Para os cães, a família inteira é uma matilha, que precisa de chefia. O dono precisa se tornar líder do cão.
Quando um filhote de cachorro, devidamente desmamado, vacinado e vermifugado, é retirado do convívio com a mãe e irmãos para viver com uma nova família, ele instintivamente começa a testar limites e entender “quem manda no pedaço”.
Na natureza, cachorros-do-mato e lobos, que vivem em bandos, sempre têm o sonho de assumir o posto de chefia – que significa, entre outras coisas, comer antes dos colegas e escolher as fêmeas para procriação. Um cãozinho, em casa, manifesta o mesmo desejo.
Um tutor indolente, que não se interessa pelo desenvolvimento adequado do pet, ou covarde, que permite todos os caprichos do novo membro da família, em pouco tempo se torna “mais um” na matilha. O cachorrinho rapidamente estabelece território, exige petiscos, carinhos, brincadeiras e além de almofadas, chinelos e tapetes.
O ideal é estabelecer o meio termo: nem abandono diário como rotina, nem dedicação exclusiva. Muitos adestradores, inclusive, recomendam que os tutores, ao voltarem para casa depois de uma exaustiva jornada de trabalho, não devem dar atenção imediata aos pets.
Ao entrar em casa, é preciso guardar eventuais compras, trocar de roupas, ligar a TV ou o computador e só depois disto aceitar a festa do cãozinho – e corresponder a ela. São apenas alguns minutos de brincadeira e carinho. Em seguida, a rotina é restabelecida.
A relação ideal entre cachorros e humanos está longe de ser assim. A disciplina deve ser estabelecida naturalmente, desde o primeiro dia: onde dormir, quando comer e brincar, os ambientes em que o filhote pode transitar. Se isto não aconteceu, é preciso se tornar líder do próprio cão. Felizmente, a tarefa é simples.
O treinamento
Quem adquire um cão (especialmente os marinheiros de primeira viagem) quase sempre tem o desejo de ensinar truques para a mascote: sentar-se, dar a pata, fingir-se de morto, rolar no chão, etc. No entanto, estes comandos não são a parte mais difícil.
O passo inicial é demonstrar liderança (ou reconquistar esta condição, muitas vezes perdida por excesso de mimos e afagos). Tornando-se líder, o tutor pode ensinar muitas coisas para o cão, sempre respeitando as características da raça: por exemplo, um pequinês nunca conseguirá percorrer longas distâncias (mas pode se divertir com o tutor em brincadeiras com pausas para retomada do fôlego).
Bons motivos para se tornar o líder
Existem muitos motivos para se tornar o líder de seu cão. Entre eles, podemos citar os mais importantes:
- um cachorro submisso dificilmente tentará ferir o tutor e demais familiares;
- durante os passeios, o pet não tentará puxar a corrente para correr atrás de uma presa ou mesmo de uma curiosidade, como uma pomba ou uma borboleta;
- o bom comportamento tende a permanecer, mesmo na presença de outros cachorros bagunceiros;
- gradualmente, ele desenvolverá o senso de propriedade. Em outras palavras, ele brincará com os seus ossos, bolinhas e bonecos, respeitando os bens dos outros membros da família, como os brinquedos das crianças, os móveis e decorações, etc.;
- a ansiedade e irritação diminuem bastante quando o cão consegue se situar em casa. isto reduz os uivos e ganidos;
- um cachorro bem ajustado não ataca entregadores, carteiros e visitantes. Ele pode até desconfiar destes intrusos e até esboçar alguns latidos, mas não se torna uma “máquina mortífera”;
- por fim, mas não menos importante, o cachorro ficará mais contente, e isto significa inclusive a elevação da imunidade contra diversas doenças.
As características do líder
Um líder precisa ter duas virtudes fundamentais: firmeza e paciência. Quando um filhote faz xixi no lugar errado, é preciso demonstrar curiosidade, levar o animal para o local correto (o quintal ou a area de serviço) e aguardar alguns minutos antes da próxima brincadeira.
Isto não significa, no entanto, que o pet aprenderá instantaneamente a usar o tapetinho higiênico, a folha de jornal ou o gramado do quintal. Cãezinhos sempre sofrem recaídas – e, em cada uma delas, devem ser advertidos. Afinal, tapete não é lugar de fazer as necessidades.
Por outro lado, não é preciso fazer um sermão. Os cachorros conseguem captar o significado de poucas palavras. O mais importante é o tom de voz. Gritos, movimentos drásticos e, no caso do xixi, esfregar o focinho na poça amarelada, são atitudes totalmente desnecessárias e inúteis.
Por outro lado, ser líder é também admitir os próprios erros. O tutor que deixa o cão sozinho em casa pelo dia inteiro não pode culpá-lo – ao menos não integralmente – pelas artes causadas em grande parte pela solidão. Se o cachorro precisa ficar sozinho, é necessário garantir o bem estar, com ração, água, brinquedos e, no caso de animais muito carentes, com a adoção de um companheiro.
Os cães são animais gregários, que gostam de conviver em família (que pode ser um solteiro morador de uma quitinete ou um lar amplo e cheio de pessoas de todas as idades). O relacionamento adequado desenvolve cachorros mais tranquilos, seguros e principalmente mais bem comportados.
Nossos pets são bastante inteligentes e compreendem rapidamente as limitações que devem ser observadas para garantir uma vida saudável. Eles reconhecem cada membro da família e estabelecem relações diferentes. Vale lembrar que, na hierarquia da residência, os pais, filhos e avós sempre estão acima dos cachorros, que podem chefiar outros pets (inclusive gatos).
Uma recomendação importante
Por fim, ser líder é deixar que “o cachorro seja cachorro”. Os cães são animais de utilidade (por isto, aceitaram facilmente a convivência com humanos). Os de pequeno porte foram desenvolvidos para caçar roedores e outras pragas – portanto, não se pode esperar que eles se comportem como bibelôs a serem levados a tiracolo.
Os cachorros grandes serviram por muito tempo para a guerra, a caça e a guarda da propriedade ou de comboios. Naturalmente, eles são agressivos e um líder é, acima de tudo, um tutor responsável, que não estimula condutas de ataque.