Os cachorros conseguem se comunicar muito bem. E as conversas vão muito além dos latidos.
Quem vive com cachorros sabe que eles são muito expressivos. É comum ouvir tutores dizerem que “só falta falar”. Na verdade, os cães utilizam várias linguagens para se comunicar, tanto com os humanos, quanto entre eles. As principais são as vocalizações e os gestos corporais.
Os tutores podem aprender as formas de comunicação dos cachorros e tornar a convivência ainda mais prazerosa e divertida. Além de conversarem uns com os outros, os peludos também desenvolveram estratégias para “falar” com humanos e até mesmo com outros pets.
As formas de comunicação
Grande parte dos animais é capaz de se comunicar com os seus iguais. É comum observar, por exemplo, abelhas e formigas trocando informações – elas transmitem substâncias químicas produzidas pelo próprio organismo para informar sobre locais de coleta, riscos de invasões às colônias, etc.
Os animais gregários – que vivem em grupos mais ou menos organizados – desenvolveram estratégias de comunicação ainda mais sofisticadas. Os lobos, ancestrais dos cachorros, se comunicam para informar a necessidade de caça, proteção, ataque e defesa, treinamento dos filhotes e jovens, etc.
Em uma alcateia, nenhum lobo emite vocalizações exatamente iguais às dos colegas. Desta forma, quando uma sentinela uiva em determinado ponto do acampamento, todos os animais sabem “quem está falando” e o que ele quer dizer: se está tudo bem, se um grupo desconhecido está se aproximando e assim por diante.
Caras e bocas
Os cachorros herdaram todas estas capacidades. Naturalmente, vivendo com os humanos, eles podem não ser tão habilidosos na caça ou na sobrevivência em condições mais severas, mas, por outro lado, eles também ampliaram o repertório, imitando ou adaptando algumas características próprias às da nossa espécie.
Uma destas estratégias é um conjunto imenso de expressões faciais, que só é superado pelos primatas superiores (orangotangos, gorilas, chimpanzés e humanos). Os cachorros conseguem usar mais de cem expressões fisionômicas, devidas principalmente à facilidade que eles têm de mover as orelhas e sobrancelhas.
Este repertório foi aprendido, em grande parte, no convívio com os humanos: lobos e chacais, entre outros canídeos também gregários, não apresentam essas mesmas expressões. Trata-se, portanto, de uma “novidade” criada no relacionamento dos peludos conosco.
De cachorro para cachorro
As expressões fisionômicas foram desenvolvidas especialmente para a comunicação dos cachorros com os humanos, com quem eles convivem há milhares de anos. Estas máscaras faciais também são empregadas para se comunicar uns com os outros, juntamente com os latidos e a linguagem corporal.
Os nossos melhores amigos tentam “falar” também com os gatos da família, mas quase nunca são bem sucedidos. As linguagens corporais das duas espécies são muito diferentes e até mesmo antagônicas. Mesmo assim, em casas com os dois pets, eles quase sempre conseguem estabelecer formas de comunicação eficientes, especialmente quando vivem juntos desde filhotes.
Mas, é entre os iguais – de cachorro para cachorro – que os peludos mostram toda a capacidade cognitiva para se comunicar se medo de errar. Dois ou mais cães estabelecem conversas o tempo todo. Basicamente, elas se destinam:
- às relações hierárquicas – há sempre um cachorro dominante no grupo, mesmo que seja o menor entre eles;
- fazem advertências sobre eventuais perigos;
- convidam para brincadeiras e correrias;
- organizam as rondas de vigilância da casa.
Sentidos apurados
Os cachorros usam o olfato, a audição e a visão para se comunicar. O faro canino é capaz de identificar cheiros diferentes a quilômetros de distância e, num tête-à-tête entre dois peludos, as cafungadas são formas eficazes para obter informações.
Cheirar os traseiros, por mais que os tutores considerem um hábito constrangedor, é muito útil para conhecer a disposição dos outros cachorros. Cães e gatos são equipados com glândulas adanais, situadas próximas ao ânus e aos genitais, que revelam a agressividade ou timidez, o medo e a disposição para atacar e até mesmo a disponibilidade para o acasalamento (entre cães não castrados).
Eles também usam os traseiros para identificar pessoas – tanto os parentes como os estranhos. Ao absorver ou exalar determinados cheiros, eles são capazes de “falar” sobre como anda a disposição para a interação e as brincadeiras, por exemplo.
No caso de cães desconhecidos, encontrados durante as caminhadas diárias, os odores “falam” sobre o estado de saúde, o que eles comeram na última refeição, a amistosidade ou agressividade, etc.
No momento das comunicações, os cães também param para escutar. Como eles são capazes de ouvir a grandes distâncias, são capazes de perceber a aproximação de amigos (e inimigos). Aliando a audição ao olfato, eles conseguem prever a aproximação de um temporal, de uma ventania e até de situações mais arriscadas, como uma enchente ou um incêndio.
Naturalmente, eles transmitem as informações captadas, especialmente para a família (humanos e outros pets). Os tutores podem ficar desorientados, mas os latidos servem para anunciar perigos ou comunicar “brincadeiras imperdíveis”, como perseguir uma pomba, um rato ou até mesmo uma borboleta.
As vocalizações
Latidos, uivos e ganidos são formas diretas – e mais compreensíveis para os humanos que os observam – adotadas nas conversas entre os cachorros. Os uivos são uma vocalização instintiva, cujo objetivo é informar a localização e a situação geral.
Ao ouvir um cão uivando, os outros sabem o que está se passando nas redondezas. Muitas vezes, ocorre uma reação em cadeia: cachorros vizinhos retransmitem as informações, que podem se repetir por distâncias consideráveis.
Existem outras vocalizações:
• os rosnados indicam medo ou raiva – os dois sentimentos são muito próximos. Quando um cachorro está rosnando, ele quer dizer para os outros não se aproximarem, porque ele está prestes a atacar.
Os sons emitidos, que podem ser entremeados com latidos mais roucos, são sempre acompanhados por dentes à mostra, orelhas eretas ou para trás (neste caso, quando eles estão muito apavorados) e o tórax projetado para a frente;
• os choramingos são pedidos de ajuda. Os cães estão com alguma necessidade e transmitem as suas carências para humanos e outros cachorros conhecidos. Eles também podem ser usados para demonstrar submissão: são sinais de que o peludo não quer briga.
Na relação com os tutores e com os cães dominantes, choramingar significa que o cachorro está com fome, sede, tédio, medo, etc. É uma forma eficiente de chamar atenção e conquistar companhia e alguns afagos;
• os gritos são raros entre os cachorros – eles dificilmente elevam a voz. Quando isso acontece, quase sempre os peludos estão assustados e muito alarmados, ou quando estão sentindo dores fortes.
Os cachorros são muito resistentes à dor e eles não associam imediatamente uma sensação dolorosa ao risco de vida e de segurança. Por isso, se um cachorro estiver gritando de dor (para os tutores e outros pets da casa), é preciso providenciar socorro médico imediato;
• os suspiros, por outro lado, são muito mais frequentes. Eles surgem em momentos de relaxamento e podem ocorrer depois de situações mais tensas – que podem ocorrer quando um carro dispara a buzina nas redondezas ou quando explodem fogos de artifício.
Os suspiros indicam a volta à normalidade: o cachorro percebeu que não há perigo (pelo menos, nenhum perigo iminente) e pode voltar a cochilar, brincar ou dar sequência às rondas de vigilância;
• a respiração ofegante também é uma forma de comunicação. Naturalmente, os cachorros podem exibir este estado quando estão cansados, depois de uma corrida, uma brincadeira mais intensa ou mesmo um exercício tranquilo em um dia muito quente.
Mas, quando a respiração ofegante surge sem nenhum motivo aparente de cansaço decorrente de esforço físico, o cachorro está informando que está estressado, incomodado ou entediado. Provavelmente, o cotidiano está sem atrativos. Cachorros que passam muito tempo sem atividades podem exibir a respiração ofegante como sintoma de ansiedade, estresse, depressão e outros distúrbios emocionais.
O corpo também fala
Por mais que os cachorros tenham vocalizações sofisticadas, eles não desenvolveram uma linguagem verbal para todas as situações. Esta, no entanto, não é uma limitação importante. Os peludos também conseguem se comunicar uns com os outros através da linguagem corporal.
Eles demonstram uma série de posições com a cabeça, tronco, membros e cauda, para “falar” sobre o que estão sentindo, sobre as descobertas recentes, sobre as necessidades mais urgentes, e assim por diante.
Quando um cachorro evita encarar alguém, seja o tutor, seja outro pet da família, ele está dizendo que está incomodado com alguma coisa. A postura, por exemplo, é verificada quando alguém pega um filhote no colo e o levanta subitamente no ar, ou quando alguém invade o espaço.
As lambidas frequentes no focinho também servem para sinalizar incômodo ou desconforto com alguma situação, da qual os cachorros querem se livrar o mais rápido possível. Qualquer condição desagradável pode disparar estas formas de comunicação.
Os tutores tendem a interpretar estas formas de linguagem como “confissões de culpa”, mas também podem ser sinais de ansiedade ou até mesmo indicar que eles não estão entendendo o que está acontecendo naquele momento – e estão desconfortáveis com a situação.
01. Sempre alerta
Um cachorro demonstra atenção e alerta posicionando as orelhas para frente, com o pavilhão auditivo aberto; com a boca fechada; com os membros rígidos e apoiados sobre as pontas dos pés, podendo acenar com os braços; com a cauda alinhada à linha superior do dorso.
Estes são sinais de alerta, que podem ser precursores tanto da excitação, do medo ou da ansiedade, de acordo com a situação pela qual os peludos estão passando. Eles podem assumir a posição ao ouvir um som estranho, ao se deparar com um desconhecido. Ao sentir um cheiro diferente, etc.
02. Relax, baby
Quando tudo está em ordem na redondeza, o cachorro demonstra tranquilidade e segurança através de uma postura relaxada. A cauda fica ligeiramente abaixada; a boca fica semiaberta, com as comissuras labiais flácidas; as orelhas permanecem em posição natural ou ligeiramente inclinadas para trás.
Esta posição é assumida, por exemplo, depois de uma atividade física, ao voltar para casa. Para os cachorros, são informações importantes, que indicam a normalidade ao redor – as pessoas, pets e objetos no ambiente são seguras e permitem a tranquilidade.
03. Vou partir para cima
A ameaça ofensiva ocorre quando um cachorro sente perigo em determinada situação: por exemplo, ao avistar outro cachorro emitindo substâncias químicas que indicam agressividade. A postura ofensiva ocorre com animais que sentem a necessidade de agredir.
O cachorro fica com a cauda erguida e rígida; com os pelos do dorso eriçados, para parecer maior; com os cantos da boca tensos; com as orelhas para frentes; com o focinho franzido; e com o peso do tronco distribuído na ponta das patas. Ele está prestes a partir para o ataque, para afastar uma invasão ao seu território.
04. É melhor não se aproximar
Na postura defensiva, o cachorro passa a informar que não quer brincadeiras nem interações. A cauda é portada baixa ou entre as pernas; a garupa é rebaixada; cotovelos e joelhos ficam levemente dobrados; o focinho fica franzido; as pupilas se dilatam; as orelhas ficam para trás.
Um cachorro que exibe a postura defensiva também é perigoso, mas provavelmente possui um temperamento conciliador. A linguagem corporal serve para comunicar que ele pode atacar, mas prefere apenas que o “invasor” (que pode ser um cachorro caminhando na rua) se afaste.
05. Sempre às ordens
Os cachorros possuem um senso sofisticado de hierarquia e tendem a aceitar a subordinação tanto aos tutores, quanto a outros pets da casa (principalmente os mais antigos). Nada mais natural, já que, com a submissão, ele obtém todo o necessário: alimento, abrigo, agasalho, segurança e carinho. Os peludos não se sentem humilhados quando ocupam “posições inferiores”.
Na submissão ativa, o cachorro mantém o corpo abaixado; a cauda baixa, mas abanando; e as orelhas para trás. No relacionamento com outros cães, o submisso pode lamber a boca do chefe ou oponente. É igualmente comum observar esta posição quando o cachorro leva uma bronca (e sabe que fez alguma coisa errada).
06. Amor, não guerra
A submissão passiva, no entanto, é um mero relaxamento para demonstrar que não quer brigar com ninguém. Além disso, ela também pode significar que o cachorro que a adota está confortável e seguro no ambiente.
O corpo fala da seguinte forma: o cachorro se deita de costas, expondo o abdômen; a cauda fica enrolada entre as pernas e a cabeça pende para um lado, evitando olhar diretamente para o oponente (ou superior).
Ao se posicionar desta forma, o cachorro está dizendo claramente que não quer brigar: a barriga desguarnecida indica que ele reconhece a superioridade (em força física ou apenas na hierarquia) do opositor, mas confia em que ele não fará nenhum mal.
07. Bocejos
Entre nós, um bocejo pode significar vontade de dormir ou apenas relaxamento depois de um dia atribulado. Para os cachorros, bocejar tem significados bem diferentes. Em primeiro lugar, ele está dizendo que está entediado, cansado das atividades cotidianas ou mesmo sem ter nada de bom para fazer.
Os bocejos são muito comuns entre os filhotes, quando eles percebem sons, cheiros ou imagens desconhecidas – e, portanto, potencialmente perigosas. No decorrer da vida, bocejar continua indicando incômodo em relação a algum estímulo no ambiente ou aproximação de um fator estressante.