Eles podem pressentir o fim. Confira o comportamento dos cachorros quando estão morrendo.
A morte é uma consequência natural e inevitável de um ciclo que se repete há bilhões de anos no planeta. Mesmo assim, este fenômeno ainda é um mistério. Nós ainda não compreendemos o que isto significa, mas algumas evidências indicam que os cachorros sabem quando estão morrendo.
Há também algumas lendas. Frequentemente, diz-se que os cachorros se escondem quando pressentem a morte, mas esta é uma atitude natural: sentindo-se fracos e vulneráveis, eles procuram se preservar. Isto não ocorre apenas quando a vida chega ao fim, mas também com qualquer doença que prejudique a funcionalidade orgânica.
Seja como for, os cachorros são bastante metódicos e não gostam de alterações na rotina. Por isso, sempre que o peludo exibe algum comportamento estranho, como esconder-se, recusar comida ou brincadeiras, é preciso investigar e, se necessário, levá-lo o quanto antes ao médico.
Eles sabem quando estão morrendo?
Nós não costumamos falar muito sobre a morte. Como diz o poeta Cacaso, “a barra da morte é que ela não tem meio termo”. Não é possível dizer categoricamente que os cachorros sabem que estão morrendo, mas quem passou pela experiência costuma afirmar que eles pressentem o fim.
Cada caso é um caso. Alguns cachorros estão brincando normalmente e, no momento seguinte, deixam de respirar. Outros vão dormir sem despertar suspeitas e temores, mas não acordam mais.
A maioria, no entanto, de acordo com relatos dos tutores, costuma “entregar os pontos” gradualmente. Eles deixam de se exercitar, não mostram o mesmo entusiasmo quando reencontram os tutores, não se alimentam como antes, perdem o interesse por brincadeiras e explorações.
Seja como for, a extinção das funções orgânicas pode produzir alguns cheiros que são indetectáveis pelos humanos, mas o olfato canino é muito superior. Alguns cães são treinados para auxiliar no diagnóstico de algumas doenças e, talvez, eles percebam o “cheiro da morte” em si mesmos. Não é incomum que eles façam o mesmo com outros membros da família.
Os sinais de que o cachorro está morrendo
A vida é limitada e muitos animais parecem saber disso. Os elefantes africanos, por exemplo, procuram os mesmos locais quando estão morrendo. O gesto não é motivado por questões de segurança, porque muitas vezes esses lugares são devassados e não necessariamente confortáveis.
Baleias, orcas e golfinhos se reúnem quando um membro do grupo está agonizando e permanecem durante algum tempo chorando os seus mortos, antes de retomar as atividades cotidianas. Biologicamente, não existe uma explicação racional, porque estes são momentos de exposição a predadores e contrariam as regras de sempre procurar conforto, segurança e abrigo.
Em casa, os cachorros têm os movimentos e gestos limitados. Mesmo assim, eles emitem sinais para os tutores, especialmente para os membros da família a quem são muitos devotados – pode ser quem o alimenta regularmente, quem se responsabiliza pelos passeios ou os parceiros das brincadeiras prediletas, que podem ser mais ou menos tranquilas, de acordo com a personalidade do peludo.
Quando a hora da morte se aproxima, os cachorros podem demonstrar interesse súbito por alguma atividade, mas a excitação é rapidamente substituída por desinteresse e apatia. Quase todos os peludos, quando estão morrendo, apresentam o seguintes sinais:
- redução gradual do interesse pelas brincadeiras e interações com os parentes;
- perda de comportamentos aprendidos;
- falta de apetite;
- sujeira pela casa;
- alterações no ciclo do sono, inclusive com terror noturno;
- dilatação dos períodos de descanso e inação.
Além disso, eles podem demonstrar desconforto, incômodos ou dores. E, como os cachorros não sabem falar, eles latem, uivam, choramingam ou evitam o contato físico com os tutores.
Perdendo o pique
Em caso de morte natural, causada por uma doença prolongada ou apenas pelo desgaste orgânico promovido pelo envelhecimento, os cachorros parecem perceber que não têm mais a mesma energia, mas, sem entender os motivos, podem ficar estressados ou ansiosos. Alguns peludos desenvolvem depressão na etapa final.
Esta dificuldade em realizar as tarefas se mostra ainda mais angustiante para os cães protetores e guardiães, que estão sempre rondando a casa e certificando-se de que está tudo bem com a família. O fato de não poderem garantir a segurança acaba se tornando alarmante para os cachorros.
Solidão e isolamento
O escritor português Fernando Pessoa, em “Lisbon Revisited II” (poesia assinada pelo heterônimo Álvaro de Campos), diz: “Enquanto tarda o silêncio e o abismo, quero estar sozinho”. Muitos cachorros parecem partilhar a angústia do poeta.
Eles não chegam a se esconder (na maioria das casas, isso nem é possível), mas passam a vagar sozinhos, parecendo desinteressados da rotina com os tutores. Eles não estão enjoados dos parceiros e provavelmente não querem poupá-los da separação iminente, mas acabam mantendo um distanciamento. Os motivos desta conduta ainda não foram explicados pela ciência.
Os tutores devem respeitar a distância: se os cachorros não querem brincar, não querem contato físico, é importante deixá-los confortáveis. Brincadeiras intensas, passeios prolongados e carinhos efusivos não são bem-vindos nestes momentos de despedida. O ideal é deixar que os peludos se aquietem.
Por outro lado, quando a vida chega ao fim, os cachorros merecem algumas coisas que foram proibidas durante muitos anos. Com a saúde abalada e os dias contados, não há nada errado em oferecer um petisco muito gorduroso ou doce, talvez um agrado importante, um gesto de despedida.
Nesses momentos, a voz do tutor precisa ser calma e suave. Não há mais necessidade de comandos e regras. Se o cachorro quer ficar sozinho na sala, a “conversa” com o tutor, do outro lado da sala (ou em outro cômodo da casa), pode ser reconfortante.
No final da vida, o comportamento dos cachorros pode mudar. Eles estão exaustos, muitas vezes doloridos. Resta aos tutores a empatia e a solidariedade. Mesmo com gestos irreconhecíveis, aquele é o mesmo peludo que nos acompanhou em tantas aventuras.
Cuidados paliativos
A morte sempre chega, seja pelo desgaste orgânico, seja por uma doença ou trauma. É um fato da vida que não pode ser negado. Os tutores podem facilitar esta reta final. É possível, por exemplo, instalar degraus ou rampas para que os peludos subam no sofá ou na cama, mesmo para os que não estavam acostumados com estas regalias.
Não existem mais motivos para regrar a dieta: basta apenas garantir que o cachorro não coma demais e acabe se sentindo mal, com indigestão, por exemplo. Alguns travesseiros e almofadas podem servir como um aconchego e até mesmo como banheiro, quando as forças físicas não são capazes de fazê-lo levantar-se e ir até o quintal (ou o tapete higiênico).
Os cachorros são muito resistentes à dor física. Alguns são mais manhosos, mas é difícil identificar sinais inequívocos de sofrimento. Nestes casos (uma doença terminal, por exemplo), a orientação do veterinário precisa ser seguida.
Se o cachorro está apático, sem interesse por brincadeiras e explorações, se não consegue se alimentar adequadamente, deve-se considerar a possibilidade da eutanásia. Não há motivo para que o peludo fique sofrendo indefinidamente.
Mas, se ele simplesmente está velho e sente que está morrendo, é importante aconchegá-lo e garantir que ele esteja pronto para ir para o céu dos cachorros. Fique atento ao conforto necessário e, como diz o texto evangélico, “desate-o e deixe-o ir”. Certifique-se de que:
- as dores e achaques estão controlados;
- a alimentação é suficiente para a etapa final;
- a hidratação está adequada, na medida do possível;
- o cachorro está limpo e higienizado;
- o cachorro está feliz em ter companhia na despedida.