O caso da Luísa Mell e a cadela borzói supostamente roubada 

Luísa Mell, ativista dos direitos animais, envolveu-se no resgate de um cadela da raça borzói.

A história começa da Luísa Mell e a cadela da raça borzói começa aqui: Durante uma abordagem policial, a cadela Pia, da raça borzói, foi retirada da casa em que morava, em São Sebastião (SP). A equipe de resgate estava acompanhada por membros do então Instituto Luísa Mell – o caso aconteceu em junho de 2021 e a ativista participou pessoalmente da operação. 

O resgate foi motivado por denúncias de maus tratos a animais em um canil de criação de buldogues franceses, instalado na cidade do litoral norte paulista: o local não estaria oficialmente habilitado, funcionando de maneira irregular segundo informações da época que os fatos ocorreram. Também de acordo com as notícias e relatos da ativista dos direitos animais, cerca de 130 cães foram retirados do local. 

A cadela da raça borzói 

Mas não foram apenas os buldogues franceses supostamente irregulares que foram retirados do local. Pia, uma borzói fêmea de três anos, importada ainda filhote pelos proprietários do canil, também foi “confiscada”. 

A cachorra não estava nas dependências do canil. As redes sociais de Luísa Mell informaram que ela foi encontrada em um ambiente fechado e sem ventilação, anexo à residência dos criadores dos buldogues. Pia estaria em um cômodo fechado e sem janelas. 

Inclusive teriam confundido a cadela da raça borzói com a raça afghan hound, insinuando que ela estaria muito magra (o porte magro é padrão da raça borzói) e que isso confirmava os maus-tratos.

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Pia, a cadela da raça borzói.

A família não se encontrava em casa no momento da operação policial acompanhada por ativistas dos direitos animais. O casal e um filho tinham viajado durante o final de semana. É nesta parte do relato que surgem as primeiras complicações do caso. 

Pia, a borzói, não fazia parte do plantel de criação. Na verdade, ele atuava como cão de suporte emocional do filho do casal de proprietários, um adolescente com diagnóstico de transtorno do espectro autista. 

Cães de suporte emocional não gozam do mesmo status dos cães-guia e outros animais de trabalho, como os que acompanham operações de resgate. No Brasil, o tema ainda não foi regularizado, mas em outros países, como os EUA, eles podem inclusive viajar com os seus “pacientes” sem necessidade do pagamento de taxas extras, por exemplo. 

A viralização do caso Luísa Mell e a borzói

Na época da apreensão, duas circunstâncias fizeram o assunto render matérias em diversos meios jornalísticos: os agentes não tinham autorização para fiscalizar a residência familiar, ao lado do canil, onde Pia foi encontrada; e o adolescente se viu privado de uma acompanhante fundamental para o seu bem-estar e segurança.  

Talvez por isso, o “resgate de Luísa Mell”, como o caso ficou conhecido, tenha viralizado com força inusual nas redes sociais. No Twitter, o assunto permaneceu nos trending topics durante semanas. Em uma conta nesta rede social (@pietradoagreste), uma jovem internauta traduziu os comentários: 

“Luísa Mell foi participar de um ‘resgate’, às 4h da manhã, em um canil de buldogues. Ela fez stories chorando como sempre. Como se não bastasse, ela entrou em uma casa onde residiam um homem, uma mulher e um adolescente autista, e levou também o cachorro da família.” 

O episódio continuou bombando nas redes sociais, repercutindo matérias jornalísticas e análises publicadas em jornais, revistas e sites. Outro usuário, desta vez do Instagram, faz acusações graves (mas não apresenta provas). 

O caso da ativista e a borzói subtraída 
Perfis da borzoiantonieta e da Luisa Mell

O perfil @antonietaborzoi_oficial reforça todas as acusações em relação às irregularidades do resgate e vai além, ao afirmar que, além de subtrair a borzói de casa, a ativista teria forjado um atestado de óbito e doado a cachorra para um amigo. 

O caso da borzói e de Luísa Mell rendeu processos judiciais contra a ativista, em paralelo às acusações que já vinham sendo respondidas pelo casal de criadores dos buldogues. O assunto voltou à tona com as discussões acaloradas sobre a capivara Filó, um animal selvagem tornado famoso por ter sido adotado por um influencer brasileiro. 

Em um vídeo do Youtube, publicado no canal Top Pet – Pet Shop, no início de maio de 2023, a veterinária Ana Camila retoma e resume o caso do resgate (ou sequestro): 

  • o ingresso dos agentes e ativistas na residência teria sido irregular, uma vez que o mandado de busca se restringia às dependências do canil; 
  • a borzói Pia, desta maneira, teria sido retirada de maneira indevida, já que não faz parte do plantel de criação (específico de buldogues franceses); 
  • a cachorra teria recebido um novo microchip de identificação, configurando um provável caso de “dupla identidade”; 
  • o adolescente teria sofrido sérios danos com a ausência da borzói, que ela o fazia sentir-se seguro para desenvolver as tarefas cotidianas; 
  • Pia, rebatizada como Antonieta, teria sido entregue a um amigo de Luísa Mell. Sempre de acordo com o vídeo, a ativista estaria sendo processada por perdas e danos, com um pedido de ressarcimento de R$ 15 milhões. 

A veterinária questiona ainda as condições atuais da borzói. Comparando fotos do momento da apreensão com uma postagem sobre o processo (encaminhado ao Tribunal de Justiça de São Paulo – TJSP), nota-se que Pia não está em boas condições. A pelagem, que deveria ser longa, franjada e brilhante, está embaciada e crespa, muito longe do padrão da raça. 

O vídeo da veterinária pode ser assistido abaixo:

Mais alguns detalhes 

Em maio de 2023, Luísa Mell foi desligada da entidade que levava seu nome, atualmente conhecida como Instituto Caramelo. Nas redes sociais, houve uma troca de acusações entre a ativista e a ONG, que afirma nunca ter recebido apoio financeiro por parte da apresentadora. 

Luísa rebateu afirmando que dedicou anos às atividades desenvolvidas pelo instituto, de resgate, abrigo, reabilitação de realocação de cães e gatos, além de ter emprestado o próprio nome para ampliar a captação de recursos financeiros. De qualquer maneira, o instituto nunca mais se manifestou sobre o resgate dos buldogues. 

A ativista é uma figura pública bastante conhecida (tendo inclusive participado de diversos programas na TV aberta) e fundou a ONG. O Instituto Caramelo chegou a postar, no Instagram, que processaria Luísa pelos “danos à causa animal”, mas a mensagem foi apagada pouco depois da postagem. 

A raça borzói é bastante incomum no Brasil, apesar de haver alguns poucos criadores credenciados junto à Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC). Pia foi importada da Polônia e, para entrar no Brasil, teve de ser esterilizada antes do embarque. Trazer um cachorro de outro país implica uma série de custos com registros oficiais (gravados em microchips), laudos médicos e imunizações. As despesas podem chegar a 5.000 euros (cerca de R$ 27.600, pelo câmbio atual). 

O outro lado 

Luísa Mell se pronunciou sobre o resgate de Pia/Antonieta na época da apreensão, inclusive em resposta à internauta @antonietadoagreste, do Twitter e, mais recentemente, voltou a fazer algumas postagens sobre o assunto. 

A ativista afirma que a autora dos tweets é “mentirosa e criminosa”. Com a repercussão nas redes sociais, Luísa Mell postou diversas informações. Ela disse que a borzói foi apenas uma, entre mais de 130 cães, resgatados “de um canil clandestino” naquela madrugada. 

Mell disse também que as postagens mais recentes acontecem em função dos desdobramentos do processo que está (ou estava) sendo movido contra Gabriela Sertório Bueno de Camargo, proprietária do canil. A ativista diz que a empresária responde também por outros crimes, como tráfico de drogas. 

Nas palavras da ativista: “A borzói estava há dias sozinha, em um quarto escuro e sem janelas quando a polícia chegou. Quem determinou quais cães seriam apreendidos foram as autoridades públicas, tendo (o Instituto Luísa Mell) apenas cumprido as determinações policiais”

Luísa Mell disse ainda nas postagens: “No local, que não era uma clínica veterinária, foram encontradas cadelas suturadas com linha de pesca, anestésicos e medicamentos veterinários, tesouras cirúrgicas, além de uma foto de Gabriela, que não é veterinária, em uma cesárea”

Ainda de acordo com o relato da ativista, a polícia intimou Gabriela Camargo várias vezes, entre os anos de 2020 e 2021, para que ela apresentasse a sua defesa contra as acusações de maus tratos a animais e tráfico de drogas (possivelmente, medicamentos veterinários de uso restrito). A criadora teria tentado impetrar um habeas corpus, que foi negado pelo TJSP, o que teria determinado a expedição do mandado de busca e apreensão.  

Segundo as informações de Mell, ela e outros voluntários do atual Instituto Caramelo sempre participaram de operações de resgate em canis clandestinos, quando convidados pelas autoridades. Os processos sobre o caso Pia e seus proprietários correm em segredo de justiça, inacessíveis à imprensa e à população geral. 

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