O cachorro desta história quase foi sacrificado por ser classificado como “inadotável”. Zeus é um simpático golden retriever que nasceu com prognatismo bastante pronunciado: a mandíbula se projeta para frente e os dentes ficam à mostra. Por causa disso, ele foi considerado muito agressivo.
Dustin Kelley, o atual tutor de Zeus, não estava pretendendo adotar um cachorro – pelo menos, não imediatamente. Ele estava apenas conferindo o site do abrigo, quando uma foto chamou a sua atenção.
Adotando o inadotável
O golden retriever era apresentado, entre dezenas de outros cachorros, mas não havia muitas informações sobre o animal. Ao conversar com a equipe do abrigo, Dustin ficou sabendo que Zeus estava prestes a ser sacrificado.
De acordo com a legislação da maioria dos Estados americanos, cachorros e gatos resgatados (por serviços oficiais ou ONGs), caso não sejam reclamados pelos tutores nem encontrem candidatos à adoção, podem ser abatidos a partir de 72 horas do momento da apreensão nas ruas.
Zeus é um belo animal e Dustin ficou impressionado com ele. Havia apenas uma foto no site, que mostrava o cachorro preso em uma gaiola, escondendo o rosto. O rapaz americano resolveu conhecer o animal pessoalmente.
Ao chegar ao abrigo, Dustin foi informado mais uma vez: Zeus não estava disponível para adoção. O “sorriso permanente” do cachorro indicava um comportamento agressivo: efetivamente, o golden retriever tinha cara de poucos amigos.
Naturalmente, o peludo estava apavorado naquele ambiente desconhecido. Ali, Zeus não tinha amigos, não sabia se localizar e passava a maior parte do tempo preso na gaiola – mesmo quando era solto no pátio, o cachorro ficava sozinho, para evitar que ele avançasse sobre os outros animais.
Mas Dustin queria conhecer o cachorro pessoalmente. Depois de conversar com os voluntários do abrigo, eles finalmente concordaram em trazer Zeus até a recepção. O jovem confessou, mais tarde, que ficou impressionado – de maneira negativa – ao ver o peludo pela primeira vez.
Com os dentes à mostra, muito tímido e nitidamente decidido a não interagir com os estranhos que o cercavam, Zeus definitivamente estava longe de ser um candidato ideal para a adoção. Mesmo assim, Dustin resolveu levá-lo para um passeio, tentando encontrar alguma qualidade no animal rejeitado pela aparência.
Zeus e Dustin deixaram o abrigo e foram dar uma volta no quarteirão. No início, o cachorro não encarava o novo amigo improvisado, não abanava o rabo nem parecia interessado em nada ao seu redor: ele mal reagia aos carros e pedestres que cruzavam o caminho.
Mas Dustin percebeu que, depois de algumas dezenas de metros, Zeus começou a dar sinais de que estava aliviado. A situação parecia melhor para ele naquele momento.
Nada mais natural: Zeus havia sido abandonado, capturado na rua e precisou se submeter aos procedimentos de triagem (banho, inspeção da pelagem, avaliação clínica, etc.). Em seguida, sem nenhum tempo para se adaptar, foi trancafiado em uma gaiola, sem interagir com a equipe e os demais cachorros do abrigo.
Ele estava assustado e certamente não tinha motivos para confiar em humanos, nem para procurar companhia. Naturalmente, Zeus não sabia que estava prestes a ser levado para a eutanásia: se conhecesse as leis humanas, ele aceitaria de bom grado qualquer gesto de continência e carinho.
Mais tranquilo, Zeus encerrou o passeio quase relaxado. Ele já olhava sorrateiramente para o novo amigo, sem saber ainda se poderia ou não confiar nele. Entrar no abrigo mais uma vez, no entanto, despertou as antigas desconfianças.
Zeus voltou a ficar arredio, com os dentes sempre à mostra: ele aprendeu que a “cara de bravo” era uma boa estratégia para afastar estranhos potencialmente perigosos.
O cachorro tinha por volta de um ano quando conheceu Dustin, mas aparentemente não tinha recebido nenhum tipo de adestramento. O rapaz ficou com sérias dúvidas: seria uma boa ideia adotar um animal antissocial, destreinado e possivelmente agressivo e violento?
Mas Dustin já havia sido conquistado pelo cachorro. Ele precisou de muitos argumentos, mas, depois de 30 minutos de conversas, o pessoal do abrigo concordou em liberar Zeus para um “período de experiência” na casa do jovem.
Dustin preencheu os papéis de adoção rapidamente e voltou às ruas com Zeus. Desta vez, o cachorro pareceu mais amistoso, talvez por ter saído mais uma vez do abrigo. Pelo menos, foi isso que o novo tutor imaginou.
Na pior das hipóteses, pensou Dustin, caso ele não se adaptasse à casa nova, seria possível tentar encontrar um novo lar para Zeus, sem a pressão da eutanásia marcada para os próximos dias. O golden retriever realmente merecia uma oportunidade.
A adaptação de Zeus realmente não foi fácil. Ele manteve o comportamento arredio, sempre com os dentes à mostra. O cachorro parecia não confiar em ninguém. Dustin precisou se armar com muita paciência para conquistar o novo amigo.
Dustin começou a entender a linguagem corporal de Zeus: os dentes à mostra não significavam necessariamente um ataque iminente. O cachorro projetava a mandíbula em diversas situações: para comer, para brincar, quando estava excitado, etc.
O “sorriso malicioso” de Zeus revelou ser apenas uma interpretação superficial e falsa. Em casa, ele foi se acostumando com a companhia do novo tutor e a personalidade alegre e brincalhona começou a surgir.
Já se passaram cinco anos desde que Dustin retirou o golden retriever do abrigo, com a intenção de apenas oferecer um lar provisório até encontrar uma família que se interessasse por ele sem a pressão do sacrifício iminente.
Não é preciso contar como a história continua. O cachorro conquistou definitivamente o coração do tutor provisório, que hoje em dia nem sequer cogita da possibilidade de se separar do grande amigo.
Zeus é um cachorro meigo, companheiro e muito divertido. Ele foi tachado de perigoso, agressivo e violento apenas em função da má-formação dos ossos da face. Felizmente, ele encontrou a acolhida que todos os cachorros merecem ter.