A resposta é negativa: não se deve dar anticoncepcional para cadelas. Entenda por quê.
Para os humanos, os anticoncepcionais representaram um grande avanço em questões como direitos reprodutivos, planejamento familiar e liberdade sexual. Nada disso, contudo, se estende ao mundo canino: as cadelas só têm a perder quando se dá anticoncepcional a elas.
Anticoncepcional para cadelas é altamente prejudicial para a saúde. Alguns tutores acreditam de boa-fé que o método é menos definitivo do que a castração – e muito mais barato, apesar de, no médio prazo, acabar ficando mais caro.
No entanto, os anticoncepcionais são formulados à base de progesterona (um dos hormônios sexuais femininos), substância fortemente relacionada a inflamações e tumores de mama, ovários e útero.
Nas cachorras, a progesterona sintética simula uma gravidez, impedindo que o organismo delas aumente a produção de outro hormônio sexual, o estrogênio, substância responsável pela receptividade e acasalamento (durante o cio).
Sob a ação do hormônio sintético, o útero se desenvolve como se estivesse abrigando embriões. A cadela não consegue eliminar as secreções produzidas, uma vez que a gravidez é apenas simulada e não culmina no parto, quando contrações uterinas eliminam o conteúdo do órgão.
Um problema muito comum entre as cadelas não castradas é a piometra, uma infecção uterina. Durante o cio, a vagina e o útero ficam mais expostos; portanto, estão mais suscetíveis a invasões bacterianas.
Os micro-organismos se alojam no endométrio, tecido formado para a fixação e posterior desenvolvimento dos embriões. A cada ciclo reprodutivo, um novo endométrio é formado; desta forma, as cadelas ficam mais suscetíveis à infecção, que pode ser fatal.
O uso de anticoncepcionais em cadelas
Dar anticoncepcionais para cadelas não é uma tarefa fácil. Um dos erros mais comuns entre os tutores é fornecer a medicação quando as cachorras entram no cio, exibindo sinais de que estão receptivas ao acasalamento:
- a vulva aumenta de tamanho e a pele da região torna-se mais escura;
- ocorrem sangramentos, muitas vezes confundidos com menstruação;
- a cachorra se mostra inquieta (em alguns casos, ela pode ficar agressiva);
- ela também se mostra apática, triste ou carente;
- surgem alterações no apetite;
- algumas cachorras demonstram dor, desconforto e hipersensibilidade ao toque;
- os machos da vizinhança revelam-se inquietos e agressivos.
Quando estes sintomas se tornam mais visíveis, no entanto, a ovulação já está acontecendo. Especialmente se a cachorra é mantida em local com acesso a machos, ela já pode ter acasalado algumas vezes antes que o cio fique evidente para os humanos.
Os anticoncepcionais para cachorras devem ser dados no final do anestro, período imediatamente posterior ao último cio (ou ao desmame da última ninhada), ou no começo do proestro, quando a cadela se mostra receptiva, mas ainda não está pronta para acasalar. O proestro dura de dois a cinco dias, mas, nas cachorras de grade porte, a fase pode se estender por até três semanas.
As injeções anticoncepcionais, único método contraceptivo disponível para cachorras e gatas, funcionam como inibidores do estro (cio). O uso contínuo, no entanto, é fator para desenvolvimento do diabetes e da acromegalia (desenvolvimento anormal de membros, cauda, orelhas e focinho nas cadelas mais jovens).
O diabetes pode ocorrer porque a elevação da produção a progesterona inibe a atuação da insulina, hormônio sintetizado pelo pâncreas que estimula as células a absorverem a glicose presente na corrente sanguínea.
Quando usar?
A única situação em que os métodos contraceptivos devem ser adotados é para poupar as cadelas matrizes. Criadores responsáveis devem permitir a cruza apenas de um ano a um ano e meio depois do desmame.
É um período de descanso para as cadelas empregadas pelos canis para gerar filhotes. Se nenhuma providência for tomada, elas podem engravidar novamente poucas semanas depois que a última ninhada é desmamada.
Criadores irresponsáveis lucram obtendo duas ninhadas a cada ano, mas é evidente que isto prejudica a saúde das cachorras. De qualquer forma, depois dos sete anos, o recomendado é castrar as antigas matrizes; do contrário, o cio continuará ocorrendo praticamente até o final da vida.
Os males dos anticoncepcionais para cadelas
Anticoncepcionais para cadelas não são 100% seguros para evitar uma gravidez indesejada. Além disso, é preciso considerar os riscos de deixar as cachorras no cio: durante o estro, elas produzem feromônios, substâncias químicas que atraem os machos da região.
Os feromônios podem ser identificados por machos férteis a mais de dois quilômetros de distância. As tentativas de acasalamento quase sempre resultam em invasões, brigas e acidentes, como atropelamentos e quedas, que seriam evitados com a castração.
A não castração é responsável por uma série de doenças, inclusive as sexualmente transmissíveis (DSTs). Entre outras, os animais podem contrair brucelose ou desenvolver o tumor de Stickers, duas infecções potencialmente fatais.
A castração
O único método seguro para evitar os filhotes indesejados (e também as pequenas poças de sangue que se espalham pelos ambientes em que uma cachorra no cio circula) é a castração. Trata-se de um procedimento cirúrgico para a retirada dos ovários e do útero.
O ideal é que os tutores levem as cachorras para castração antes do primeiro cio. Algumas cadelas acabam se tornando férteis precocemente (especialmente as de pequeno porte e as sem raça definida). Por isso, a cirurgia pode ser realizada logo depois de encerrado o primeiro ciclo reprodutivo.
No procedimento, feito sob anestesia geral (que pode ser inalatória ou injetável), as cadelas sofrem um corte no abdômen, para a retirada dos órgãos reprodutivos. A cirurgia dura cerca de uma hora e, na maioria dos casos, a pet volta para casa no mesmo dia.
Até a retirada dos pontos, que acontece por volta de dez dias depois da cirurgia, a cachorra deve tomar analgésicos e antibióticos, para evitar dores e infecções. Algumas roupas especiais evitam que o animal lamba ou morda o local do corte, mas um colar elisabetano pode ser usado sem problemas.
Para fazer a cirurgia, a cachorra precisa estar com a caderneta de vacinação em dia. Seis horas antes e doze horas depois, a pet deve permanecer em jejum. No pós-operatório, é importante evitar movimentos bruscos.
Apesar de ser um procedimento simples, o veterinário pode solicitar uma série de exames, para comprovar que o animal está em boas condições de saúde. Doenças cardíacas, infecções pré-existentes e algumas alergias podem exigir cuidados especiais da parte da equipe médica.
Nos dias seguintes à castração, até a retirada dos pontos, os tutores precisam ajudar a cachorra, impedindo que ela pratique exercícios físicos – que, em alguns casos, podem ser apenas subir no sofá ou na cama. As orientações sobre higienização do corte e troca de curativo precisam ser seguidas à risca.
A castração evita o desenvolvimento de tumores nos genitais, útero, ovários e mamas. Além disso, reduz significativamente o risco de infecções. As cadelas se tornam mais tranquilas e equilibradas. Por fim, a cirurgia impede o abandono de adultos e filhotes, um dos grandes problemas dos cachorros do Brasil e do mundo.
Aviso importante: O nosso conteúdo tem caráter apenas informativo e nunca deve ser usado para definir diagnósticos ou substituir a consulta com um veterinário. Recomendamos que você consulte um profissional de confiança.