar, pular e procurar brincadeiras. Esta é uma regra assimilável. O grande problema surge quando as regras mudam a cada momento, de acordo com o humor dos humanos da família. Não há nada errado em ensinar o cachorro a dormir na casinha do quintal, junto à entrada da cozinha, no tapete da sala de estar, aos pés da cama ou ao lado dos tutores. Ele é capaz de assimilar os limites e responder de maneira adequada.

Alguns tutores, no entanto, fazem as regras variarem constantemente. Em um dia, o cachorro pode subir na cama; no outro, não pode nem ultrapassar o portãozinho da varanda. Convenhamos: sem estabilidade, não é possível aprender o que se espera dele.

Como regra geral, os cachorros são muito inteligentes. Eles não sabem consultar relógios, mas obedecem aos horários da casa: hora de despertar e recolher-se, das refeições, o xixi no lugar certo, as despedidas, os passeios e brincadeiras, o silêncio necessário quando as crianças fazem o dever de casa, envolvidas com livros e cadernos.

Da mesma maneira, eles são muito solidários: eles não procuram brincadeiras agitadas quando percebem que os tutores estão cansados e desanimados, por exemplo. Apenas observando o semblante dos amigos humanos, os peludos decidem rapidamente se o melhor a ser feito é propor um esconde-esconde ou apenas colocar-se ao lado e deixar os tutores descansando.

Os exageros no adestramento dos cachorros

Falando especificamente do adestramento canino, o principal exagero é impor tarefas que estão além da capacidade de compreensão dos peludos, ou às quais eles não têm o menor interesse, aptidão ou habilidade.

Erros e exageros no treinamento dos cachorros

Os cachorros aprendem rapidamente a usar o banheiro, o quarto e o refeitório da casa: os lugares designados para as necessidades fisiológicas, para descansar e dormir e para fazer as refeições, mesmo que poucos metros separem um local do outro. Com duas ou três repetições, eles já identificam os locais estratégicos.

Para ensinar as regras do passeio, é preciso armar-se com um pouco mais de paciência. Nós saímos de casa praticamente a qualquer hora, mas os cachorros saem apenas quando têm licença para tanto: para nós, é corriqueiro; para eles, é um momento especial.

As primeiras caminhadas ficam muito longe de parecer um momento de lazer e relaxamento: os cães tentam correr, puxam a guia, assustam-se com os barulhos da rua, não sabem como reagir às pessoas estranhas que cruzam o caminho.

Os tutores, com toda a paciência do mundo, precisam apresentar o movimento. Os comandos básicos (“sim”, “não”, “fica”, “junto”, “vai”, “vem”, etc.) são muito úteis, mas, considerando que os cachorros estão vivenciando uma situação inédita, não se deve esperar que eles obedeçam prontamente.

Quando o cachorro puxa a guia, o tutor deve apenas parar, dizer “não” e retomar o movimento com a guia sobrando. Se puxar de novo, é necessária nova parada, novo comando e nova retomada. É um pouco cansativo, mas faz parte do treinamento.

O medo e o tédio

O medo também faz parte do aprendizado. Naturalmente, nenhum cachorro deve ser incentivado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa por medo das consequências. Os peludos não devem temer os tutores, mas respeitá-los e divertir-se com eles.

Aqui, falamos do medo do desconhecido e, de alguma maneira, aprender é justamente facear o desconhecido: ninguém aprende o que já conhece. Os cachorros receiam ruídos, aromas e movimentos frenéticos e inusitados.

As ruas estão cheias dessas “manifestações”, mas elas também podem ocorrer nas casas dos vizinhos, em uma chuva ou ventania especialmente forte. Não se deve esperar que o cachorro se decida sozinho a investigar a origem de uma sirene: a tendência natural é disparar em sentido contrário à origem do barulho.

Os cachorros também podem sentir medo das pessoas que encontram nas ruas, nos outros pets que estão circulando, nos automóveis. As reações, mais uma vez, são sempre individuais. Alguns peludos podem até mesmo se armar de coragem e tentar resolver a situação.

As raças caninas influenciam nos comportamentos. Um são bernardo, quando caminha durante horas, entende estar procurando eventuais vítimas: ele está, portanto, exercendo o ofício para o qual foi criado. Vale o mesmo para um afghan hound, que está sempre em busca de presas (ele é basicamente um caçador solitário).

Já um husky siberiano, durante um passeio pela vizinhança, entende estar “de folga”. Ele já foi um puxador de trenós e ainda entende que, se não há cargas para transportar, trata-se de uma pausa para o lazer. Então, nada melhor do que seguir uma pista nova, fazer novas amizades ou perseguir furiosamente uma borboleta que tenha ousado cruzar o seu caminho.

Exageros e contrassensos

O melhor método para treinar os cachorros é o estímulo positivo. Poderíamos inclusive dizer que é o único método, uma vez que gritos e castigos corporais podem inibir algumas condutas, mas nunca ensinam nada a ninguém.

Erros e exageros no treinamento dos cachorros

Os tutores, ao adestrar os peludos, precisam ter muita paciência, perseverança para vencer a persistência e tenacidade de alguns cachorros (características mais conhecidas como pura teimosia) e constância: as regras de ontem ainda valem hoje e continuarão valendo amanhã.

É importante conhecer as vocações de cada cachorro. Alguns se divertem com treinos intensos e são bons candidatos ao agility, às corridas, etc. Tudo depende, claro, do porte e das condições de saúde.

Conhecer as características dos peludos é fundamental. Observe o seu cachorro caminhando. Se ele prefere o trote ao galope, certamente não irá se dar bem nas corridas, mas pode se tornar um campeão de porte e postura, ou de obediência.

Alguns peludos são bons em aprender truques e, quase sempre, eles também gostam de se exibir. É o caso dos border collies e dos poodles de todas as variedades. Os cachorros mais agressivos podem não se interessar por bolinhas e discos, mas certamente terão prazer em disputar um cabo-de-guerra com os tutores.

Há também os “cansados por natureza”, que preferem brincadeiras simples, como “step no sofá” (às vezes, com uma caixa de papelão no meio do caminho para a escalada). Alguns gostam de apenas ficar ao lado, observando a paisagem e farejando alguma novidade.

Não se deve esperar, portanto, que um cachorro bonachão exiba qualidades de atleta, nem que um corredor nato permaneça durante horas apenas observando a natureza. Os cachorros são bastante adaptáveis, mas têm interesses próprios e é neles que podem se destacar.

Alguns contrassensos são inimagináveis quando discorremos sobre eles, mas surgem em situações cotidianas na vida dos cachorros:

  •  o isolamento – muitos cães passam parte do dia sozinhos, enquanto os tutores cumprem as tarefas do dia a dia. A maioria se acostuma à rotina, mas, de qualquer maneira, eles precisam de algumas horas de atenção, brincadeiras e carinho;
  • a disposição instantânea – não se deve achar que os cachorros estão sempre prontos, com as baterias carregadas de energia. Eles são bons parceiros de jogos e brincadeiras, mas também têm momentos em que é necessário ficar sozinho;
  • extrema independência, extrema carência – imaginar que um cachorro pode ficar sozinho na maior parte do tempo, sem nenhum estímulo, é uma besteira equivalente a achar que ele nunca pode ficar sozinho, porque é muito apegado. Até mesmo os chicletinhos sabem ser autônomos;
  • lealdade para o que der e vier – os cachorros são conhecidos pela lealdade inconteste e isto já está mais do que comprovado. Isto não significa que eles tenham prazer em conviver com tutores rudes e negligentes, tratados com gritos, castigos físicos e privações. Eles podem ser nossos melhores amigos: são bons, mas não são bobos. E estão longe de serem santos.

Os cachorros não devem ser mantidos isolados por muito tempo, sem nenhuma tarefa para desenvolver. Nestas condições, eles ficam entediados, muitos se tornam destrutivos (alguns chegam a investir contra as patas e o rabo), outros se tornam violentos. Não é para nada disso que se adota um cachorro.

Da mesma forma, eles não podem se tornar o centro das atenções. A família tem atividades próprias que não podem ser negligenciadas por causa do cachorro. É preciso adaptar a rotina, mas tratar com excesso de mimo faz mal tanto para os peludos, quanto para os tutores.

Adotar um cachorro é muito divertido, mas felizmente a parceria não se faz só com brincadeiras. É preciso ensinar, corrigir, socializar, abrir espaço para que o peludo mostre a personalidade.

Para nossa sorte, os cães não desenvolvem transtornos emocionais severos e definitivos. Mesmo com alguns erros e exageros, o relacionamento pode ser resgatado e transformado em uma parceria de amizade e alegria. Basta refletir, encarar os cães como cães, oferecer as melhores oportunidades e corrigir os “desvios de rota”.

No que diz respeito aos cachorros, um relacionamento que começou errado pode ser corrigido com facilidade. Mesmo os peludos que sofreram maus tratos aprendem a confiar e a receber afeto e atenção. Em troca, eles são capazes de fornecer 1.001 alegrias, distribuídas em alguns dias, meses ou anos.

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