Ela é recomendada e até obrigatória para muitos cachorros. Entenda o uso certo da focinheira.
A focinheira é um acessório fundamental de segurança para os passeios de cachorros de grande porte e para aqueles que apresentam comportamento agressivo ou reativo em ambientes públicos, com circulação de desconhecidos. A seguir, apresentamos o uso correto da focinheira, lembrando que ela não deve ser encarada como um castigo.
O modelo mais popular é confeccionado com PVC. O acessório é bastante ventilado, garantindo o conforto e reduzindo o estresse dos cachorros durante as caminhadas na rua. Existem também focinheiras metálicas, com frontais gradeados, que restringem os movimentos do focinho, impedindo a abertura da boca.
Existem também modelos mais simples, em náilon e AMF, compostos apenas por tiras ajustáveis que limitam a movimentação do focinho. Os tutores precisam considerar que, junto com as focinheiras, os cães agressivos devem ser conduzidos com guia curta, para reduzir as chances de acidentes.
No momento da escolha do acessório, é preciso considerar a estrutura anatômica dos cachorros. Os animais de focinho alongado, como o greyhound e o afghan hound, podem precisar de focinheiras especiais, para garantir o conforto. O mais difícil, no entanto, é encontrar focinheiras para cães braquicefálicos (de focinho achatado), como os boxers e dogues de Bordéus.
Quando usar a focinheira?
O emprego da focinheira é indicado para os cachorros potencialmente agressivos e violentos, muitos deles com históricos de avanços e mordidas em pessoas desconhecidas. O acessório também é usado nos cães reativos, que se assustam ou amedrontam e reagem de forma perigosa.
Todos os cães, é preciso deixar claro, podem atacar. O comportamento mais comum entre os lobos, os ancestrais dos nossos cachorros, é afastar-se das brigas e só revidar em casos extraordinários, mas eles são dotados de armas – dentes e garras poderosos – e sabem usá-los muito bem para se defender.
A diferença é que, entre os cachorros pequenos, as mordidas não representam grandes prejuízos – mesmo assim, elas devem ser coibidas e substituídas por comportamentos sociais mais adequados.
Entre os animais grandes, os efeitos podem ser muito prejudiciais – a imprensa, inclusive, está sempre noticiando casos de agressões e até mortes de animais “perigosos”. Quase sempre, eles foram apenas mal-educados, mas um cachorro mais expansivo e extrovertido pode usar a força para brincar e acabam gerando riscos. A focinheira evita perigos desnecessários.
O uso também é recomendado para cães de agarre, como o fila brasileiro e mesmo o simpático whippet, que parece inofensivo, mas dificilmente solta uma presa depois de agarrá-la. Por fim, a focinheira é útil para disciplinar cães que desenvolvem o mau hábito de engolir tudo que encontram pela frente, inclusive excrementos e até pombas e ratos mortos.
O uso da focinheira
É fundamental acostumar os cachorros com a focinheira desde que eles são filhotes. O uso não pode ser considerado como um castigo ou punição, uma vez que o acessório deve ser usado durante os passeios diários, que devem ser, para os peludos, momentos de diversão, exploração e aprendizado.
Os passeios diários são fundamentais para a saúde e o bem-estar dos cachorros. Os animais de grande porte se desenvolvem fisicamente muito rápido e os exercícios são imprescindíveis para fortalecer ossos, músculos, tendões e articulações.
Além disso, durante as caminhadas, os cachorros aprendem a conviver com os desconhecidos – humanos, outros cachorros e alguns seres surpreendentes, como carros, motos, ônibus e caminhões. A socialização é fundamental para o equilíbrio emocional dos peludos.
Os passeios, portanto, não podem ser momentos em que surgem sinais negativos. Se a focinheira é usada como castigo, nos momentos em que o acessório é necessário, o cachorro entenderá naturalmente que ele está sendo punido.
Vale lembrar que, em alguns Estados brasileiros, como Rio de Janeiro e São Paulo, o uso da focinheira com a guia curta é obrigatório por lei para a condução de algumas raças caninas em locais públicos. É o caso do rottweiler, pitbull, american bully, staffordshire terrier e mastim napolitano.
Há legislações específicas também em Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Todos os cães de grande porte, nestas unidades da federação, devem usar a focinheira em locais de acesso público. A exceção fica por conta dos cães guia e terapeutas, mas o tutor precisa portar documentos comprobatórios da condição.
Um passo a passo
O ideal é que a focinheira seja encarada pelos cachorros como um objeto do cotidiano quando eles ainda são filhotes, ainda antes dos primeiros passeios e treinamentos. O acessório deve ser apresentado aos cãezinhos durante as brincadeiras.
Naturalmente curiosos, os filhotes tendem a investigar tudo que estiver ao alcance das suas patas. O tutor pode oferecer alguns petiscos enquanto o cãozinho inspeciona a focinheira, ou deixá-la estrategicamente posicionada ao lado do comedouro, durante as refeições.
Um biscoito colocado no fundo da focinheira pode obrigar o cachorro a vestir o acessório naturalmente, no meio da brincadeira. Aos poucos, a focinheira se torna trivial, com cheiros familiares e evocações prazerosas e divertidas.
O método de reforços positivos no adestramento funciona para todos os cachorros, mesmo os mais dominantes e reativos. Com os comandos associados a recompensas, os filhotes passam a atendê-los à medida que incorporam a ideia de que os tutores são os líderes da matilha e, como tal, devem ser respeitados e acatados.
As brincadeiras com o uso da focinheira como apoio devem ser evitadas nos momentos em que o cachorro está estressado ou excitado – por exemplo, no final de uma sessão de arremessos ou de cabo-de-guerra. Ou depois que o peludo faz algo errado, como xixi fora do lugar ou canteiro escavado.
Mais uma vez, vale destacar: a focinheira não pode ser encarada como punição. Assim, por mais que seja tentador, os tutores não devem usar o acessório para eliminar condutas indesejadas, como reduzir os latidos ou impedir assaltos a lixeiras.
Os momentos finais de brincadeiras agitadas também não são indicados para o aprendizado de coisas novas. Os cães saudáveis sempre querem brincar um pouco mais e ficam desapontados quando os tutores recolhem os objetos. É preciso dar um tempo para que eles se acalmem e só depois incluir novos comandos, regras, acessórios, etc.
Escolha o modelo mais adequado da focinheira. Os acessórios fechados, com extremidades gradeadas, que cobrem o focinho e impedem totalmente a abertura da boca, são indicados para os cães mais fortes fisicamente (como mastins napolitanos e rottweilers), mas a focinheira de tiras exerce as mesmas funções sem limitar tanto os movimentos.
A educação dos cães bravos
Alguns tutores inadvertidamente usam a focinheira para tentar inibir as condutas agressivas dos cães. No entanto, este tipo de comportamento é inerente a algumas raças caninas. Ele não deve ser incentivado, mas reprimido.
Como os peludos são animais extremamente inteligentes, desde que eles não recebam estímulos em sentido contrário, rapidamente passam a se comportar de maneira menos competitiva, reativa ou violenta.
Os cachorros sempre querem agradar os humanos com quem convivem e, quando percebem que as ações agressivas, dominantes e territorialistas não são bem aceitas, eles passam a agir de maneiras diferentes.
É muito importante que os tutores não enviem mensagens conflitantes para os cachorros. Vigiar o movimento em frente à casa, por exemplo, é uma conduta esperada, mas latir para todos os transeuntes, não.
Desta forma, a vigilância deve ser celebrada, premiada e valorizada com palavras de incentivo e agrados, mas os latidos excessivos precisam ser ignorados ou reprimidos – por exemplo, retirando o animal do jardim da casa.
Alguns comportamentos dos tutores, no entanto, são mais sutis – mas igualmente prejudiciais para a atuação dos cachorros. É o caso de promover brincadeiras violentas, estimular o senso de posse (recompensando o cachorro quando ele rosna, avança ou esconde um objeto).
Até mesmo achando graça quando o peludo tenta atacar um gato que circula pelo muro da propriedade é um incentivo ao comportamento agressivo e territorialista. Para os cachorros, é difícil compreender que um gato não pode invadir o quintal, mas a entrada é franqueada para uma visita ou um prestador de serviços.
Os filhotes conseguem diferenciar intrusos de visitantes – muitas vezes, basta um comando firme do tutor. Os problemas surgem quando os sinais enviados são conflitantes. Se o cachorro é dominante, ele sempre escolherá agredir e afastar os “invasores”.